Lya despertou ofegante, o corpo quente e a mente ainda envolta no sonho que a consumira. As imagens persistiam em sua cabeça, tão vívidas que sentia o toque percorrer-lhe a pele. Passou as mãos pelo rosto, tentando afastar a inquietação que a tomava. O quarto estava escuro, mas a luz pálida da lua derramava-se pela janela, lançando sombras prateadas pelo chão. Sem conseguir acalmar-se, levantou-se num impulso, vestiu-se rapidamente e saiu, o coração martelando no peito. As imagens persistiam em sua cabeça, tão vívidas que sentia o toque percorrer-lhe a pele. Passou as mãos pelo rosto, tentando afastar a inquietação que a tomava. O quarto estava escuro, mas a luz pálida da lua derramava-se pela janela, lançando sombras prateadas pelo chão.
Sem conseguir acalmar-se, levantou-se num impulso, vestiu-se rapidamente e saiu, o coração martelando no peito.
Os corredores estavam silenciosos, e o ar fresco da noite oferecia pouco alívio para o fogo que lhe queimava por dentro. Precisava de algo para a distrair. Precisava de Eren.
Encontrou-o no pátio, encostado a uma coluna, o brilho da magia dançando entre os seus dedos. Os olhos cinzentos ergueram-se para ela antes mesmo de se aproximar, como se já a esperasse.
— Não conseguiste dormir? — perguntou, num tom despreocupado, mas os olhos perspicazes analisavam cada detalhe, captando-lhe o desconforto com precisão.
Lya hesitou por um momento antes de responder.
— Não... Preciso de ar. Preciso de espairecer.
Eren arqueou uma sobrancelha e, após um breve instante, assentiu.
— Vem comigo.
Sem fazer perguntas, Lya seguiu-o. Atravessaram a cidade sob a penumbra da noite, passando despercebidos entre as sombras. Eren conduziu-a por um caminho escondido além dos portões, onde a floresta se estendia, misteriosa e intocada.
À medida que avançavam, a vegetação tornava-se mais densa, mas não opressiva. Pelo contrário, a floresta parecia acolhê-los, envolvê-los com um encanto antigo e vibrante. A luz das estrelas atravessava as copas das árvores, criando feixes prateados que dançavam no solo coberto de musgo. O ar era impregnado por um perfume de flores noturnas, e pequenas luzes esvoaçavam ao redor deles — não pirilampos comuns, mas seres minúsculos, com asas translúcidas e olhos brilhantes.
— Espíritos da floresta — murmurou Eren, vendo Lya observá-los, fascinada. — Protegem este lugar e guiam quem anda com boas intenções.
Ela sorriu, sentindo a magia envolver cada fibra do seu ser, um calor pulsante que se entrelaçava com a sua própria essência. A energia vibrante parecia reconhecer a sua presença, como se a floresta sussurrasse segredos antigos apenas para ela. Prosseguiram até chegarem a uma clareira oculta. No centro, um lago de águas cristalinas reluzia como vidro líquido, refletindo o céu estrelado. Pequenos seres alados pairavam sobre a superfície, tocando-a suavemente e criando ondas de luz que se espalhavam em círculos cintilantes. Raízes entrelaçadas emergiam das margens, formando arcos naturais, e flores bioluminescentes desabrochavam ao longo da água, banhando tudo num brilho suave e onírico.
Lya prendeu a respiração diante da beleza do cenário. Era um pedaço de mundo intocado, onde a magia pulsava livremente.
— Como é possível um lugar assim existir? — sussurrou, temendo quebrar o encanto.
Eren observou-a por um instante antes de responder.
— Nem toda a magia é destrutiva. Alguns lugares foram preservados da guerra, escondidos dos olhos gananciosos. Aqui, a energia flui pura, sem ser corrompida.
Lya ajoelhou-se junto à água, passando os dedos sobre a superfície fria. Um arrepio percorreu-lhe a espinha ao sentir a temperatura contrastante com o calor que ainda ardia dentro de si. Pequenas ondulações espalharam-se pelo lago, e por um instante, pareceu-lhe que a água brilhava sob o seu toque, como se reconhecesse a sua presença. Sentiu-se envolvida por uma calma profunda, mas também por uma estranha expectativa, como se o próprio lago aguardasse algo dela. Uma onda de calor percorreu-lhe o corpo, mas desta vez, não era apenas a inquietação do sonho. Era algo mais profundo, algo que o próprio lago parecia despertar dentro dela.
— Vieste para te distrair — disse Eren, aproximando-se. — E este lugar... pode fazer muito mais do que isso.
Os olhos de Lya encontraram os dele, e no silêncio mágico da clareira, a tensão entre eles intensificou-se, carregada por algo mais do que magia. O ar pareceu vibrar ao redor, como se a própria floresta aguardasse o desenrolar daquele momento, um feitiço invisível prestes a envolvê-los por completo.
Eren ajoelhou-se ao lado dela, tão próximo que Lya sentiu o calor que emanava de seu corpo, contrastando com a brisa fria da noite. O reflexo do lago cintilava em seus olhos cinzentos, mas era a intensidade de seu olhar que a prendia, como se ele enxergasse além da superfície, além das palavras que ela ainda não ousara dizer.
— Lya... — a voz dele veio suave, mas carregada de algo mais, algo que ecoava o mesmo anseio que queimava dentro dela.
Ela não desviou o olhar. Algo entre eles sempre estivera ali, latente, como um fio invisível que os puxava um para o outro, mas nunca tão forte quanto agora, sob a luz etérea da floresta encantada. O silêncio entre os dois não era vazio; era uma promessa, um desafio, uma confissão muda.
Eren ergueu uma das mãos, hesitando apenas por um instante antes de tocar-lhe o rosto. Os dedos dele eram quentes contra sua pele fria, um choque de sensações que a fez cerrar os olhos por um momento. Quando voltou a abri-los, encontrou-se prisioneira de um desejo que não podia mais ignorar.
— O que viste no sonho? — Ele perguntou, a voz um sussurro carregado de significado.
Lya respirou fundo, as palavras presas na garganta. Como poderia descrevê-lo? Como poderia confessar que o sonho não era apenas um devaneio, mas uma necessidade que agora a consumia? Mas ela não precisou responder. O jeito como Eren inclinou a cabeça levemente, os seus olhos cinzentos cheios de desejo.
Ele se aproximou mais, e Lya sentiu a respiração quente dele misturar-se à sua. Seu coração martelava, uma batida ritmada com a magia pulsante ao redor. E então, num movimento lento, como se o tempo houvesse se dobrado ao momento, Eren tocou seus lábios nos dela.
O beijo foi suave no início, uma descoberta tímida, mas carregada de algo intenso, contido por tempo demais. Lya sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha, uma chama que se espalhava, incendiando cada parte de seu ser. Suas mãos encontraram o peito de Eren, sentindo a força de seus músculos sob o tecido da camisa, e ele aprofundou o beijo, como se quisesse gravar aquele instante na eternidade.
O lago ao redor pareceu responder à união, luzes tremeluzindo sobre a água, refletindo o furor silencioso do desejo que se desenrolava entre os dois. As raízes e folhas dançavam com o vento, e os pequenos seres alados rodopiavam ao redor, como se celebrassem um encontro predestinado.
Quando se afastaram, apenas o suficiente para que seus olhos se encontrassem novamente, Lya percebeu que algo havia mudado. Não apenas entre eles, mas dentro dela. O fogo que a consumira antes não era mais inquietação, mas uma certeza: Eren não era apenas seu refúgio naquela noite. Ele era a tempestade e o porto seguro, o desconhecido e o inevitável.
Ele sorriu de leve, passando o polegar sobre seus lábios inchados pelo beijo.
— Acho que encontrei um jeito melhor de te distrair.
Lya riu baixinho, encostando a testa na dele.
— E se eu não quiser me distrair?
Eren passou um braço ao redor de sua cintura, puxando-a contra si.
— Então ficamos aqui. Até que o mundo nos chame de volta.
E naquela clareira mágica, onde o tempo parecia suspenso, Lya soube que, independentemente do que viesse depois, aquela noite seria deles para sempre.