BERENICE VOLUME 01 - fugitiva
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FUGITIVA
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O tempo passou, e aquele mundo tão belo de minhas lembranças, foi se esvaindo vagarosamente.
Lembro que começamos a guardar comida e a diminuir a quantidade que comiamos diariamente, foi quando alguns moradores decidiram sair da vila indo embora, aquilo tirou um pedaço de mim, já não havia tantos amigos para brincar, era ruim, os cães começaram a ficar magros e a caçar os pássaros para comerem, lembro que achava vários mortos pelo meu belo campo de flores que amava, certo dia tentei salvar um passarinho que estava sendo levado pelo cachorro faminto, eu sentia pena do pássaro, mas os garotos achavam aquilo legal e ficavam jogando pedras nos pássaros tentando ajudar os cães a comer. Mas aquilo era um horror, eu não enxergava que o cão mostrava suas costelas pela magreza e que também adoecia por falta de comida que antes havia em abundância.
O bater no cachorro e fazer ele soltar o passarinho quase morto da boca, os meninos se revoltaram comigo e tentaram me bater, eu voltei naquele dia chorando e ferida, meu pai ficou revoltado e foi falar com a família deles, eu achava fazer o certo, mas aquele mundo hostil era estranho para mim.
Meus dias de brincadeira constante já não era tanto assim, é eu quase não saia de casa sendo obrigada a ajudar minha mãe e meu pai com os deveres. Não era apenas comigo, mas com todos os outros.
Eu lembro que as coisas pioraram quando, um grupo de homens montados a cavalo apareceram no vilarejo causando medo em todos, eles traziam uma carta e todos os homens tiverem que ir com eles, só ficaram os velhos e doentes, o ferreiro apanhou por resistir, e não só ele foi levado mas todos os seus itens nuna carruagem, naquele dia, as cores do meu mundo começou a ter um tom de vermelho e cinzas.
A única coisa que me trazia paz e alegria era o campo de flores.
Choravamos sem motivos e era horrível, minha mãe por muitas vezes batia em mim e ja minha irmã, e já quase não falava conosco, ou sempre parecia irritada e gritando. Meu pai tinha sido levado assim como os outros, eu não sabia, ele foi lutar na guerra.
Então em um dia, o vilarejo recebeu um mensageiro, que bateu em porta em porta trazendo notícias, todas choravam e havia desespero, eu acordei com o vilarejo em prantos, e nos como éramos crianças não entendemos o que acontecia, ao ver minha mãe chorando no chão eu e minha irmã choramos também abraçadas, mais pela tristeza dela do que a informação verdadeira que tinhamos, para nós era pelo motivo de sermos obrigadas a mudar do lugar, eu não imaginava o luto que passavam, pois s adultos nos pouparam da verdade.
Naquela tarde minha mãe juntou as nossas coisas e saiímos do vilarejo deixando tudo para trás, junto com outras famílias que tomaram caminhos diferentes.
Eu chorava muito, carregando uma flor do campo em minhas mãos, eu quis levar o máximo que podia, eu queria plantar elas no novo lar.
Mãe. "Não vai adiantar, elas não nascem em outro lugar, são raras."
O olhar inchado de mamãe pelos choro sua expressão quieta e sofrida, me causava sofrimento e dor, suas palavras doíam muito, todas minhas esperanças e sonhos estavam sendo levados. Ao longe eu via a fumaça negra que subia nos céus. Eram os corpos de cadáveres queimando ao longe dali, a guerra estava mais perto do que eu conseguia ver e entender.
"Mamãe! E o papai! E se ele voltar não achando agente em casa!"
Minha irmã concordava com isto chorando.
Irmã. "Sim, mamãe! O papai! Vamos voltar!"
Mãe. "Não podemos voltar!"
Eu. "Temos que deixar uma carta para ele, dizer onde vamos!"
Mãe. "Não se preocupem, ele sabe onde nós achar, eu… Eu…"
Ela começou a chorar muito enquanto conduzia nossa carroça de mudança.
Sem entender choravamos também.
Mãe. "Ele sabe, ele sabe!"
Eu sentia a dor da perca, eu queria muito o ver, eu queria tudo de volta, eu sentia medo do lugar desconhecido, eu sentia medo de nunca mais retornar.
Apenas o barulho das rodas da carruagem e o galopar dos cavalos faziam o contraste com o som de nossos choros, não apenas da minha família mas de todos.
Se eu soubesse, se eu tivesse entendido naquela época, talvez eu não teria sofrido tanto, pois, minha mãe não falou para evitar nossa dor, mas em nossos corações alimentarmos a esperança de nosso pai voltar, de tudo voltar a ser como antes. Eu jamais teria imaginado que ele estava morto naquele momento, e talvez fosse melhor assim.