Chapter 22 - O Baile

A música ainda ecoava pelo grande salão iluminado por candelabros encantados, mas Lya e Kaen tinham parado de dançar. O olhar dourado de Kaen mantinha-se fixo nela, intenso e cheio de algo que fazia sua pele arrepiar. Antes que pudesse afastar-se, ele segurou-lhe a mão, inclinando-se ligeiramente para sussurrar:

— Dizes que não me conheces, mas o teu corpo parece lembrar-se de mim, minha doce feiticeira.

Lya prendeu a respiração, o calor do sussurro dele percorrendo sua nuca. Sentiu o peso de outro olhar sobre si e virou-se ligeiramente, encontrando Eren a poucos passos, os olhos cinzentos faiscando sob a luz bruxuleante do salão. A mandíbula dele estava tensa, as mãos fechadas em punhos ao lado do corpo.

Kaen sorriu de lado, ainda segurando a mão de Lya, e virou-se lentamente para Eren, como se só então o notasse.

— Ah, o jovem aprendiz. Será que cheguei num momento inoportuno? — disse, a voz carregada de ironia.

Eren não sorriu. Em vez disso, deu um passo à frente, a tensão evidente na forma como seu corpo se enrijeceu, os dedos crispando ao lado do corpo.

— Larga-a — disse, a voz fria como uma lâmina afiada, a voz baixa, porém carregada de algo perigoso.

Kaen ergueu uma sobrancelha, os lábios curvando-se em provocação. Ele ergueu a mão de Lya, levando-a até os lábios sem desviar o olhar de Eren.

— Acalma-te, rapaz. Só estamos a dançar. Ou talvez tenhas medo de que uma dança possa significar mais do que pensas?

Eren deu mais um passo, os músculos visivelmente contraídos, pronto para agir, mas antes que algo mais acontecesse, uma mão firme segurou seu ombro.

— Não aqui — a voz de Arwen era baixa, mas firme. Os olhos dela passaram rapidamente de Eren para Kaen, e então para Lya, avaliando a situação. — A última coisa de que precisamos esta noite é de um incidente diplomático.

Kaen soltou a mão de Lya com um sorriso satisfeito e recuou um passo.

— Claro. Seria uma pena estragar a bela receção que prepararam para nós. Mas, de uma coisa tenho certeza… — Seus olhos voltaram a prender-se nos de Lya, e o tom de sua voz abaixou. — Ainda não terminámos, minha doce feiticeira.

Com isso, ele virou-se e afastou-se pelo salão, cumprimentando um dos conselheiros com um aceno casual. Lya sentia o coração acelerado, não apenas pela provocação de Kaen, mas pela tensão elétrica que vibrava entre ele e Eren.

Eren soltou um longo suspiro, passando a mão pelos cabelos, enquanto Arwen mantinha-se vigilante.

— Isto vai dar problemas — murmurou a mentora, olhando para Kaen à distância.

Lya não conseguiu discordar.

A noite seguiu com música e conversas dispersas pelo salão. Bandejas flutuavam com taças de cristal repletas de vinho e travessas com iguarias. Os convidados moviam-se em danças ensaiadas, os sorrisos mascarando a tensão latente entre os feiticeiros e os metamorfos.

Lya tentava ignorar a sensação de que os olhos de Kaen ainda estavam sobre ela. Para escapar do tumulto em sua mente, aceitou o braço de Eren quando ele a convidou para uma nova dança. Os dedos dele apertaram os dela com firmeza, como se quisesse lembrá-la de que estava ali.

— Se ele voltar a aproximar-se… — começou Eren, a voz baixa, mas carregada de intenção.

Lya sorriu suavemente, tentando aliviar a tensão.

— Não precisas de te preocupar tanto. É só um baile, Eren. Arwen pode se colocar em problemas.

Ele não pareceu convencido, mas conduziu-a pela dança com precisão, os passos firmes. Lya sentia o calor do toque dele, um conforto que se opunha à inquietação que Kaen lhe causava, o ciúmes corria em suas veias.

Ao longe, Malrik, o líder do Conselho, observava tudo com olhos calculistas. Perto dele, outros membros do Conselho trocavam murmúrios discretos, avaliando a interação entre os feiticeiros e os metamorfos.

Quando a música cessou, Eldric aproximou-se de Arwen e sussurrou algo em seu ouvido. Ela franziu a testa por um breve instante, depois olhou para Lya e Eren.

— Parece que nossa noite ainda está longe de terminar — disse ela, o tom grave.

Antes que pudessem perguntar, o som de copos sendo erguidos ressoou pelo salão. Malrik erguia uma taça, chamando a atenção de todos.

— Aos nossos convidados. Que seja o início de uma nova etapa.

Os metamorfos ergueram as taças em resposta, alguns com olhares que traíam sua desconfiança.

Lya engoliu em seco, sentindo que a tensão daquela noite estava longe de se dissipar.

Então Kaen olhou diretamente para Lya, ela sentiu um conforto como se com apenas o olhar ele faria qualquer lugar ser seu lar.

Lya sentiu Eren enrijecer ao seu lado, Kaen interveio, colocando uma mão no ombro do companheiro e sorrindo.

Rael, companheiro de Kaen, ao notar Eren completamente passado com ciúmes riu baixinho, erguendo as mãos em um gesto de falsa rendição.

Lya respirou fundo, sentindo-se subitamente exausta.

— Isto não vai acabar bem — murmurou Eren, ainda observando Kaen como se precisasse se controlar para não agir.

Lya concordou. — Por favor Eren, isso é perigoso.

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Kaen liderava o grupo, vestindo trajes escuros de um tecido luxuoso, mas sem os adornos excessivos dos feiticeiros. A sua postura era confiante, e os olhos dourados brilhavam sob a luz das tochas. Atrás dele, vieram outros membros importantes do seu povo. Entre eles:

Rael, um homem alto de cabelos castanho-avermelhados e olhos âmbar, com uma cicatriz marcante na bochecha. Parecia ser um guerreiro experiente, observando tudo com um olhar analítico.

Selene, uma mulher esguia de cabelos prateados e pele bronzeada, vestindo um traje escuro que realçava sua elegância predadora. Seus olhos de um azul profundo fixavam-se nos feiticeiros com uma mistura de desdém e curiosidade.

Draven, um homem de porte imponente e cabelos negros curtos, cujo olhar era afiado como uma lâmina. Ele mantinha-se próximo de Kaen, parecendo seu guarda pessoal ou conselheiro de confiança.

Lyara, uma jovem de traços delicados e olhos dourados intensos, que se movia com uma graça quase felina. Sua expressão oscilava entre divertimento e estudo atento dos feiticeiros ao redor.

A presença deles no salão era imponente. Moviam-se com fluidez, como se pudessem dançar ou lutar com a mesma facilidade. Apesar de estarem em território inimigo, pareciam confortáveis, confiantes, sabiam do seu poder eram como a própria nobreza.