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Chapter 3 - Uma trégua silenciosa

 O sol finalmente se pôs, e o céu foi tomado por estrelas que brilhavam intensamente, mas a tensão entre Aery e Leo ainda pairava no ar. Ambos estavam exaustos após a batalha, mas nenhum parecia disposto a baixar completamente a guarda.

Aery sentou-se em uma pedra próxima, respirando fundo enquanto tentava acalmar sua mente. Seus cabelos ruivos caíam em ondas desordenadas, e pequenas faíscas mágicas ainda dançavam em seus dedos. Ela sentia a energia da floresta lentamente voltando ao normal, mas seu coração ainda estava acelerado.

Leo, por sua vez, permaneceu de pé, limpando a lâmina da espada com um pedaço de tecido. Ele observava Aery de soslaio, como se estivesse avaliando-a. Seus olhos dourados brilhavam na escuridão, captando cada movimento dela.

- Você sempre se mete em encrenca assim? - Leo quebrou o silêncio, sua voz carregada de sarcasmo.

Aery ergueu o olhar e deu um sorriso brincalhão.

- Eu poderia perguntar o mesmo para você. Parece que atrair problemas é um talento nosso.

Leo soltou um riso baixo, cruzando os braços.

- Talvez. Mas diferentemente de você, eu estou acostumado com isso.

Aery ergueu uma sobrancelha, inclinando a cabeça curiosamente.

- E você acha que eu não estou?

Leo se aproximou lentamente, parando a poucos passos dela.

- Não sei... Você parece mais uma dessas elfas que vivem em segurança nas aldeias, protegidas por feitiços e paredes. Esse tipo de aventura não combina com alguém como você.

Aery ficou em silêncio por um momento, mas seus olhos brilharam com determinação.

- Eu escolhi sair da minha aldeia porque quero ver o mundo além das fronteiras seguras. Quero entender o que há lá fora... inclusive pessoas como você.

Leo arqueou uma sobrancelha, surpreso com a sinceridade dela.

- Pessoas como eu?

- Elfos negros. - Aery sorriu suavemente. - Meu povo sempre disse que vocês são perigosos, cruéis... mas você não é só isso, Leo. Eu vejo mais do que isso.

Leo desviou o olhar, seu semblante endurecendo.

- Cuidado com o que você vê, Aery. Às vezes, olhar demais pode te cegar.

Aery se levantou lentamente, ficando na mesma altura que ele.

- Talvez. Mas eu prefiro ver por mim mesma do que acreditar em histórias contadas por outros.

Leo a observou por um longo momento, sua expressão indecifrável. Finalmente, ele deu um leve aceno com a cabeça.

- Você é diferente... Isso é bom. Mas ainda não significa que pode confiar em mim.

Aery deu de ombros, seu sorriso brincalhão voltando.

- Eu gosto de desafios.

Leo soltou outro riso baixo, balançando a cabeça.

- Você é estranha.

- E você, misterioso. Acho que formamos uma boa dupla.

Eles se encararam por mais um momento, e, pela primeira vez, Leo não tentou esconder o leve sorriso que surgiu em seus lábios.

- Talvez.

O silêncio voltou, mas desta vez era um silêncio confortável, quase uma trégua.

Enquanto isso, o som da floresta voltava aos poucos, como se o perigo tivesse se afastado. Mas ambos sabiam que a jornada estava apenas começando.

Leo empilhou algumas pedras e madeira para acender a fogueira. Aery, sentada próxima a ele, conjurou uma pequena chama mágica na palma da mão e a lançou no monte, acendendo o fogo instantaneamente. As chamas dançavam sob a luz das estrelas, criando um ambiente acolhedor no meio da floresta escura.

Leo a observou de relance, impressionado com a facilidade com que ela manipulava magia.

- Prático. - Ele comentou, enquanto se sentava do outro lado da fogueira.

Aery sorriu e ajeitou seus cabelos.

- Vantagens de ser poderosa.

Leo arqueou uma sobrancelha, desafiador.

- Então você só depende de magia? Não sabe se defender com armas?

- Por que eu precisaria de armas se tenho magia? - Aery cruzou os braços, inclinando-se levemente para frente. - Além disso, se eu precisasse, tenho você para me proteger, não é? - diz com um sorriso travesso.

Leo bufou, mas não conseguiu conter um sorriso sarcástico.

- Eu? Proteger você? Que presunçosa.

Aery riu, sua voz leve como o vento noturno.

- Por que não? Eu te ajudei hoje. Está me devendo, sabia?

Leo balançou a cabeça, divertido.

- Não lembro de ter feito nenhum juramento de proteção.

Aery deu de ombros.

- Ah, mas eu sou persistente. Eventualmente, você vai acabar admitindo que gosta da minha companhia.

Leo ficou em silêncio por alguns segundos, seus olhos dourados fixos nela.

- Você realmente não tem medo de mim?

Aery o encarou com sinceridade.

- Por que eu teria? Você poderia ter me deixado para trás quando as criaturas atacaram. Mas não fez isso.

Leo desviou o olhar para o fogo.

- Talvez eu só precisasse de você viva por um tempo.

Aery sorriu com malícia.

- Talvez. Ou talvez você goste da minha companhia tanto quanto eu gosto da sua.

Leo riu, uma risada baixa e rouca que fez o coração de Aery acelerar.

- Você é irritante.

- E você é teimoso.

Eles se encararam por um momento, a tensão entre eles quase palpável à luz da fogueira.

- Então, o que vem agora? - Aery perguntou.

Leo deu um leve sorriso, encostando-se em uma árvore atrás dele.

- Descansamos. Amanhã veremos para onde a estrada nos leva.

Aery assentiu e se aconchegou perto da fogueira, seu olhar ainda preso em Leo.

A fogueira crepitava suavemente, lançando sombras dançantes sobre as árvores ao redor. O silêncio confortável entre Aery e Leo era pontuado apenas pelo som das chamas e dos animais noturnos ao longe. Ambos estavam sentados próximos ao fogo, descansando após o dia agitado, mas sem perceber, suas jornadas já estavam entrelaçadas.

Leo cruzou os braços, observando Aery de soslaio. Seus olhos dourados captaram a luz das chamas enquanto ele estudava cada detalhe dela. Os cabelos ruivos e brilhantes caíam em ondas soltas sobre seus ombros, e sua pele pálida parecia quase etérea sob a luz laranja da fogueira.

- Seus cabelos... - Leo quebrou o silêncio, sua voz rouca e pensativa.

Aery ergueu os olhos, curiosa.

- O que tem eles?

Leo franziu o cenho, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas.

- Elfas brancas raramente têm cabelos assim. Normalmente, são loiros ou prateados. Nunca vi uma como você.

Aery sorriu, um toque de diversão em seus lábios.

- Está dizendo que sou especial?

Leo bufou, mas havia uma ponta de verdade em sua expressão.

- Estou dizendo que você é... diferente.

- Diferente bom ou diferente ruim? - Aery inclinou a cabeça, provocando.

Leo permaneceu em silêncio por alguns segundos antes de responder, seus olhos ainda presos nela.

- Ainda não decidi.

Aery riu suavemente, seus olhos brilhando com malícia.

- Você é um elfo negro cheio de segredos e mistérios. Eu também não sei se deveria confiar em você. Mas, aqui estamos. Sentados juntos, dividindo o calor da fogueira.

Leo arqueou uma sobrancelha.

- Curioso, não é?

- Muito. - Aery apoiou o queixo nos joelhos. - E pensar que, horas atrás, eu não sabia o seu nome. Agora, estamos aqui... como se tivéssemos feito uma aliança sem sequer discutir isso.

Leo deu um leve sorriso, quase imperceptível.

- A vida é cheia de surpresas.

O silêncio recaiu sobre eles, mas havia algo no ar - uma conexão silenciosa, um entendimento não verbalizado.

Leo desviou o olhar por um instante, mas não conseguiu evitar que seus olhos retornassem para Aery. Havia algo nela que o intrigava profundamente, algo que ele ainda não conseguia compreender.

- Por que saiu da sua aldeia? - Leo perguntou de repente.

Aery deu de ombros, o olhar distante.

- Queria ver o mundo. Eu sabia que havia mais lá fora. Mais do que as histórias que ouvi... mais do que o que nos dizem para temer. Eu queria viver, não apenas existir.

Leo assentiu lentamente.

- Entendo isso.

- E você? Por que está aqui?

Leo ficou em silêncio por um momento, antes de soltar um suspiro pesado.

- Estou procurando algo.

- O quê?

Leo a encarou, seus olhos dourados parecendo mais profundos do que nunca.

- Ainda não sei. Mas talvez você possa me ajudar a encontrar.

Aery sorriu, um sorriso suave e cheio de possibilidades.

- Então, estamos juntos nessa.

Leo não respondeu, mas o brilho em seus olhos dizia mais do que qualquer palavra poderia dizer.

A aliança estava formada.

E ambos sentiam que, talvez, o destino preparava algo diferente do que esperavam.