Capítulo 6 a caminho da vila Tropicana
Hermanito se encontra com Joaquim. Joaquim oferece um cigarro a Hermanito enquanto Maira chega, ajeitando os óculos no rosto. Os três seguem juntos por uma trilha lamacenta após uma chuva intensa, conversando enquanto caminham em direção à Vila do Cavalo Marinho.
A jornada é longa: três horas a pé dentro da cidade e depois mais um trecho por uma mata fechada. Quando começam a avistar a vila ao longe, Hermanito sente um calafrio e olha para trás rapidamente. De repente, um homem surge correndo em sua direção. Instintivamente, Hermanito se joga no mato.
— Que porra é essa? — exclama Joaquim, colocando-se à frente dos amigos.
O homem sorri de forma sinistra e diz:
— Finalmente, os encontrei, seus malditos. Mas antes de esfolar o couro de vocês pelas beiradas, vou me apresentar educadamente... Me chamo João Careta.
Maira, de braços abertos, encara o homem.
— O que você quer?
Sem responder, João Careta estala os dedos. De repente, o chão se abre sob os pés deles, e os três são tragados para um subterrâneo úmido e quente, localizado abaixo da vila.
— Agora vocês estão presos aqui comigo — diz João, rindo. — E é nesse instante, malditos, que seus sofrimentos começam.
O lugar está abafado, a umidade faz o suor escorrer por seus rostos. Hermanito observa tudo ao redor e murmura:
— Esse cara está jogando com a gente... Ele é um sádico.
Maira revira os olhos.
— Não me diga...
— Agora só o que me faltava — resmunga Joaquim.
João Careta cospe no chão. Dos fluidos nojentos emergem vermes que rapidamente se transformam em criaturas monstruosas. Ele as chama de Caiporas: três seres magros, cobertos de pelos, com chifres e um estranho símbolo em formato de meia-lua e triângulo na cabeça.
— Minhas Caiporas não podem ser mortas... e nem eu, enquanto vocês estiverem na esfera — declara João, com um sorriso perverso.
Hermanito olha para um dos monstros e sorri, mas recebe uma chicotada violenta no rosto.
João ri.
— Está gostosinho...
Num piscar de olhos, ele aparece ao lado de Joaquim, derrubando-o no chão e pressionando seu corpo contra o solo com uma força esmagadora. Em seguida, passa sua língua áspera pelo rosto de Joaquim, provocando-o.
Maira tenta correr, mas recebe uma chicotada nas costas, cortando sua pele.
Hermanito reage. Com um chute poderoso, lança João para longe de Joaquim.
— Nossa, que força, hein, meu amigo? — diz Joaquim, impressionado.
— É... Eu sou um passista.
Joaquim finge que entendeu.
— Ham?
Sem tempo para explicações, Hermanito parte para cima de uma das Caiporas. Ele desfere chutes velozes no rosto da criatura, enquanto segura um chicote com as mãos e contra-ataca.
Joaquim puxa sua faca de cabo branco e protege Maira.
— Eu não preciso disso! — diz Maira, empurrando Joaquim e desferindo um soco brutal no monstro, rachando metade de seu rosto.
Joaquim sorri.
— Uau, hein? Achei que fosse uma donzela indefesa.
Maira sorri de volta.
— Vai sonhando.
Mas logo ela recebe mais uma chicotada, desta vez tão forte que rasga sua roupa e a faz cair no chão, sangrando. Ela grita de dor.
Joaquim corre, salta sobre um dos monstros e o derruba. Com golpes rápidos e certeiros, enfia a faca várias vezes em sua jugular.
Ele ajuda Maira a se levantar, enquanto Hermanito encara João Careta.
— Quem é você, cara?
João sorri.
— Eu sou o guardião da vila. Só sou ativado quando energias absurdamente ameaçadoras se aproximam. Eu sou o protetor da Vila do Cavalo Marinho.
— O quê? — exclama Hermanito. — Nós não queremos fazer mal algum!
De repente, Joaquim grita assustado.
Maira se senta no chão, cuspindo sangue, e tenta se recompor. Mas, diante deles, João Careta começa a crescer, seu corpo se distorcendo até assumir a forma de um imenso lagarto-calango. Ele arranca a própria coluna e a transforma em um bastão, pronto para atacar.
Joaquim se esquiva dos golpes ferozes, mas o monstro é implacável.
— Eu já ouvi falar de protetores — murmura Hermanito. — Eles são imortais... Não tem como matar algo desse tipo.
— A única saída é fugindo daqui! — diz Maira, apoiando-se nele.
— Já matamos dois... faltam dois — completa Hermanito.
— Será que não existe outro jeito de nos livrarmos desse cara?
Enquanto isso, Joaquim continua lutando contra João Careta, agora transformado no monstro calango. Mas é lançado contra uma parede quente, queimando suas costas. Ele cai no chão, gemendo de dor.
O monstro avança contra Maira e Hermanito. Hermanito tenta reagir, mas é segurado pela cabeça e espancado brutalmente até ficar inconsciente.
Joaquim, ferido, vasculha sua bolsa e encontra um item especial. Ao vê-lo, João Careta recua, visivelmente assustado.
Maira arregala os olhos ao ver a pequena arma em sua mão crescer até o tamanho de uma espingarda.
Joaquim se lembra das palavras do Galo:
— Esse item só pode ser usado uma vez.
O monstro, alarmado, murmura:
— Isso... isso não pode ser... um bacamarte?
Joaquim confirma com um sorriso cansado.
— Uma arma de grosso calibre, lendária... de tiro único.
Com um suspiro pesado, ele mira e dispara.
O estrondo é ensurdecedor, parecido com o trovão de uma tempestade. O tiro acerta João Careta, arrancando metade de seu corpo. O monstro cai no chão, retorcendo-se em dor.
Maira corre até Joaquim, que também cai, exausto. Ela o segura no colo, observando o monstro agonizar ao longe.
Hermanito bebe água ao lado, tentando se recompor.
Joaquim abre os olhos devagar, sentindo a suavidade do colo de Maira.
— Nossa... que macio... — ele murmura, sonolento. — Ainda estamos presos aqui?
Hermanito observa o monstro ao longe e responde:
— Se ainda estamos aqui, isso significa que ele ainda não morreu... Eu disse que
O desgraçado se levantou.
— Quem diria que você teria uma surpresinha gostosinha dessas para mim... — murmurou João Careta, cuspindo sangue no chão. Ele encarava Joaquim com um sorriso perverso. — Um bacamarte... Isso foi inesperado.
O monstro arrancou sua própria arma—uma lança grotesca, feita de sua própria coluna—e se ergueu novamente. Com os olhos cheios de ódio e espuma escorrendo pelos cantos da boca, ele disparou contra os jovens feridos.
— Vou matar vocês... Vou matar vocês AGORA!
Sem aviso, João Careta desferiu um soco brutal em Joaquim, lançando-o contra a parede. Em seguida, cravou a lança no ombro de Hermanito.
A dor foi insuportável.
— AAAAAHHH! — Hermanito gritou, sua voz tomada pelo desespero. — MEU DEUS, EU VOU MORRER AQUI!
Maria, vendo a cena, se ergueu rapidamente e se esquivou dos ataques ferozes do monstro. Joaquim, apesar das dores, aproveitou a brecha e agarrou a cabeça de João Careta por trás, puxando-a violentamente para trás.
Com um movimento certeiro, chutou as costas do monstro e, com toda sua força, empurrou seu rosto contra a parede de pedra escaldante.
O cheiro de carne queimando tomou o ar.
João Careta se debateu, urrando de dor.
— Se você é imortal... então pelo menos eu vou te fazer sofrer o máximo que eu puder! — Joaquim rosnou, um sorriso sádico se formando em seus lábios.
Maria caiu de joelhos ao lado de Hermanito, lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Hermanito... pelo amor de Deus, levanta!
Mas Hermanito apenas gemia, sua respiração pesada e irregular.
Enquanto isso, Joaquim não parava. Seus olhos começaram a brilhar com um tom amarelado. Segurando a cabeça de João Careta com ambas as mãos, ele pressionava cada vez mais o rosto do monstro contra a pedra quente. O cheiro de carne carbonizada se intensificou. Fumaça começou a subir.
João Careta gritava.
— P-PARA! — ele suplicou.
Mas Joaquim não parou. Ele continuou empurrando.
Até que a lava derretida começou a escorrer da parede e consumiu o monstro.
O corpo mutilado de João Careta caiu no chão, sua carne queimada se regenerando lentamente.
O último Caipora ainda de pé avançou contra Joaquim.
O monstro rugiu e desferiu um soco avassalador no estômago de Joaquim, lançando-o para longe. O impacto foi tão forte que Joaquim perdeu a visão por alguns segundos antes de desmaiar.
Maria olhou para Joaquim caído e depois para Hermanito, ainda agonizando no chão.
Ela cerrou os punhos.
Se levantou.
Respirou fundo.
E correu na direção do último monstro.
O Caipora também correu em sua direção.
— PARE! — Maria gritou, estendendo as mãos para frente.
O monstro congelou no lugar.
Os olhos de Maria brilhavam com uma intensidade assustadora.
— Se mate. Agora.
O Caipora soltou um grunhido estranho, hesitou por um breve segundo... e então, obedecendo à ordem, enfiou as garras dentro da própria boca.
Com um movimento seco, rasgou sua cabeça ao meio.
Seu corpo desabou no chão, sem vida.
Maria ofegava, ainda em choque.
O silêncio preencheu o subterrâneo.
Agora, restava saber se realmente estavam livres... ou se o pesadelo ainda não havia acabado.