Alguns dias depois, todos pareciam voltar para a rotina de sempre. As aulas retornaram, e seus corredores silenciosos começaram a fazer parte do novo cotidiano.
Em um dia ensolarado fui acordada pela minha mãe me avisando que Emilly aguardava em nossa sala. Arrumei-me apressadamente e segui para o cômodo.
— Aí está você! — afirmou empolgada — Preparada para o dia de excursão?
— É hoje? — indaguei confusa após me esquecer da data.
— Você prometeu que anotaria — disse ela com uma expressão de tristeza.
— Acabei imaginando que seria na semana que vem — suspirei tentando amenizar a situação — Mas posso me trocar rapidamente.
— Vou te ajudar — respondeu animada novamente — Posso? — questionou a minha mãe que estava presente na sala observando nossa conversa.
Ela acenou com a cabeça em afirmativo e seguimos juntas para o meu quarto. Emilly caminhou em meu quarto direto até meu guarda-roupa, mexeu em alguns cabides e retirou três opções. Bem menos empolgada, sentei-me na cama e esperei que ela oferecesse as peças para minha escolha.
Ela agia da mesma maneira que minha amiga Andy, me recordando do único lugar que ainda me fazia pensar como um lar. Senti falta de meus amigos enquanto aguardava pelas roupas.
Ao perceber meu comportamento, Emilly respirou desanimada e abaixou o braço com os cabides, movendo os ombros para a direção do chão.
Caminhou até a cama e se sentou ao meu lado. Com um tom de voz mais baixou ela resmungou:
— Você preferia estar na mata ainda?
— Como assim? — indaguei.
— Às vezes parece que você se divertiu na caçada ao assassino, e que nada te atraí mais como os dias que esteve lá perdida — explicou com um olhar distante.
— Não foram dias felizes, eu passei muito medo naquele lugar. Era tudo escuro, úmido e com um silêncio ensurdecedor — afirmei olhando em seus olhos.
— Ainda assim, você decidiu voltar, nem perguntou se eu não queria ir junto — completou.
— Você iria? — questionei, já sabendo sua resposta.
— Claro que não! Sou solar demais para ficar perdida em uma floresta — respondeu sorrindo e movendo os ombros para trás.
— Por isso mesmo eu não convidei você — afirmei sorrindo.
— Mas você foi com a Suelly… — começou em um cochicho — Você não chegou a gostar nunca gostou dela, viviam brigando ou se evitando. Eu não entendi isso — terminou séria.
— Ela me seguiu pela floresta, eu só a percebi quando já estava na mata há alguns dias — disse me recordando do dia em que encontrei Rita.
— Você correu risco entrando na floresta para procurar pessoas que não eram boas com você, e que você mal conhecia — ela disse franzindo a testa e cruzando os braços.
— Eu queria entender quem era Wil… o assassino.
Fiquei surpresa quando quase deixei escapar o nome de Wilson, detalhe que eu e Suelly ocultamos da polícia para nos preservarmos. Penso que minha amiga não chegou a notar minha reação, mas por precaução continuou a conversa com mais cautela:
— Existe um mural na escola contando sobre esses crimes, me senti curiosa para entende-los, e imaginei que o desaparecimento das irmãs era mais um desses casos, por isso me envolvi nas buscas.
— E foi correndo atrás do lunático! Você é mais doida do que eu imaginava — disse ela sorrindo animada.
— Preciso escolher uma roupa? — indaguei voltando nossa atenção para o relógio.
— Sim, ou acabaremos nos atrasando — respondeu surpresa com o avançar na hora.
Escolhi minha roupa e seguimos para a excursão. Quando chegamos na escola todos já haviam embarcado nos ônibus, pegamos o último que começava a fechar suas portas. Entramos e nos sentamos separadas, pois todos os lugares já estavam ocupados.
Coloquei uma playlist enquanto o ônibus seguia viagem. Ao som de "I fund", comecei a observar a estrada que seguimos.
Era na direção oposta a floresta, o mesmo caminho que percorri com meus pais quando nos mudamos. Ao fundo dava para notar um penhasco cercado por árvores altas, que se moviam com fortes ventos.
O dia estava nublado, com nuvens carregadas e escuras. Parecia ser noite e não passava das sete horas da manhã.
No ônibus era possível notar a professora anotando informações referentes aos alunos em uma prancheta. O motorista bocejava a cada dois minutos e sorria quando algum aluno fazia uma brincadeira citando-o.
Era um percurso numa estrada vazia aonde todos os sons vinham de dentro do nosso veículo, com conversas altas, alunos andando entre um banco e outro, e várias gargalhadas.
O aluno ao meu lado dormiu o trajeto todo, o que me deixou livre para olhar a janela e o corredor, sem ser barrada. Do lado de fora pude ver quando nos aproximávamos dos limites da cidade vizinha. Havia um anel de entrada muito imponderado, com altos pilares e um letreiro escrito: "Bem Vindos".
Seguimos mais dez minutos até chegarmos ao parque de destino. Nosso ônibus foi o último a estacionar, e os outros cinco já estavam com seus alunos desembarcados aguardando nossa chegada.
Antes de todos se arrumarem, Emilly parou empolgada em minha frente e sorrindo acenou para que eu me levantasse. Descemos juntas e paramos aguardando os demais descerem.
Após as recomendações da professora recebemos uma lista de tarefas a serem realizadas em quartetos, que minha amiga não teve dificuldades em recrutar.
Caminhamos pelo parque com uma apostila de doze páginas para preencher, que envolviam atividades de história, no que se referia aos artefatos espalhados pelo local, curiosidades e alguns pontos que poderiam ser associados às disciplinas escolares, e a disciplina de biologia. Nela existiam alguns exercícios sobre o tempo de existência e durabilidade de alguns monumentos expostos, a localização de elementos da fauna e flora dispersa ali, e assuntos gerais com cálculos ou perguntas dissertativas, quando tínhamos que entrevistar um dos funcionários para entender a rotina e dinâmica que vivenciavam no parque.
Cada aluno do grupo pegou um tema, e eu e Emilly seguimos nossa procura pelos itens de biologia. Ficamos o dia todo no parque, envolvidas nas tarefas conversando sobre nossas expectativas quanto às notas e a reação dos professores.
Em alguns momentos brincávamos, em outros comíamos algo, e ainda trocávamos informações com alunos dos outros grupos. Numa dessas vezes, encontramos rapidamente com Luís, que parecia confuso com as informações que coletara, trocamos alguns dados e seguimos pelo nosso passeio juntas e determinadas a concluir a tarefa.
No final do dia retornamos para o ônibus e na escola entregamos nossas tarefas aos professores, assinamos nossa presença e seguimos para a minha casa. Emilly passou a noite planejando nossa ida a uma festa que aconteceria em dois dias. Dormimos na sala enquanto passava um filme de terror.