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Chapter 14 - Capítulo 13: Mundo Zero

O sentimento de incerteza que antes consumia Renier, aquele peso de carregar um propósito imenso e incompreensível, começou a esvanecer. Em seu lugar, o farfalhar suave das folhas ao vento trazia uma calma quase hipnótica.

"É um som agradável... Abrir os olhos parece desnecessário com toda essa serenidade," pensou ele, deixando um leve sorriso escapar.

O toque da grama úmida contra seus dedos e o ar agridoce ao seu redor faziam parecer que o caos de antes não passava de um sonho distante.

"Melhor deixar a preguiça de lado e começar o trabalho," concluiu Renier, erguendo-se devagar enquanto suas mãos firmavam-se na grama macia.

Ao abrir os olhos, o brilho intenso do sol o forçou a levantar uma mão para bloquear a luz. Era um brilho diferente, mais puro, do que qualquer coisa que ele havia experimentado na Terra. Seus olhos precisaram de alguns segundos para se adaptar.

— Este mundo… o ar aqui é mais limpo do que o da Terra — murmurou Renier, deixando seu olhar vagar pelo cenário ao redor, cheio da curiosidade de uma criança explorando um lugar desconhecido.

Ele estava em um espaço amplo, cercado por árvores esparsas e pequenas, que criavam uma clareira perfeita. "Uma clareira," concluiu em pensamento.

Foi então que algo chamou sua atenção imediatamente.

Sob a sombra de uma árvore escura, cujas folhas esbranquiçadas pareciam brilhar sob o sol, havia uma figura. Uma garota.

Ela era um contraste impressionante com a vegetação ao redor. Seus cabelos escuros caíam emoldurando um rosto de pele pálida e delicada. Seus joelhos estavam dobrados, e uma katana repousava sobre seu colo. Ela parecia estar em profunda meditação. A armadura que vestia, com detalhes que remetiam ao estilo samurai japonês, era ao mesmo tempo simples e imponente.

Renier não sabia se ela estava ali esperando por ele ou se já ocupava aquele lugar antes de seu despertar.

"Melhor não arriscar," pensou ele, enquanto o brilho etéreo azul de seus olhos se acendia. Sua atenção estava focada, buscando qualquer traço de hostilidade na garota misteriosa.

— Pelo menos não sinto nada... por enquanto. — murmurou Renier, erguendo-se enquanto se apoiava no tronco da árvore ao lado.

Ele respirou fundo, tentando manter a calma antes de voltar o olhar para a garota misteriosa. A dúvida em sua mente o incomodava, mas precisava quebrar o silêncio.

— Eh... bem, quem seria você? — perguntou, relutante, ciente de que chamar sua atenção poderia ser um convite a um ataque.

A garota suspirou suavemente, e então abriu os olhos. Eles eram de um vermelho profundo, uma cor que parecia engolir a luz ao seu redor. Aquilo deixou Renier ainda mais intrigado.

— Finalmente acordou... — disse ela, com um tom disciplinado e controlado, mas sem hostilidade aparente.

Renier arqueou uma sobrancelha. — Você estava me esperando? — perguntou, ainda mais curioso. Afinal, Yggdrasil não havia mencionado nada sobre essa situação.

A garota fez um gesto sutil de assentimento, demonstrando respeito.

— Pode-se dizer que sim. Sou Aura Douji, — apresentou-se ela, com um sorriso que carregava tanto orgulho quanto confiança.

"Douji... Esse sobrenome," pensou Renier, franzindo levemente a testa enquanto desviava o olhar por um instante, refletindo.

— Douji, como em Shuten Douji? — indagou, relembrando a figura lendária que, além de ser uma antepassada distante, era o demônio cujo sangue corria nas veias da família Kanemoto.

Aura sorriu de forma quase imperceptível.

— Exatamente. Sou uma filha dela, — respondeu, com tranquilidade. — E você é o Guardião Negro, certo? Um Kanemoto.

A afirmação o pegou de surpresa. "Uma filha dela? Ela parece tão jovem, mas é descendente direta de um ser que existiu há mais de mil anos?"

Renier decidiu não se aprofundar nessa linha de pensamento. Sua própria existência como híbrido já era complexa o suficiente. Ele aprendeu que, às vezes, era melhor aceitar o incompreensível.

Sentando-se sobre as pernas dobradas, ele ajustou sua postura para encará-la diretamente.

— Então, você já sabe quem eu sou e provavelmente sabia que eu apareceria aqui. — Sua voz era calma, mas cautelosa. — O que você quer de mim?

Aura curvou os lábios em um sorriso provocador.

— Gosto da sua atitude. Não é à toa que sua família tem a fama de serem tão ousados. — Ela fez uma pausa, como se escolhesse as palavras. — Fui guiada pela minha mãe para ser seu suporte, mas… também tenho um objetivo pessoal.

Renier manteve o olhar firme, estudando-a enquanto os Olhos das Revelações brilhavam suavemente, buscando qualquer indício de falsidade.

— Vamos fazer assim: me diga primeiro qual é seu objetivo pessoal. A partir daí, decido se seu suporte será útil para mim, — propôs ele, com uma indiferença calculada.

Aura inclinou levemente a cabeça, como se apreciasse a abordagem direta.

— Direto ao ponto, não é? — disse ela, soltando um pequeno riso. — Facilita as coisas. Vou ser clara: meu objetivo é usar seu poder para recuperar algo que me foi tirado. — Sua expressão endureceu, e o brilho em seus olhos carmesins ganhou um toque de fúria contida.

Renier permaneceu em silêncio, absorvendo suas palavras. Ele podia sentir a verdade em sua voz, um eco de emoções cruas e sinceras. Não havia sinal de manipulação ou engano, pelo menos até onde seus sentidos alcançavam.

Aura cruzou os braços, mantendo o olhar fixo nele.

— Mas é tudo o que vou dizer, por enquanto. — Ela fez uma pausa, sua voz ganhando um tom mais prático. — Você é o Guardião Negro, certo? Deve ter seus próprios motivos para estar aqui. Então, que tal isso: eu te ajudo com informações e apoio no que precisar, e, em troca, você me ajuda a alcançar meu objetivo.

Renier arqueou uma sobrancelha, intrigado pela proposta. "Uma troca de favores. Simples e direta." Ele considerou que Aura parecia genuína, e isso bastava por ora.

— Aceito o acordo. — Sua resposta veio acompanhada de um sorriso leve. — Você me ajuda no que preciso, e eu empresto meu poder para você. — Sua expressão ficou séria por um momento. — E não se preocupe: minha palavra não é quebrada, desde que você cumpra a sua.

Aura sorriu, desta vez com um toque de satisfação.

— Isso vai ser interessante... — murmurou, com os olhos carmesins fixos nos de Renier.

Renier então decidiu estar mais afim de saber e buscar informações relevantes sobre esse novo mundo.

— Bem, já que é um novo mundo, gostaria de algumas informações sobre esse lugar, — comentou ele olhando para Aura.

Assentindo, Aura responde. — Claro, mas provavelmente será fácil saber sobre o que procura, neste lugar…

Renier decidiu por fim ouvir a garota mas. Porem sobre Aura, mesmo por esse acordo, ele optou apenas por falar sobre sua descendência como Guardião Negro, da família Kanemoto, preocupado ao revelar sobre sua natureza como híbrido, e claro como filho da Criadora da Árvore Cósmica, Yggdrasil.

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Após três séculos desde que o temível Demônio Alaster foi selado nas ruínas da antiga Capital de Aurélia, a Rainha, em um ato de sacrifício, entregou sua vida durante o combate, na esperança de garantir uma paz efêmera para o legado que tanto amava.

Contudo, com o tempo, uma vasta floresta sombria tomou o local onde o selo do Demônio repousava, como se a própria essência maligna de Alaster tivesse corrompido o solo, impregnando o antigo coração do reino. Monstros e criaturas desprovidas de qualquer humanidade agora espreitam as sombras, dominando o que restou da cidade.

À medida que o selo enfraquece, os habitantes do Reino de Aurélia vivem com o temor crescente de que o terrível ser que emergiu das profundezas do Inferno possa, em breve, ser libertado…

— Pelo menos é o que todos do Reino Humano dizem, após um grande confronto com esse demônio, e o florescer desta Floresta Perdida — disse Aura, enquanto mexia com um galho na fogueira.

A noite havia se instalado, enquanto uma grande lua cobria o céu, iluminando mesmo que por mínimo que seja a escuridão que rondava aos arredores da clareira.

— Um demônio, Alaster… — murmurou Renier, absorvendo a história. — Parece diferente de uma Sombra que deveria ser meu objetivo.

— De fato… Mas como o selo dele tem se degradado nesses últimos anos, talvez seja algo que você, como Guardião deveria dar conta, não acha? — perguntou ela, olhando para Renier.

Renier estava escorado na árvore, pensando a respeito, disso, as lembranças das palavras de Yggdrasil sobre isso, de fato seria algo que o Guardião faria, no lugar dela. — Então seguiremos para essa tal Floresta Perdida, talvez encontremos algo — afirmou Renier olhando para Aura.

Ela por sua vez, dá um sorriso brincalhão e olha para Renier. — Desculpe, mas não precisamos "dar uma olhada" afinal já estamos dentro dela, — respondeu Aura, estendendo os braços para o lado.

Renier ficou surpreso, ele havia despertado dentro da Floresta Perdida? Seu olhar vagou pelos arredores, de fato quando ele finalmente parou para sentir tudo ao redor, era um território hostil, e cheio de energia negativa. — Então já estamos no início do jogo antes mesmo de apertar o botão de iniciar… — murmurou ele, fazendo uma analogia a um tutorial de estar começando um tutorial de um jogo antes mesmo de começar a jogar.

Ele sorriu, acho que Yggdrasil sabia disso, um pequeno teste talvez para ver suas capacidades, era interessante, mas será que Renier mesmo com seu poder, estaria pronto para o futuro que o aguarda nesse lugar cheio de energia demoníaca?

Continua…