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Chapter 7 - Uma luz na escuridão

Aery continuava com sua energia contagiante, pulando de pedra em pedra ao lado do caminho enquanto Leo mantinha um ritmo constante, sua expressão sempre atenta ao redor. Ele sabia que a estrada era traiçoeira, especialmente com bandidos e criaturas rondando, mas a tranquilidade de Aery parecia desafiar qualquer preocupação.

Ela começou a cantarolar uma melodia suave, algo que Leo não reconheceu.

- Que música é essa? - Ele perguntou sem olhar para ela, mantendo o olhar na estrada.

- É uma canção antiga do meu povo - respondeu Aery, com um sorriso. - Minha mãe costumava cantar para mim.

Leo apenas assentiu, mas havia uma suavidade inesperada em sua expressão. Aery percebeu, como sempre, e não perdeu a oportunidade de provocá-lo.

- Aposto que você também sabe cantar, não é, Leo?

- Não.

- Ah, vamos, Leo! Deve ter alguma canção dos elfos negros que você conhece!

- As canções que conheço não são para diversão, branquinha. - Ele olhou para ela de relance. - E você definitivamente não gostaria delas.

- Que dramático! - Aery riu, saltando de uma pedra maior e aterrissando ao lado dele. - Um dia vou fazer você cantar.

- Boa sorte com isso.

O casal continuou andando até o final da tarde, quando avistaram uma bifurcação na estrada. Uma das direções levava a um bosque denso e sombrio; a outra parecia subir em direção a uma colina coberta de árvores esparsas.

- Para onde vamos agora? - Aery perguntou, colocando as mãos nos quadris enquanto olhava para as opções.

Leo cruzou os braços, analisando o cenário. - O bosque é mais curto, mas é perigoso à noite. A colina vai demorar mais, mas é mais segura.

- Então, para o bosque! - Aery disse imediatamente, começando a andar na direção da trilha mais escura.

Leo a puxou pelo braço antes que ela pudesse dar mais de dois passos.

- Não tão rápido. O que aconteceu com a sua noção de perigo?

- Está aqui, mas... olha só! - Ela apontou para o bosque. - Parece tão mágico! Aposto que vamos encontrar algo incrível lá dentro, Leo!

- Ou algo que vai tentar nos matar.

- Ah, você é tão pessimista, Leo.

- E você é irresponsável, branquinha.

Eles trocaram um olhar desafiador antes que Aery cedesse com um suspiro dramático.

- Tudo bem, colina. Mas só porque você está com medo do bosque.

Leo revirou os olhos e começou a subir a trilha da colina, enquanto Aery o seguia com um sorriso satisfeito, ainda cantarolando sua canção.

- Eu não estou com medo do bosque. Estou com medo das suas escolhas.

- Isso é muito fofo, Leo.

Ele não respondeu, mas o leve rubor em suas orelhas denunciava sua reação, enquanto eles continuavam subindo juntos, o sol se pondo atrás deles em tons dourados e avermelhados.

A subida pela colina foi tranquila, e as cores do crepúsculo criaram uma atmosfera mágica ao redor deles. Aery pegou mais algumas flores ao longo do caminho, completando uma nova tiara enquanto saltitava ao lado de Leo.

Quando finalmente chegaram ao topo, a vista os fez parar. O horizonte se estendia em todas as direções, com o bosque escuro abaixo deles e, ao longe, as luzes de uma pequena aldeia piscando como estrelas.

- Uau... - Aery sussurrou, segurando a nova tiara em uma das mãos enquanto o vento bagunçava seus cabelos. - É lindo, não é?

Leo, que estava ligeiramente atrás dela, apenas observou em silêncio. Não a vista, mas Aery, com os olhos brilhando de fascinação e o sorriso suave que ela exibia. Ele desviou o olhar antes que ela percebesse.

- Já viu o bastante, branquinha? - Ele perguntou, cruzando os braços.

- Não! Quero ficar aqui um pouco mais. - Ela se sentou na grama, esticando as pernas e suspirando feliz.

Leo revirou os olhos, mas acabou se sentando ao lado dela, mantendo sua espada ao alcance, sempre vigilante.

- Você nunca relaxa, não é? - Aery comentou, olhando para ele.

- Alguém tem que ficar alerta.

- Bem, eu fico com a parte de apreciar a vista, então. - Ela riu e colocou a nova tiara de flores na cabeça dele antes que ele pudesse protestar, para que os dois estivessem combinando, como se fossem rei e rainha daquele monte. Leo ficou imóvel por um instante, olhando para Aery com uma mistura de irritação e resignação.

- Sério, Aery? Outra tiara?

- Claro! - Aery respondeu, ajeitando a tiara em sua cabeça como se fosse a coisa mais importante do mundo. - Agora estamos combinando. Não é perfeito?

- É ridículo. - Ele tentou tirar a tiara, mas Aery segurou suas mãos com delicadeza, rindo.

- Nem pense nisso, Leo! Ficou ótimo em você.

Ele bufou, mas não insistiu, voltando o olhar para o horizonte. Havia algo na leveza de Aery que o fazia ceder às vezes, como se parte de sua relutância fosse absorvida pela alegria dela.

- Você é insuportável. - Ele murmurou, mas sem o usual tom de sarcasmo.

- E você é um ótimo modelo de tiaras de flores, sabia? - Ela respondeu, com um sorriso travesso.

Eles ficaram ali por um tempo, o vento soprando suavemente e os sons da natureza preenchendo o silêncio confortável. Aery brincava com uma folha de grama entre os dedos, enquanto Leo mantinha sua postura vigilante, mas menos tensa.

- Leo... - Aery quebrou o silêncio, sua voz um pouco mais séria. - Você acha que um dia as pessoas vão parar de se odiar tanto?

Ele demorou para responder, sua expressão endurecendo.

- Não sei. Mas o mundo não é gentil, Aery. E as pessoas... elas só enxergam o que querem.

Ela suspirou, olhando para o céu, onde as primeiras estrelas começavam a aparecer.

- Talvez seja por isso que eu gosto tanto de flores. Elas não se importam com quem você é. Só florescem.

Leo olhou para ela, surpreso com a profundidade de suas palavras. Ele nunca havia pensado nisso dessa forma.

- Você é cheia de pensamentos estranhos. - Ele comentou, mas havia um leve sorriso em seus lábios.

Aery riu, empurrando-o de leve no ombro.

- E você é um resmungão com um coração mole, Leo.

- Cuidado com o que diz, branquinha. - Ele ameaçou brincando, mas sem esconder o sorriso.

Quando o céu escureceu por completo, eles decidiram descer a colina e seguir em direção à aldeia que haviam avistado, Leo segurava a mão de Aery em lugares mais íngremes. Aery estava animada com a ideia de encontrar pessoas e ouvir histórias novas, enquanto Leo, como sempre, permanecia atento e reservado.

Mas enquanto desciam, as tiaras de flores ainda estavam em suas cabeças, um lembrete da estranha parceria entre dois mundos completamente diferentes.

Enquanto desciam a colina, as luzes da aldeia ficavam cada vez mais próximas, e Aery parecia mal conseguir conter sua empolgação. Ela apontava para tudo - as chaminés soltando fumaça, o som distante de risadas e música, e até mesmo uma pequena ponte de madeira que levava à entrada principal.

- Olha, Leo! Parece tão acolhedor! Aposto que eles têm uma taverna com pão fresco e histórias incríveis! - disse ela, saltitando ao lado dele.

Leo, por outro lado, mantinha a expressão fechada, seus olhos escaneando os arredores como um falcão.

- Não se anime tanto, branquinha. Nem todos os lugares gostam de estranhos. - Ele parou abruptamente e tirou a coroa de flores da cabeça, amassando-a com um gesto rápido.

- Ei! - Aery protestou, segurando as mãos dele antes que ele jogasse as flores fora. - Era minha melhor obra até agora!

- E se eu entrar nessa aldeia usando isso, eles vão achar que sou um bobo da corte ou algo pior. - Ele devolveu, com um olhar severo.

Aery tentou não rir, mas acabou soltando um pequeno risinho.

- Talvez seja bom para você relaxar a imagem de "guerreiro carrancudo".

- Aery, confie em mim, eu prefiro que me vejam como carrancudo. - Ele colocou a mão no cabo da espada e seguiu andando.

Quando chegaram à ponte, um homem humano com uma lanterna os parou, olhando para eles com curiosidade.

- Estrangeiros, hein? O que os traz a Ponteria? - perguntou o homem, cuja barba grisalha tremulava ao vento.

Aery abriu um sorriso caloroso.

- Só estamos de passagem. Procurando um lugar para descansar e, quem sabe, uma boa refeição.

O homem analisou os dois por um momento, mas sua expressão suavizou ao ver o sorriso de Aery.

- Bem, não somos uma aldeia rica, mas temos boas histórias na taverna e um pão de mel que faz o dia valer a pena. - Ele apontou para a rua principal, onde luzes douradas emanavam de uma construção aconchegante.

- Viu, Leo? Eu disse que seria acolhedor. - Aery deu um empurrãozinho em Leo, que apenas murmurou algo inaudível.

Dentro da taverna, o ambiente era vibrante. Algumas pessoas jogavam cartas, outras estavam ao redor de um bardo que tocava uma melodia animada. O cheiro de pão fresco e carne assada preenchia o ar, e o riso ecoava nas paredes de madeira.

- É perfeito! - Aery exclamou, correndo para o balcão e pedindo duas canecas de hidromel antes que Leo pudesse detê-la.

- Eu não vou beber isso. - Ele declarou, mas Aery já estava empurrando a caneca para ele.

- Claro que vai. Vamos brindar à nossa aventura!

Relutante, Leo ergueu a caneca.

- À aventura, então. - disse ele, sua voz carregada de sarcasmo, mas havia um leve brilho em seus olhos que ele tentou esconder.

A noite seguiu com Aery fazendo amizade com quase todos no lugar, desde uma vovó tecelã até o bardo, que compôs uma música improvisada sobre "a elfa das flores e o guerreiro carrancudo". Enquanto isso, Leo permanecia em uma mesa no canto, mas mesmo ele não conseguia evitar um leve sorriso ao ver Aery iluminar o ambiente com sua energia contagiante.

Embora fossem tão diferentes, naquele pequeno refúgio acolhedor, suas diferenças pareciam desaparecer, mesmo que apenas por uma noite.

Aery sentiu os olhares logo que entrou na taverna. Mesmo enquanto falava com o atendente e fazia questão de sorrir para todos, havia um silêncio estranho nos momentos em que as pessoas se entreolhavam, murmurando em voz baixa. Ela percebeu, mas fingiu que não, determinada a manter a energia positiva.

Leo, no entanto, não ignorou. Sentado em um canto com a caneca de hidromel intacta, ele cruzou os braços e analisou a sala, seus olhos escurecidos atentos a cada gesto. Ele sabia o que aquelas expressões significavam: surpresa, curiosidade, talvez até suspeita. Era raro, se não inédito, ver uma elfa branca e um elfo negro viajando juntos, e ele não esperava que isso passasse despercebido.

Quando Aery voltou para a mesa com dois pedaços de pão de mel em um prato, ela sentou-se à frente dele, tentando parecer despreocupada.

- Você deveria provar isso, Leo. Está incrível! - Ela ofereceu um pedaço para ele, ignorando os murmúrios ao redor.

Leo aceitou, mas não tirou os olhos do ambiente.

- Eles estão olhando. - Ele comentou baixo, sua voz mais sombria que o habitual.

- É claro que estão. - Aery deu de ombros, mordendo seu pedaço de pão. - Eles nunca viram alguém tão lindo como você antes.

Leo arqueou uma sobrancelha, seu olhar fixando-se nela por um momento.

- Você acha que isso é engraçado?

- Acho que eles só estão curiosos. - Ela respondeu suavemente, inclinando-se para frente. - Não é todo dia que veem algo fora do comum.

Leo bufou, desviando o olhar.

- Curiosidade pode ser perigosa, branquinha.

- Ou pode ser o começo de algo bom. - Aery respondeu, sem perder o sorriso.

Antes que Leo pudesse rebater, uma jovem humana se aproximou da mesa. Ela parecia nervosa, seus dedos entrelaçando o avental.

- Com licença... - Ela disse, hesitante.

Aery virou-se imediatamente, seus olhos gentis encontrando os da garota.

- Sim?

- Desculpe incomodá-los, mas vocês são... amigos? - A garota perguntou, olhando de Aery para Leo.

Leo deu um olhar de advertência para Aery, mas ela respondeu sem hesitação.

- Somos companheiros de viagem.

A jovem piscou, como se fosse algo difícil de compreender.

- Nunca vi um elfo branco e um elfo negro juntos antes. Isso é... estranho? - A pergunta foi genuína, quase infantil.

Leo abriu a boca para responder, mas Aery foi mais rápida.

- Estranho, não. Apenas incomum. - Ela disse, com a voz cheia de leveza. - Mas coisas incomuns podem ser incríveis, não acha?

A garota pareceu considerar isso, um pequeno sorriso surgindo em seus lábios.

- Talvez... Bom, bem-vindos à nossa aldeia. - E com isso, ela se afastou, indo até uma mesa e cochichando com alguém.

Leo balançou a cabeça.

- Você sempre tem uma resposta pronta, não é, branquinha?

- Alguém tem que equilibrar a sua falta de conversa. - Aery provocou, empurrando o resto do pão para ele.

Os olhares ao redor continuaram, mas aos poucos a atmosfera da taverna voltou ao normal. Algumas pessoas começaram a se aproximar mais, puxando conversa com Aery sobre suas viagens e curiosidades sobre as terras além da aldeia. Leo permaneceu na defensiva, mas com o tempo, relaxou ligeiramente, permitindo que o calor daquele pequeno lugar envolvesse os dois.

Mesmo em meio à estranheza, havia algo tranquilizador naquela noite: a ideia de que, apesar das diferenças, havia espaço para coexistirem, mesmo que por um breve momento.

O murmúrio na taverna continuava, mas Aery parecia alheia, mergulhada na conversa com os aldeões. Ela tinha um talento para encantar as pessoas, mesmo as mais desconfiadas, com sua curiosidade genuína e sorriso caloroso.

- Então vocês vieram pelo bosque? - perguntou um homem robusto, de barba cheia e um avental sujo de farinha. Ele parecia ser o padeiro da aldeia, e sua expressão era de curiosidade, não hostilidade.

- Sim! - respondeu Aery, os olhos brilhando de empolgação. - Foi uma caminhada longa, mas encontramos lugares lindos pelo caminho. Até uma cachoeira incrível!

- Cachoeira? - O homem franziu a testa. - Não sabia que havia uma por perto.

- Bem, talvez vocês só precisem explorar mais. - Aery riu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Leo, sentado ao lado dela, manteve-se em silêncio, observando. Ele percebia que, apesar da leve desconfiança inicial, as pessoas estavam começando a relaxar na presença dela. Isso era algo que ele jamais conseguiria por conta própria. Ele era um guerreiro, intimidante por natureza, enquanto ela era como o raio de sol que iluminava até os lugares mais sombrios.

Uma mulher idosa, com um lenço colorido na cabeça, aproximou-se lentamente, trazendo uma tigela de sopa.

- Para vocês. - Ela disse, colocando-a na mesa. - Parece que não comeram direito.

- Oh, obrigada! - Aery disse, com gratidão genuína. Ela pegou uma colher e soprou na sopa antes de dar a primeira colherada. - Está deliciosa!

A idosa sorriu, mas seus olhos curiosos fixaram-se em Leo.

- E você, elfo negro? Não vai comer?

Leo arqueou uma sobrancelha, mas antes que pudesse responder, Aery o cutucou com o cotovelo.

- Prove. Está muito bom.

Ele suspirou, pegou a colher e provou. Era realmente boa, mas ele não admitiria.

- Comível. - Disse, secamente.

Aery revirou os olhos e olhou para a mulher.

- Não se preocupe com ele, ele é assim mesmo.

A mulher riu e balançou a cabeça antes de voltar ao balcão.

Pouco a pouco, as pessoas ao redor da taverna começaram a aceitar a presença dos dois. Alguns puxaram bancos próximos, curiosos sobre as terras distantes de onde Aery vinha ou as histórias que Leo poderia compartilhar sobre Ark. Ele permaneceu reservado, deixando que Aery conduzisse a conversa, mas em um momento, quando alguém perguntou sobre a espada que ele carregava, ele não pôde deixar de falar.

- É uma lâmina forjada em Durgrum. - Ele disse, sua voz firme chamando a atenção. - Feita para cortar através das armaduras mais resistentes.

- Impressionante. - Disse o padeiro. - Já teve que usá-la por aqui?

Leo deu um sorriso seco.

- Se tivesse, vocês saberiam.

Aery reprimiu uma risada, inclinando-se para ele.

- Não precisa assustá-los, sabe?

- Estou só sendo honesto. - Ele retrucou, mas havia um traço de humor em sua voz.

A conversa continuou até que a noite avançou, e o ambiente na taverna tornou-se mais caloroso, com risadas e histórias compartilhadas. Aery e Leo permaneceram um pouco mais, aceitando a hospitalidade improvável daquele lugar.

Quando finalmente decidiram se retirar para os aposentos simples que haviam conseguido no andar de cima, Aery virou-se para Leo enquanto subiam as escadas.

- Viu, Leo? Nem todo mundo é hostil.

Ele olhou para ela, exausto, mas com um pequeno sorriso no canto dos lábios.

- Talvez você esteja certa desta vez, branquinha.

- Estou sempre certa. - Ela respondeu, triunfante, e subiu as escadas com um saltinho leve nos passos, deixando Leo para trás, balançando a cabeça com um suspiro.

Mesmo que ele não admitisse em voz alta, ela tinha conseguido, de novo, iluminar um lugar que antes parecia sombrio. E, de alguma forma, isso o fazia acreditar, ainda que por um breve momento, que talvez o mundo não fosse tão sombrio quanto ele sempre achara.

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