Chereads / The End - A História de Lucy / Chapter 13 - O vilarejo

Chapter 13 - O vilarejo

Tudo a nossa volta é uma imensa mata. A estrada pela qual começamos a andar, ainda estava aparente e continuava por um caminho extenso, do qual não consegui notar um fim.

Diante da nossa ausência de conversa, qualquer som era um grande barulho. Ora as folhas secas onde pisávamos, ora os grilos com seus cantos infindáveis, os pássaros com seus voos súbitos e ruídos, enfim tudo a nossa volta era incrivelmente assustador e barulhento.

Comecei a notar que a distância para retornar à cidade era grande não daria para voltar tão logo. O sol ao centro do céu tornou minha coragem em medo, tudo me assustava. Minha respiração ofegante e o distanciamento de Luís, cada vez mais apressado à frente, fizeram com que minha necessidade de distração aumentasse. Decidi insistir mais um pouco na conversa, para retirar mais informações, ou pelo menos me distrair de tudo a nossa volta:

— Você já andou por aqui? Sabe para onde estamos indo? — indaguei buscando sua atenção.

— Calma Lucy. Logo mostro onde estamos indo — respondeu caminhando no mesmo ritmo.

— Luís você é um mentiroso! — suspirei ofegante, fazendo-o parar para me observar — Quando perguntei se você sabia para onde essa estrada levava, e você respondeu que não sabia. Tentou me enganar! — exclamei triunfante.

— Eu não menti… Não sei para onde ela vai ou qual é o seu fim! Apenas omiti minha intensão de mostrar um lugar para você — explicou sorrindo envergonhado.

— Que lugar? — insisti afrontando-o.

— Imaginei que sua determinação em explorar a floresta merecia a recompensa de um lugar muito especial — ponderou com um olhar distante — Estamos bem perto, será uma boa surpresa, confia em mim! — concluiu.

— Mas se você conhece a floresta podia ter me contado antes — resmunguei suspirando alto e cruzando os braços.

— Conheço muitas coisas que vivem nesse mundo. Moro aqui a tempo suficiente para conhecer todos os cantos dessa floresta, e são muitos! — ele não me olhava enquanto se confessava, afirmando com calma — Pelo que conheço de você, sei que não gostaria de conhecer os que habitam esse lugar… Na verdade, não poderia conhecer… E sobreviver para voltar à sua casa… — completou com um olhar sombrio em direção a copa das altas árvores à nossa volta, quase confirmando minhas suspeitas dele ser um vampiro.

— Às vezes você consegue me assustar — ao concluir minha confissão, ele sorriu de maneira doentia, demonstrando estar satisfeito com meu medo — Estamos muito longe da cidade? Falta muito para chegar ao local que você quer me mostrar? — indaguei engolindo seco e desviando meu olhar para o caminho que havíamos feito até então.

— Por quê? Você quer fugir de mim? Está com tanto medo assim? — agora ele parecia curioso, tentando me acalmar.

Começou lentamente se aproximar de mim, movendo seu corpo concentrado.

Senti, segundo após segundo, minha respiração acelerar, de tal forma que meu coração pulsava alto, ecoando em meu ouvido. Engoli seco, ansiando o que aconteceria.

Ele colocou suas mãos em meus ombros, deslizando-as pelo pescoço, parando em minha nuca.

Estavam geladas enquanto minha pele fervia.

Em minha mente eu sabia o que estava acontecendo, mas em meu corpo parecia ocorrer uma descoberta inédita. O toque dele era algo completamente novo.

Por alguns breves segundos ele recuou e lentamente moveu suas mãos pelos meus braços. Fechei os olhos, sentindo seu toque gelado, aguardando sua aproximação. Ele me abraçou de uma maneira que mal pude me mover. Ao abrir os olhos o vi sorrindo a centímetros de meu rosto, provavelmente ciente do efeito que estava causando em meu corpo. Tentei respirar, e me assustei com o som do ar entrando em meu corpo.

Fechei os olhos novamente.

Tive a sensação de que ele ainda estava sorrindo, mas não pude ter certeza. Senti como se eu fosse uma presa prestes a ser atacada, imóvel e em estado de alerta.

Seu hálito tocou em minha pele quando virou calmamente a cabeça e se aproximou mais ainda. Cada parte de minha pele parecia desejar seu toque.

Ele começou a beijar meu pescoço, me causando arrepios. Depois seguiu tocando seus lábios em meu rosto. Eram beijos carinhosos e demorados. Senti minha boca secar e, tive medo de me mover e interromper esse nosso momento. Respirei pausadamente.

Luís parou com os lábios bem próximos aos meus e quase imperceptivelmente me soltou. Abri um pouco meus olhos, e o notei me observando atentamente. Parecia dar-me chances de desistir e escapar. Sua mão caminhava por minhas bochechas tão suavemente que imaginei serem ondas de arrepio.

A esse ponto eu o desejava tão intensamente que não me mexi.

Meu rosto começou a ferver. O sangue pulsava em minha pele, enquanto eu esperava pelo seu beijo, com receio de que ele desistisse a qualquer momento.

Imagino ter ficado corada e, tentando deixar claro que o queria, olhei em seus olhos que, não pararam de olhar os meus em momento algum. Por fim, ele avançou pelos poucos centímetros entre nós e me beijou.

Busquei o ar em um recuo involuntário que ele não deve ter notado.

Seu toque foi intenso com a força em seus braços apertando-me contra seu corpo.

Minha barriga formigou tirando minha atenção de minhas pernas, que amoleceram. Senti meu corpo inclinar em direção ao corpo dele e, lutei para me manter presente no beijo e em pé. Senti meu fôlego ficar escasso e meu desejo por manter aquele momento aumentando. Caminhei minha mão pelo seu braço e parei quando pude segurar sua nuca. Ele já estava com as mãos em minha cintura, apertando-a carinhosamente, espalmando minhas costas.

Nosso beijo entrou em sintonia com nosso sentimento, os lábios se envolviam com tanto desejo que parecíamos um casal desfrutando a luxúria.

Senti sua cabeça mover-se ainda mais intensamente e sua língua enroscar-se a minha. Seu hálito gelado se camuflava no calor que pulsava de minha garganta.

O beijo silenciou todas as minhas incertezas. Dava para sentir ali que ele me desejava como eu o queria.

Ele tentou se afastar de maneira sutil, mas retomou o beijo ainda mais intensamente. Abraçou-me subindo sua mão para minha nuca e depois desceu até meu quadril. Correspondi o beijo movendo meu corpo na direção que ele conduzia. Naquele momento não havia a possibilidade de recuar. Minhas mãos começaram a formigar, mais meus lábios se mantinham satisfeitos e insistentes.

As árvores a nossa volta pareciam não existir. Suas folhagens no decorrer de nossa cena pararam, saboreando nosso beijo enquanto nós o vivenciávamos.

Ele foi muito romântico o tempo todo. No final me afastou carinhosamente tocando meu rosto.

Quando abri os olhos, ele novamente me encarava, mas agora com um olhar alegre:

— Surpresa? — disse ele com um sorriso envolvente e charmoso.

— Um pouco, achei que me visse só como uma amiga… — afirmei envergonhada.

— Você me atrai, não sei explicar… — ele falou, desviando o olhar para o chão, evitando ficar corado — Desejei esse beijo desde o primeiro dia em que a vi.

— Na época você estava com a Suelly… — afirmei.

— E lutei com todas as minhas forças para resistir a você — concluiu ele.

— Eu me senti atraída por você naquele mesmo dia — respondi olhando para a mesma direção que ele.

— Sempre agi como um amigo quando queria te beijar da forma como fizemos aqui — continuou suspirando com um sorriso tímido — Surgiram tantas coisas que me davam força para resistir, mas aqui não consegui ficar longe. Não aqui. Só nós dois!

— Não precisa explicar, você também me atrai, é como se você fosse um ímã… — expliquei deitando a cabeça no chão — Como se todos os momentos que estamos nós dois, as coisas fossem simples. Parece que existe uma força maior entre nós que me faz te desejar.

— Exatamente isso! Você me atrai, seu olhar me deixa preso nesse desejo — afirmou confuso — Você sente o mesmo que eu! — concluiu sorrindo.

— Como isso pode ser possível? — indaguei retribuindo o sorriso.

— Não sei, mas é ótimo! — Luís se aproximou mais de mim, sua mão percorreu minha nuca e parou em meus lábios, ele parou a centímetros de mim e me deu um celinho.

— É muito bom. Quando ficamos assim, frente a frente, sinto um impulso e quero que tudo pare, para continuar desse jeito pra sempre! — confessei tocando seu rosto.

— Eu não me cansaria de ficar ao seu lado! — ele exclamou com a mão direita sob meu braço e movendo o rosto acompanhando meu toque.

Seu olhar era envolvente. Ele se aproximou e nos beijamos como na primeira vez. Senti meu corpo desejando que esse momento durasse para sempre.

Seu toque era intenso, e seus lábios se moviam carinhosamente em contato com os meus. Nosso ritmo começou a ser marcado pelo toque de nossas mãos deslizando um pelo corpo do outro num ritmo caloroso. Eu o desejava, a cada segundo um pouco mais.

Percebi que algo o fez congelar.

Sua mão se afastou de mim, assim como seus lábios. Ele sorriu timidamente desviando os olhos e respirou fundo. Concluí estarmos caminhando para um caminho mais perigoso rápido demais.

Nos afastamos sorrindo constrangidos pela conclusão de nossos olhares e voltamos para nossa caminhada.

Tentando resistir à presença dele, observei a imensa floresta a nossa volta. Suas árvores eram altas, passavam muita umidade ao solo, que era coberto por algo semelhante a um musgo, com uma folhagem seca e superficial.

Chegava a chamar atenção por se parecer com um cemitério com todos aqueles ninhos e galhos caídos ao chão, estranhamente, deixando somente a estrada por onde andávamos ao nosso alcance visual.

Pude observar a dada distância uma claridade e conforme nos aproximávamos se tornou possível notar ser cercada por uma vila, aparentemente, antiga. Conforme nossos passos nos aproximavam do local fui percebendo os detalhes da delicada habitação.

Luís se alegrou ao avistar o local, dando indícios de ser esse o destino da surpresa anunciada mais cedo. Porém, sua expressão foi modificando à cada passo que dávamos nos aproximando da vila.

Dentro dela as casas pareciam ser incrivelmente leves e frágeis, de uma beleza e suavidade maravilhosa, assemelhando-se a construções desenhadas em grande perfeição. A vila formava um círculo com suas casas. Sem muita variação de cores, suas fachadas eram de palha, variando entre um tom amarelo mostarda e um tom cinza chumbo.

Ao olhar para as casas senti uma imensa paz, permanecendo admirada com tal imagem agradável. A brisa tocava meu rosto em uma dança que compunha um dos momentos mais agradáveis desde meu recente beijo em Luís. Era como se o dia se tornasse ainda melhor com o entardecer, tornando o céu alaranjado e tonalizando o verde da floresta envolvente diante da vila delicada à nossa frente.

Continuamos a caminhar e rapidamente passamos pelo portão de entrada.

Foi tempo suficiente para a sensação de tranquilidade dar espaço a uma insegurança quando notei que a pequena cidade era, na verdade, deserta. Todas as casas estavam com suas portas e janelas fechadas, e bem ao centro existia uma pequena fonte, sem jorrar uma gota d'água, vazia como toda a comunidade que observávamos ao nos mover.

Durante esse trajeto comecei a pensar que mesmo com toda a beleza e perfeição visual da vila, não havia atraído a atenção de morador algum, tanto pessoas como animais, pois, não existiam aves nas árvores.

Tudo à nossa volta compunha uma assustadora trilha silenciosa.

Luís permaneceu caminhando alguns passos a minha frente, sem demonstrar nenhuma surpresa com o local. Quando entramos no local ele seguiu ao meu lado, a uma distância que pude perceber sua reação me observando pelo canto dos olhos. Comecei a sentir uma intuição ruim sobre essa nossa longa caminhada, e hesitei, considerando retornar para minha casa, antes da noite se concretizar.

Ora sentia que a proximidade dele era um aviso dessa ser a sua surpresa, mas a demora pela resolução do mistério me fazia elaborar teorias cada vez mais assustadoras. Mais ainda quando ultrapassamos a saída do vilarejo, que pelo nosso ritmo começou a desaparecer ao fundo.

Com esse distanciamento comecei a ter a sensação de ver vultos na floresta, me passando a percepção de estar sendo vigiada por vários curiosos.

Surpreendi-me ao ver Luís caminhando friamente em linha reta, às vezes me olhava com o canto dos olhos, mas constantemente mantendo o trajeto.

Agora ele era uma cripta, ereto e inexpressivo. Como se os vultos existissem em minha mente ou o nosso dia fosse mais um dos sonhos que criei em minhas noites de pesadelos, acendendo um alerta da cena violenta prestes a acontecer. Comecei a me questionar se o nosso beijo havia mesmo acontecido, e se teria valido à pena ter passado todo o dia caminhando com ele, como se o ar esfriasse com o clima que poderia existir entre nós dois.

Era como se o nosso envolvimento fosse mais uma ilusão minha.

Aproximamo-nos de um Riozinho, quando minhas esperanças estavam quase se esgotando com a minha paciência.

Luís parou virando-se para mim, retirou um lenço do bolso e se ajoelhou umedecendo-o, para depois limpar seu rosto e suas mãos. Demonstrou um entusiasmo que, à princípio não entendi, ficando paralisada ao acompanhar seus movimentos.

Deixei que a iniciativa da conversa fosse tomada por ele, mas fui sentindo que não era essa sua intenção.

Ele me olhava com muita curiosidade, atentando-se para cada parte de meu rosto. Levantou despretensiosamente e chegou próximo de mim. Com o dorso da mão direita me acariciou, enquanto colocava o lenço em minha nuca com a outra mão.

Fechei os olhos involuntariamente, sentindo o objeto gelado caminhar pela minha mandíbula e finalizar em meu queixo. Num suspiro ele parou de me tocar enquanto abri os olhos, e começou a falar:

— O que aconteceu com todo o questionário de hoje cedo?

— Já acabou… — respondi sorrindo — Acho que tudo que eu queria perguntar eu perguntei.

— Não existe mais nenhuma dúvida? — ele disse virando-se para o Riozinho, onde se sentou indicando com a mão para que eu o seguisse — Acabou mesmo? Matamos aula por algumas perguntas e essa caminhada?

— Na verdade, não consegui esclarecer todas as minhas dúvidas Luís. Você não respondeu quase nenhuma das minhas perguntas, achou um jeito de justificar explicando que não eram seus segredos ou que envolviam outras pessoas, mas não respondeu — afirmei suspirando ao observar o céu estrelado refletido na água do Riozinho, que se movia calmamente — Nosso dia foi bem produtivo, apesar de as dúvidas terem permanecido e aumentado, valeu ter faltado a escola — triunfei ainda sorrindo — E teve o nosso beijo não é mesmo? Fizemos uma longa caminhada que você conduziu, que foi um pouco estranha pela nossa falta de conversa, mas gostei de tudo.

— Lucy, respondi apenas as perguntas que pude — afirmou voltando-se para o Riozinho procurando o que me fizera suspirar — Além disso, nós conversamos sobre outras coisas também! — disse ele com um sorriso malicioso — Existem muitas respostas que não precisam ser ditas.

— Eu sei… Não mudaria nada que aconteceu hoje! — confessei envergonhada, admirando os traços simétrico de seu rosto pálido — Mas o que proíbe você de me contar a verdade? — insisti sem esperança de receber uma resposta — Você me disse uma vez para descobrir sozinha tudo que eu tiver dúvida. Depois disso, investiguei o seu passado, dentro do que estava ao meu alcance, mas existem informações que não dependiam somente de mim — ponderei ao apoiar minha cabeça em seu ombro, abaixando o braço a procura de seu toque — Você é ou não é um vampiro Luís?

Ele ficou com a respiração lenta, deu um leve empurrão com o ombro me observando pelo canto do olho. Colocou um pé à frente e, segurando meus braços se levantou, junto comigo. Mal pude notar o movimento de minhas pernas, foi como se eu fosse uma pluma guiada pelo vento.

Quando me soltou, senti meu peso abruptamente e tropecei em direção ao chão, sendo segurada por ele com mais força, que ao notar minha reação sorriu e continuou:

— Eu sou! — disse me encarando com um olhar profundo, ainda amigável — E agora? Você tem mais medo de mim? — continuou mudando para uma expressão mais concentrado.

— Sinto medo dessa noite escura ou da sua voz quando fala assim com esse olhar concentrado, mas não tenho medo da sua resposta — ponderei olhando-o com a mesma concentração — Não consigo temer alguém em quem confio, e eu confio muito em você Luís!

Percebi que algo em minha fala despertou uma seriedade ainda maior em seu comportamento, fazendo com que seu largo sorriso desse espaço a uma feição assustadora. Surgiu uma discreta ruga entre seus olhos.

Essa mudança fez meu receio surgir outra vez. Todo seu corpo ficou ereto, ele se virou para a direção da vila e em poucos segundos desapareceu como uma brisa, movendo meu cabelo e roçando meu corpo num veloz toque gelado.

Com o escuro da noite tornando o cenário assustador, senti um calafrio subir atrás de meus joelhos. Conforme minha respiração acelerava, forcei meus olhos para localizar aonde ele poderia estar, me pautando no que era visível com o brilho das estrelas.

Por fim, pude nota-lo caminhando pela estrada de terra que seguimos durante todo o nosso dia. Num impulso involuntário tentei segui-lo, mas minhas pernas travaram, como se meu corpo não quisesse obedecer minhas vontades.

Fiquei ali parada por um longo tempo, repensando minha fala para entender se havia magoado ele ou incitado esse comportamento. Fora alguns poucos minutos até meu medo refletir em uma tremedeira e algumas lágrimas escorrerem de meus olhos.

Meu corpo pesou repentinamente, como consequência, cai com as mãos contra o chão. No impacto, várias lágrimas tocaram o solo de terra, umedecendo o solo seco de pedregulhos. Tudo a minha volta girou e perdeu o foco, imaginei que por conta de minha fraqueza por um dia inteiro sem me alimentar.

Entretanto, uma sensação ruim tomou conta de meu corpo. Eu estava sozinha e sem vestígios do retorno de Luís.

Respirei fundo ao me levantar e caminhei apressadamente para a vila. Prestes a chegar no local, me vi paralisada quando alguns passos soaram estralando galhos secos na mata. Foi como um ruído discreto que, me fez fechar os olhos ansiando por um fim trágico, como foram os destinos dos meus pesadelos.

Pelo canto dos olhos percebi que não estava sozinha, haviam outras pessoas naquele local, suas formas assemelhavam-se a vultos escuros e ágeis. Eles se reuniam na floresta me cercando, parando nos caminhos que cogitava seguir segundos depois de meus planejamentos. Senti um aperto no peito, me fazendo notar que minha respiração estava escassa por conta de meus receios quanto ao que estava por vir.

Tentei me acalmar, mas não consegui.

Minha mente entrou em colapso ao notar que toda a procura por respostas me colocou em perigo.

Após alguns minutos senti um aviso que ecoou nos meus pensamentos, me alertando ser a hora de fugir.

A voz repetia cada vez mais alto: "Alguém quer me matar, e vai me matar!".

Num movimento rápido dei um passo à frente, olhei a minha volta e não vi nada. Resolvi seguir para a vila que passei instantes atrás, porém com o medo que senti, meus pés não se moveram, pelo contrário, me forçaram a cair. Ao olhar para cima notei não só o céu, mas alguns vultos nas árvores, entre seus galhos, movendo-se na mesma agilidade dos ventos.

De joelhos, olhei para o chão a minha volta quase que a procura de um buraco para me arrastar, e percebi existirem pés alguns metros à frente.

Eram homens com olhares semelhantes ao de Luís, mas pareciam famintos.

Enquanto eu recuperava meu fôlego novamente, observei que eles se aproximavam lentamente, sussurrando como se me chamassem para uma conversa ou algo parecido. Me olhavam tão profundamente que senti quererem me torturar, e estavam conseguindo.

O modo como caminhavam fazia minha alma se apertava e meus olhos se encolherem. Eu não queria ver essa aproximação.

Para meu alívio, Luís apareceu ao meu lado e, no tempo de um suspiro, ele me levantou. Mal percebi o peso do meu corpo se estabelecendo sob o chão. Quando estava em seu colo, notei que ele parecia bastante furioso.

Saiu correndo tão rápido que em uma inspiração e expiração eu já estava sendo colocada novamente no chão, diante da estrada onde iniciamos nossa caminhada, ainda na floresta.

Porém, tanta rapidez não nos ajudou em nada, dado que os outros homens chegaram logo após meu pé tocar o chão. Mantinham certa distância de nós, se espalhando em um semicírculo.

Luís me empurrou para a direção da escola tentando chamar minha atenção, depois voltando-se para os homens numa tentativa de me proteger, encarou-os com um olhar sombrio, idêntico ao dos outros à nossa volta.

Permaneci imóvel assustada com a cena que acontecia diante de mim.

Luís me observou brevemente e parecia se despedir, depois começou a caminhar em direção à floresta.

Diante de um novo impulso, eu o segui:

— Luís onde você vai? — gritei angustiada — Me espera!

— Se você for esperta não vai querer me seguir! — ele falou num rugido furioso — Você sabe o caminho, volte para sua casa enquanto ainda pode.

— Você não vai me deixar aqui sozinha é muito perigoso — resmunguei ofegante — Para onde você está indo? Fale-me o que está acontecendo?

— Eu não posso. Você já sabe, precisa lembrar-se de tudo ou fugir logo! — completou em tom de tristeza, desaparecendo em meio às árvores.

— Então me ajude! — exclamei em meio a lágrimas — Me ajude Luís!

— Vá embora! — Luís ordenou num grito alto, fazendo seu eco rasgar o silêncio da noite escura, e me causando arrepios.

Mesmo com medo, meu impulso em segui-lo continuou. Não consegui parar, ainda que ofegante.

Foram passos largos e pesados até adentrar novamente a mata. Comecei a recobrar minha consciência quando o cansaço de meu corpo se expressou me deixando atordoada, só assim parei.

Olhei a minha volta e tudo era escuro, não havia um ruído ou brisa.

Luís já havia desaparecido e todos os outros pareciam se esconder, como nos segundos finais da vida de um condenado em que lhe concedem o pedido de misericórdia. Pensei em orar pedindo por proteção, cogitando retornar para minha casa, mas sem nenhuma esperança de sair dali com vida, não consegui me mover. Novamente minhas pernas não me ajudaram.

Os ruídos na mata começaram com gargalhadas e cochichos. Antes de qualquer reação, senti alguém pegar meu braço esquerdo e me puxar.

Tudo a minha volta escureceu.

Uma sensação estranha começou a crescer em meu corpo, senti como se mergulhasse em um rio escuro e congelado, perdendo o fôlego com qualquer possibilidade de lutar. Minha pele queimava, meus olhos pareciam vibrar, ainda que sem força para se abrir, minha voz esquentava minha garganta e não saía um mísero sussurro. Minha memória parecia se apagar, deixando a recordação da sensação dos galhos e as folhas da floresta pressionando minha costa, possivelmente no momento em que caí.

Depois tudo se tornou um silêncio profundo. Nem minha mente arriscava produzir uma ideia, nem minha audição captava qualquer ruído.

------------------------------------------------------------- Continua...------------------------------------