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Chapter 7 - Caçada na floresta

Quando nos aproximávamos da estrada que eu havia citado mais cedo, ele parou e indagou bastante sério:

— Para onde estamos indo Lucy?

— Luís, eu expliquei para você — respondi desapontada — Se todos pensam que elas foram mais uma das vítimas desaparecidas como nos casos no mural da escola, temos que procurar pelo lugar que aparece em todas as notícias. Essa estrada! — afirmei indicando o caminho impacientemente — Tem que ser por aqui!

— Esse lugar é muito perigoso… — afirmou ele receoso — Está escurecendo, logo começará a chover, podemos nos perder no caminho… É melhor eu ir sozinho — ele concluiu.

— Não! — interrompi — Cheguei a essa conclusão, se você for eu vou junto! — respondi de imediato.

— Você não entende o perigo? — continuou ele, ainda preocupado.

— Sim, e sei também que sozinho seus riscos são maiores — afirmei triunfante.

— Eu moro nesta floresta, se lembra? — questionou-me, agora, um pouco irritado.

— Melhor ainda, uma razão a menos para se temer! — teimei irredutível, e ele percebeu.

— Tudo bem Lucy… — disse, e advertindo-me continuou — Mas, se eu perceber algum perigo, qualquer que seja, sigo sozinho e você retorna para a cidade. Prometa-me!

— Mesmo não concordando, eu prometo! — respondi concordando com ele.

Seguimos andando, lado-a-lado, pela estrada de grama-rasteira até o cair da noite.

Todo esse tempo, a única claridade que víamos era a da minha lanterna, pois a mata era densa e sombria. Isto despertou em Luís um instinto super protetor que insistia em me proteger a cada barulhinho que surgia.

Andamos por mais algumas horas até encontrarmos, logo a nossa frente, um pequeno de tecido vermelho, que era muito semelhante ao do vestido que Rita usava na festa de recepção aos alunos, onde foi vista pela última vez.

Com a confirmação de minhas suspeitas quanto ao caminho que seguiríamos, continuamos a caminhar, agora mais confiantes. Ainda que Luís, em determinados momentos, insistisse em me convencer a voltar para a cidade em segurança.

Fiquei encantada quando ele me segurou na mão calmamente falando para deixarmos a busca de lado, por ser uma situação em que era para a polícia agir. Que corríamos riscos, mas teimosamente fingi não ouvir suas palavras, ignorando-o e seguindo em frente.

A presença dele me deixava confiante. Era como se ele ali me deixasse segura, e por sinal, era algo que ele também demonstrava sentir.

A cada novo passo, confiávamos um no outro um pouco mais.

Um novo dia amanheceu quase imperceptível na escuridão que nos cercava, deixando transparecer alguns discretos raios ensolarados entre um galho e outro das árvores, que estremeciam, com as rajadas de vento trazendo consigo um assovio agudo e medonho.

Não tínhamos o menor vestígio das três garotas, nem sabíamos se ainda estávamos no caminho correto. Cheguei a imaginar que estávamos perdidos ou andando em círculos. Suspeita que Luís também compartilhava.

Deixávamos de ser apenas nós dois em meio ao silêncio quando, de longe, ouvíamos o canto dos pássaros, que logo se silenciava novamente na imensa mata que nos cercava.

Por horas, nem o vento soprava pelos galhos.

Nada parecia se mexer.

Cheguei a me amedrontar quando quebrei um dos galhos na estrada. Um barulho pequeno que, ainda assim, me causou arrepios na perna e na barriga. De repente, me vi sem forças para seguir, precisei me sentar um pouco.

Assustado Luís me segurou pelo braço e abaixou-se ao meu lado. Ele parecia preocupado, olhando a nossa volta e me observando atentamente. Ao nos sentarmos, abri minha mochila, procurando por uma garrafa de água, que coloquei ali antes de sair de casa.

Luís retirou da mesma mochila uma blusa de frio, e me ajudou a vesti-la. Ele também bebeu um pouco de água.

Cansada e sem forças na perna para seguir andando, me deitei um pouco. Meus olhos ardiam, pareciam pedir para se fecharem por alguns minutos. Assim como eu, Luís estava nitidamente cansado, e de imediato, deitou-se em minha barriga.

Com os olhos fechados, pude notar uns vultos pretos que se moviam lentamente, certamente eram os galhos das árvores que se moviam com o vento. Meu rosto formigava de frio e de vergonha, pois ali no meio da mata estávamos eu e Luís que, para a minha surpresa, se encontrava deitado em minha barriga.

Controlei minha respiração para pouco me mexer, evitando que ele se incomodasse, afinal, a sensação de tê-lo tão próximo a mim era reconfortante.

Ainda evitando respirar profundamente, senti os poucos raios de Sol que atravessavam a mata, tocarem minha pele, quentes e acolhedores. Luís estava imóvel, parecia dormir o sono que adiamos nos últimos dois dias.

Até que, de repente, o silêncio ensurdecedor da mata foi interrompido por um grito agudo e apavorado:

— Socorro!

Nos levantamos rapidamente, enquanto Luís gritou ferozmente:

— Suelly!

Afinal, concluímos pelo grito agudo e apavorado que a voz era dela. Sem muito esperar, seguimos pela mata por mais uma ou duas horas, quando ouvimos novamente um grito, mais distante que da última vez.

De imediato, Luís saiu correndo.

Tentei segui-lo, mas acabei observando-o a certa distância. Em alguns segundos estávamos próximos a uma clareira e, mais adiante, foi possível encontrarmos Suelly, deitada atrás de um tronco.

Ela estava suja, com muitos ferimentos na pele próximo ao rosto, nos braços, nas pernas, além de estar com a mão direita quebrada. Ela, surpreendentemente, se apavorou quando nos viu chegar. Começou a tremer ainda mais quando se deparou com Luís. Olhou-o fixamente, assustada, abaixou a cabeça e agarrou-se com a mão esquerda no tronco que havia ao seu lado.

Ele, pelo contrário, agiu com segurança e, calmamente, segurou em sua cintura carregando-a no colo.

Olhou-me rapidamente e continuou a caminhada pela mesma estrada que seguíamos mais cedo, mas agora, retornando à cidade.

Suelly começou a se acalmar conforme caminhávamos. Entreguei-lhe uma segunda garrafa de água, que havia em minha bolsa. Bebeu a água com pressa, afogando-se e continuando a beber ferozmente. Após isso desmaiou, provavelmente, de cansaço.

No meio do caminho, notamos a aproximação dos policiais, que surpresos nos pararam.

Em meio à alguns interrogatórios desconfiados, respondemos à razão de termos entrado na mata e, nos minutos seguintes, indicamos o local onde havíamos encontrado Suelly.

De imediato, uma equipe seguiu em direção a campina, ao lado de Luís, que fez questão de guia-los. Tentei ir junto, mas fui impedida, e acabei seguindo com outra equipe que levou a mim e Suelly para um hospital.

Depois de uma rápida vistoria médica, meus pais me levaram para casa.

Os dias seguintes foram silenciosos e lentos. Todos na cidade caminhavam com os olhos atentos para a mata que nos cercava. Era possível saber de alguns comentários quando minha mãe voltava do supermercado ou da padaria, e contava a meu pai alguma novidade das investigações.

Fiquei sabendo, por exemplo, que Luís permanecera na mata com as equipes de busca e que Suelly retornara a sua casa poucos dias depois, mas não dizia uma única palavra aos policiais, ou a equipe médica. Nem aos seus pais, que apavorados questionaram sobre o que acontecera na mata ou onde poderiam estar suas irmãs desaparecidas.

A escola fechou por uma semana, assim como todo o comércio da cidade.

Decidi ser hora de ver Suelly, e assim o fiz.

Caminhei destemida até sua casa que, a essa altura, estava cercada de curiosos, assim como eu. Passei pelo portão de entrada e fui acolhida pala mãe dela, que sabia de minha busca pelas meninas ao lado de Luís.

A mulher de olhos deprimidos me segurou pelos braços e, em soluços, me agradeceu pelo ato de socorro. Assim que se acalmou contou-me suas tentativas frustradas de se aproximar da filha, e o desespero que sentia pela falta de notícias das que ainda estavam desparecidas.

Contou-me também que, há poucas horas, Suelly havia destruído a casa toda, por conta de um ataque de desespero quando derrubou um copo de água no chão. Notei que a casa estava mesmo bastante bagunçada, com alguns cacos de vidro moídos no chão, os móveis arrastados e marcas de mãos pela parede, como um rastro de sangue quando alguém se fere e sai se equilibrando nas paredes e nos móveis.

Gentilmente indaguei se poderia ver Suelly, e sua mãe me autorizou.

Segui por um corredor parando diante da porta do quarto dela e, logo após, entrei.

Suelly, aparentemente, muito triste estava sentada na janela de seu quarto, olhando para a rua, onde era possível notar alguns curiosos encarando-a fixamente, também imóveis, assim como ela. Sentei-me ao seu lado, e permaneci ali pelos minutos seguintes:

— Obrigado por me procurar naquele lugar horrível — ela disse num sussurro.

— Senti que era o certo a se fazer… — expliquei — Seu namorado, e todos na cidade, estavam preocupados. Achei que deveria seguir minha intuição e procurar por vocês — continuei.

— Mas foi você quem me encontrou! Isso ninguém mais fez… — ela afirmou, ainda sussurrando — Você foi a única!

— Eu e o Luís! — completei.

Contudo, para a minha surpresa, ela estremeceu quando falei o nome dele, demonstrando temer algo.

— Foi ele quem mostrou o caminho? — agora Suelly falou mais convicta, demonstrando ser essa indagação uma conclusão, e não uma pergunta.

— Na verdade, eu indiquei o caminho — expliquei — Li as notícias no mural da escola e percebi que a estrada na floresta aparecia sempre nos relatos. Seguimos por ela, por insistência minha.

— Parecia que ele já conhecia o caminho? — ela insistiu.

— Não reparei nisso… — respondi, no mesmo momento em que percebi estar tomada pela curiosidade do que levaria Suelly a ter tanto receio com relação ao Luís — Por quê?

— Nada Lucy — ela respondeu desviando o olhar para a janela — Ele é meu namorado, eu queria saber como ele ficou quando desapareci…

— Você nos reconheceu na mata? Quando nos viu? — indaguei desconfiada.

— Se eu reconheci vocês? Como assim? — ela retrucou-me, agora com um olhar confuso.

— Essa pergunta pode parecer estranha, mas tive a sensação que você não sabia quem éramos nós… Eu e o Luís… — respondi, explicando-a minha dúvida.

— Reconheci sim! — respondeu mais calma — Eu ouvi uma voz chamando meu nome, sabia que era o Luís — seu olhar ficou sério quando se recordou do momento em que nos encontramos — Por quê? — indagou ríspida e com um olhar vazio.

— Você parecia estar com medo do Luís — insisti observando-a atentamente — Seu olhar era de medo. Você se agarrou ao galho enquanto ele tentava lhe carregar — por um instante ela permaneceu quieta, pelo que transparecia em seu olhar, as recordações eram doloridas.

— Estou cansada, você pode ir embora? — respondeu-me rispidamente — Deixe-me descansar!

— Eu preciso ir mesmo… Vou ajudar nas buscas, que irão recomeçar… — antes de concluir minha fala, ela segurou em meu braço com força e apavorada insistiu:

— Tome cuidado! Ele é muito perigoso… Ele… O lugar é… Não confie em ninguém! — olhou-me com os olhos arregalados, suas mãos apertavam fortemente a minha — Não desista! Insista por mim… E pelas minhas irmãs. Me prometa que tomará cuidado com ele!

— Ele? Quem? — indaguei curiosa.

— O… — ainda assustada corrigiu-se — O lugar… Essa mata é traiçoeira! Prometa-me que terá mais cuidado!

— Eu prometo — decidi não insistir mais, afinal, ela estava cansada e enfraquecida, e o que recordara perecia ser dolorido demais — Vou encontrar suas irmãs! — assim que conclui minha fala, ela se mostrou aliviada.

Soltou minha mão e com um discreto sorriso se despediu. Retribui o afeto e saí de sua casa, seguindo em direção a minha.

A alguns passos de meu portão estava Luís, distraidamente conversando com meu pai. Os dois estavam visivelmente cansados e, ainda assim, planejavam uma nova rota para reiniciar as buscas pelas irmãs desaparecidas. Aproximei-me desinteressadamente, entretanto, os dois se calaram ao verem-me.

Desapontada com os segredos, entrei apressada até meu quarto, onde montei novamente uma mochila. Para não chamar muita atenção, coloquei a bolsa dentro de uma caixa, e andei rumo ao portão de saída. Fui impedida de avançar ao meu plano destemido, quando Luís me interceptou pelo braço:

— O que você esta planejando Lucy? — indagou incomodado.

— Nada… — tentei parecer normal — Vou para a casa de Emilly. Nós achamos que precisamos animar a Suelly. Estou levando algumas revistas aqui na caixa, quer conferir? — continuei ironicamente.

— Não! — ele disse, agora com a voz mais calma — Eu vou reiniciar as buscas com alguns policiais e o seu pai. Volte logo, sua mãe vai precisar de você aqui! — terminou.

— Vocês vão juntos? — eu sabia que ele iria para mata, mas não sabia que meu pai iria também.

— Nós decidimos seguir as busca à noite, precisamos ser mais rápidos — Luís explicou-me, com meu pai afirmando o mesmo que ele.

— Comecem amanhã cedo… É mais seguro! — exclamei, ainda assustada.

— Seu pai também disse isso, mas não podemos parar por horas, é pior para elas — respondeu Luís, segurando em minha mão.

— Vou… Para a casa da Emilly então… — afirmei gaguejando envergonhada.

— Tudo bem, mas não demore! — respondeu meu pai, sorrindo por conta de minha vergonha.

Mal consegui me soltar de Luís, e andei na direção da casa de minha amiga. Próximo ao seu portão desviei em direção a rua na lateral esquerda que terminava numa trilha para a mata. A mesma que mais adiante era perceptível na lateral da escola, caminho que percorri duas semanas atrás, ao lado de Luís.

Continuei andando pela trilha, sempre na mata fechada, e distante o suficiente da estrada de terra, para não ser descoberta antes de alcançar algum rastro das meninas.

Senti que a mata era ainda mais silenciosa que antes. Nem o vento soprava, nem os pássaros cantavam. O tempo passava e, trazia consigo o aviso, de que algo por ali espreitava ansiosamente por uma vítima.

Em boa parte do caminho, senti múltiplos arrepios. Eram os mesmo que senti no dia da festa onde as jovens desapareceram, e como naquela noite, parei de me mover, pois, algo parecia me observar. O medo tomou conta de meu corpo fazendo com que minhas pernas parassem me traindo instintivamente. Caí e rapidamente me levantei. Insistentemente continuei a andar.

A mata parecia se dividir em duas, uma mais clara, com pouca iluminação do Sol, e outra mais obscura, bastante sombria, sem iluminação alguma. Uma mata fechada e com passagem bastante estreita entre uma árvore e outra.

Quando estive com Luís, seguimos pela primeira parte da mata, a com iluminação, ainda que pouca. Primeiro, por ser mais amigável, sem me causar calafrios e, depois por ser a direção em que encontrei o tecido da roupa de Rita, a mesma direção em que mais cedo achei Suelly.

Andei por horas no escuro e nadei por um Riozinho gelado que cortava a mata densa. Cheguei bem mais distante que a última vez em que caminhei com Luís, passando rapidamente pela campina onde havia encontrado Suelly, confirmando-me que não estava perdida.

Andar pela lateral do Riozinho para não me perder na mata, e quando comecei a imaginar que seria melhor desistir, encontrei próximo à margem, outro pedaço de vestido, este era semelhante ao de Bel, ou o que restou dele. Havia também um rastro de sangue, composto por algumas poças já secas sob à terra.

Decidida a continuar pela mata, percebi algo estava caído.

Olhando atentamente, identifiquei ser um braço, e conforme me aproximei, pude ver com clareza que era o corpo de Rita, frio e desidratado.

Ela estava morta!

Na verdade, parecia estar sem nenhum líquido no organismo. Ela estava seca, com a pele ríspida e envelhecida. Observei atentamente até encontrar um corte largo na nuca, sem nenhum rastro de sangue em volta.

Imaginei o que poderia causar uma morte assim, contudo, as respostas em minha mente formavam-se mais como uma mistura de ficção com medo, do que conclusivas de fato.

Diante do corpo, nada pude fazer.

Ajoelhei-me, segurei em sua mão direita e rezando pedi para ela ser guiada a um lugar onde não sentisse dor ou lembrasse do medo que sentiu em seus últimos minutos de vida.

Em seguida, me levantei e continuei minhas buscas, agora por Bel, que ainda poderia estar em perigo.

Comecei a tentar imaginar quem seria o assassino frio e minucioso que fizera aquilo com ela. Como alguém poderia matar uma pessoa, ou várias, retirando todo o líquido de seus corpos? Essa pessoa viveria na mata ou na cidade? Perguntei-me também, o que eu poderia fazer para ajudar a Bel, e ainda, voltar em segurança para casa?

Fui interrompida por um choro silencioso que vinha atrás de mim, da direção do Riozinho, por onde passai alguns minutos atrás. Senti um calafrio ao pensar que poderia ser Rita, que eu acabara de ver morta.

Minhas próprias conclusões me deixaram confusa. Não fazia sentido ser ela, mas para isso deveria existir alguém no local já que eu havia acabado de sair.

Curiosa, retornei ao lugar e, por trás de algumas árvores, olhei para a direção do corpo.

Abaixada ao lado de Rita, estava uma figura feminina aos prantos tocando o cadáver. Tentei me aproximar e finalmente reconheci Suelly:

— Você me seguiu esse tempo todo? — indaguei surpresa.

— Eu queria ter certeza de que achariam as duas, como fui encontrada… Mas agora… — Suelly chorava inconsolavelmente, enquanto segurava a mão de sua irmã — Ela morreu, perdi minha caçula… — em meio a soluços insistiu — A culpa é minha!

— Não! — interrompi — A culpa é do psicopata que sequestrou vocês três.

— Você não entende mesmo, não é? — disse-me ela, ainda olhando para a irmã — Eu as trouxe para ele. Sou um monstro!

— Mas foi ele quem a matou! — tentei consola-la — Você estava perdida. Podia ter passado por tudo o que elas passaram se não tivéssemos encontrado você.

— Eu preferia que fosse ela a encontrada no meu lugar! — respondeu-me chorando desesperadamente.

— Não diga isso! É você quem sobreviveu — comentei segurando em sua mão.

— Matei elas e não foi por acidente. Foi culpa minha — ela se sentou colocando as mãos na cabeça, exatamente quando ouvi passos na mata.

— Precisamos sair daqui, alguém esta se aproximando — Suelly se levantou e começou a me seguir, ainda muito abalada.

Mata adentro, andamos por mais dois dias. Agora, seguíamos por um caminho onde era possível notar alguns poucos raios de Sol.

Contudo, Suelly não aguentou muito tempo, e logo caiu de joelhos no chão de folhas secas, bastante cansada e debilitada. Ajudei ela a se levantar e caminhamos juntas até uma caverna logo adiante.

Saí logo em seguida, a procura de galhos secos. Assim que reuni alguns, ascendi uma fogueira, com o álcool em gel e o fósforo que havia em minha mochila. Nos escondemos ali por algumas horas, até minhas dúvidas me atormentarem:

— Suelly, quando você disse que era culpada… Eu fiquei pensando… O que foi que você fez para se sentir culpada?

— É uma longa história! — respondeu suspirando.

— Nós temos muito tempo ainda — insisti.

— Você não vai gostar de saber, vai me julgar… — afirmou ela, enquanto encarava o chão.

— Me conte, eu não sou de julgar as pessoas — expliquei — Afinal, estou ao lado da pessoa que me seguiu mata adentro. E vamos passar a noite toda aqui, para continuar a procurar por sua irmã amanhã cedo — afirmei dramatizando, e ela sorriu.

— Eu não posso contar — ela respondeu-me novamente.

— E se for a única forma de encontrarmos a Bel? — continuei insistindo, agora triunfante.

— Como assim? — indagou-me ela curiosa.

— Se eu souber a verdade, posso te ajudar a entender o que aconteceu… Juntas, podemos descobrir quem é o psicopata e tentar saber aonde ele esta — expliquei olhando-a.

— Ele não é conhecido… Eu já sei quem é, não tem como você ajudar — ela esclareceu.

— Vamos decidir isso juntas, o que acha? — tentei pela última vez.

— Tudo bem Lucy — respondeu-me ela, num suspiro de trégua — Eu conheci ele à algumas semanas quando estávamos indo ao supermercado junto com as minhas irmãs. Wilson, como ele dizia se chamar, parou bem na nossa frente e começou a perguntar sobre nossas vidas… — ela parecia se lembrar da conversa, mais que isso, estava vivenciando o que me descrevia, olhando a sua frente como se o visse, enquanto o descrevia.

— Ele era conhecido? Da cidade? — indaguei ansiosa por detalhes sobre o criminoso.

— Não, não era da cidade — ela afirmou pigarreando após sua voz falhar — Na hora que ele se aproximou eu não achei estranho. A Rita chegou a dizer discretamente que ele era um gatinho, e eu concordei encarando-o. Nós passamos horas conversando naquele dia — ao completar a frase ela começou a sorrir tímida — Wilson parecia muito familiar, alguém que eu tinha a sensação de ter visto muitas outras vezes, quase que todos os dias. Depois de alguns dias, continuamos nos vendo, e falávamos sobre o meu namoro com Luís.

— O Luís não sabia sobre o Wilson? — interrompi concentrada nesse comentário dela.

— Não, eu nem acho que essa é o tipo de notícia que se compartilha com o namorado — respondeu franzindo a testa ao me advertir — Mas, minha relação com o Wilson no começo era só de amizade, às vezes ele perguntava algumas coisas sobre meu namoro. Só que quando eu percebi já estávamos juntos, chegamos a nos beijar várias vezes. Nossa conversa passou a ser somente entre nós dois, sem minhas irmãs por perto.

— Agora eu entendi a razão de você não ter contato nada para o Luís — comentei coçando a cabeça ao perceber que ela estava me falando sobre seu caso.

— Quando conheci ele, considerei que seria uma boa amizade, nada mais. Por conta disso não contei nada para o Luís, mas comecei a me apaixonar pelo Wilson, e quando resolvi contar para as minhas irmãs.

Ela parou de falar por uns poucos segundos, consegui notar que sua mão começava a tremer, refletindo uma tristeza que apareceu em seu olhar quando continuou:

— Quando nós nos reunimos, foi surpreendente, nós três estávamos com ele. Percebi que, a alguns dias, não falava mais com minhas irmãs, mas nunca imaginei que fosse porquê estávamos envolvidas com o mesmo homem — Suelly deixou cair algumas lágrimas do olho, estava muito abatida com suas recordações.

— Imagino que não deva ter sido fácil — resmunguei tocando em seu braço para tentar reconforta-la diante de suas memórias que pareciam ser doloridas.

— Não foi nada fácil saber que estava amando o mesmo homem que a minhas irmãs. Fiquei a noite toda imaginando o que podia acontecer agora que já sabia da verdade, e decidi terminar com ele — respondeu endireitando sua postura e estufando o peito — No dia seguinte descobri que eu e minhas irmãs tivemos a mesma ideia. Cada uma em sua fez saiu com Wilson como já era de costume, e sem combinar entre nós o que íamos fazer, ambas terminamos o recente relacionamento com ele. Eu fui a última.

— Nossa que coincidência! — exclamei surpresa com o que ela me relatava.

— Eu também me surpreendi — ela ponderou sorrindo, pouco antes de voltar a se comover — Quando cheguei para falar com ele já era noite, fui até sua casa na divisa da cidade, em direção oposta à escola. Ele se sentou logo na porta e quando cheguei, parecia já saber qual seria nossa conversa… — ela interrompeu, provavelmente relembrando o que acontecera — Me aproximei pronta para dar um fim a essas mentiras e então ele entrou, foi a lareira e a ascendeu. Parecia querer aproveitar seus últimos minutos comigo. No começo eu me revoltei, mas gostei do carinho e deixei o clima surgir. Vimos o céu estrelado e quando já era tarde demais tentei conversar sobre a razão do encontro, mas ele foi mais rápido e antes da frase se iniciar, se virou para cima de mim, me prendendo com as mãos e me beijando. Foi como estar encurralada. Ele foi muito carinhoso, me levantou e seguiu até o quarto, onde me soltou na cama, sem muito esforço me preencheu até me proporcionar uma intensa onda de prazer… Bom, a noite foi bem diferente do que eu havia planejado… — nesse momento ela parecia gostar do que lembrava, menos da sequência, pois, seus olhos ficaram vazios e seus lábios contraídos — Eu me sentei quando já começava a amanhecer… Ele estava acordado, creio que não tenha chegado a dormir, e sem muitos rodeios contei que tínhamos que terminar e que tudo que aconteceu era um erro!

— E ele aceitou tudo o que você disse? — indaguei expondo os pensamentos que surgiam em minha mente, com os olhos fixos nela.

— No começo Wilson parecia entender, mas no caminho de volta ele mudou… Ficou frio, bravo. Cheguei e imaginar o que faria se ele tentasse me agredir e percebi que não tinha o que fazer… Quando chegamos ele destravou a porta e disse precisar ter uma conversa séria entre nós três… — ela estremecia ao lembrar o que ele dissera — Disse ter esse direito. Que era o mais certo a se fazer… Uma conversa entre ele conosco e o Luís. Fui uma burra! Cotei sobre o baile que ocorreria naquela noite. Que assim que saíssemos, teríamos essa nossa última conversa, para terminar de uma vez por toda com essa história. Que não era para envolver o Luís nessa história… — concluiu sua fala em meio a lágrimas.

— Foi uma infeliz situação, mas Suelly, no seu lugar qualquer um teria agido desta forma! — tentei acalmá-la.

— Mesmo assim, eu pus a vida das minhas irmãs em risco. Eu matei a Rita! — exclamou chorando.

— Não! — afirmei olhando-a fixamente — Foi ele quem a matou!

Eu as trouxe até ele, você não entende? Foi por minha causa que tudo aconteceu — insistiu ela, com os olhos marejados.

— Suelly, você já parou para pensar que essa história não tem a ver somente com você? — indaguei, enquanto tirava minhas conclusões com tudo o que acontecera.

— Como assim? O que você está dizendo? — questionou-me confusa.

— Existe um mural enorme na escola com histórias de assassinatos como o que você acabou de descrever, não reparou nas semelhanças? — indaguei, mostrando-lhe minha conclusão.

— Quais semelhanças? Nunca ninguém sobreviveu aos ataques, eu estou aqui, não estou? — ela indagou quase esbravejando.

— Na verdade, tem um sobrevivente sim, o Diretor Sparks, e no caso dele foram três vítimas como dessa vez — concluí franzindo a testa.

— Impossível, isso foi a muitos anos, ele era jovem e o assassino também era. Wilson é jovem hoje, deve ter vinte anos no máximo! — exclamou ela, que a essa altura parecia se confundir em pensamentos.

— Mas pode ser… Sei lá… Um aprendiz… Existem tantas histórias relacionadas a violência hoje em dia, eu não considero que seja apenas uma coincidência! — afirmei convicta.

— O que faremos agora? — indagou ainda desatenta.

— Aonde ficava o local em que vocês se encontraram na última noite juntos? — questionei.

— Ele nos encontrou em casa e seguimos pela estrada de terra logo na saída da escola. Uma estrada escura e assustadora, ele caminhou por um tempo até que paramos…

Suelly mudou sua expressão, franzindo a testa e colocando a mão em sua nuca, como quem se lembra de uma memória momento com extrema perfeição e se incomoda com as novas percepções que obtém. Assim ela seguiu explicando:

— Ele me bateu logo atrás da orelha, mas não parecia ser um tapa, cheguei a sentir seus dedos me seguram e uma dor imensa… — decidi olhar a região indicada e, para minha surpresa, havia uma marca igual a que encontrei alguns dias em Emilly, como se fossem dentes, mas não era uma mordida comum, e sim uma cicatriz com dois pontos.

— Você desmaiou ou não se lembra? — continuei.

— Eu só me lembro da mão dele e a dor. Depois tem alguns momentos em que eu ouvi a voz de Bel, ela gritava… Lembro-me da Rita tentando fugir e o Wilson rindo como se gostasse de correr atrás dela… E por último me recordo de Bel me mandando fugir, ela gritava "você está solta, corre, acorda Sú, levanta logo", senti algo me puxar e quando acordei de verdade foram vocês que vi — concluiu chorando muito.

— Então você não lembra onde estava? — insisti.

— Não, não me lembro de nada daquele lugar — afirmou apreensiva com as recordações.

— Acho que ele passou por aqui, é o único caminho que teria feito depois de deixar o corpo de sua irmã na margem do rio. Vamos seguir a procura de alguns rastros ou pegadas — afirmei decidida.

— Vamos, estou pronta para continuar — ela exclamou levantando-se.

Nós saímos da caverna com muito cuidado e quando começávamos a partir notei que logo atrás havia passos se aproximando, quase ao mesmo ritmo que os nossos. Num impulso me virei.

Logo a minha frente, quase que colado a mim estava Luís, me encarando com um olhar curioso e, ao mesmo tempo, sério. Ele me segurou e em seguida deu a mão a Suelly, indicando para onde devíamos ir. Sem dizer nenhuma palavra nos guiou numa tentativa de se afastar de algo.

Demorei a perceber que era de meu pai e dos policiais que vinham à alguns minutos de nós. Seguimos até encontrarmos um rastro, eram marcas pela mata que pareciam ser algo grande que fora arrastado. Poderia ser o corpo de Rita.

Luís, atento a tudo à nossa volta, demonstrou ansiedade em esclarecer algumas informações:

— Por que você me desobedeceu? — disse ele num sussurro.

— Eu precisava ajudar Suelly, era o único jeito — respondi quase tão baixo quanto ele.

— E eu, você nunca pensou em me ajudar? — indagou-me desapontado.

— Como assim? — questionei confusa.

— Estou preocupado a nove dias! Sua mãe ligou assim que partimos e contou sobre seu sumiço. Na hora conclui que você estava na caçada também — afirmou desapontado.

— Não tem razão para se preocupar, eu sei me cuidar! — resmunguei grosseiramente.

— Preciso sim. Você viu o que foi feito com a Rita? Seja lá quem for, não está de brincadeira. É muito perigoso se meter em uma busca, ainda mais sozinha Lucy — afirmou me olhando fixamente.

— Suelly esteve comigo o tempo todo! — exclamei triunfante, mas logo notei que ele estava certo em se preocupar.

— A claro, a única vítima encontrada, que há alguns dias nem sequer tinha forças para sair da cama. Você acha mesmo que estava segura? — ironizou, ainda atento a mim.

— Estou viva não estou? Isso é o que importa! — conclui esbravejando.

— Para onde vocês estão indo? — interrompeu Suelly, que a essa altura, encontrava-se de braços cruzados à alguns passos de nós — Chegamos! — continuou, apontando para o final da mata, onde havia uma cabana logo no final do morro.

A casa parecia estar abandonada. Uma porta de madeira envelhecida na entrada, corroída por cupins, janelas quebradas, sem muito charme ou graça. Parecia ser mais uma casa de filme de terror.

Aliás, foi por isso cheguei a me sentir de volta à cidade de onde partimos.

Seguimos em sua direção. Luís a nossa frente e nós duas de mãos dadas, mais assustadas após os novos passos.

Suelly demonstrava se recordar tremendo e chorando com as memórias. O que me deixava ainda mais assustada.

Logo o escuro da noite dominou por inteiro o lugar e minhas pernas travaram, mais e mais vezes, enquanto nos aproximávamos.

Quando paramos enfim frente à porta, eu caí. Não por fraqueza, mas por um reflexo que parecia dominar meu corpo. Como se meu instinto me chamasse para aquele lugar, eu parecia meio zonza.

Senti um cheiro que me deu enjoo, à princípio, e em seguida me recordei que a dias não me alimentava, sendo dominada por uma fome intensa que atraía minha atenção para o meu estômago e, de distraía de minhas reações.

Uma fraqueza começou a surgir em minhas pernas e, caí de joelhos no chão, novamente.

Luís me levantou e permaneceu com a mão em minha cintura. Na hora não foi nada bom já que Suelly estava logo ao lado e, teoricamente, os dois ainda estavam juntos. Ele parecia ter as mesmas sensações que eu, tentando se controlar para demonstrar mais força. Consegui perceber seu olhar ficar estático, como um animal à espreita de uma presa.

Tentei me soltar, mas não consegui.

Me virei para o lado, tentando observar a outra pessoa presente entre nós dois e, para a minha surpresa, Suelly parecia não nos notar ou se importar com o que acontecia entre mim e ele. Luís recuperou sua postura e me soltou em segundos. Seguimos nossa observação sobre o local, próximos um do outro.

Olhamos pela janela para o que confirmamos ser uma casa de fato abandonada. Luís caminhou por toda a volta da casa, sempre atento a cada movimento e com muito calma.

E, quando ele demonstrou estar seguro, entramos pelos fundos, ambos com calma a cada novo passo. Não demorou muito para notarmos no chão, perto de um armário velho, a jovem Bel tremendo e pálida, cercada por uma poça larga de sangue que escorria de seu pescoço.

Luís estremeceu, apertou os punhos e engoliu seco. Rapidamente me mandou segurar Suelly que parecia perder o controle do corpo ao observar a irmã naquele estado. Abaixei-me ao seu lado e juntas, vimos Luís tentar reanimar a jovem, em vão. Ela estava agonizando em uma morte lenta e dolorida.

O pior foi perceber que Suelly parecia sentir a mesma dor que a irmã e sem muitas forças chorava. Eu mal conseguia me equilibrar, e ainda assim tentei de algum modo segurar ela, não por muito tempo, pois nos voltamos contra o chão, eu de fraqueza e fome, e Suelly de dor e horror diante da irmã falecendo.

Quando consegui novamente me reerguer, minhas forças me traíram e um forte enjoo acompanhado de uma tontura voltou com mais força.

Suelly se arrastou até a irmã de joelhos e chorando disse:

— Eu a encontrei minha irmã, agora você está protegida, fique calma.

Como num suspiro Bel resmungou:

Ele não se foi!

Pouco depois vi a vida deixar os olhos dela, nos braços de sua irmã desesperada.

Ao mesmo tempo, Luís se levantou, carregou Bel no colo e seguiu para a porta. Nós duas quase sem forças o seguimos.

Voltamos novamente pelo escuro da noite, caminhando mata adentro. As horas mais sombrias que vivi na mata. Tudo parecia nos seguir, as folhas secas tinham sons apavorantes que quebravam um silêncio que zunia em minha orelha.

O Sol já surgira quando chegamos próximos da polícia, Luís escorregou e deixou o corpo de Bel cair sob seus pés. Todos nos assustamos com a situação inusitada. Ajudamos Luís se levantar e seguimos para chamar alguns policiais.

Ele ainda me levou até meu pai que parecia furioso ao me notar, mesmo assim, sorriu e me abraçou fortemente. Quando voltamos ao local onde corpo fora deixado, nada mais estava ali.

Havia um solo com grama rasa sem nenhum vestígio do corpo. Os policiais decidiram dar as buscar por encerradas e nosso retorno para a cidade foi mais rápido, durou quatro dias.

No primeiro atravessamos tudo pelo rio, a única razão da demora, já que os dias seguintes foram dentro de um carro.

Quando nos aproximávamos da cidade ouvimos de longe, todos conversando e logo vimos a multidão que aguardava por notícias. Descemos do carro cercados por curiosos e seguimos para a escola.

No ginásio os policiais contaram como foram as buscas que fizeram. Descreveram o estado do único corpo encontrado por eles, e os locais que suspeitavam estar o outro desaparecimento. Nada muito detalhado, pois essa não é a categoria de notícia que se passa com riqueza e perfeição a todos os cidadãos, ou aos parentes de uma vítima de assassinato. Ainda mais quando se trata de um fim brutal como fora o de Rita, e o súbito desaparecimento do corpo de Bel, bem diante dos nossos olhos.

Após o reboliço causado pela cidade, as notícias se espalharam pelas ruas e estabelecimentos. Todos olhavam e cochichavam pelos cantos indicando para a casa das vítimas.

Não demorou muito para a notícia virar mais uma naquele mural da escola.

A cidade inteira parou. Tudo parecia rondar a casa de Suelly, as pessoas passavam por lá e olhavam para os pais dela, na maioria das vezes para desejar os pêsames. Na escola eu ia somente devolver alguns cadernos de Emilly, que passava quase a tarde toda em casa contando a novidades da escola.

Quando eu ia ao local via como Suelly parecia infeliz, todos olhavam para ela e ninguém se aproximava para conversar ou entender o que aconteceu. Tentei me aproximar para conversar algumas vezes, mas logo ela encontrava uma maneira de se afastar.

Fiquei alguns dias de castigo, uma semana para ser mais precisa.

Depois que meu castigo acabou, voltei às aulas e percebi que também era alvo de comentários. Chegaram a pensar que eu havia sido raptada com as três irmãs, e havia desaparecido por dias, pois estava mantida em cativeiro ao lado delas.

Algo que se espalhou pela cidade mesmo com a história que minha mãe contou à direção da escola, dizendo que viajei para ver meus parentes e na volta encontrei meu pai que passava próximo aos limites da cidade, retornando com ele e a equipe de buscas na viatura da polícia.

Isso só ajudou a fazer com que os boatos diminuíssem, mas não foi nada esclarecedor para os curiosos que esticavam o pescoço diante de nossa presença.

Passou um mês e tudo parecia sempre igual, até que Suelly e sua família decidiram se mudar.

Em sua última aparição Suelly estava mais feliz. Despediu-se de Luís e, de longe, acenou-me.

Foi assim que eu a vi partir.

Ela entrou no carro da família e seguiu pelos limites da cidade, com a confiança que me familiarizei a ver, e desapareceu.