A memória humana e divina é um território volátil, sujeito tanto às exigências do tempo quanto às decisões dos próprios deuses. No caso de Drogo Kraken, no entanto, o ato de apagá-lo não foi apenas uma questão de ignorar seu nome nas lendas, mas de impor uma maldição profunda e sobrenatural que varreu sua existência das mentes de todos — uma maldição que não só diluiu sua memória, mas alterou a própria realidade que o cercava. Esse é o ponto de virada em sua história: o momento em que Drogo foi lançado no esquecimento, onde sua essência se dissolveu nas brumas do tempo, e como ele, de certa forma, foi reescrito na história mitológica.
A origem da maldição que apagou Drogo Kraken é uma história de medo, poder e traição. Quando Cronos, o antigo titã, governava os céus e a terra com mão de ferro, ele possuía um medo profundo daquilo que ele não conseguia controlar. Depois de devorar seus próprios filhos para evitar que o superassem, ele acreditava que, ao ocultar sua descendência, poderia garantir sua supremacia eterna. Contudo, o nascimento de Drogo foi algo que nem mesmo Cronos previu. Embora Cronos tivesse apagado seus outros filhos — incluindo Hestia, Deméter, Hera, Hades e Poseidon — Drogo era diferente. Ele não era simplesmente mais um descendente, mais um ser da linhagem. Ele era uma força em si mesmo. Era o fruto de uma ruptura, de uma falha nos planos de Cronos, e a própria natureza de Drogo sugeria que ele poderia ultrapassar todos os seus irmãos e até mesmo o próprio Cronos.
De todos os filhos de Cronos, Drogo possuía uma ligação direta com o caos primordial, um poder incomensurável que existia desde a fundação do mundo. Ele não era apenas um deus, mas a manifestação de um poder ancestral, uma força criada pela própria natureza do universo. Sua existência representava uma ameaça muito maior do que qualquer uma das criaturas que Cronos havia criado ou devorado. Drogo não se encaixava nas expectativas de sua linhagem, nem nas regras que os deuses haviam imposto sobre o universo. Ele não era simplesmente um ser a ser ignorado, mas um deus com potencial para mudar a ordem do cosmos. E isso era algo que Cronos, temeroso da possibilidade de perder seu poder, não poderia permitir.
Para garantir que Drogo nunca se erguesse contra ele, Cronos tomou uma medida extrema. Ele convoca os deuses olímpicos e a força coletiva dos titãs para unificar um feitiço tão poderoso que, em essência, destruía a própria memória de Drogo. Não era apenas um feitiço de esquecimento, mas um encantamento que removia a sua essência do tecido da realidade. Drogo, com todas as suas habilidades e poderes, foi apagado de todos os registros — tanto os divinos quanto os mortais. Seus feitos, sua imagem, seu nome… tudo desapareceu, como se ele nunca tivesse existido.
O feitiço não era simples. Para apagar a existência de Drogo de todas as mentes, tanto dos deuses quanto dos humanos, um sacrifício foi necessário. Cronos, em sua tentativa de dominação absoluta, sacrificou um pedaço de sua própria essência, sacrificando a parte de si que poderia ser tocada pelo amor e pela memória. Esse ato de renúncia e de autoimposição de sofrimento fez com que a maldição tomasse força. Mas esse feitiço teve um preço: a própria memória dos deuses começou a ser corrompida. As conexões entre eles, o conhecimento ancestral sobre os primordiais e o próprio tecido da realidade começaram a ser distorcidos. Não só Drogo foi apagado, mas a própria relação de Cronos com seus filhos foi manchada. O poder do esquecimento não apenas afetou Drogo, mas criou uma lacuna na história — uma lacuna que os próprios deuses sentiam, mas não podiam compreender.
Aqueles poucos mortais que, por acidente ou por obsessão, tentaram penetrar nos segredos mais profundos do oceano e desvendar a origem das Águas Proibidas acabavam sendo tomados pela confusão. Muitos relatavam que, ao aproximar-se do local onde Drogo deveria ter existido, uma sensação de vazio absoluto os consumia. O que antes parecia um sonho ou uma lenda se transformava em algo sem forma, sem substância, como se o próprio universo estivesse os convencendo de que o ser não existia. Quando esses mortais retornavam de suas jornadas, suas mentes estavam quebradas, e seus relatos tornavam-se incoerentes, como se estivessem tentando dar nome ao impossível.
Para os próprios deuses olímpicos, o feitiço de esquecimento não era algo que poderia ser facilmente detectado. Não havia a sensação clara de perda, pois, com o tempo, os deuses passaram a acreditar que a existência de Drogo sempre havia sido uma falha em sua memória. Ele não foi mais lembrado, e a ideia de seu esquecimento tornou-se um fato aceito por todos, inclusive por Poseidon, que em seus momentos mais solitários sentia um desconforto inexplicável, mas jamais conseguira identificar o motivo. Zeus e os outros deuses, embora cientes da presença dos filhos de Cronos que sobreviveram, jamais questionaram a falta de um irmão. E aqueles que ousaram procurar, buscavam um mistério que parecia ter sido apagado de seu alcance.
Mas a maldição do esquecimento, embora fosse poderosa, não era completa. Como a própria natureza de Drogo indicava, ele não era um ser comum, e como uma chama que se apaga temporariamente, sua essência nunca desapareceu completamente. Nas profundezas do mar, onde o tempo e a realidade se confundem, algo ainda se movia. A dor da ausência, o vácuo criado pelo feitiço, era sentido por muitos, mas sem ser compreendido. Como um sussurro perdido na vastidão do oceano, a memória de Drogo estava esperando para ser reavivada, para voltar à superfície. E esse momento estava se aproximando — a quebra do esquecimento se tornaria inevitável.
A maldição do esquecimento, no fim, revelou-se uma prisão para todos, até mesmo para os deuses. Ao tentar ocultar Drogo, Cronos não só sufocou a presença de seu filho, mas também plantou a semente de um retorno iminente. Pois, como a maré que nunca pode ser totalmente contida, a verdade de Drogo e a força das águas proibidas acabariam por retornar. E com esse retorno, os deuses seriam forçados a enfrentar a força primordial que jamais conseguiram apagar.