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Chapter 2 - As Chamas de Aerya

O ar estava pesado quando Lya mergulhou num sonho intenso e vívido. Encontrava-se de novo no coração do templo, mas agora tudo era mais intenso. As paredes vibravam com uma energia pulsante, o ar carregado de eletricidade eriçava-lhe a pele. As esculturas antes imóveis dançavam em sombras vivas, observando-a com olhos que pareciam conhecer cada segredo seu.

Uma luz dourada irrompeu, envolvendo-a num abraço quente. Figuras etéreas emergiram, belas e indistintas, sussurrando segredos numa língua que ecoava como música. Entre elas, uma sobressaía, irradiando mistério e poder. Quando estendeu a mão, Lya sentiu uma onda de calor invadi-la. Um desejo incontrolável tomou conta dela, puxando-a para o centro do templo. Mas quando os seus dedos tocaram a luz intensa, tudo desmoronou num redemoinho vertiginoso.

Acordou ofegante, os resquícios do sonho ainda a queimarem-lhe a pele. O cheiro intenso de incenso misturava-se a algo metálico — talvez ferro. O colchão duro debaixo dela contrastava com a leveza da visão. O teto abobadado estava adornado com símbolos que vibravam levemente enquanto a sua consciência regressava.

Tentou sentar-se, mas sentiu um peso nos pulsos. Não eram correntes, mas pulseiras de um metal estranho que irradiava um leve brilho azul. A sala em que estava era de pedra clara, com arcos delicados e janelas altas que deixavam entrar uma luz dourada. As sombras projetadas dançavam como se tivessem vontade própria. O silêncio era denso, interrompido apenas pelo som de passos que se aproximavam.

Uma mulher alta surgiu, envolta em mantos escuros com fios de prata a formar padrões arcanos. O cabelo prateado refletia a luz de forma sobrenatural, e os olhos violetas brilhavam com uma curiosidade fria.

— Estás acordada. — A voz dela ecoou, firme e carregada de autoridade. — Como te chamas?

Lya hesitou, a mente ainda a tentar processar o que acontecera.

— Lya… Onde estou?

A mulher inclinou a cabeça, estudando-a como se fosse um enigma raro.

— Estás em Aerya, a capital dos feiticeiros. Um lugar onde forasteiros não costumam sobreviver.

O coração de Lya acelerou. "Feiticeiros?" A palavra parecia saída de um conto antigo, mas não havia nada de fantasioso naquele lugar.

— Encontrámo-la junto às Ruínas de Nareth, — continuou a mulher, — um território proibido, mesmo para nós. Como chegaste lá?

Lya tentou recordar-se, mas tudo o que restava era o templo, a luz e… o vazio.

— Eu… não sei. — A sua voz saiu num sussurro.

A mulher não pareceu surpresa.

— Sou Arwen, Alta Feiticeira do Conselho de Aerya. Vais permanecer aqui até compreendermos quem és… e o que és. E nunca estarás sozinha. — O seu olhar pousou por um instante nas pulseiras em seus pulsos. — Eren será tua companhia constante. Será para tua proteção e nossa.

Nesse momento, a porta abriu-se e um jovem de cabelos negros e olhos cinzentos entrou na sala. O seu sorriso era travesso, mas os olhos carregavam uma faísca de curiosidade.

— Lya, este é Eren. Ele estará contigo em todos os momentos. — Arwen anunciou com naturalidade.

Eren olhou para Lya de cima a baixo e assobiou baixinho.

— Roupas estranhas. Não admira que tenhas chamado a atenção — comentou, divertido. — Não te preocupes, vais habituar-te a este lugar… ou pelo menos tentar.

Arwen soltou um suspiro e virou-se para sair.

— Vou arranjar roupas mais apropriadas para ti. Enquanto isso, Eren, certifica-te de que ela compreende as regras básicas daqui. E, acima de tudo, que não se meta em confusão.

Eren sorriu de lado, claramente entretido.

— Sim, senhora. Mas não prometo milagres.

Como foi que me encontraram? — perguntou, cruzando os braços.

Eren recostou-se na parede, os olhos brilhando com divertimento.

— Arwen teve uma visão sobre ti. Mandou as tropas para as ruínas antes mesmo de ter certeza do que procuravam. — Ele inclinou a cabeça. — Parece que és mais importante do que pensas.

Lya franziu o cenho.

— Então foi ela que me mandou trazer… E agora estou aqui sem entender nada do que está a acontecer.

Eren riu baixinho.

— Bem-vinda a Aerya. Onde nada faz sentido, mas tudo tem um propósito. E parece que agora, esse propósito envolve a ti… e a mim.

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Arwen no dia anterior 

O cheiro da noite era denso, carregado com o aroma das ervas queimadas nos templos e o ferro do sangue derramado longe dos olhos civis. Arwen caminhava pelos corredores da Torre dos Arcanistas, os passos silenciosos sobre o mármore encantado. Aerya nunca dormia verdadeiramente. Mesmo àquela hora, podia sentir os ecos da magia fluindo pelas muralhas, sustentando as defesas invisíveis que protegiam a capital.

No salão principal do Conselho, os cristais etéreos brilhavam em tons de âmbar e azul, oscilando com as energias do dia que passara. Ouvia-se apenas o crepitar das chamas encantadas nas tochas suspensas e o sussurro distante do vento mágico que circulava entre as torres. Arwen parou diante do grande espelho negro no centro da câmara. Não era um espelho comum. Era um olho.

— Mostre-me.

A superfície líquida vibrou, e a imagem de uma jovem inconsciente surgiu. A pele pálida, os cabelos desalinhados, e a respiração lenta, mas firme. Encontraram-na junto às Ruínas de Nareth, um local onde nem mesmo os mais ousados feiticeiros ousavam ir sem proteção. Nenhuma marca, nenhum símbolo arcano gravado na pele. E, ainda assim, Arwen sentia. Algo dentro dela dizia que aquela jovem não era apenas uma forasteira perdida.

— Lya. — murmurou, testando o nome que os sentinelas descobriram entre os seus devaneios febris. Não constava nos registros de Aerya, nem entre os povos vizinhos. Um enigma sem origem, trazido pelas correntes do destino.

Fechou os olhos, respirando fundo. O Conselho queria respostas. Os feiticeiros estavam inquietos com a guerra, e qualquer presença não identificada era uma ameaça em potencial. Se Lya era uma peça neste jogo antigo, Arwen precisava descobrir de que lado ela pertencia.

A superfície do espelho escureceu, ocultando a visão. Arwen virou-se, as vestes escuras fluindo ao seu redor como sombras vivas.

Estava na hora de acordar a estrangeira.