Chereads / Legado Cósmico: A Jornada do Guardião Negro / Chapter 5 - Capítulo 4: Em Meio a Chuva a Rosa Negra Floresce.

Chapter 5 - Capítulo 4: Em Meio a Chuva a Rosa Negra Floresce.

Renier adentrou o mercado, observando a porta automática abrir-se suavemente ao seu comando. A iluminação branca e fria do ambiente contrastava com a tranquilidade da noite lá fora, criando uma atmosfera quase impessoal, mas funcional. As prateleiras estavam repletas de produtos meticulosamente organizados, e a vitrine exibia uma variedade de itens que chamavam a atenção de qualquer olhar curioso.

Ao caminhar em direção ao balcão, seus olhos captaram a figura da atendente, uma mulher loira quase platinada. Seus traços eram maduros, mas não pesados, e ela usava óculos finos que acentuavam a profundidade de seus olhos verdes. Havia algo etéreo em sua presença, uma elegância natural que parecia fluir sem esforço, mesmo que estivesse vestindo o simples uniforme do mercado.

Ela é bem bonita... pensou Renier, observando-a de forma discreta enquanto avaliava sua postura. Apesar da simplicidade do ambiente, a mulher irradiava uma beleza discreta e, de algum modo, fascinante. Seu charme era sereno, mas inegavelmente envolvente.

Ela o cumprimentou com um sorriso suave, mas seus olhos estreitaram-se brevemente ao notar a presença dele, como se algo mais fosse lido além do óbvio. Sua voz soou suave, carregada de um charme adulto que Renier não conseguiu ignorar. — Boa noite, o que deseja? — perguntou, sua cordialidade profissional misturada com uma simpatia quase natural, um toque de calor que fazia o simples gesto de pedir algo para se sentir mais pessoal.

Renier, não se demorando muito, apontou para um lanche na vitrine. — Vou levar um desses salgados, por favor, e um refrigerante.

A mulher fez um leve aceno, movendo-se com graça para preparar o pedido. Enquanto ela organizava os itens, Renier se permitiu observar o ambiente ao seu redor, sentindo a calma que pairava no mercado, como uma bolha imperturbável. O suave tilintar das prateleiras e o murmúrio distante de outros clientes tornavam o lugar uma espécie de refúgio silencioso. Ele não pôde deixar de se perguntar como alguém com uma aura tão refinada, quase fora de lugar, poderia estar ali.

Mas, em vez de questionar mais, ele manteve esses pensamentos para si mesmo. Algo em sua postura o fazia sentir que talvez fosse melhor não revelar mais sobre suas percepções. A mulher preparava o pedido com precisão e uma calma contagiante, e Renier, por um momento, se deixou envolver pela tranquilidade que ela emanava, como se o simples ato de comprar algo fosse uma pequena pausa em meio ao caos de seus pensamentos.

A atendente entregou o lanche com um sorriso, e Renier agradeceu, pegando a sacola com a mesma facilidade com que havia entrado. Ele se virou e caminhou para fora do mercado, o som da porta automática fechando-se atrás de si. A noite estava úmida e sombria, e enquanto caminhava pelas ruas vazias, sua mente estava repleta de pensamentos pesados. As responsabilidades como Guardião, a nova casa, a expectativa de um futuro incerto… era tanta coisa para absorver, tanto peso sobre seus ombros. Como ele, alguém com apenas 16 anos, poderia lidar com tudo isso?

Renier franziu a testa. Era como se o próprio mundo, com sua vastidão e complexidade, não se importasse em oferecer qualquer tipo de ajuda. Ele estava sozinho nisso, sem saber como fazer a jornada sem um mapa claro.

No meio de seus pensamentos, ele não percebeu a chuva começar a cair, uma pancada de água que o pegou desprevenido. Ele olhou para cima, incomodado, ao perceber que não havia visto previsão de chuva naquele dia, e, claro, não tinha trazido guarda-chuva algum. A chuva só aumentava de intensidade, como se o clima estivesse reagindo à sua frustração.

"Perfeito…" pensou, acelerando o passo na tentativa de encontrar algum abrigo.

Mas a chuva logo se transformou em uma verdadeira tempestade, com trovões distantes ecoando na escuridão, o que tornava qualquer abrigo mais distante ainda. Ele parou brevemente diante de uma praça vazia, com brinquedos encharcados pela água, balanços balançando com o vento forte, e gangorras que agora eram apenas silhuetas sob a água.

Mas o que realmente capturou a atenção de Renier não foram os brinquedos danificados pela chuva, mas sim a figura solitária no balanço. Uma garota, seus cabelos escuros como a noite, molhados e colados ao rosto, se balançava lentamente, como se fosse a única coisa que fizesse sentido em meio à tempestade. Ela usava o uniforme escolar padrão japonês, mas estava completamente coberta pela chuva, os sapatos sujos de lama, com a expressão vazia de quem não se importava com nada à sua volta.

Renier franziu os olhos, tentando decifrar a situação. Ele usou seus Olhos das Revelações, tentando entender mais, mas encontrou apenas um vazio profundo e inexplicável. A garota estava ali, imersa em sua própria solidão, e isso o intrigava de uma maneira que ele não conseguia explicar. Ele hesitou, mas se aproximou com calma, curioso, mas mantendo uma distância respeitosa.

Ela não se virou, nem sequer olhou para ele, como se sua presença fosse irrelevante. Sua voz soou baixa, quase indiferente, misturada com o som da chuva. — Você realmente vai ficar aí, debaixo dessa chuva? Vai acabar se resfriando, sabia?

Renier, sem perder a compostura, respondeu com a mesma calma. — Não se aplica a você?

A garota então virou o rosto, encarando-o pela primeira vez. Seus olhos eram de um tom escuro, mas havia um brilho sutil, quase imperceptível, de um tom púrpura profundo no fundo dos olhos. Algo dentro de Renier se mexeu ao ver aquilo, mas ele não deixou transparecer. Ele já estava acostumado com seus próprios olhos incomuns, então não achou tão surpreendente encontrar alguém com algo igualmente peculiar. Contudo, a presença dela, o vazio em seu olhar, mexia com ele de uma maneira mais profunda.

Ele se manteve ali, esperando, mas também curioso sobre quem era aquela garota e o que a fazia agir de uma forma tão distante, alheia à tempestade e ao mundo ao redor.

A garota o olhou com um olhar curioso e então perguntou: — Qual é o seu nome? — sua voz, a voz baixa quase se perdendo na chuva.

Renier sorriu e se apresentou. — Renier Kanemoto. Ou, se preferir, pode me chamar de Ren.

A resposta pareceu ecoar nela de uma forma curiosa. Kyouka murmurou o sobrenome "Kanemoto" como se ele tivesse um significado especial para ela, mas não disse nada. Após uma breve pausa, ela ergueu o olhar para ele e se apresentou: — Kyouka Nyami.

Renier, como se quisesse registrar aquele nome em sua memória, repetiu: — Kyouka... Nyami. — E logo acrescentou, sem esconder sua curiosidade: — E o que você está fazendo aqui, sozinha, nessa chuva?

Ela soltou um suspiro. — Estava saindo da escola. Dia chato.

Renier arqueou uma sobrancelha. — O horário escolar terminou faz tempo. Você saiu à noite? Não é perigoso?

Kyouka revirou os olhos, esboçando um meio sorriso de ironia. — Eu estava na detenção. — Sua resposta o fez querer saber mais, e ele decidiu se sentar no balanço ao lado dela. Kyouka o acompanhou com o olhar, curiosa. Nenhum dos dois parecia notar ou se importar com a tempestade que caía sobre eles.

— Três garotos foram parar na enfermaria — ela explicou, com um sorriso de leve desafio, como se o incentivasse a perguntar mais.

Renier riu, surpreso, e, com um toque de provocação, perguntou: — E o que eles fizeram para acabar assim?

— Alguns tentam passar dos limites, achando que sou uma garota fácil... Quando tentaram forçar algo, fiz questão de que se arrependessem.

Renier assobiou, impressionado. — Nossa, então você não é pouca coisa, hein? Como foi que deixou esses idiotas?

Kyouka sorriu, gostando do tom casual dele. — Bati a cabeça de um na parede e derrubei o mais "parrudo" usando o corpo do outro como colchão.

Renier riu, admirado com a história e com o jeito direto dela. Foi então que ele notou algo no uniforme dela — o mesmo símbolo do uniforme que ele usaria no dia seguinte.

— Provavelmente amanhã vou pra mesma escola que você — disse ele, casualmente.

Kyouka ergueu uma sobrancelha, com um olhar de desafio. — E que fique claro, Kanemoto, se você tentar alguma gracinha, não hesitarei em enterrar sua cara no chão.

— Eu jamais tocaria em uma Rosa Negra como você — respondeu Renier, sem hesitar.

Ela o olhou, surpresa, com o que parecia ser o início de um sorriso. — E por que me chamou assim?

— Bom... — Ele hesitou, mas decidiu continuar. — Uma rosa é bonita, uma flor que parece frágil para os desavisados, mas esconde espinhos para aqueles que tentam segurá-la à força. Ela machuca, mas é isso que a torna tão especial. — Ele fez uma pausa, enquanto Kyouka continuava a ouvi-lo com atenção. — E Rosa Negra... por seus cabelos escuros, seus olhos que parecem uma noite profunda. Foi a primeira coisa que pensei quando te vi.

O elogio fez Kyouka sorrir de um jeito diferente, como se aquela fosse uma reação rara para ela. — Gostei. Você sabe como elogiar uma garota, Ren.

Renier sentiu um leve calor nas bochechas e um aperto inesperado no peito, quase como se aquele sorriso tivesse deixado uma marca nele. E ele se perguntou se era possível estar tão atraído por alguém que mal conhecia.

Kyouka então se levantou, parecendo pronta para partir. — É melhor você voltar para casa, ou vai acabar doente no primeiro dia de aula. Amanhã a gente se vê. — Antes que ele pudesse responder, Kyouka já se afastava, deixando-o parado ali, sozinho na tempestade, com um misto de sentimentos e um aperto estranho no coração.

Continua…