A escuridão rastejava pela cripta como um manto vivo, pulsando com a intenção maligna das sombras que se erguiam dos cantos esquecidos. Lya e Eren estavam encurralados, os sussurros dos Seres da Escuridão infiltrando-se nos seus pensamentos, uma cacofonia de palavras sem dono que provocavam uma vertigem estranha. O ar era pesado, impregnado de um odor antigo de pedra molhada e magia corrompida.
Eren cerrou os punhos, o suor escorrendo pela testa. O círculo de proteção que havia traçado brilhava fracamente no chão irregular, tremeluzindo como uma chama prestes a se apagar. — Não podemos ficar aqui! — exclamou, a voz tensa.
Lya pressionou as mãos contra as têmplas, tentando bloquear os sussurros que se infiltravam na sua mente como garras frias. — Eles estão a tentar separar-nos... confundir-nos. — As palavras dela saíram entrecortadas, a respiração acelerada.
As sombras ondularam ao redor do círculo, testando os limites da proteção. Um deles, maior e mais denso que os outros, aproximou-se, o vazio onde deveria haver um rosto curvando-se em algo que lembrava um sorriso distorcido. A presença opressiva do ser fazia o ar vibrar, e Lya sentiu um frio gelado se espalhar pelo seu corpo.
Na Biblioteca Arcana, Arwen, um membro respeitado do Conselho, procurava-os freneticamente, os olhos percorrendo cada escada, canto, prateleira. Ela sentia a agitação na magia do ambiente, como um espelho refletindo o perigo iminente. — Eles estão em perigo — murmurou. O eco da sua voz parecia amplificar a gravidade da situação, ecoando pelos corredores silenciosos.
Elric, o curandeiro de confiança dela, que havia chegado para ajudar na procura, aproximou-se. — Como tens monitorizado a rapariga?
Arwen hesitou por um breve instante, mordendo o lábio inferior. — A ligação com Eren. Eu coloquei um selo nele. Ele não sabe, mas isso permite-me sentir quando está em perigo. E agora... ele está a ser consumido pelo medo.
Elric franziu o sobrolho, a preocupação evidente em seu rosto. — Isso é arriscado. Se ele perceber... Além de ser uma prática proibida há séculos.
— Ele não vai perceber se eu agir rápido. Preciso de encontrar a passagem para a cripta. Não temos tempo. — Arwen começou a correr, o coração batendo acelerado, cada segundo preciosíssimo. Sabia que a magia corrompida da cripta podia facilmente reclamar a vida dos seus amigos se não agisse rápido.
Na cripta, o círculo protetor finalmente cedeu. As sombras investiram, e Lya sentiu algo gelado deslizar pela sua pele, puxando-a para um abismo sem fim. A consciência dela vacilou, e um desespero primal tomou conta de seu ser. Eren tentou segurar Lya, mas suas mãos atravessaram as sombras, como se fossem feitas de fumaça. O olhar de Eren encontrou o vazio, um misto de medo e determinação refletindo em seus olhos.
Foi então que um rugido ecoou na cripta. Uma explosão de luz rasgou a escuridão, e por um breve instante, o sussurro dos Seres cessou. O som de passos ecoou na cripta, e a figura de Arwen surgiu na entrada, emanando um poder incomensurável. Com um movimento fluido das mãos, ela entoou palavras antigas, a linguagem da alta magia reverberando pelas paredes de pedra. A luz mística que emanava da sua mão estendida lançou um brilho cegante, obliterando as sombras.
Arwen avançou com ódio, seus olhos fixos nos Seres da Escuridão. — Não permitirei que tomem mais vidas inocentes, seres inúteis e desprezíveis — proclamou, a voz firme como uma muralha. Com um último gesto, invocou um feitiço de alta magia que envolveu os Seres, prendendo-os em correntes de luz pura.
Lya e Eren olharam, atordoados, enquanto as sombras eram puxadas de volta para os cantos escuros da cripta, incapazes de resistir ao poder de Arwen. — Temos que sair daqui agora! — disse Arwen, ajudando Lya a se levantar. Eren, ainda recuperando o fôlego, assentiu, grato pela chegada oportuna do membro do Conselho.
O trio correu pela cripta, os corredores estreitos e as paredes de pedra parecendo fechar-se ao seu redor. As sombras ainda os perseguiam, mas a alta magia de Arwen manteve-as à distância, por enquanto. Eles sabiam que tinham que encontrar uma maneira de selar a cripta e impedir que os Seres da Escuridão escapassem para o mundo exterior. O tempo era essencial, e cada momento contava.
Eles finalmente emergiram da cripta, a luz do dia parecendo quase irreal após a opressiva escuridão lá dentro. Arwen, Lya e Eren fizeram o seu caminho apressadamente até o hospital, onde os curandeiros, aprendizes de Arwen, começaram a tratá-los imediatamente. As feridas físicas eram o menor dos seus problemas; era a marca da corrupção sombria que preocupava os curandeiros, entregar se as sombras, a tristeza, ao desânimo é tornar se num dele.
Lya estava deitada numa cama, ainda pálida e tremendo. Eren estava ao lado dela, exausto mas vigilante. Arwen estava numa reunião urgente com a equipe médica, explicando a situação e garantindo que as proteções mágicas do hospital fossem reforçadas.
Foi então que um mensageiro entrou no hospital, a túnica distintiva do Conselho destacando-se contra a simplicidade dos corredores. Ele se dirigiu diretamente a Arwen, entregando-lhe um pergaminho selado. Arwen abriu o pergaminho, o rosto dela endurecendo à medida que lia a convocação.
— Lya, Eren — ela chamou, aproximando-se dos dois. — O Conselho quer uma audiência conosco amanhã. Eles precisam de ouvir o que aconteceu e decidir os próximos passos.
Eren franziu a testa, a exaustão dando lugar à preocupação. — Achas que eles vão entender?
— Vamos fazer com que entendam, mas tudo isso é sua culpa, eu disse para ficares longe de problemas — disse Arwen ainda chateada.
Precisávamos de ter mais respostas, afinal Arwen não nos conta nada! Porque devemos viver na ignorância? — Retrucou Eren, sempre foi desafiador e não sabia quando tinha que se manter calado.
— Mas agora, precisamos de descansar e recuperar as forças. Amanhã será um dia longo. — ignorou Arwen, já sabendo como Eren era e saiu.
Elric que presenciou tudo disse, — Eren ...se ela não contou é porque não precisas saber, tudo o que ela fez foi para te proteger.