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Chapter 9 - Um stalker na minha vida

— É normal. — Disseram meus médicos.

— Você acha o garoto que conheceu atraente e seu cérebro está reagindo como o de alguém apaixonado. Há várias descargas.

— Sentir o coração acelerar assim significa que estou interessado? E foi só por vê-lo?

— Sim, são inúmeras reações, mas, no geral, é algo positivo.

— Durante anos, achei que isso... não aconteceria. Achei que meu trauma tinha apagado essa parte de mim.

— A recuperação sexual após um trauma tão grave pode ser lenta e imprevisível — o médico começou, com cuidado. — Seu cérebro criou uma série de defesas para protegê-lo, bloqueando sensações e sentimentos que pudessem trazer à tona o que você viveu. Isso pode ter causado essa perda de desejo por tanto tempo.

Eu já sabia de tudo isso. Anos de terapia me prepararam para a possibilidade de nunca mais sentir atração física por alguém sem intervenção médica. Mas não consigo entender por que isso mudou agora. E, mais importante, por que foi com Salin?

— Então, por que... Salin? — perguntei. — O que há nele que fez isso acontecer?

— Salin tem sido uma figura central na sua vida ultimamente, correto? — o médico perguntou, e eu assenti. — Ele está diretamente ligado às suas melhores experiências emocionais recentes. Seu cérebro pode estar associando-o à segurança, ao conforto... e talvez, finalmente, ao prazer. Sua mente está começando a ver que há algo além da dor, algo que não representa uma ameaça.

Eu estava com vários aparelhos grudados em mim. Depois que contei ao meu pai sobre Salin e como me senti, ele fez questão de me trazer aqui. Afinal, o tal filho "deficiente", incapaz de sentir excitação, agora estava reagindo.

— Sugiro uma terapia de exposição. — Disse outro médico. Mas, ao me fazerem assistir a um pornô, minha excitação foi para zero. Aparentemente, só funciona se eu pensar no Salin.

— Isso é ruim? — perguntei após os testes que se sucederam. Pensar em Salin me causava inúmeras sensações. Se essas sensações são as de alguém apaixonado e atraído, então o que senti pela minha ex-esposa não passava de amizade.

— Por enquanto, mesmo que seja só por uma pessoa, é uma boa notícia. Continue com a terapia. Por mais que sua libido agora possa se manifestar por um objeto específico, ainda é preciso trabalhar a relação física.

— O desejo sexual não é apenas físico, especialmente para alguém que passou pelo que você passou. É sobre confiança, segurança e, acima de tudo, sobre se sentir confortável o suficiente para se permitir sentir. Talvez, com Salin, você finalmente possa alcançar esse ponto… isso é algo positivo.

— Isso é... estranho — admiti, com um pequeno sorriso. — Nunca achei que fosse sentir isso.

— Dê tempo a si mesmo, Jun-Ho.

(...)

— Qual o seu problema, Salinah? — Yoma se aproxima, perguntando de repente, e isso me assusta. Eu pulo e me ajeito na cadeira.

— Tô tranquilo, não tem nada de errado.

Tem! O nome dele é Min Jun-Ho.

— Tome. — Ele me entregou um café.

— Obrigado.

Ele apoia a cabeça nas mãos, os cotovelos na mesa, e massageia a testa, pensativo.

— Quer sair para beber comigo hoje?

— Pode ser.

Yoma fica calado, me observando. Ele nunca foi de falar muito.

Ele estende o braço e coloca a mão no meu rosto.

Eu me estremeço, e ele solta um sorriso.

— Por que você sempre é assim? Ah, não, você é gay?

O encaro com desdém.

— Brincadeira. Você é fofo, e eu sou bonito.

Acho que Yoma, assim como Taemin, gosta de me provocar.

— Vai trabalhar, vai, para de falar besteira.

— Acho que Taemin te pegaria se não estivéssemos juntos. Ele já deu em cima de você quando estudavam na escola? — Yoma me olhou nos olhos. — Vocês já ficaram? Já foi isso e aquilo? Já aconteceu?

Eu e Taemin sempre fomos amigos, nada disso aconteceu.

— Ah, hyung, você esqueceu de tomar remédio hoje? Tome, vai.

Ele riu e saiu.

— Te vejo na saída.

E, assim que acabei meu trabalho, Yoma estava me esperando.

Ao sair do prédio, meu olhar congelou. Tentei ignorar isso o dia todo.

Não deveria estar surpreso. Porém, era assustador.

Havia um homem encostado em um carro caro. Ele estava todo vestido de preto: calça larga, camisa larga e uma blusa social curta por cima, aberta. Além de um cordão de prata no pescoço. Seu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo. Suas tatuagens estavam à mostra. Ele não deve trabalhar, tem muita falta do que fazer.

Assim que me vê, ele joga o cigarro fora.

— Salin-shi! — Ele diz ao se aproximar, sorrindo.

Fico imóvel.

— Ah, fala comigo, para de ignorar.

Ele tem voltado todos os dias. Na última semana, esteve me esperando na porta da minha casa quando eu voltava. Hoje, decidiu vir até meu trabalho. Não sei ao certo por que isso está acontecendo, mas esse garoto é uma perturbação.

— Quem é você? — Ele pergunta a Yoma.

— Yoma.

— Hm… ahhhm! — Sua reação de surpresa quase me deu um treco. — Você é o Yoma. Você é um bom amigo para o meu Salin. Obrigado por cuidar tão bem dele.

Ele sorriu, mas parecia ironia. Ele foi irônico?

— Salin, quem é ele?

— Relaxa, Yoma-hyung. Ele não é nada. — Digo, empurrando Yoma para irmos embora. — Vá fazer o seu trabalho e me deixe em paz! — Disse para Jun-Ho.

— Saia comigo, vamos dar uma volta. Vem.

Suspiro profundamente, tentando manter a calma. Ele não parece tão jovem e, dada sua função, não deveria agir dessa forma tão... imprudente, inconsequente, inconveniente. Mas ele não se importava com nada disso. É como se não tivesse um pingo de consideração por mim. O que ele acha que eu sou? Um cara comum, solteiro, que estava sozinho em uma festa e bêbado em casa?

— Sobre o que ele está falando?

— Não se preocupe. Espere aqui.

Como um fã que quer assistir a um show, ele está em todo lugar. Eu me volto, furioso, em direção a ele.

Mas rapidamente me pego observando seus olhos tão pretos quanto jabuticabas, paralisados em mim e brilhantes. Ele não disfarçava. Parecia melosamente apaixonado. Seus lábios formam um pequeno círculo, surpreso por me ver voltar.

— Mudou de ideia? Você vem comigo? — Diz assim que me aproximo.

Eu sinto meu corpo queimar. Era o arrependimento de ter me aproximado. Devia ter ficado longe.