Observando a raposa de nove caudas sentada no galho da árvore, era impossível ignorar a presença imponente de Ahri, a Vastaya mais famosa de todo o jogo. Mas havia algo desconcertante nela.
O modo como seus olhos dourados cravaram em mim despertava um alerta imediato. Com meus Olhos das Revelações ativados, pude sentir uma aura de malícia e fascinação emanando de sua figura esguia.
— O que foi? Ficou tão encantado comigo que nem consegue falar? — provocou ela com um sorriso suave e um tom que exalava pura confiança. Seu olhar era ao mesmo tempo caloroso e ameaçador, um convite e uma armadilha.
"Sei exatamente o que ela está fazendo." Ahri se alimenta de sentimentos humanos, absorvendo suas emoções como um predador elegante. E, por algum motivo, parecia que eu me tornara seu próximo alvo.
— Qualquer um ficaria alerta ao ser abordado tão casualmente no meio de uma floresta densa e sombria como essa — respondi calmamente, mantendo meu olhar fixo no dela. Se ela esperava alguma reação exagerada, ficaria decepcionada.
Ahri piscou lentamente, surpresa pela minha resposta indiferente. Seus olhos se estreitaram ligeiramente, assumindo um brilho desafiador.
— Hmm... Você tem um ponto bem convincente — murmurou ela, rindo de maneira suave. Seus olhos, antes dourados, agora cintilavam com um tom rosado, carregado de uma magia sutil.
"Então é isso, huh? Está tentando me enfeitiçar."
— Pode parar. Seu charme não vai funcionar, raposa. Não importa quantas vezes você tente — adverti, cruzando os braços e mantendo minha postura firme.
Por um breve instante, a surpresa voltou a brilhar em seu olhar. — Então você já sabia o que eu estava tentando fazer desde o começo... — Sua voz soou curiosa, mas também carregava um quê de admiração. — E mesmo sabendo que era uma armadilha, você veio sozinho...
Ela entendeu. Desde o momento em que percebi aquela presença na trilha, enquanto estava com Shen e Akali, soube que alguém nos observava. A intenção maliciosa era inconfundível, e me trouxe até aqui por pura curiosidade. Só não esperava que a responsável fosse a própria Ahri.
— Meus olhos bloqueiam qualquer tipo de manipulação mental ou emocional — expliquei, apontando para os próprios olhos. — E além disso, consigo rastrear a origem de qualquer magia desse tipo.
Não havia razão para esconder as capacidades dos meus poderes. Ela já havia notado que seu feitiço não estava surtindo efeito. Por que não dar-lhe mais um motivo para se manter intrigada?
— Interessante… um humano que é imune ao meu charme... — murmurou ela, com um brilho de interesse renovado. Mas havia algo mais profundo em seu tom, algo que transcendia a mera curiosidade. — Fico me perguntando... qual seria o gosto das suas emoções?
— Ah, então é isso que quer? Me fazer perder a compostura ou ver minha alma vibrar nas suas mãos? — provoquei, lembrando-me do jogo e das lendas que a cercavam.
Ahri soltou uma risada baixa, levantando a mão com elegância. Um orbe de energia espiritual rosada começou a brilhar em sua palma, pulsando como se tivesse vida própria.
— Desde que pus os olhos em você, senti um desejo profundo de provar suas emoções — confessou ela, sorrindo de maneira doce. — Então, você não gostaria de ser um bom garoto e deixar esta linda Vastaya dar uma olhadinha na sua mente? Só um pouquinho?
Sem hesitar, invoquei minha foice, a lâmina negra surgindo em minha mão. Era claro que dizer "não" apenas iria incentivá-la ainda mais. Ahri sempre fora intrigante e cheia de truques, mas subestimar alguém como eu seria um erro fatal.
— Pode tentar, mas não vai ser fácil, raposinha — desafiei, com um sorriso provocativo.
— Hehe, adoro homens difíceis — respondeu ela, sua voz se tornando um sussurro sedutor.
No momento seguinte, ela lançou o orbe contra mim. Reagi instintivamente, posicionando a lâmina da foice como um escudo. A força do impacto reverberou pelo meu corpo, empurrando-me alguns metros para trás. Aproveitei o impulso para girar o corpo, redirecionando a energia com um movimento fluido da foice. O projétil ricocheteou com um estrondo, atravessando o galho onde Ahri estava e explodindo a árvore em estilhaços.
Mas ela já havia se movido. Com uma agilidade quase sobrenatural, saltou para outro galho, evitando a destruição com uma graça que deixaria qualquer predador com inveja. Seus olhos dourados agora brilhavam com uma excitação maliciosa.
— Nada mal... você é mais do que um rostinho bonito, pelo visto — comentou Ahri, ainda no chão, me analisando com um olhar afiado.
Devo dizer o mesmo. Ela é completamente diferente do que imaginei. Mesmo que existam sistemas de jogo que permitam acompanhar suas habilidades e tempo de recarga, Ahri se destaca com uma força impressionante e um controle preciso sobre sua energia espiritual.
Mesmo sendo um híbrido de sangue divino e várias raças, eu ainda me contenho, por segurança. Não sei ao certo do que sou capaz, mas definitivamente não é qualquer um que consegue me fazer recuar apenas com energia espiritual.
— Posso dizer o mesmo de você — devolvi o elogio com um sorriso. — Mas, como o perigo aqui é maior do que parece... — murmurei, pensando rapidamente.
Antes que pudesse reagir, decidi me afastar, correndo pela floresta para longe da clareira. Ahri pareceu surpresa.
— Ah?! Vai simplesmente fugir? Não fuja! — gritou ela, irritada, enquanto me perseguia.
Uma predadora como ela não deixaria sua presa escapar tão facilmente... Observando pelo mapa mental, percebi a energia espiritual de Ahri crescendo.
— Isso significa que... — murmurei, segurando um galho e me lançando para o alto.
No mesmo instante, senti um ataque de energia vindo pelas costas. Ahri estava logo abaixo, saltando em minha direção.
— Você não é um Vastaya, mas... consegue sentir o fluxo de energia espiritual? — perguntou ela, intrigada.
— Você concluiu isso apenas vendo eu desviar? — questionei, sorrindo.
— É claro. Ninguém conseguiria escapar de um ataque sem olhar para ele, a menos que pudesse sentir a energia ao redor, como nós, Vastayas, fazemos — deduziu Ahri, enquanto mais cinco esferas de energia surgiam ao seu redor.
Ergui a mão, apontando para ela, absorvendo a energia ao redor em uma espiral até formar uma esfera azul que pulsava na palma da minha mão.
— Hm, talvez você esteja certa... — respondi com um sorriso autoconfiante.
A esfera se fundiu à lâmina da foice, envolvendo-a em um brilho azulado.
— Raposinha, é melhor você estar preparada! — avisei, avançando com um golpe lateral que cortou o ar.
Ahri saltou para trás, seus reflexos rápidos a salvaram por um triz.
— Tsk... — ela clicou a língua, recuando. Mas um sorriso de confiança surgiu em seus lábios.
Antes que percebesse, o vento gerado pelo golpe me alcançou, arremessando-a violentamente ao chão com um estrondo ensurdecedor.
— Ah! Você realmente não sabe como tratar uma dama, hein, garanhão? — protestou Ahri, com alguns arranhões e cortes pelo corpo. Apesar disso, parecia mais irritada do que ferida.
— Já desistiu? — perguntei, apontando a foice para ela, meu sorriso repleto de satisfação.
— Desistir não faz parte do meu estilo de sobrevivência — respondeu ela, movendo a mão discretamente. — Você é bem convencido, garoto, mas eu sou mais esperta...
— Hã? — Franzi o cenho ao sentir algo estranho. Virei-me rapidamente, mas não a tempo. O orbe de energia que ela havia lançado antes retornou, me atingindo em cheio e me arremessando contra uma árvore.
— Ah, droga... — murmurei, sentindo uma dor leve nas costas. Esqueci da habilidade dela: o Orbe de Ilusão. — Você conseguiu combinar dano mágico e espiritual… isso é possível?
Ela se levantou, ainda ofegante, mas com um brilho de orgulho nos olhos.
— Haha, você conhece minha habilidade. Mas respondendo à sua pergunta, o ataque mágico serviu como cobertura para o orbe espiritual, que era o golpe real. Um truque simples, mas eficaz, não? — explicou Ahri, revelando suas presas em um sorriso orgulhoso.
O ataque espiritual me afetou mais do que o esperado... Será que estou enferrujado? — pensei, irritado.
— Você é uma das raras presas que conseguiu resistir ao meu charme — murmurou Ahri, se aproximando lentamente. Antes que eu pudesse reagir, ela agarrou meu braço. — Seja gentil, prometo não matá-lo no processo — sussurrou com um tom malicioso.
Senti uma energia fluir de mim para ela através dos nossos lábios conectados. Os olhos de Ahri brilharam, enquanto absorvia um fragmento das minhas memórias.
— Oh? Essas lembranças... — balbuciou, surpresa. Rapidamente me afastei, interrompendo o contato.
— O Guardião Negro... — murmurou Ahri, fascinada. — Eu vi cenários diferentes da sua mente, mas… eles não parecem parte deste mundo. Seu sabor é diferente… — ela admitiu, ainda processando o que tinha visto.
— Não são cenários. São mundos diferentes — respondi com seriedade. Não havia mais por que esconder.
— Mundos diferentes… — murmurou ela, intrigada.
Um sorriso astuto se formou em meus lábios. Isso me deu uma ideia.
— O que acha de uma proposta, raposinha? — perguntei, minha voz carregada de confiança. — Que tal se alimentar de mim? Sou imortal, minhas memórias se restauram mesmo depois que você as absorve. Assim, não precisaria se preocupar com minha morte, e teria sempre um fluxo constante de novas lembranças para saborear.
Os olhos de Ahri se arregalaram, surpresa e intrigada.
— Isso... é tentador. Nunca pensei que alguém se ofereceria como fonte de alimento… — disse ela, mordendo o lábio inferior. — Hehe… Seria tentador demais recusar. Então, eu aceito — completou com um sorriso sedutor.
— Fico feliz em ouvir isso — respondi, observando a expressão de interesse crescente em seu rosto.
Ahri pareceu relaxar, suas caudas balançando suavemente enquanto me olhava.
— Renier, não é? Eu sou Ahri, a Vastaya de nove caudas mais linda de Ionia — ela se apresentou formalmente, mas com um sorriso travesso.
Aceitei a mão estendida dela.
— Renier, prazer em conhecê-la, Ahri — respondi com um aceno leve.
Talvez essa parceria traga benefícios inesperados para ambos. Ahri com suas habilidades e eu com meu conhecimento… isso promete ser interessante.
Continua…