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Chapter 10 - Capítulo 9: Uma Noite de Energia.

A luz suave do camarim banhava Renier, que, sem os adornos e a maquiagem da performance, se sentia mais ele mesmo. As roupas confortáveis trouxeram uma sensação de alívio que ele saboreava junto ao café preto, recém-oferecido pela gerente. Ela se aproximou com um sorriso leve, quebrando o silêncio.

— Mandou bem com as garotas, hein? Me diz, Renier, se vestiu de garota só pra dar uma lição nelas, foi? — Ela riu, mas no fundo, estava curiosa.

Renier ergueu a caneca, tomando um gole antes de responder. — Eu não podia ficar parado vendo Lilly se afundar numa máscara que, no futuro, não conseguiria tirar. O que adianta brilhar sob uma falsidade? Esse tipo de luz só cega.

A gerente riu de leve, mas seu sorriso trazia algo melancólico. — Bem... essa é a verdade dura que a indústria de idols cria. A falsidade é parte do show, mas… admito, essas três precisavam ouvir algo assim. — Ela olhou para o fundo da caneca, como se se perdesse ali, depois suspirou. — Eu mesma teria adorado ouvir essas palavras na minha época. Quem sabe a vida poderia ter sido outra.

Renier a encarou, seu olhar profundo e inabalável. — Sempre há um momento para mudar. A questão é querer. Você, mais do que ninguém, merece brilhar sem depender dos outros. — Essas palavras pareciam carregar um peso antigo e sábio, e a gerente, por um instante, pareceu ter sido tocada.

Antes que pudesse responder, o som ensurdecedor de aplausos e gritos do público inundou o camarim. A gerente ergueu uma sobrancelha, intrigada. — Parece que elas arrasaram.

Renier apenas deu um sorriso sutil. — Ou talvez, finalmente, foram autênticas.

Logo depois, Lilly, Blue e Bunny entraram no camarim. Estavam cansadas, sem fôlego, mas com uma expressão que Renier reconheceu: era o brilho autêntico que ele desejava ver. As perucas sumiram, revelando suas identidades verdadeiras: Lilly com o cabelo loiro habitual, Blue com seu volumoso cabelo castanho claro, e Bunny, com seus fios escuros presos em um laço despretensioso.

— Ei, tocar bateria não é moleza, viu?— Blue comentou, exausta, mas com o braço ao redor de Bunny, como quem volta de uma batalha.

A gerente olhou para as três, surpresa. — Vocês... se apresentaram sem as perucas?

As três se entreolharam e, em um uníssono carregado de orgulho, responderam. — Sim!

Lilly, com um sorriso entre lágrimas e riso, aproximou-se e contou sobre o público. — No começo, os fãs ficaram surpresos, mas depois... eles se animaram! A vibe mudou e... foi incrível.

Bunny, segurando a guitarra com orgulho, acrescentou. — Foi essa energia que nos empurrou pra frente. Só por isso conseguimos!

Lilly, ainda ofegante, então entregou um cartão à gerente. — Uma gravadora estava lá… eles querem nos ver para uma audição.

A gerente ficou boquiaberta, a incredulidade substituída por uma expressão orgulhosa e emocionada. Do lado, Renier sorriu com satisfação, apreciando o que aquelas palavras despertaram nas garotas. Elas haviam encontrado sua verdadeira voz.

Deixando a caneca no balcão, ele se levantou, encarando Lilly. — Heh, é isso aí, Lilly. Esse sorriso é o brilho que você deve carregar, um que ilumina você e as outras.

Sem conseguir se conter, Lilly sentiu as lágrimas ameaçarem escapar, e, antes que ele percebesse, ela e as outras duas o puxaram para um abraço apertado e sincero. As palavras de agradecimento misturavam-se a lágrimas contidas, um gesto de pura gratidão que Renier sentiu fundo.

Ele ficou imóvel, permitindo-se aproveitar o momento. — Eu fico feliz por vocês, de verdade.

Depois de um tempo, as três se afastaram, ainda emocionadas, e a gerente cruzou os braços, sorrindo. — Esse garoto é realmente uma figura.

Renier retribuiu com um sorriso discreto, sabendo que, naquele instante, o brilho delas havia se tornado um pouco mais verdadeiro, um pouco mais duradouro.

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Renier seguia seu caminho pela calçada, o cansaço daquele longo e intrigante dia pesando sobre ele. O céu estava profundo e escuro, as luzes da cidade projetando sombras tranquilas nas ruas vazias. Ao checar o celular, soltou um suspiro pesado ao perceber que já era mais de uma da manhã. Um pequeno sorriso se formou em seu rosto enquanto murmurava para si mesmo: "Rikyu vai me matar quando eu chegar...".

Logo, seus passos o levaram até a praça. O lugar era silencioso, e uma memória o puxou de volta ao momento em que conhecera Kyouka ali, na chuva. E, como se o destino o guiasse, seus olhos a encontraram sentada no balanço, uma silhueta solitária sob a luz fraca dos postes, sua presença irradiando uma tranquilidade misteriosa.

Kyouka notou a chegada de Renier e lançou-lhe um olhar, os lábios curvados em um sorriso sutil. — Parece que não sou a única que gosta de passeios noturnos — provocou, sua voz ecoando suavemente no silêncio da praça.

Ele se aproximou, parando ao seu lado e respondendo com um sorriso casual. — Não é do meu hábito, mas acho que de vez em quando a noite tem seu charme. — Sentou-se no balanço ao lado dela, deixando o momento fluir sem pressa. Depois de um breve silêncio, lançou-lhe um olhar questionador. — Está tudo bem? O que faz aqui sozinha, Kyouka? Detenção de novo?

Ela riu baixinho, mas havia uma tristeza escondida em seu olhar. — Não... só senti um vazio. Às vezes, é bom respirar longe de tudo. — Sua resposta pairou no ar como uma sombra, carregando um peso que Renier notou, mas não quis insistir.

— Também conheço essa sensação, — respondeu Renier, pensativo. Kyouka o olhou de lado, com uma expressão que misturava curiosidade e surpresa. — Você...? — ela sussurrou. — É inesperado, considerando que você sempre parece tão… cheio.

Renier suspirou. Talvez fosse isso que o intrigava tanto nela. O jeito como as palavras dela sempre traziam um enigma. — Hoje já resolvi problemas demais para pensar sobre o vazio — brincou, tentando aliviar o clima.

Antes que ele pudesse processar a expressão dela, Kyouka passou um dedo em sua bochecha, tirando um pouco de pó de maquiagem que ainda restava. — Então, me diz... isso faz parte de algum hobby seu? — perguntou, com um sorriso provocante.

Ele riu, dando de ombros. — Não é o que parece. Digamos que hoje tive que assumir um papel diferente. — O silêncio se acomodou entre eles novamente, e dessa vez, ele percebeu algo mais ali, uma faísca única. Com a voz leve e despreocupada, que mascarava um certo nervosismo, ele perguntou. — E se... você quisesse namorar comigo?

Kyouka piscou, surpresa, mas logo um sorriso presunçoso surgiu em seus lábios. — Você é audacioso, Renier — respondeu, a voz levemente divertida. — Perguntar assim, do nada?

Ele sorriu, fixando seu olhar nela. — Eu apenas... não queria deixar o momento passar. Talvez não tivesse outra chance de dizer isso.

Ela o encarou por um momento, como se estivesse refletindo, mas então seu sorriso de canto se transformou em uma decisão. — Você tem razão. Às vezes, o agora e o depois podem ser a mesma coisa… — Ela se inclinou, e com uma firmeza inesperada, puxou-o pela gola, selando seus lábios com um beijo intenso e repentino. Renier ficou atordoado por um segundo, mas logo se entregou ao beijo, sentindo a intensidade daquele momento.

Ao se afastar, Kyouka disse suavemente. — Sim, Renier, eu aceito. Porque talvez sejamos mesmo iguais, de um jeito que os outros jamais entenderão. E você também ainda não entende... mas um dia, vai entender.

Renier olhou para ela, fascinado, com um sorriso. Naquela noite, sob as luzes suaves da praça, ele soube que algo realmente único havia nascido entre eles.

Continua…