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Chapter 3 - capítulo 3

mecânico da morte

Keila, sempre deslumbrante, divide seus dias entre a lanchonete onde trabalha e o cuidado com suas irmãs menores, Ketlin e Káti, após a trágica perda de seus pais num deslizamento de terra devastador. A jovem encara cada jornada com uma força admirável, escondendo as cicatrizes de sua dor atrás de um sorriso e do ritmo constante de seu chiclete favorito. Apesar da constante lembrança daquela noite fatal, marcada pela manqueira em sua perna, Keila encontra momentos para respirar e viver um pouco.

Numa rara noite de escapismo, Keila se entrega à euforia de uma balada com amigas. Entre risadas e danças, ela se permite esquecer as sombras que normalmente nublam seus dias. Ao final da noite, decidida a voltar para casa sozinha, a energia vibrante da festa cede lugar a uma quietude solitária. As ruas estão quase desertas e o silêncio parece consumir os últimos ecos de música.

Caminhando sob a luz oscilante dos postes, a atmosfera da cidade parece mudar. Com cada passo em direção à sua casa, a sombra de uma sensação sinistra cresce. O vento traz consigo um sussurro frio, e Keila, habitualmente corajosa, não pode ignorar a sensação crescente de estar sendo observada. Seu coração bate mais rápido, seus passos aceleram involuntariamente. O brilho dos postes de luz transforma cada esquina em um novo véu de suspense, onde cada sombra pode esconder uma figura observadora. Keila segue, envolta na tensão palpável da noite, cada vez mais consciente de que esta caminhada para casa pode guardar mais do que o silêncio da noite.

À medida que a noite se aprofunda, Keila, com seu coração acelerado, percebe que não está sozinha. Uma figura sombria, escondida sob a capa da escuridão, começa a segui-la de perto. Ela sente um calafrio percorrer sua espinha quando vê um reflexo metálico nas mãos do estranho — uma faca que capta o brilho intermitente dos postes de luz. O medo se apodera dela, e Keila começa a correr desesperadamente, seus passos ecoando pelas ruas vazias.

O homem, com passos largos e determinados, aumenta o ritmo, diminuindo a distância entre eles. Keila tropeça devido à sua perna machucada, mas se levanta rapidamente, impulsionada pelo puro instinto de sobrevivência. Ela vira uma esquina e encontra uma rua deserta, iluminada apenas por uma lâmpada piscante. Seu perseguidor está quase alcançando-a, a lâmina brilhante pronta para o ataque.

Na penumbra que avança, Joaquim, com um sorriso empolgado no rosto, observa a cena se desenrolar à sua frente. Ele sempre se sentiu destinado a proteger os outros, e agora, com o coração batendo forte, sabia que era sua hora de agir. Seus olhos se fixam no homem que persegue Keila, e uma faísca de adrenalina percorre seu corpo.

Quando o perseguidor, armado com tesouras pontiagudas em vez de uma faca, se prepara para atacar Keila, Joaquim intervém com um movimento quase imperceptível. Em um piscar de olhos, ele usa sua habilidade sutil de teleportar-se alguns metros à frente, uma técnica que ele apenas começou a dominar. Com essa vantagem surpreendente, ele se coloca entre Keila e o homem antes que este último possa reagir.

A luta que se segue é brutal e rápida. Joaquim, armado com sua própria faca, enfrenta o homem armado com tesouras. Os golpes são trocados com uma fúria selvagem, e o som de metal contra metal ressoa pelas paredes das construções próximas. Joaquim, aproveitando sua agilidade e treinamento, consegue esquivar-se de um golpe particularmente perigoso, mas não sem receber um corte superficial no braço, de onde o sangue começa a escorrer.

O perseguidor, visivelmente furioso e desorientado pela rápida movimentação de Joaquim, investe com mais violência. No entanto, Joaquim antecipa cada ataque, sua respiração pesada misturando-se ao vento frio da noite. Com um movimento decisivo, ele desarma o homem, fazendo as tesouras voarem para longe, e com um golpe bem colocado, imobiliza-o contra o chão, contendo a ameaça com firmeza.

Exausto, mas satisfeito, Joaquim se afasta e se senta em um banco nas proximidades. Ele limpa o sangue de seu braço com um lenço, seu coração ainda pulsando rapidamente com a excitação da luta. Enquanto toma seu café, ele reflete sobre a noite, sabendo que este é apenas o início de sua jornada nas sombras, protegendo os inocentes de perigos que espreitam na escuridão.

Keyla, visivelmente abalada e de olhos arregalados, encarava Joaquim, que estava igualmente perturbado. Ele cuspiu um pouco de sangue e respondeu com a voz rouca, "Sim, ele iria fazer algo com você."

"Qual é o seu nome?" perguntou Joaquim, tentando desviar a atenção da tensão.

"Keyla," ela respondeu, ainda em choque.

Eles observaram o corpo do homem no chão, que inexplicavelmente começou a virar cinzas. Keyla, tomada pelo medo, deu dois passos para trás. "Eu não estou entendendo nada... Estou ficando louca? Me drogaram na balada?"

Nesse momento, Hermanito chegou com Maria. "O que houve aqui?" indagou Hermanito, seu tom indicando que ele suspeitava de algo sério.

Hermanito prontamente ofereceu para chamar um transporte para Keyla, ainda desorientada e assustada.

Logo depois, Maria e Hermanito se sentaram ao lado de Joaquim em um banco na praça. "Faz meses que nosso grupo não se reúne, né?" comentou Hermanito casualmente, mexendo o café enquanto fumava um cigarro.

Maria, usando óculos escuros mesmo à noite, apoiou o queixo na mão e fixou o olhar em Joaquim. "Desembucha, o que está acontecendo? Que porra é você, Joaquim?" exigiu ela, a seriedade pesando em cada palavra.

Joaquim desviou o olhar, sua expressão cansada e dolorida. "Não foi nada," murmurou ele, evasivo.

Maria, perdendo a paciência, bateu na mesa com força, fazendo o som ecoar pela praça quase vazia. "A sua cara está toda suja de sangue, seu idiota! Não me venha com 'não foi nada'!"

A tensão entre eles era palpável, com Maria e Hermanito esperando explicações enquanto Joaquim lutava internamente sobre quanto revelar, sabendo que o que tinha acontecido naquela noite poderia mudar tudo entre eles.

Joaquim abaixou a xícara de café, deixando-a repousar com um suave clique na mesa. O ar noturno carregava um frio que se acentuava com o silêncio entre eles. "Desde que a Dandara desapareceu, nós realmente nos afastamos," começou ele, sua voz baixa e contemplativa. "Cada um tentando lidar com isso à sua maneira."

Maria, ainda com os óculos escuros, desviou o olhar. A culpa e a dor estavam ali, mascaradas por trás de sua postura indiferente. Ela queria dizer algo, algo profundo e talvez revelador, mas as palavras pareciam pesadas demais para serem libertadas.

Hermanito, sentindo o peso do momento, virou-se para Joaquim com uma expressão séria. "Então, Joaquim, nem sei como falar isso, mas você está de que lado?"

"Estou do meu lado," Joaquim respondeu firmemente, encarando o amigo.

Hermanito soltou uma risada curta e amarga. "Nós somos amigos desde criança. Eu sinto que nós três estamos escondendo algo um do outro."

"Tipo o quê?" Joaquim desafiou com um sorriso debochado.

"Tipo o fato de que percebemos que existem forças sobrenaturais depois daquela noite no lago, quando pulávamos e acabamos dentro da caverna. Todos nós sentimos algo, Joaquim, não adianta negar. Aquele velho, as raízes no chão, tudo ao redor... Nós queremos saber, e achamos que você sabe mais do que está dizendo."

Mas eu não estou dizendo nada! Joaquim

Maria olha e fala tem a ver com o rei das cinzas Joaquim ?

Joaquim bota um olha sério de raiva

Maria fico feliz que você não está do lado dele meu amigo, mas já que você não quer se abrir para podermos ajudar, só não nos atrapalhe,

Joaquim fala então vocês dois estão com ele ?

Maria, eu não tenho a intenção.

Hermanito rir de forma debochada

Hermanito olha para Joaquim, velho amigo talvez nossa amizade termine por aqui está certo? Gentilmente hermanito segura nas mãos de Joaquim e se levantam com Maria,

No caminhar da noite hermanito e Maria ao deixar Joaquim se questionam,

Com quem você está em Joaquim ? Quem está te dando ordens e essa habilidade, oque é Joaquim, será que ele também é um convocado como nós ela olha para hermanito, e hermanito fala para Maria, eu duvido muito, isso que é estranho ele não tem as marcas na pele eu já observei, inclusive eu tinha um crush nele quando era menina,.

Se ele não tem um anima, ele não é um convocado, oque me surpreende é esse poder dele eu percebi algo estranho

olha para suas mãos tremendo e sente as lágrimas começarem a cair. "O que está acontecendo comigo?", ele se pergunta, confuso e um pouco assustado.

Enquanto observa a chuva batendo na janela, Joaquim se lembra de um dia ensolarado. Ele e Dandara estavam sentados na varanda de casa, rindo e comendo jambu, aquelas frutas vermelhas e suculentas. Era um tempo sem preocupações, cheio de risadas e sol.

Mais tarde, os dois caminhavam pela BR-101 ao fim da tarde. O sol estava se pondo, tingindo tudo de laranja, e a noite chegava devagar. Dandara andava um pouco à frente, iluminada pelo sol que fazia seu cabelo brilhar. A estrada parecia não ter fim, só eles, os carros passando ao longe e a natureza por todo lado.

Essas lembranças trazem uma saudade doce, mas também uma tristeza por aqueles dias terem passado. Joaquim sente falta dessa época simples e feliz.

O sol se escondia lentamente no horizonte, derramando tons de laranja e vermelho por toda a extensão da BR-101. Dandara caminhava alguns passos à frente, seus cabelos reluzindo sob os últimos raios de luz, quase como se ela estivesse em outro mundo. Os carros ao longe passavam como vultos silenciosos, e a vastidão da estrada pare essacia engolir tudo à volta. Joaquim a seguia, mas sentia algo estranho no ar, algo que fazia seu peito pesar como se o próprio ar quisesse esmagá-lo.

De repente, um arrepio percorreu sua espinha. Ele sentiu uma força invisível puxá-lo para baixo, os joelhos cedendo por um breve instante. Ele se virou rapidamente, mas não havia ninguém. Ao voltar os olhos para Dandara, percebeu algo terrivelmente errado: ela continuava caminhando, alheia ao que acontecia, mas parecia... distante. Não apenas fisicamente, mas como se estivesse em outra realidade.

— Dandara! — ele gritou, mas sua voz se dissipou no ar, como se o mundo recusasse carregá-la até ela.

Dandara parou e olhou ao redor, confusa, mas seus olhos não se encontraram com os de Joaquim. — Quem sou eu? — murmurou ela para si mesma, com uma voz quase apagada pelo vento. — O que estou fazendo nesse deserto?

Joaquim tentou se aproximar, mas foi detido por algo invisível. Uma barreira? Ele esticou a mão e sentiu uma pressão avassaladora contra seus dedos, como se uma parede de vidro o impedisse de avançar. Lá dentro, Dandara parecia sozinha, cercada apenas por um horizonte vazio que se estendia infinitamente.

— Dandara! — ele gritou novamente, socando o vazio à sua frente. Ela não reagiu. O desespero começou a crescer. Ele sabia que precisava trazê-la de volta, mas o que era aquela coisa? E o que aconteceria se ele entrasse?

Ele hesitou, o coração martelando no peito. O ar parecia mais pesado agora, como se o mundo quisesse sufocá-lo. Então, num ato impulsivo, ele pegou do bolso uma pena que havia encontrado dias atrás, um objeto pequeno e aparentemente insignificante. Segurando-a firmemente, ele riscou os pulsos com sua ponta afiada, deixando pequenas linhas vermelhas emergirem. Era um gesto desesperado, irracional, mas algo dentro dele dizia que era necessário.

Assim que o sangue tocou a barreira, ele sentiu uma força brutal puxá-lo para dentro. O chão desapareceu sob seus pés, e por um instante ele não sabia quem era. Um vazio imenso tomou conta dele, como se sua própria essência tivesse sido apagada.

Quando recuperou os sentidos, estava dentro da barreira. Dandara o observava, confusa, como se o visse pela primeira vez. — Quem é você? — perguntou ela, sua voz baixa e cheia de desconfiança. — De onde você surgiu?

Joaquim abriu a boca, mas as palavras não saíam. Ele não sabia. Ele realmente não sabia. Tudo que vinha à sua mente era um vazio aterrorizante. Antes que pudesse responder, um vento forte começou a soprar, levantando poeira e folhas secas. Uma voz feminina ecoou atrás dele, grave e autoritária.

— Garoto, volte agora! — a voz parecia sussurrar e gritar ao mesmo tempo. — Traga-a com você ou os dois irão morrer!

Ele virou-se rapidamente, mas não viu ninguém, apenas a estrada agora envolta em sombras. O vento parecia cortar sua pele, e o medo crescia como uma chama incontrolável. Joaquim agarrou a mão de Dandara, que hesitou por um momento, olhando para ele como se ele fosse um estranho perigoso.

— Confie em mim! — ele gritou, puxando-a para trás, para fora daquele lugar que parecia sugá-los. Eles deram cinco passos juntos, mas cada um parecia um peso insuportável. Quando cruzaram de volta a barreira, Joaquim caiu de joelhos no asfalto.

Ele vomitou violentamente, mas não foi comida ou líquido que saiu de sua boca — eram penas, dezenas delas, sujas de sangue. Ofegante, ele olhou para as próprias mãos, tremendo como se sua alma tivesse sido arrancada e depois devolvida às pressas.

— Que porra foi isso? — ele sussurrou para si mesmo, os olhos arregalados. O vento cessou, mas o medo continuava pulsando dentro dele. Ele olhou para Dandara, que desmaiava ao seu lado, pálida e imóvel.

Ele queria entender, mas tudo que sentia era que algo sombrio e muito maior que ele estava à espreita. E, pela primeira vez, Joaquim percebeu que nem o mundo nem ele seriam os mesmos depois daquilo.