Chereads / Legado Cósmico: A Jornada do Guardião Negro / Chapter 8 - Capítulo 7: O Mundo de uma Idol.

Chapter 8 - Capítulo 7: O Mundo de uma Idol.

Após o som dos sinos de fim de aula, o céu se tingia de um laranja quente, com as sombras da tarde começando a se alongar. Renier deu um simples aceno de mão para Kyouka, que o olhava com um sorriso curioso. Ela, como sempre, parecia disposta a arranjar uma desculpa para passar mais tempo com ele.

— Não vai me acompanhar? — perguntou Kyouka, com a voz brincalhona, como se a resposta já fosse esperada.

Renier, com a mesma calma de sempre, respondeu. — Tenho algumas coisas para resolver. Vou deixar esse encontro para outra hora.

Kyouka, fingindo se ofender, deu-lhe um leve soco no ombro. — Não foi isso que eu quis dizer! Mas tudo bem, deixo para uma próxima. — Ela acenou uma última vez e saiu pela porta com um sorriso travesso, desaparecendo entre os outros alunos que iam deixando a escola.

Renier permaneceu parado por um momento, até que os sons da escola esvaziando foram substituídos por um murmúrio distante. Lilly estava terminando de conversar com suas amigas e logo se aproximou dele.

— Renier, você tem algum tempo? Pode me acompanhar? — perguntou Lilly com uma expressão um pouco tímida, mas também determinada.

Renier a observou por um momento, percebendo que não havia realmente nenhum motivo para recusar. — Não vejo problema, — ele disse, já se virando para caminhar ao lado dela.

Eles saíram pelos corredores da escola e atravessaram o portão. Caminhando pela calçada, o clima da cidade de Kyoto se misturando com o de um final de tarde, a luz dourada ainda tingindo as ruas. Renier percebeu que o destino era o metrô. — Você me levará para algum lugar em Tóquio? —, ele perguntou, curioso, já que Lilly tinha mencionado ser uma idol.

O silêncio entre os dois se arrastou por um momento, até que Lilly finalmente quebrou o silêncio, sua voz suave. — Você sabe como funciona a vida de uma idol?

Renier deu um sorriso, ligeiramente sem jeito. — Não muito, na verdade. Eu sou mais familiarizado com músicas normais, do lado de fora.

Lilly deu uma risadinha e brincou. — Você está me chamando de estranha?

Renier imediatamente se apressou a corrigir, o tom genuíno em sua voz. — Não, claro que não. Eu só nunca conheci o tipo de... gosto dos garotos por garotas bonitas que cantam e dançam.

Ela piscou, sorrindo de maneira leve. — Isso é bom. Mostra que você é respeitoso, — disse Lilly, pensativa. Ela se inclinou ligeiramente para ele enquanto explicava com mais seriedade. — Ser uma idol... é carregar um peso e uma máscara. A máscara é o que todos esperam de você, e o peso é o que você carrega por trás dela.

Renier permaneceu em silêncio, refletindo sobre suas palavras. Não era comum ouvir alguém falar sobre isso com tanta sinceridade. Ele a observou, a serenidade em seu rosto se aprofundando à medida que ela compartilhava seu dilema.

— Colocar uma máscara tão cedo… — Renier murmurou, sua voz profunda. — É como se você nunca pudesse removê-la, mesmo que quisesse. Você vai aguentar isso?

Lilly o olhou com um sorriso frágil, a dor em seus olhos visível. — Você sabe falar umas palavras afiadas, sabia? — ela respondeu com uma risada sem humor. — Sim, é exatamente isso... Eu coloquei uma máscara por cima de quem realmente sou.

Ela parou, a expressão no rosto quase ausente, como se estivesse distante. — Eu queria ser cantora. Sonhava com isso desde pequena. Era o que me fazia abrir os olhos, com brilho no coração. Mas, em algum momento, isso se perdeu... Eu me vi presa na mentira que criei.

Renier olhou para ela, sem pressa de interromper, suas palavras pesando no ar. — Não adianta ser uma idol se o que você tem dentro não ressoa. Se o que você carrega dentro de você é frágil, vazio... Isso é o que você tem feito até agora.

Lilly absorveu suas palavras em silêncio, não negando, mas também sem dizer nada. Ela sabia que ele estava certo, e as palavras pesaram em seu coração. Eles continuaram a caminhada, a escadaria do metrô se aproximando. O local estava relativamente vazio, com poucos adultos apressados indo para seus trabalhos.

Renier e Lilly seguiram em direção ao metrô. Quando entraram no vagão, Lilly, um pouco hesitante, se posicionou ao lado dele, ficando mais perto do que Renier esperava. Ela parecia nervosa, mas ele não a afastou. Talvez, ele pensou, isso fosse necessário. Um silêncio confortável os envolveu enquanto o metrô avançava pela cidade.

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O som constante do vagão se misturava com os pensamentos que ecoavam na mente de Renier, enquanto ele observava Lilly em silêncio. A viagem até Tokyo, embora rápida, foi marcada por uma quietude desconcertante. Ele sabia que estava dando o espaço necessário para ela processar o que havia dito, mas sua curiosidade não podia ser ignorada. Se a conversa fosse apenas sobre os dilemas da vida de uma idol, por que então ela o estava levando para um lugar tão distante, já no início da noite? A pergunta pairava no ar, mas Renier não a fez, preferindo aguardar.

A próxima estação surgiu, e Lilly quebrou o silêncio.

— É aqui que descemos — ela disse, a voz suave, mas carregada de um tom que sugeria mais do que um simples trajeto.

Renier apenas assentiu, levantando-se junto a ela, e ambos saíram da estação. A agitação de Tokyo os envolveu quase instantaneamente. As luzes de néon piscavam em uma cacofonia de cores vibrantes, refletindo a energia frenética da cidade. O caos estava em todo lugar: o som do tráfego, os gritos de vendedores ambulantes e, claro, os bêbados tropeçando nas calçadas e as sombras mais sombrias, onde negócios ilícitos aconteciam nas vielas. Mas Renier não se incomodava. A cidade estava viva, e ele tinha outros pensamentos em mente, especialmente com Lilly ao seu lado. Seu olhar era atento, como uma sombra que sempre a acompanhava, em silêncio, mas com uma presença firme.

— Eu faço esse trajeto pelo menos duas vezes na semana — Lilly começou, puxando-o para uma conversa enquanto caminhavam pelas ruas agitadas.

Renier olhou para ela, uma sobrancelha erguida. — É algum trabalho? — perguntou, sua voz curiosa. — É comum para iniciantes e aspirantes a idols fazerem esse tipo de coisa.

Lilly o olhou por um momento, surpresa. — Acertou na mosca — respondeu, antes de lançar-lhe um sorriso brincalhão. — Você é inteligente demais para alguém tão bonito.

Renier riu, o som baixo e agradável. — Fico feliz que tenha notado — disse com um sorriso sincero.

Logo, eles chegaram a um salão de eventos. A vitrine estava iluminada com luzes fortes, e Renier pôde ver garotas de maquiagem pesada e perucas coloridas, todas vestindo roupas excêntricas. Elas eram as idols, sem dúvida, com sua aparência cuidadosamente elaborada para esconder quem realmente eram, disfarçadas de forma encantadora para entreter os fãs.

Lilly não parecia se incomodar com o olhar de Renier, que observava a cena com uma certa admiração. — É aqui que estou começando minha jornada como idol — ela explicou.

Renier deu de ombros, um gesto descontraído. — Todo mundo começa de algum lugar — disse com um sorriso leve. — Você vai longe.

Lilly ficou um pouco surpresa com sua reação. Ela esperava algo diferente, talvez desprezo ou até zombaria, algo que muitas garotas enfrentavam no início da carreira. Mas não. Renier foi diferente. Ele parecia genuinamente interessado, até encorajador.

— Você é... diferente — ela disse com um sorriso suave. — Mas gosto disso.

Os dois seguiram para a área restrita, onde os camarins ficavam. No caminho, uma mulher de cabelos escuros e vestida com um elegante vestido de couro, de aparência gótica, apareceu. Ela olhou para Lilly com uma expressão impaciente. — Kissy — ela chamou. — Você está atrasada. E nada de namorados atrás dos camarins.

Renier, com um sorriso travesso, provocou. — Kissy? É um nome fofo. — Ele a olhou, rindo da reação surpresa de Lilly.

Lilly, visivelmente desconcertada, corou. — Cala a boca — murmurou, antes de se voltar para a mulher. — Gerente, ele não é meu namorado. Só... um amigo. Ele pode ficar. Ele é confiável.

A gerente a observou de forma calculista, seus olhos escaneando Renier com um toque de curiosidade. Ela parecia ponderar sobre ele, seu olhar avaliando cada detalhe de sua aparência. — As garotas vão gostar de um estímulo — disse ela, com uma expressão quase como se tivesse pensado em algo. Então, ela deu um sorriso travesso. — Se você colocar uma saia, uma peruca e maquiagem, pode ficar.

Renier ficou em silêncio por um momento, surpreso. — O quê?!

Lilly, com uma expressão que Renier não conseguiu entender, respondeu com um brilho travesso nos olhos. — Parece uma boa ideia, não acha?

Renier olhou para ela, mais confuso do que nunca. — Você está brincando, não é?

Mas o olhar de Lilly não deixou espaço para dúvidas. — Só dessa vez — ela disse com um sorriso tímido, quase como se estivesse se divertindo com a situação.

Renier, ainda sem entender completamente o que estava acontecendo, sentiu um pequeno arrepio. Parecia que ele estava sendo levado por uma corrente que ele não podia parar, uma corrente que o estava guiando para algo que ele ainda não entendia completamente. Mas, com Lilly ao seu lado e o sorriso dela brilhando como uma promessa de mais surpresas, ele seguiu em frente. Não havia mais volta.

Continua…