Zed, o mestre da Ordem das Sombras, aquele que trouxe guerra e destruição para Ionia em nome da força. Militarizou a magia e transformou a sombra em arma para enfrentar Noxus. Implacável, calculista, um verdadeiro predador das trevas. O que ele quer aqui?
Enquanto o observo, sinto outra presença se movendo na escuridão, ainda mais discreta. Ele percebe que já notei sua localização, mas algo na aura dele é perturbador. O fluxo de mana em seu corpo está em constante ação, mesmo enquanto ele permanece imóvel. Humanos comuns não podem fazer isso a menos que sejam algo mais.
Sei disso porque compartilho meu corpo com um ser divino. A Deusa da Lua repousa em mim, embora agora esteja adormecida. Nosso fluxo de mana é harmonioso, uma dança fluida entre dois seres que se entendem. Mas o indivíduo oculto... nele, há uma força latente em constante conflito. Uma guerra silenciosa, como se ele fosse um receptáculo lutando pelo controle de seu próprio corpo.
— O que você quer, Zed? — Shen indaga, seu tom calmo mas firme, como uma lâmina prestes a ser desembainhada.
Shen e Zed... a rivalidade entre esses dois é lendária. Eles representam lados opostos da mesma moeda em Ionia: Shen, líder da Ordem Kinkou, prega equilíbrio e harmonia espiritual, enquanto Zed lidera com um punho de ferro, utilizando sombras para subjugar e destruir. Para Shen, o equilíbrio deve ser preservado. Para Zed, a força é a única resposta.
— Não estou aqui por você, Shen. — A voz de Zed é fria, como uma sombra sussurrante, mas seus olhos voltam-se para mim.
Com um movimento rápido, ele lança suas shurikens. Mas antes que possam me atingir, minha foice está erguida, repelindo o ataque. Os olhos de Shen e Akali se arregalaram, surpresos pela minha reação.
— Shurikens? — murmuro, observando as lâminas caírem no chão, inertes. As lendárias shurikens das sombras... uma marca registrada dele. Previsível.
— Então você agora ataca qualquer um, Zed? — Akali rosna, um brilho de raiva nos olhos enquanto Shen a impede de avançar impulsivamente.
— Parece que você consegue acompanhar minha intenção. — Um leve sorriso se forma no rosto mascarado de Zed. — Tenho observado você desde o ataque em Fae'lor. Não é difícil perceber que você não é um simples nativo de Ionia.
— Ah, sim? Se tem algo a dizer, seja direto. Minha paciência para rodeios é limitada. — Cruzei os braços, olhando-o com desdém.
— Heh, língua afiada para um jovem arrogante. — Ele ri, um som seco e sem humor. — Talvez não tenha apreciado o método do meu "teste"? — O sarcasmo goteja de cada palavra.
— Honra parece não significar nada para você. Não há muito que me surpreenda vindo de alguém que traiu tudo pelo que Ionia representa. — Meu tom é calmo, mas gelado. Não vou ceder a suas provocações.
— Acho que estou começando a gostar de você, Renier. — Akali sorri de lado, divertindo-se com minha falta de paciência para Zed.
— Pode me dizer o que exatamente você quer com o Renier? Até onde sei, ele não é um inimigo de Ionia — Shen intervém, mantendo sua compostura, mas com uma leve tensão na voz.
Shen está visivelmente desconfortável com a abordagem de Zed, mesmo que tente disfarçar. Ele sabe que Zed raramente perde tempo com alvos aleatórios. Algo está acontecendo sob a superfície.
— Um inimigo? Essa é uma definição que cabe a mim decidir. — O olhar de Zed desliza para mim, analisando cada detalhe.
— O que você quer dizer com isso? — Akali pergunta, irritada.
— Antes disso, essa raposa que o acompanha... — Zed murmura, e sinto seu olhar perfurante sobre a cabeça de Ahri. — Ela não é a Vastaya que tem deixado um rastro de corpos por Ionia? Por que você a protege?
Ele a identificou. Perspicaz. Deve ter sentido a energia espiritual dela. Mesmo com sua forma humana, Ahri é difícil de esconder dos olhos treinados de Zed.
— Eh? Essa pequena raposa é... Ahri?! — Akali se vira para a Vastaya em choque. Ahri, ainda sentada sobre meus ombros, encolhe-se ligeiramente sob a intensidade dos olhares. Há desconforto em seus olhos dourados.
— E daí se for? — replico, desinteressado. Não vou dar a Zed a satisfação de uma reação.
— Oh? Ela matou muitos ao longo dos anos... uma assassina fria, como Jhin! — O nome reverbera no ar como um veneno.
Jhin. O artista da morte. Um dos maiores monstros que Ionia já produziu. Um psicopata que vê cada assassinato como uma obra de arte. Cada vítima, um traço em sua pintura macabra. No passado, Zed o caçou incansavelmente. Mas o conselho libertou Jhin de sua prisão, acreditando que ele poderia ser útil um erro terrível que custou caro.
— Ele ainda continua vivo, então. — Murmuro, lembrando do passado sombrio dos dois. — O Demônio Dourado. Presumo que ainda o caça, Zed?
— Ele é um resquício de um passado que não se apaga. — A voz de Zed carrega um peso sombrio. — Ahri é uma aberração como ele, uma assassina que se alimenta das almas de inocentes. Por que se aliar a ela?
Ahri se estremece ao ouvir isso, mas mantenho meu olhar fixo em Zed.
Suspirei levemente, mantendo um olhar desinteressado para ele.
— E isso deveria ser um problema meu?
— Essa atitude... Você não parece se importar com as mortes que ela causou, — respondeu Zed, com um tom acusador.
— Não, eu realmente não me importo, — afirmei com indiferença, sem desviar o olhar. — Afinal, comparar Ahri, que matava apenas para sobreviver e que agora luta contra seu próprio instinto, com um assassino que tira vidas apenas pelo prazer de brincar com elas é uma comparação absurda. Não acha? — provoquei.
Zed franziu o cenho, visivelmente irritado. — O que exatamente está insinuando?
Proteger Ahri, que está tentando superar seu passado e controlar o que é parte de sua natureza, é completamente diferente de apoiar alguém que mata por diversão e não sente remorso algum. Não há comparação.
— Não vou discutir isso com você. Pode pensar o que quiser, mas não espere que eu a entregue. Prometi protegê-la, e não vou quebrar minha palavra — respondi firmemente, meu tom carregado de convicção enquanto o encarei.
Para mim, Ahri não é uma assassina. Como uma Vastaya, suas ações são influenciadas por um instinto predador inerente à sua espécie. Ela não mata por prazer; é um comportamento natural, uma parte do que ela é. Condená-la por isso é injusto. Afinal, qualquer outro Vastaya, ou até mesmo animais selvagens, reagiriam da mesma forma.
Além disso, as mortes que ela causou não são da minha conta. Não pertenço a este mundo, não tenho laços profundos aqui. Se decidirem persegui-la, que seja, mas eu não vou permitir que façam isso. Minha promessa é minha honra. Zed pode desprezar meu comportamento, mas nada me fará mudar de ideia.
— É como ele disse, — afirmou Shen, colocando a mão sobre meu ombro. — De qualquer maneira, Zed, você não decide quem deve viver ou morrer. Confio em Renier e acredito que Ahri está tentando mudar.
Suas palavras me pegaram de surpresa. Mesmo conhecendo a natureza pacífica de Shen, não esperava que confiasse tanto em mim.
— Heh, você não é tão ingênuo quanto parece, — interveio Akali, um sorriso convencido nos lábios. — Shen percebeu que era Ahri quando você a trouxe. Embora eu quisesse que ele tivesse me contado antes… A magia espiritual dela é inconfundível, difícil de esconder.
— Surpresa, Akali? — cortei, interrompendo sua pequena vitória.
— Grr, você sempre precisa estragar meu momento… — resmungou ela, irritada.
Mesmo mudando de forma, a essência da alma de Ahri continua a mesma. Para quem pode sentir a magia espiritual, ela permanece inalterada. Mas eu estava preparado para isso. Sabia que Shen não faria nada contra ela. Ele preza o equilíbrio e a harmonia, e Ahri não representa uma ameaça direta a esses princípios.
Zed, no entanto, começou a demonstrar um desconforto crescente. — É por isso que os Kinkou são tão inúteis e fracos, — afirmou com desprezo.
— Você não tem moral para falar, Zed. Ataca pelas sombras, pelas costas, e ainda quer falar de força? — rebati com sarcasmo.
Pude sentir a intenção assassina dele pairar no ar, densa como uma lâmina invisível pronta para cortar. Provoquei demais? Talvez, mas vê-lo perder a compostura era quase cômico.
— Já terminamos ou quer mais alguma coisa? — perguntou Akali, impaciente.
Zed desviou seu olhar para mim. — Você é diferente, garoto. Mas não parece agir como um guerreiro. Há muito potencial em você, — murmurou.
— Oh? O que quer dizer com isso? — inclinei a cabeça, uma curiosidade sutil surgindo.
— Tenho uma proposta para você. Que tal se juntar à Ordem das Sombras? — ofereceu ele, um sorriso arrogante surgindo em seus lábios.
— Hãn? — Akali se adiantou, surpresa e desgostosa com a ideia. — Você só pode estar brincando! Por que ele se uniria a uma organização corrupta como a sua?
Zed ignorou-a. — Com sua força e indiferença, sob minha tutela, você se tornaria um guerreiro formidável contra Noxus. Imagine o que poderia alcançar.
Havia algo a mais nas palavras dele, um subtexto sombrio e ameaçador. — E se eu recusar? — perguntei, embora já soubesse a resposta.
— Você é um potencial aliado, mas também uma ameaça em potencial. Se decidir ficar contra mim, será considerado um inimigo de Ionia. Nesse caso, eu o matarei! — Zed respondeu, sua expressão fria e cortante.
— Maldito! Quem é você para decidir isso!? — rosnou Akali, segurando suas armas com força.
— Está indo longe demais, Zed, — afirmou Shen, sua postura mudando. — Vai caçá-lo só porque recusou sua oferta? Isso é absurdo!
Passei a foice para a outra mão, a lâmina cintilando sob a luz filtrada pela floresta. Eles discutiam entre si, mas minha mente estava focada em uma única coisa: como sair dessa situação sem derramar sangue.
Droga. Eu queria apenas explorar Ionia em paz. Mas Zed deve ter me observado durante aquele combate com os soldados de Noxus. Ele percebeu que eu conseguia detectá-lo, mesmo quando tentava ocultar sua presença. Talvez, ele me veja como uma ameaça maior do que imaginava.
Se fosse apenas eu, seria simples. Mas Ahri, Shen e Akali estão aqui. E meu poder é destrutivo demais para ser usado levianamente. Não posso arriscar a harmonia de Ionia, ou o Espírito de Ionia me verá como um inimigo. Isso é algo que não quero enfrentar.
Soltei um suspiro exasperado, enquanto Ahri, com uma expressão preocupada, murmurou suavemente:
— Estou sendo um problema para você?
Sua voz serena me trouxe de volta à realidade.
— Não, Ahri... Você me lembrou exatamente o que devo fazer. — Respondi, acariciando sua cabeça gentilmente.
— Já tomei minha decisão, Zed. — Levantei a foice, apontando-a levemente para a floresta.
— Espero que tenha escolhido sabiamente, garoto, — murmurou ele.
— Não sou aliado de Ionia, muito menos um soldado. Meu único desejo é explorar. E ninguém vai me dizer como devo viver. Se quer me matar, venha. Minha resposta é não!
O silêncio dominou o lugar, até que Zed abaixou o braço, seus olhos ainda cravados em mim, agora carregados de desdém.
— Você não vai durar muito tempo assim. A lei do mais forte prevalece, garoto. Mas se já decidiu, não há motivo para prolongar isso… — E avançou de repente, as lâminas prontas para me atingir.
Antes que eu pudesse reagir, Shen surgiu entre nós, bloqueando o ataque com sua espada.
— Você não muda, Zed… — disse ele, fixando o olhar no rival.
— E você é um tolo, Shen. Esse garoto é perigoso demais para ficar livre!
Os dois se engajaram em um embate de força, a pressão das sombras aumentando ao redor de Zed, enquanto Shen lutava para mantê-lo sob controle.
— Shen! — Akali gritou, prestes a avançar, mas eu a puxei de volta quando uma nova presença cortou o ar.
— E aí, Akali? Já faz um tempo… — disse uma voz fria, com uma foice carregada de uma energia estranha e agressiva sobre o ombro.
A nova figura emergiu da escuridão, o brilho vermelho de um olho demoníaco reluzindo na lâmina da foice. Um jovem de cabelos negros com uma mecha azul... um Darkin.
Claro que Zed traria um aliado assim.
Continua…