A gerente de aparência gótica observava as garotas no camarim, conferindo as preparações para a apresentação. Lilly, antes loira de longos cabelos, agora escondia suas mechas naturais sob uma peruca rosa vibrante. Seu vestido de idol era estilizado, chamativo e um pouco revelador, destacando sua postura confiante.
Ao seu lado, duas outras garotas se preparavam, aplicando a maquiagem com mãos habilidosas, mas ligeiramente apressadas. A gerente, chamando a Lilly pelo codinome "Kissy", questionou se todas estavam prontas ou se ainda precisariam de mais tempo.
— Falta só a maquiagem — respondeu Lilly, tentando manter o tom casual.
A garota ao seu lado, com um visual azul e uma peruca azul escura presa em duas marias-chiquinhas, bufou com um leve aborrecimento. De braços cruzados, ela resmungou. — A maquiadora desmarcou em cima da hora... parece que o namorado bêbado dela é mais importante.
A terceira garota, de traje amarelo e lentes magenta, suspirou. — Nada funciona direito quando mais precisamos, né?
Lilly tentou esconder sua própria frustração, mas era óbvio que a situação incomodava, mas ela acabou mudando de assunto, ela olhou para a gerente. — E o Renier? Ele está bem?
Antes que a gerente pudesse responder, a porta se abriu, e Renier entrou. O ambiente pareceu congelar por um segundo enquanto as garotas o olhavam, surpresas. Renier usava um vestido escuro, meia-calça preta, botas brancas e uma peruca tão escura quanto o céu noturno. Simples, mas impactante, ele havia aplicado maquiagem leve, um batom preto e destaque para os cílios, o suficiente para dar aos seus olhos azuis uma intensidade quase hipnótica.
Lilly não conteve o assombro. — Renier, você parece uma garota de verdade! — exclamou, impressionada.
A gerente sorriu, satisfeita, e comentou. — Gente bonita fica bem em qualquer coisa, mas você... é quase uma luxúria em pessoa, Ren.
Renier revirou os olhos, cruzando os braços com leve indignação. Ele falou às garotas em um tom suave, porém firme, que surpreendentemente revelava uma aura feminina. — Por enquanto, chamem-me de Ren, isso ajuda a manter o disfarce.
A gerente riu e provocou. — E então, 'Ren', já considerou uma carreira de idol?
Renier deu um sorriso forçado e respondeu, frustrado. — Isso já é constrangedor o suficiente por uma noite só, obrigado.
Ele então voltou-se para as garotas. — Agora... vocês não vão se preparar para cantar?
Lilly suspirou e disse: — Sem a maquiadora, vamos acabar sendo reconhecidas. — Renier ergueu uma sobrancelha, despreocupado. — Se maquiagem é o problema, posso ajudar vocês.
As três garotas trocaram olhares incrédulos. — Você sabe fazer maquiagem? — perguntou a de peruca azul, surpresa.
A gerente deu de ombros. — Não fui eu quem o maquiei. Ele fez tudo sozinho. E vejam como ficou.
Ainda mais surpresas, as garotas se calaram enquanto Renier sorria, caminhando com elegância até elas. Com um olhar afiado, ele começou a apontar detalhes em seus visuais. — Blue — disse ele, referindo-se à garota de azul. — Sua saia está um pouco desgastada. Troque por uma nova. As luzes precisam realçar o look artístico, não chamar atenção para os defeitos.
Ele olhou para a garota de amarelo. — Eu vi você afinando a guitarra. Precisa trocar as cordas logo. Estão desgastadas e vão arrebentar a qualquer momento.
Finalmente, voltou-se para Lilly. — Kissy, você é a principal. Escolha um figurino que destaque o rosto, não o corpo. O público deve focar na sua expressão, não no decote.
A gerente assobiou, admirada, e deu um aceno de aprovação. — Confiável, eu diria.
Renier bateu palmas, mantendo a ordem e energia. — Vamos, pessoal. Agilizem-se.
Lilly deu um sorriso encantador e as garotas começaram a se organizar, seguindo suas instruções. Apesar de desconfortável naquelas roupas femininas, Renier estava focado em ensinar algo a Lilly uma lição que, talvez, fosse além dos palcos e pudesse influenciar a vida das três idols.
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Renier, com sua expressão serena, conclui a maquiagem de Lilly com uma precisão quase hipnótica. Cada movimento seu carrega uma intensidade que vai além da simples aplicação de cosméticos, quase como se ele estivesse desenhando algo mais profundo. Enquanto trabalha, percebe o brilho curioso nos olhos de Lilly, que, finalmente, não resiste e pergunta, quase em um sussurro:
— Como consegue ser tão perfeito em tudo, Renier?
Ele esboça um sorriso sutil, mas não responde de imediato. Ao invés disso, se vira para Blue, sinalizando que ela deve se preparar, e começa a maquiar a garota de azul com a mesma destreza. Após um breve silêncio, ele quebra a calmaria com uma pergunta que ecoa no ar:
— E vocês? O que acham que significa ser perfeita?
As três se entreolham, refletindo o peso das palavras. Blue, sempre a mais extrovertida, responde primeiro.
— Ser perfeita é ser bonita e popular, é isso que torna uma Idol impecável, não?
Lilly, assumindo seu papel de líder, pondera por um instante antes de concluir.
— Acho que é ser aquela pessoa que todos admiram, alguém exemplar, alguém que todos desejam ser… como as garotas de capa de revista.
A última a falar é Bunny, que ajusta sua peruca com um toque de nervosismo e, quase como um suspiro, revela uma vulnerabilidade disfarçada.
— Talvez seja aquela cantora especial, sabe? Ter sucesso, ser reconhecida… e quem sabe, até ser rica.
Enquanto Ren a escuta, se aproxima para aplicar a maquiagem, e Bunny, com um sorriso nervoso, logo se silencia ao perceber o olhar intenso de Renier. Ele então fala, sua voz suave, mas carregada de uma firmeza que parece vibrar pelo ambiente pequeno.
— Perfeição? — Ele repete, deixando a palavra pairar no ar. — Perfeição é uma máscara que todos podem usar… até mesmo eu.
Ele faz uma pausa, observando as reações delas enquanto continua o trabalho. Virando o rosto, aponta para si mesmo.
— Vejam só — diz com uma leve ironia. — Aqui estou eu, disfarçado, encarnando uma garota perfeita, alguém que ninguém questionaria. Vocês acham que isso é verdadeiro?
O silêncio cai no camarim, denso e carregado de significado. As palavras de Renier parecem tocar algo profundo, algo além da superfície. Lilly desvia o olhar, imersa em seus próprios pensamentos, enquanto Bunny e Blue permanecem quietas, como se tentassem digerir a profundidade daquilo.
Renier continua, agora com um tom que mistura compaixão, e um desafio implacável.
— Quando alcançarem essa "perfeição", que máscara irão escolher para sustentá-la? Alguma vez conseguiremos ver quem vocês realmente são? Porque cada deslize, cada falha que tiverem no palco ou diante do público, será um fardo, uma ameaça à perfeição que tanto desejam.
Lilly morde o lábio, contemplando as palavras de Ren. Ela percebe a verdade crua ali: a beleza, a popularidade, o sucesso tudo isso é efêmero, como uma perfeição forjada.
Ren então se afasta e observa-as uma por uma. Seu olhar, embora severo, carrega uma suavidade inesperada.
— Se quiserem algo real, sejam essas garotas que estou vendo agora. Aquelas que se expressam sem medo, que têm falhas, mas também coragem. Sejam ousadas, não perfeitas. Isso é o que as torna reais, o que cria uma conexão genuína com as pessoas que as acompanham. Perfeição não cria vínculo; autenticidade, sim.
A gerente, que assistira a cena em silêncio, sorri com um toque de admiração genuína. Ela se aproxima e diz:
— Lilly trouxe alguém verdadeiramente único para este lugar… — gostando da forma como Renier estava agindo não só com Lilly, mas com suas garotas vendo talvez um potencial que elas mesmas poderiam não saber que tinham.
O silêncio foi algo que pairou pelo camarim conforme a performance para o show delas começava como uma contagem regressiva ao mesmo, as palavras de Renier afundaram como uma lâmina em seus peito, enquanto buscavam uma resposta para essa perfeição…
Continua…