O sol mal nascera quando Arwen atravessou os portões do hospital. O ar estava carregado com o cheiro de ervas curativas e incenso, usados para afastar energias ruins. O Hospital de Éter não era um edifício comum; as suas paredes pulsavam com uma magia antiga, absorvendo e dissipando a dor daqueles que entravam. Como líder dos curandeiros e membro do Conselho de Feiticeiros, Arwen tinha um papel crucial ali. Mas naquela manhã, mais do que nunca, sentia o peso de um fardo maior.
A primeira paciente do dia era uma jovem feiticeira que sofrera um refluxo de magia. O seu corpo estava coberto de fissuras luminescentes, como se a energia dentro dela tentasse escapar à força. Arwen aproximou-se, os dedos desenhando runas no ar. — Respira fundo. Isso pode arder. — A magia fluiu dos seus dedos, fechando as fissuras com um brilho suave. Quando terminou, a rapariga abriu os olhos, agora aliviados. — Obrigada, Mestra Arwen.
Enquanto Arwen terminava o tratamento, uma memória dolorosa irrompeu em sua mente: o rosto de seu irmão, desfigurado pela traição do Conselho. "Confiar demais pode ser fatal, Arwen," ouviu a voz de seu pai ecoar no fundo de sua mente.
Sem tempo para descanso, deslocou-se até uma ala onde eram tratados os atingidos por maldições. Um guerreiro estava prostrado numa cama, os olhos completamente negros, a boca murmurando palavras sem sentido. — Outro caso do feitiço da Sombra Agarradora? — perguntou Arwen ao curandeiro que a assistia, um homem alto de cabelos prateados chamado Elric. Ele assentiu. — A maldição está a espalhar-se. Alguém anda a usá-la em campo.
Arwen franziu o cenho. Esse feitiço fora proibido séculos antes. Um sinal de que a guerra estava a tomar rumos ainda mais sombrios. Com um suspiro, posicionou as mãos sobre o peito do guerreiro e começou a extrair a sombra enraizada na sua alma. A sombra resistiu, materializando-se brevemente como um vulto com olhos vermelhos antes de ser dissipada. O esforço era imenso, mas, por fim, o homem caiu num sono profundo, livre da escuridão.
O dia prosseguiu com tratamentos contínuos, mas a mente de Arwen nunca se afastou completamente da visão que tivera na noite anterior. Uma rapariga envolta em névoa, olhos carregados de mistério, o destino entrelaçado ao da guerra que consumia feiticeiros e metamorfos. Fora essa visão que a fizera mandar Eren até Lya.
Quando o sol começou a mergulhar no horizonte, Arwen encontrou-se com Elric num dos jardins internos do hospital. O curandeiro inclinou a cabeça. — Pela tua expressão, imagino que tens algo pesado para partilhar.
Arwen suspirou e pousou as mãos sobre uma mesa de pedra. — A rapariga que chegou recentemente... Lya. Ela não é apenas uma estrangeira perdida. Ela é a chave.
Elric permaneceu em silêncio, mas os seus olhos cinzentos brilharam com preocupação. — Chave para quê, Arwen?
A feiticeira hesitou. Poucos sabiam a verdade, e aqueles que sabiam nunca ousaram falar. — A guerra entre feiticeiros e metamorfos não começou apenas por disputa de poder. Há algo mais. Algo que foi ocultado por tempo demais. Se Lya está aqui agora... significa que o equilíbrio está prestes a ruir.
O vento soprou entre as árvores, como se a própria terra prendesse a respiração. Elric recostou-se, a mente claramente a processar a revelação. — Eren sabe?
— Ainda não. Mas ele vai descobrir, mais cedo ou mais tarde. E quando o fizer, temo que seja tarde demais para recuar.
Elric cruzou os braços, os olhos semicerrados. — Como estás a monitorar Lya? Se ela é assim tão importante, o Conselho deve querer respostas.
Arwen pousou o olhar no céu escurecido. — Tenho os meus próprios meios, Elric. Mas nem tudo pode ser previsto. Há forças em movimento que escapam até a mim. Desde que ela chegou, seres das sombras estão a se aproximar cada vez mais, e sinto que há mais espiões, se é que me percebes — desabafou Arwen, notando marcas estranhas nas paredes, símbolos de escuta mágica.
— Arwen, como ainda não foste ao Conselho com estas preocupações? — disse Elric. — Isso pode se tornar maior do que possas lidar.
— Nem todos são confiáveis, sabes disso. A última vez que a minha família confiou... Sabes bem o que aconteceu — respondeu Arwen, a mão a tremer ligeiramente com a lembrança dolorosa.
Chega uma carta para Arwen e nela continha tudo o que Lya e Eren fizeram no dia, então Arwen exclamou — Eu disse a Eren para não se meter em confusões! O que estão a fazer em Arcana?! — Indignada Arwen despede se abruptamente de Elric e sai em direção a Biblioteca Arcana.
Ao chegar, Arwen atravessou as portas majestosas da Biblioteca Arcana, sentindo a magia intensa do local. As estantes repletas de grimórios antigos e pergaminhos quase ofuscavam o brilho dos candelabros flutuantes. Procurou freneticamente entre as mesas e corredores, chamando pelos nomes de Lya e Eren. Os olhos de Arwen passearam ansiosos entre os leitores e pesquisadores presentes, mas não encontrou nenhum sinal dos dois.
Deslizou pelos corredores da biblioteca, cada vez mais impaciente. Perguntou a alguns bibliotecários e estudantes se tinham visto a dupla, mas todos negaram. Finalmente, chegou à seção proibida, um lugar onde apenas membros do Conselho podiam entrar. As portas pesadas não ofereciam resistência ao toque da sua mão, que desenhou rapidamente uma runa de abertura.
Ao entrar, a expectativa transformou-se em frustração. Nem Lya nem Eren estavam ali. Sentiu um calafrio percorrer-lhe a espinha: onde poderiam estar? As sombras no local pareciam mais densas, quase vivas, como se o próprio ar estivesse a conspirar contra ela. — Temos pouco tempo, dividam se! — gritou Arwen, ela não estava sozinha, mas ninguém sabia exactamente quem eram os seres que a ajudavam.
Arwen sabia que precisava encontrá-los rápido. Algo perigoso estava em movimento, e cada minuto perdido poderia custar caro e Arwen não estava disposta a perder, já tinha se arriscado muito e não era só por ela, mas sim por tudo o que amava e acreditava, todos estavam em perigo.