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Chapter 4 - Capítulo 3: Os Olhos das Revelações.

Os Olhos das Revelações eram artefatos místicos herdados há séculos, um legado de mil anos que remontava a Shuten Douji, uma entidade demoníaca que não apenas presenteou a Família Kanemoto com seu sangue, mas também lhes conferiu um poder que muitos invejavam e desejavam. Aqueles que nasciam com os olhos azuis eram marcados como herdeiros dessa herança, dotados de habilidades extraordinárias.

Porém, essa benção era também uma maldição. Os portadores dos Olhos das Revelações eram capazes de enxergar a verdadeira essência dos seres vivos, percebendo mentiras e verdades, emoções e sentimentos. Essa capacidade se tornava um fardo, permitindo-lhes ver o mundo em sua forma mais pura e verdadeira.

Entre suas habilidades, destacava-se o controle das emoções de seres não humanos e a visão do mundo sobrenatural, um domínio que os conectava aos mortos e aos espíritos. Esses indivíduos, que carregavam os Olhos das Revelações, eram conhecidos como o Guardião Negro, um ser que representava o equilíbrio entre os reinos místicos e o mundo normal.

Esse papel implica responsabilidades imensas e deveres que protegiam todos aqueles que compartilhavam essa herança. Contudo, essa mesma responsabilidade os tornava uma ameaça, e, séculos atrás, eram vistos como anomalias pelos próprios humanos, sendo caçados e eliminados aos poucos.

Assim, a Família Kanemoto foi forçada a desaparecer para evitar a subjugação total. No entanto, o mundo ainda clamava pelo retorno do Guardião Negro. Seu papel era essencial, um legado que não poderia ser simplesmente apagado.

— Bem… isso é o que significa ser o Guardião Negro, pelo menos o que eu sei sobre sua família… — disse Rikyu, abrindo os olhos para encarar Renier após compartilhar a história que envolvia sua linhagem.

Renier permaneceu em silêncio, absorvendo a magnitude da revelação. Era uma carga pesada, quase surreal, como uma narrativa de um herói em um conto de fantasia. — É uma responsabilidade e tanto, como você mesma disse — respondeu ele, respirando fundo. — Se eu carrego essa responsabilidade… por onde devo começar?

Surpresa pela pergunta, Rikyu percebeu que Renier realmente estava considerando algo que ela não esperava. — Você realmente quer assumir essa herança? É uma responsabilidade que nem mesmo os antigos portadores desse título desejavam, Renier.

Renier sorriu, como se achasse divertida a situação. — Afinal, é algo surreal: ser o equilíbrio entre o sobrenatural, ter poderes e tudo mais. E também quero saber mais sobre o passado da minha família. Senti-me tão isolado… agora que meu avô se foi. — Ele hesitou por um momento, refletindo. — Sinto que há muito mais sob a superfície de quem eu sou como "Guardião Negro". Talvez essa seja a maneira de descobrir mais sobre minha própria história e sobre a minha família.

"Esse garoto é realmente ousado, como ela disse…" ponderou Rikyu, um sorriso se formando em seu rosto. — Se você realmente deseja percorrer esse caminho… será uma grande responsabilidade. No entanto, não serei eu quem guiará você.

Renier a olhou por um instante, buscando algum significado oculto em suas palavras; a curiosidade despertada estava atingindo seu limite. — Se não for você, quem deveria me guiar nesse dever?

— Há alguns anos, antes do seu nascimento… havia alguém que habitava esta casa, antes de desaparecer também… — informou Rikyu. — Uma mulher de cabelos branco-acinzentados, que emanava uma aura única e pesada… Ela estava grávida, acompanhada de um homem de cabelos escuros, cuja presença era forte. Eles partiram, deixando para trás uma criança sob os cuidados de um velho homem… antes de proferir uma palavra para aquele bebê.

Renier sentiu-se preso a um novo sentimento, como se estivesse segurando seu coração com força. A ansiedade fez com que ele apertasse levemente a xícara para se controlar. "Uma mulher grávida e um homem com uma presença forte… meus pais… eles me deixaram com meu avô? Eles viveram aqui?" Sua mente corria com essas informações; ele desejava saber mais, mas, com os enigmas deixados por Rikyu, ele sabia que talvez não fosse ela quem revelaria essas verdades.

Renier voltou o olhar para Rikyu, esforçando-se para manter a calma e controlar seus sentimentos, evitando que eles entrassem em conflito com seu objetivo.

— Não sei exatamente… — indagou Rikyu, bebendo o chá. — Apenas mencionou que no momento certo de seu "amadurecimento", ele iria descobrir seu verdadeiro destino… isso significa algo para você? — perguntou ela, brevemente interessada.

Renier, com o olhar firme, não conseguia deixar de sentir que algo em relação àquela mulher, que falara sobre seu destino, estava fora de seu alcance. Ele respirou fundo, ainda tentando processar o que ouvira. "O que ela quis dizer com isso? Qual destino? Quando 'o momento certo' chegaria?" Pensou, com a mente cheia de questionamentos, mas nenhuma resposta à vista.

— Então, você não sabe exatamente o que ela disse? — Renier perguntou, forçando um pouco sua paciência. — Só... que eu descobriria no momento certo?

Rikyu fez um gesto com as mãos, como se se desculpasse pela falta de mais informações. — Isso mesmo, Renier. Ela disse que o futuro de você se revelaria quando você estivesse amadurecido o suficiente. Não há muito mais do que isso. Ela parecia acreditar muito nisso, mas, para nós, tudo isso soa como algo… vago demais.

Renier sentiu uma sensação crescente de frustração. Tentava encontrar sentido nas palavras da mulher, mas a sensação de estar batendo em um beco sem saída era imensa. Sua mente rapidamente passava por todas as informações que tinha, conectando os pontos, mas nada fazia sentido. Não havia uma explicação clara.

— Isso não faz sentido. O que eu devo fazer para entender? — murmurou ele para si mesmo, fechando os olhos por um momento, tentando dissipar a frustração que estava tomando conta de si.

Percebendo a tensão no ar, Rikyu mudou de assunto, com uma leve expressão de preocupação. — Bem, não é bom ficar se martirizando por coisas que não pode controlar agora. Além disso, já está ficando tarde, Renier. E, pelo que vi no seu quarto, você ainda está na época da escola, não está?

Renier assentiu, voltando sua atenção para ela. — É verdade. Eu já fiz a transferência dos meus documentos. Vou estudar em uma escola em Kyoto, na verdade, amanhã já é meu primeiro dia.

Rikyu, em um tom mais relaxado, comentou com um sorriso. — Então, você realmente está decidido a seguir com isso. Eu posso ver que é algo importante para você, mas talvez seja melhor descansar um pouco. Os estudos esperam por você, depois de tudo.

Renier deu um leve sorriso, mas sua expressão se suavizou em seguida. — Eu sei, vou descansar logo, mas antes, acho que vou sair para esfriar a cabeça. Talvez comprar algumas coisas para a casa, aproveito para dar uma volta.

Rikyu levantou uma sobrancelha, claramente surpresa. — Sair? Agora? Com tudo o que está acontecendo?

Renier deu de ombros, parecendo calmo. — Sempre tem um mercado 24 horas aberto por aqui. Não é mais tão raro, e, sinceramente, estou precisando de um tempo para pensar. Além disso, é bom sair um pouco. Não sou de ficar preso dentro de casa.

Rikyu parecia intrigada e divertiu-se com a afirmação, rindo discretamente. — Hm, essas comodidades modernas. Eu ainda me espanto com o fato de existirem mercados abertos a qualquer hora do dia. No meu tempo, isso seria impensável.

Renier sorriu, sentindo-se mais leve ao ver Rikyu se divertindo com a modernidade. Ele estava acostumado a essas pequenas comodidades, mas era curioso perceber que para alguém de gerações anteriores isso parecia tão inusitado.

— O mundo anda rápido, Rikyu. Se você não acompanhar, fica para trás — Renier respondeu com um tom brincalhão.

Rikyu o observou por um momento, ainda sorrindo, antes de assentir. — Muito bem, então. Se é o que você quer, faça. Apenas não se esqueça de que você tem um futuro para construir amanhã.

Com isso, Renier se levantou, se preparando para sair, enquanto Rikyu observava com um olhar pensativo. Mesmo com a leveza do momento, ela sabia que o jovem estava em um caminho complicado. Quem diria o que o futuro realmente reservaria para ele?

Mas, por enquanto, ele parecia querer apenas uma pausa, algo simples para fugir um pouco da responsabilidade que pesava sobre seus ombros.

Continua…