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Chapter 6 - Capítulo 6: Os Mortais que Ousaram Lembrar

O tempo se estende, indiferente aos seres que habitam a Terra. Mas em alguns corações humanos, impulsionados por uma curiosidade insaciável ou pela busca por algo além do mundano, a história do esquecido Drogo Kraken nunca desapareceu. Não importa quantos milênios se passassem, havia sempre aqueles que sentiam o peso de uma lenda perdida, um eco distante das águas proibidas. Aqueles que ousaram desafiar o esquecimento, que procuraram lembrar o que os deuses haviam apagado, se tornaram lendas por si mesmos — suas histórias entrelaçadas com as sombras do abismo.

Dentre esses mortais, alguns foram tragados pelas águas, outros viveram para contar histórias que ninguém jamais acreditaria. Cada um, à sua maneira, tentou compreender o mistério por trás de Drogo Kraken, em uma busca que parecia sempre se desvanecer, como se o próprio universo quisesse apagá-los da existência. No entanto, suas memórias persistiam, tecendo uma teia invisível que conectava aqueles que se aventuraram nas profundezas da história esquecida.

O primeiro deles foi Alexios, um marinheiro da antiga Grécia que, guiado por um sonho estranho, ouviu o chamado das Águas Proibidas. Era um homem simples, mas em seus olhos ardia uma chama que muitos confundiam com a loucura. Ele ouviu histórias contadas por marinheiros mais velhos sobre um lugar onde o mar parecia nunca acabar, onde o vento não tinha direção, e onde criaturas de pesadelo eram vistas com frequência. Ele sentia que essas histórias não eram apenas lendas, mas avisos para aqueles que ousassem se aproximar.

Alexios ficou obcecado pela ideia de que havia mais no oceano do que os mitos permitiam, e após anos de pesquisa e estudo, descobriu fragmentos de textos perdidos que mencionavam um nome esquecido. Não era uma palavra comum, mas um som que se repetia de forma quase hipnótica. Drogo. Kraken. Ele ficou fascinado. Não podia ignorar a sensação de que algo o atraía para aquele nome, como se os ventos do destino o estivessem guiando diretamente para o abismo.

Em uma noite sem lua, Alexios partiu, levando consigo um pequeno barco e o coração cheio de esperança e terror. Durante dias ele navegou por mares desconhecidos, seguindo o rastro das correntes misteriosas. Quando chegou perto da região das Águas Proibidas, algo mudou. O ar ficou denso, o mar mais pesado, e os céus pareciam se fechar sobre ele. Alexios relataria mais tarde que sentiu uma presença, uma força imensa abaixo da superfície, que o observava, esperando. Ele gritou o nome de Drogo em desespero, mas o que ele ouviu não foi resposta. O som que retornou foi o estalar das águas, a fúria das correntes que pareciam engolir tudo ao redor.

Nenhuma embarcação jamais viu Alexios novamente, e seu nome foi perdido nas brumas do tempo. Mas, ao longo dos anos, sua história se tornou uma lenda, uma história sussurrada entre os marinheiros. Alguns diziam que ele nunca havia partido, que o mar o havia consumido, mas que seu espírito ainda vagava nas águas, procurando por respostas que ele jamais encontraria.

Anos depois, Daphne, uma mulher sábia e intrigada pelas forças ocultas da natureza, decidiu seguir os passos de Alexios. Como uma estudiosa do misticismo e das lendas antigas, Daphne havia encontrado referências aos mitos esquecidos em textos esotéricos. Ela possuía uma habilidade rara: a capacidade de comunicar-se com as forças elementares e de interpretar os sinais deixados por aqueles que se aventuraram no desconhecido.

Daphne, ao contrário de Alexios, não era movida apenas pela curiosidade; ela buscava uma razão mais profunda. Ela sentia que algo grande estava por vir, algo que o mundo precisaria compreender para sobreviver. Em seu estudo, ela descobriu a conexão entre Drogo Kraken e o antigo panteão de deuses esquecidos. Em seus rituais secretos, ela evocou imagens de uma criatura colossus e primitiva, uma presença ancestral que parecia ser o próprio mar, e ao mesmo tempo, o terror que se esconde nas profundezas mais escuras.

A busca de Daphne a levou até o mesmo local onde Alexios desapareceu. Ela não temia as águas ou as forças ocultas do oceano. Ao invés disso, ela sentia que era seu destino confrontar o que o tempo havia ocultado. Ao se aproximar da área proibida, uma onda de frio e escuridão a envolveu, mas Daphne continuou, sem hesitar. À medida que ela se aproximava das profundezas, visões surgiram em sua mente, imagens de um ser imenso, com tentáculos que cobriam oceanos e olhos que refletiam os segredos do universo. O nome Drogo se repetia, ecoando em sua mente como um tambor distante. Ela sabia que o que procurava estava lá, à espera de ser descoberto.

Quando ela atingiu o ponto mais profundo, o mar explodiu em um turbilhão de forças. Daphne sentiu a terra se mover sob seus pés e, num último momento de lucidez, percebeu que algo estava prestes a acordar — algo que o mundo não estava pronto para enfrentar. Mas antes que pudesse compreender totalmente, as águas a engoliram, e seu corpo nunca foi encontrado.

Porém, sua história, sua tentativa de lembrar, não foi esquecida. Ao contrário, seu nome se tornou um farol para os corajosos que buscavam entender o que existia além dos limites do conhecimento. Os estudiosos que vieram depois de Daphne encontraram seus diários e registros, e seus relatos sobre a jornada se tornaram mais do que simples anedotas. Eles se tornaram advertências.

Entretanto, nem todos que procuraram por Drogo foram consumidos. Milo, um poeta e filósofo de uma cidade costeira, foi o último desses mortais que ousaram lembrar. Milo não estava interessado apenas em entender o poder de Drogo; ele queria recontar a história do deus esquecido, trazer à luz o que havia sido perdido, e reconstruir a mitologia que fora apagada. Usando seus dons de oratória e escrita, ele começou a compor versos e cânticos que descreviam Drogo Kraken, associando-o aos mitos de gigantes e monstros que eram conhecidos, mas jamais revelando a verdade por trás de sua origem.

O nome de Drogo voltou a ser sussurrado, mas apenas nos círculos mais secretos, onde aqueles que conheciam a lenda se reuniam. Milo se tornou uma figura misteriosa, um homem que sabia mais do que deveria, mas ao fazer isso, tornou-se um alvo. As autoridades começaram a procurá-lo, cientes de que suas palavras podiam abrir as portas para algo muito mais perigoso. Contudo, Milo se escondeu nas sombras, espalhando seus poemas nas ruas e em pergaminhos que circularam clandestinamente.

A história de Milo, Daphne e Alexios é, por fim, um lembrete do poder da curiosidade humana e do desejo de entender o desconhecido. Cada um deles, ao tentar lembrar o que foi apagado, pagou o preço de desafiar o esquecimento imposto pelos deuses. E, como muitos outros antes e depois deles, suas histórias se tornaram fragmentos perdidos, ecoando nas ondas de um mar que guarda, pacientemente, seus próprios segredos.