Não gosto do ambiente hospitalar, estive aqui muitas vezes e não são boas lembranças.
Mas havia algo que eu precisava fazer agora. Assim que entrei pela porta, havia um casal de meia-idade, uma na cadeira de rodas e a mulher deitada na maca.
— Quem é você, Jovem? Se veio cobrar, volte outro dia…
O senhor, que até parecia jovem, saudável e bonito, estava de cadeira de rodas apenas devido ao acidente com o seu pomar, mas ele se recuperaria se fosse devidamente tratado. A mulher, o caso era mais complicado.
— Me chamo Min Jun-Ho, Park-shi.
O olhar do velho se arregalou, ele parecia saber mais sobre minha família do que seus filhos.
Park deve se lembrar de quando meu pai foi preso pela primeira vez, isso décadas atrás. Ou seja, ele sabe quem é o meu pai.
Ele se voltou à sua mulher e lhe pegou na mão.
— Vá embora.
— Não pretendo, e não estou aqui devido à dívida. Ela já está paga, você tem um bom filho. — Ele se surpreendeu, mas se manteve firme.
— Então, por que está aqui? — Ele disse ao virar seu rosto para mim, estava confuso.
— Estou procurando pelo Salin-shi. — Observei aquele quarto. Não havia um lugar onde ele pudesse se esconder. — Seu filho é solteiro?
O olhar do pai de Salin mudou completamente, parecia alívio.
— Min-shi, meu filho deve estar em casa.
— Fui lá e ele não estava. — Respondi, e ele pareceu surpreso.
— O que você está fazendo aqui? — Tenho trabalhado muito, então não conseguia mais ir vê-lo, e ele nem voltou ao bar depois que se mostrou para mim. Estava com saudades, o olhar dele era tão quente, aquecia meu coração só de ouvir sua voz.
— Eu queria te ver, já faz semanas e você ainda ignorou minhas mensagens.
— E o que esperava que fosse acontecer? Eu disse que não queria te ver.
— Filho, tem outro cara atrás de você? — Ele perguntou.
— Ele é o único imbecil que me persegue assim. — Afirma Salin, e isso me deixa aliviado. Eu sei que não sou o único para ele, mas eu quero ser.
Sorri, e pai e filho me encaram.
— Não se preocupe, pai. — Salin disse, e logo depois puxou minha orelha com toda a força que tinha e me arrastou para fora do prédio. Nunca imaginei que um garoto comum me arrastaria por 3 minutos me segurando pela orelha, ele não disse nada durante o trajeto, mas bufou, irritado.
— Ei, o que foi? — Perguntei. Ele me olhou.
— Eu disse pra você sumir, como aparece no hospital onde meus pais estão? Você está louco?
— Já disse, eu queria te ver, você não responde minhas mensagens.
— É porque eu não ligo! Você já teve o que queria, eu já não tenho uma dívida, então me deixa em paz!
Ele dizia, juntando as mãos, gesticulando como se falasse com uma criança. Ele fazia bicos com seus lábios grossos, e isso era atraente, não importava que agora ele estivesse brigando comigo.
Ele parou de falar ao perceber que eu estava distraído.
— Preste atenção no que eu tô falando! — Protestou, batendo o pé.
— E que você é muito fofo… — Ele fez bico, desacreditando de mim. — Venha à minha boate hoje.
— Cara, você não está escutando, não quero!
— Eu tô mandando.
— Ahm? — Ele ficou claramente indignado, como se não acreditasse no que eu estava dizendo. — Meu irmão, tu tá…
— É isso mesmo. — Protestei. — Eu tô mandando você aparecer lá, porque eu quero você lá. — Insisti, olhando pelo canto dos olhos.
Salin passou as mãos pelo cabelo, se ele soubesse o poder que tem.
— Parece que estou lidando com uma criança. Você é mesmo o grande filho mais novo da Goden?
— Eu sou! Você que parece uma criança, não gosta de festa? Eu pago tudo, pode levar seus amigos. Até o Yoma. — Os olhos de Salin desceram rapidamente para baixo.
Imagino que não seja uma boa ideia citar o nome daquele cara.
Salin umedeceu seus lábios e seu olhar voltou para mim.
— Ok, eu vou, mas isso não significa nada.
Sorri.
— Isso significa que eu posso continuar tentando.
— Como você é irritante, fica insistindo até que eu aceite! Você é insuportável!
Com um olhar assustador, ele suspirou e virou de costas.
— Argh! — Ele gritou enquanto saia andando.
— Te vejo hoje à noite, Salin. — Disse animado. Porém, ele se virou, me fuzilando com os olhos. O que eu falei de errado? Ele se mostrava cada vez mais irritado, virando a cabeça para o lado.
— Eu ainda sou mais velho, me trate com respeito, garoto!
— Ah… — Sorri ainda mais. — Até hoje à noite, Salin-shi. — Me corrigi, e ele rapidamente ficou satisfeito.
(...)
Salin-shi.
Oh, não sai da minha cabeça ele me chamando assim. Naquele dia ele também disse meu nome.
Aquele filho da p*ta descarado que quis me ver naquela situação. Eu odeio ele.
Odeio, porque eu não consegui dizer não. Eu fui lá e fiz. No fundo, parece que eu penso mais em mim, do que na minha família. Apesar de ter feito isso por eles, eu só tenho dado mais passos na direção do garoto Min. Ele é muito bonito e seu jeito me encanta, admito, sinto-me atraído. Eu deveria tomar cuidado ao lidar com alguém como ele, posso estar apenas sendo enganado.
Olhei para o meu guarda-roupa.
Ele não vai ter o que ele quer, mas eu vou me divertir muito hoje.
(...)
— É por conta da casa, senhor. — Disse o homem do bar me entregando um drink caríssimo.
— Aquele desgraçado acha que vai me comprar com dinheiro?
De novo?
— O Jun-Ho-shi não faz isso.
— Dar drink de graça?
— Comprar pessoas com dinheiro.
— Ah.
— Ele vende. — O rapaz completou com uma leviandade que me fez engasgar com o pouco do drink que bebia por simplesmente acreditar que aquilo poderia ser verdade. — Estou apenas brincando. — Disse o rapaz com um sorriso.
— Entendi. — Sorri sem acreditar muito na piada do simpático rapaz.
As coisas estavam confusas pra mim.
Os olhos de Jun-Ho parecem muito puros quando o vejo. Mas na verdade eu sequer conheço ele. Porém, ele não faz questão de esconder nada. Ou será isso tudo para ele tão comum?
Gostaria de saber mais sobre Min Jun-Ho… Mas isso não significa que ele poderá brincar comigo como bem quiser, e é por isso que eu vim.