Chereads / The End - A História de Lucy / Chapter 6 - O evento em Gullort

Chapter 6 - O evento em Gullort

Mantendo o mistério até chegarmos em frente à escola, onde não havia mais ninguém além de nós duas.

Mesmo assim, surpreendentemente, ela seguiu caminhando empolgada e sorridente, e entrou sem dificuldades.

Andamos pelo corredor de escola. Eu preocupada e ela sempre à minha frente, com muita calma, como se já soubesse de algo que eu ainda não fazia ideia.

Chegávamos próximas do pátio, quando comecei a ouvir algumas pessoas conversando e uma música animada tocando.

Foi então que me recordei existir uma proposta de evento para a recepção dos alunos novos da escola comemorando o início do ano letivo, com alguns eventos para acontecerem no decorrer do ano, que fora adiado por conta do assassinato que deixou um clima de incertezas e melancolia pela cidade.

Comecei a refletir que seria mesmo muito estranho ter me arrumado para invadir a escola num ato de rebeldia. Que era o estilo de Emilly lidar com a vida, mas pouco coerente com o meu modo de agir.

Ela estava bastante ciente disso.

Minha amiga continuou caminhando pelo pátio da escola sem me notar. Deixou-me para pegar uma bebida, seguindo em direção ao time de futebol que ficara próximo ao palco, onde havia uma banda masculina cantando.

O evento estava animado, com todos os alunos bem vestidos e sorridentes.

Olhei rapidamente para todos no local, e acabei parando em Luís que, como sempre, estava muito lindo e atraente.

Ele não me notara, mas me fixei em sua figura por alguns minutos. Vestia um terno preto com uma gravata borboleta que parecia o incomodar, pois, de tempos em tempos ele a acertava discretamente. Cordialmente ele sorria para os amigos que se aproximavam. Conversava com alguns gesticulando com a mão direita, onde segurava um copo verde neon.

Ao seu lado estava Suelly, abraçando-o e beijando-o constantemente. Os dois mal se olhavam, contudo, estavam agindo como um casal.

Ela com um vestido preto curto de bordado branco que saia do tope e seguia até a barra da saia.

Bel e Rita eram suas companhias na roda de amigos. Uma com um vestido azul curto, com pregueados próximo ao busto e uma saia de tule azul-marinho repleto de glitter, enquanto a outra usava um vestido vermelho longo, com correntes prateadas no ombro, a saia era simples de caimento pesado de correntes na barra.

Aliás, não pude deixar de notar a presença de duas jovens, muito bonitas, que se destacaram no baile.

Por onde elas andavam todos à volta paravam para olhar, e de fato não era difícil percebê-las, já que ambas atraíam facilmente a atenção com tamanha beleza. Uma das duas era ruiva, quase loira com olhos cinza bem claros, que compunham um olhar penetrante, quase intimidador. Esta usando um vestido tomara que caia vermelho longo, com um corpete justo, bordado com pedras prateadas, cuja saia era bastante volumosa.

A segunda era loira, bem mais ousada, usando um vestido preto com pedraria escura costurada em seu busto e uma fenda mostrando sua perna esquerda por inteira. A saia era menos volumosa que a da primeira jovem que notei, no entanto, era certamente ela quem mais se destacara das duas.

Os professores e os alunos ali a encaravam descaradamente, e ela, em recíproca, retornava aos olhares com um sorriso ousado.

Suelly tentou várias vezes se aproximar das mulheres, mas não recebeu atenção alguma por parte delas.

O fato é que ninguém na festa atraiu a atenção delas, que pareciam procurar por algo ou alguém que não encontravam. Em alguns momentos, conversavam entre si discretamente, em outros, olhavam para direções opostas e se encaravam despretensiosamente.

Suelly, em compensação, conversava com todos. Caminhava de uma lateral a outra do pátio da escola, ora conversando, ora dançando. Deixava Luís solitário e logo retornava apoiando-se em seus braços.

Ele, por sua vez, começou a se mostrar irritado, desviando-se dela em determinados momentos, mas parecia incomodado mesmo era com a presença das duas jovens, resmungando quando por ventura se aproximavam.

As horas foram passando, e lentamente fui me sentindo cansada, tanto das músicas, quanto da inquietude de Suelly, ou o desinteresse das duas mulheres que me causavam calafrios e incomodavam com tamanha desconsideração com os alunos que se aproximavam amigavelmente.

Segui em direção ao portão de saída e, na rua, parei por alguns segundos para respirar o ar puro do anoitecer.

Uma onda de calafrios caminhou de minhas pernas à minha nuca.

Senti algo me estremecer de fora para dentro, e permaneci imóvel por alguns segundos. Quando finalmente consegui recobrar meu autocontrole, continuei o trajeto até minha casa. Agora apressadamente, sem me atentar a nada.

Portão adentro, fui direto ao meu quarto. Deitei em minha cama e dormi no mesmo instante.

Sonhei com o baile e algumas dúvidas que surgiram em minha mente.

Primeiro me recordei da conversa que tive com Emilly, e o comportamento de Luís com a Suelly, que pareciam estremecidos no relacionamento. Depois, imaginei o que poderia ter levado as duas mulheres misteriosas até a escola? O que elas tanto procuravam?

Por fim, senti os mesmos calafrios que me assustaram quando saí da escola, mas desta vez, me parecia o frio tocando meus braços e depois meu rosto. Isso me assustou mais ainda quando percebi que não conseguia me mover, parecia estar mortalizada.

Lentamente quando percebi conseguir me mover novamente, me encolhi em minhas cobertas, sentindo o calor voltar ao meu corpo trazendo consigo meu sono profundo.

O dia seguinte amanheceu, e acordei com os raios de Sol em meu rosto. Cheguei atrasada na escola e não falei com ninguém. Em minha caminhada até a sala, notei que todos se olhavam atentamente, como se conferissem a presença de um amigo ou conhecido.

Com o tempo a insegurança deu espaço ao medo.

Algumas suspeitas pareciam se concretizar, quando, de repente o sinal tocou para o início do intervalo. Todos caminharam ao pátio conversando aos sussurros, da mesma maneira que se tornara rotina quando ocorria um novo crime na cidade.

Desta vez, um nome era presente nas conversas. Era o de Suelly.

Notei um clima estranho pelos corredores, no pátio e na secretaria da escola. E por alguns minutos me atentei a observar o céu, era uma manhã nublada, com nuvens carregadas, quase pretas.

As árvores em volta da escola balançavam com o vento, circulando o som de seus galhos, que nesta manhã era o som mais alto produzido além dos ruídos dos alunos.

Participei das aulas o tempo todo quieta, cedendo a curiosidade diante do comportamento dos demais alunos. Respondi às listas de conferência, e anotei o que era dito pelos professores, ansiando por algum aviso do que ocorrera para justificar tamanha quietude.

Contudo, nada aconteceu.

E eu sabia ser algo envolvendo Suelly, mas não conseguia descobrir o que ao certo.

No momento em que guardei meu material, já estava sozinha na sala de aula. Luís veio em minha direção, com uma feição de preocupação. Parou diante de mim, olhando fixamente em meu rosto e, respirando aliviado, sussurrou:

— Procurei você a manhã inteira… — ele disse — Você está bem? — completou colocando a mão em meu ombro.

— Estou sim! — respondi incomodada com sua preocupação repentina.

— Não parece! — disse ele ironicamente.

— Mas estou — afirmei encarando-o de volta, forçando um sorriso amigável.

— Você sumiu ontem, aconteceu alguma coisa? — indagou olhando-me à procura de informações sem fazer alardes, numa investigação silenciosa.

— Como você sabe que eu estive na festa ontem? — questionei surpresa ao descobrir que ele havia me notado.

— Vi quando você chegou — respondeu sorrindo em reação ao meu comportamento — Imaginei que você estava assustada com algo…

— Estava mesmo! — respondi também sorrindo, provavelmente corando em minhas bochechas — Emilly passou o dia todo comigo, dizendo ter uma surpresa para a nossa noite, quando vi estávamos invadindo a escola.

— Mas você não sabia da festa? — ele questionou intrigado com a minha explicação.

— Eu sabia sim, mas esqueci que aconteceria ontem — respondi encolhendo os ombros e gesticulando com os braços, no mesmo momento que ele abriu um sorriso maior que o que estava em seu rosto.

— Você sempre me surpreende! — ele afirmou.

— Por quê? — questionei confusa.

— As garotas da escola planejaram a semana inteira o que iriam fazer nessa festa. Imaginei que você estivesse desatenta por causa disso, e você nem se recordava que haveria um evento no domingo — explicou ele, se divertindo com minha surpresa.

— Estou envolvida em tantas coisas aqui na escola que nem vi o tempo passar — respondi.

— Aconteceu algo ontem, para você sair daquele jeito? — questionou-me com a mesma seriedade que iniciou a conversa.

— Não, eu fiquei cansada e achei melhor ir para casa… — respondi encarando-o.

— Fiquei preocupado — por alguns segundos ele interrompeu sua fala, seu olhar era distante — Cheguei a pensar que você estivesse com elas… — continuou com o mesmo olhar — Quando cheguei aqui e não te encontrei, imaginei que o pior tivesse acontecido… Só me acalmei quando olhei pela porta e vi você arrumando seu material.

— Elas quem? Do que você esta falando? — questionei bastante confusa.

— Você não sabe o que aconteceu ontem? — interrogou-me com a mesma confusão que eu.

— Não Luís! — afirmei olhando-o — Fui embora cedo, deitei em minha cama e dormi. Somente isso… — continuei mantendo a calma ao falar — Hoje cedo percebi que todos estão estranhos, mas ninguém me contou sobre algo que aconteceu ontem…

— Você chegou a perceber que Suelly não veio hoje para a aula? Ou a ausência de suas irmãs? — perguntou-me.

— Na verdade, não percebi nada. Nem saberia lhe dizer o que foi dito pelos professores durante minhas aulas. Não tive uma noite boa, estou meio sonolenta — expliquei tentando guardar meu material — O que aconteceu?

— Ontem, quase no final da festa, Suelly e as irmãs foram embora apressadamente. Hoje cedo, decidi ir busca-las para a aula, e descobri que não haviam dormido em casa. Os pais delas passaram algumas horas fazendo telefonemas e fui à casa de algumas pessoas, mas ninguém sabia sobre elas desde a festa. Todo mundo está considerando que é mais um dos casos de sequestro… — respondeu ele preocupado.

— Elas podem ter ido dormir na casa de uma amiga, e por conta da ressaca não vieram para a escola hoje — tentei reconforta-lo.

— Pensei nisso também — ele afirmou — Fui até a casa das amigas delas, e infelizmente, nenhuma sabia onde elas estavam.

— Podemos procurar em outro lugar — concluí enfaticamente.

— Qual? — questionou-me, agora surpreso.

Assim que ele me fez a pergunta, caminhei em direção ao mural de notícias, e indiquei para Luís o que havia notado em comum nas notícias.

Todos os corpos dos desaparecidos foram encontrados na floresta, e as vítimas foram vistas pela última vez com vida, próximas à estrada de limites da cidade. Numa trilha de terra que cercava a cidade, e tinha um de seus entroncamentos na entrada da escola.

Identifiquei ainda, que todos os corpos haviam sido encontrados na nascente de um rio, mata adentro.

Quando, por fim expliquei minha percepção, ele estava surpreso. Bastante abalado com o que estava lendo, como se soubesse de algo que havia deixado passar desatentamente. Não o interrompi, permanecendo ao seu lado observando-o.

Minutos mais tarde ele virou-se para minha direção e sussurrando indagou-me:

— O que você pretende fazer? Acho que não entendi.

— Seguiremos por essa estrada, procurando pelas meninas desaparecidas até a nascente no meio da mata. Assim podemos procurar por algo que indique se elas passaram pelo caminho ou algum sinal do que pode ter acontecido — expliquei incomodada pelo desinteresse dele em relação ao que eu estava dizendo.

Luís não me respondeu.

Impaciente com sua atitude, fui até a minha casa e, separei uma mochila onde coloquei água e uma peça de roupa. Na mesa da cozinha deixei um aviso aos meus pais, anotando a hora e o dia, seguidos do aviso:

 "Se em 24 horas eu não voltar, chame a polícia e siga pela trilha de terra na divisa da cidade, mata adentro. Amo vocês".

 Caminhei porta afora, onde Luís, agora mais atento, me aguardava.