Akali e Shen, dois campeões da Ordem Kinkou, se destacaram na multidão. Embora eu soubesse que Akali havia abandonado a ordem por vontade própria, a patrulha deles parecia ter vindo em auxílio da cidade.
O olhar afiado e ameaçador de Akali se encontrou com o meu.
— Oh, um rosto novo por aqui — disse ela, colocando a mão na cintura, seu tom carregado de desconfiança. — Pelo jeito, chegamos tarde. Queria pegar alguns soldados de Noxus, mas perdi a hora.
Ao seu lado, Shen caminhava com uma serenidade que contrastava com a tensão do momento. No entanto, ele também estava alerta em relação à minha presença.
— Parece que você foi quem os derrotou... A questão é: quem é você e de onde veio? — questionou Shen, sua análise avaliando-me de cima a baixo.
— E, acima de tudo, podemos considerá-lo um aliado ou um inimigo? — perguntou Akali, tentando me intimidar com seu olhar penetrante, em busca de minhas intenções.
Ela girou sua kunai com os dedos, uma tentativa de me amedrontar, mas não teve sucesso.
Cruzei os braços, demonstrando indiferença à sua falha em me assustar. — Eu me chamo Renier Kanemoto. Sou um viajante… Estava próximo a Ionia quando ouvi os gritos da população, então vim salvá-los — respondi, com um tom descontraído, mas respeitoso.
Manter a fachada do nome Renier parecia ser uma escolha sensata.
Akali, ainda desconfiada, ergueu uma sobrancelha. — E por que deveríamos acreditar em você? Esses trajes e sua aparência são bem suspeitos para um simples viajante.
— De fato, você não tem motivos para confiar em mim, mas acabei de fazer o seu trabalho, não? Salvei o povo de Ionia de um massacre. Mereço, pelo menos, um pouco de reconhecimento — afirmei, enfatizando o que eu havia feito.
Shen e Akali trocaram olhares, avaliando a situação. Os moradores da cidade acenavam para eles em apoio à minha defesa, enquanto os soldados de Noxus jaziam inconscientes no chão.
Após observar atentamente, Shen falou, sua voz calma transparecendo decisão. — É verdade, temos enfrentado muitos desafios com a invasão de Noxus. Se você realmente veio para protegê-los, então não vejo razão para tratá-lo com hostilidade — disse, abaixando a guarda.
— Ainda não confio nele. Como um garoto derrotou sozinho vários soldados treinados de Noxus? — questionou Akali, estreitando os olhos, persistindo em sua desconfiança.
— Isso não é da sua conta. Apenas saiba que não sou inimigo de Ionia. Além disso, todos têm seus segredos que preferem não revelar ao público, não? — rebati, mantendo uma postura indiferente.
Akali me observou, tentando penetrar em minhas motivações, mas, eventualmente, cedeu. — Uhm… Justo — suspirou, girando suas armas rapidamente e colocando-as na cintura, decidindo deixar suas suspeitas de lado por enquanto.
— Então, para me apresentar novamente, sou Renier Kanemoto. É um prazer conhecê-los.
— Formal demais… — retrucou Akali com uma expressão direta. — Eu sou Akali. Apenas Akali. O prazer é meu, forasteiro.
Uau, bem direta e seca...
Shen suspirou, parecendo um pouco constrangido. — Peço desculpas pelo comportamento dela. Sou Shen, da Ordem Kinkou. É um prazer conhecê-lo, Renier Kanemoto.
Ele estendeu a mão e eu a apertei cordialmente, um pequeno sorriso no rosto.
— Caso ainda não estejam totalmente convencidos de minhas intenções, entendo. Estou à disposição para provar que sou inofensivo em suas terras — afirmei calmamente.
Após ponderarem sobre minhas palavras, concordaram em me permitir acompanhá-los por enquanto, embora mantivessem os olhos atentos à patrulha na cidade.
Algumas horas se passaram até o sol começar a se pôr no horizonte. Eu observava a vista do mar a partir do telhado de uma das casas.
Preferi não me intrometer nos assuntos deles, afinal, estavam ocupados enterrando aqueles que deram suas vidas durante a invasão.
Como alguém de fora, deixei essas questões para que eles as resolvessem.
Mas me pergunto: qual deveria ser meu objetivo em Ionia? Isso significa que estou em Runeterra, o universo do jogo League of Legends.
Se Akali e Shen estão aqui, é provável que outros campeões do jogo também estejam, além de deuses, demônios e diversas outras entidades. O que eu deveria fazer? Para onde eu deveria ir?
Enquanto ponderava sobre minhas opções, uma voz familiar me trouxe de volta à realidade.
Akali se aproximou, seu semblante sério suavizando. — Achei que tinha fugido — disse, provocando-me.
— Para onde eu iria? Você não conseguiria me perder de vista tão facilmente — rebati.
— Geh… Você tem uma língua afiada para alguém tão jovem — respondeu ela, suspirando e olhando para o horizonte, mergulhando em um breve silêncio.
Constrangedor, senti seu olhar nas minhas costas.
Outro suspiro escapou de trás de sua máscara. — Renier, não é? — começou Akali, sua voz menos dura. — Desculpe pelo interrogatório de antes. Estamos passando por tempos difíceis e não podemos nos dar ao luxo de confiar em qualquer um.
Oh, então ela estava tentando ser mais compreensiva.
— Eu entendo. Não se preocupe, não fiquei ofendido. Seria estranho exigir confiança de uma pessoa desconhecida logo de cara — respondi, em um gesto de compreensão.
Shen se juntou à conversa, sua presença agora serena com a guarda de Akali abaixada. — Qualquer um disposto a proteger Ionia, nosso povo e nossa natureza espiritual, é considerado um amigo.
— Então, isso significa que me estão considerando um soldado também? — questionei, virando o rosto para eles.
— Alguns de nossos aliados da Ordem Kinkou já estão na cidade, então não serão pegos desprevenidos por outro ataque Noxus — assegurou Shen. — Dito isso, se você estiver interessado em juntar forças conosco, gostaríamos que você nos acompanhasse ao Placídio de Navori — disse ele.
Placídio de Navori, o local sagrado da harmonia jônica...
Se bem me lembro da Lore de Ionia, o Pladium é um dos lugares mais sagrados das Primeiras Terras.
Foi lá que os Ionianos, pela primeira vez, pegaram em armas para enfrentar Noxus, questionando o custo da vida nas vitórias e a mancha que o sangue deixaria em suas terras. Essa dúvida levou-os a questionar se essa era a decisão certa, uma vez que o equilíbrio que tanto prezavam poderia ter se perdido para sempre.
— Uhm… — pensei sobre se valeria a pena. Nunca disse que iria me aliar a causa deles.
— O que foi? Você não parece ter um rumo certo, "viajante". Então, por que não vem conosco? — retrucou Akali, desafiadora.
— Certo, tudo bem. Não tenho nada para fazer, então, por que não? — afirmei, levantando do telhado e limpando meu traje.
Sou um viajante, então vamos explorar este mundo. Runeterra é cheia de coisas diferentes. Pode acabar sendo interessante…
— Assim se fala! — declarou Akali, um sorriso escondido sob a máscara.
Como um budista, Shen colocou seu punho sob a palma aberta, fazendo uma reverência respeitosa. — Em nome da Ordem Kinkou e do povo de Ionia que você salvou, seremos eternamente gratos, assim como Irelia, ao receber mais um aliado forte contra Noxus.
Muito formal. Mas faz parte. A Ordem Kinkou sempre priorizou o equilíbrio e a harmonia, mesmo em suas artes marciais.
Akali parecia diferente, no entanto. Literalmente uma garota rebelde, do tipo que faria grafite nas paredes e daria trabalho para os pais.
— Hãn? Por que essa cara? Por um momento, pensei que você deveria levar um soco — comentou Akali, irritada.
— Uma Bad Girl… — murmurei, olhando para ela.
— Bad Girl? Isso foi um insulto? — perguntou ela, confusa.
— Um elogio — respondi com um pequeno sorriso travesso. — Então vamos logo para o Placídio de Navori — afirmei, pulando para o chão.
Ao ouvir o som de choro, avisto a mulher retornando com as duas crianças — a garota e o menino que salvei mais cedo. O garoto é o primeiro a me notar.
— Oh, é o herói, mamãe! — exclamou ele, apontando para mim.
Caminho até eles e percebo que estão visivelmente abalados. Mesmo sem precisar ativar os Olhos Demoníacos para ler suas emoções, sinto a carga que carregam.
— Nos encontramos novamente, garoto corajoso — digo, sorrindo. — Desculpe a intromissão, mas aconteceu algo? — pergunto, preocupado.
A mãe das crianças parece ainda mais abalada, mas mantém a força para não demonstrar fraqueza na frente dos filhos.
— Não é nenhuma intromissão — responde a mulher, desviando o olhar. — Você salvou minha vida, então está tudo bem.
Ela hesita, talvez por causa das crianças. Nesse momento, vejo Akali e Shen se aproximando.
— Menino corajoso e pequena princesa, que tal se divertirem com a Akali e o Shen? Gostaria de conversar um pouco com sua mãe — digo, piscando para Shen e Akali, sugerindo que os ajudem a distrair-se.
— Não vai dizer nada que eu não… — Akali começa, mas é interrompida por Shen, que a cutuca levemente.
— Então, que tal aprender algumas técnicas de arremesso para se tornarem grandes heróis como o Renier? — pergunta Shen, com um sorriso amigável.
Os olhos das crianças brilham ao ouvirem isso, e até Akali, relutante, acaba cedendo.
— Se vocês quiserem mesmo, vamos nos divertir um pouco então — diz ela, seu olhar para mim revelando que espera algo em troca.
As crianças saem animadas, caminhando ao lado de Akali e Shen, enquanto a mulher continua cabisbaixa, ficando apenas eu e ela.
— Então, embora pareça mais jovem, gostaria de ser um ombro amigo para você. O que a deixou tão triste? — pergunto, tentando ser acolhedor. — Mas primeiro, deixe-me me apresentar formalmente; pode me chamar apenas de Renier.
— Uhm, eu sou Tina. É um prazer conhecê-lo, Renier. Agradeço por ter nos salvado mais cedo, não só a mim, mas também aos meus filhos — diz ela, fazendo uma leve reverência, em sinal de respeito.
— Agora que nos conhecemos um pouco melhor, ficaria feliz em ajudar. Acredite, sou um bom ouvinte, caso queira desabafar.
Ela me observa atentamente, seus olhos cheios de lágrimas, lutando para não deixar que escorram.
Segurando suas mãos, tento transmitir conforto. — Está tudo bem — afirmo em um tom calmo.
As lágrimas finalmente começam a cair, e ela fala em um tom trêmulo e melancólico. — Então… se você está disposto a me ouvir…
Ouço atentamente enquanto ela desabafa, compartilhando os pensamentos que a atormentam. Quando os soldados de Noxus chegaram pela praia, muitos homens tentaram lutar para afastá-los, mas acabaram perdendo a vida.
Seu marido estava entre os que se foram. As crianças já sabem da perda, mas Tina faz o possível para manter-se forte ao lado deles, tentando acalmá-los.
Suas emoções e sentimentos a consomem por dentro. Superar a perda de alguém tão próximo, especialmente de quem se ama, não é algo fácil.
Continua…