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Chapter 9 - O protetor

Enquanto Aery guardava cuidadosamente o pequeno frasco de óleo em sua bolsa, Leo terminava de colocar suas botas. O ambiente da pousada estava tranquilo, com o som distante de pessoas começando seu dia na aldeia.

- Pronta? - Ele perguntou, erguendo uma sobrancelha ao vê-la ainda mexendo no cabelo.

- Mais do que pronta! - Aery sorriu, dando uma volta para exibir seus cabelos agora brilhantes e sem frizz. - O que achou?

- Que você se preocupa demais com essas coisas. - Leo resmungou, mas não conseguiu evitar um breve sorriso.

Eles desceram até o salão principal, onde um anão robusto com a barba longa e trançada, estava servindo café da manhã para os hóspedes. Ele os cumprimentou com um aceno desconfiado, mas não disse nada. Outros aldeões observavam curiosos, murmurando sobre a dupla improvável.

- Vamos pegar algo para comer antes de continuar. - Leo sugeriu, guiando Aery até uma mesa perto da janela.

Enquanto comiam um pão fresco com mel e uma sopa simples, Aery estava pensativa, observando as pessoas ao redor. Alguns sorrisos amistosos a animaram, mas os olhares de dúvida e surpresa ainda a incomodavam.

- Você acha que vamos encontrar mais lugares como esse? - Aery perguntou, sua voz carregando um misto de curiosidade e preocupação.

- Provavelmente. - Leo respondeu, dando de ombros. - Mas não se preocupe. Você sempre arruma um jeito de conquistar as pessoas, mesmo que eu ache impossível.

Aery riu, cutucando o braço dele. - Viu só? Você está aprendendo a ser gentil.

- Não se acostume. - Ele rebateu, mas seu tom tinha um toque de diversão.

Depois de pagarem pela estadia e agradecerem ao anão, eles se prepararam para continuar a jornada. O sol brilhava forte no céu, prometendo um dia longo e cheio de possibilidades para a dupla improvável.

De volta à estrada, o ar estava fresco, e a luz da manhã pintava o caminho com tons dourados. Aery, como de costume, parecia absorver cada detalhe do ambiente, parando ocasionalmente para pegar flores ou observar pássaros que passavam voando. Leo caminhava com passos firmes, mas lançava olhares ocasionais na direção dela, mantendo-se atento a qualquer sinal de perigo.

- Você já percebeu que toda estrada parece igual? - Aery comentou, jogando uma pedra pequena no caminho enquanto caminhava ao lado de Leo. - Mas sempre encontramos algo diferente nelas.

- Se você parar para pegar cada flor ou observar cada passarinho, é claro que vai encontrar algo diferente. - Ele retrucou, o tom meio impaciente, mas com um sorriso escondido no canto da boca.

- Você deveria experimentar! - Aery disse, com um sorriso travesso. - É terapêutico.

- Passo. Minha terapia é manter você fora de encrenca.

Aery parou abruptamente, colocando as mãos na cintura. - Você está dizendo que eu sou problemática?

- Estou dizendo que você é... criativa. - Leo respondeu, cruzando os braços enquanto olhava para ela.

- Boa resposta. - Ela respondeu, jogando outra pedra para frente e continuando a caminhar.

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No meio da manhã, enquanto caminhavam por uma curva na estrada, avistaram uma figura ao longe. Um humano magro e desajeitado, com roupas simples e um chapéu grande demais, empurrava um carrinho de mão cheio de frutas. Ele parecia estar lutando contra o peso da carga, murmurando algo para si mesmo.

- Quer apostar quanto que ele vai pedir ajuda? - Leo perguntou em tom baixo para Aery.

- Aposto que ele vai ser amigável e nem vai precisar pedir. - Ela respondeu com confiança.

Quando se aproximaram, o homem de pee bronzeada olhou para eles com um sorriso largo e cansado. - Olá, viajantes! Que dia bonito, não é?

Aery respondeu imediatamente. - É sim! Parece que você está com as mãos cheias, hein?

- Ah, só um pouco. Mas, sabe, o sol brilha mais forte quando dividimos os fardos, não acha? - Ele disse, jogando um olhar esperançoso para os dois.

Leo arqueou uma sobrancelha para Aery, como quem diz "Eu te disse", mas antes que pudesse abrir a boca, ela já estava ajudando o homem a empurrar o carrinho.

- Qual o seu nome? - Aery perguntou animadamente.

- Lars. Sou apenas um simples agricultor tentando levar minhas mercadorias para o mercado. E vocês? Parecem... incomuns. - Ele disse, com um olhar curioso para a dupla.

- Só dois viajantes explorando o mundo. - Leo respondeu, mantendo a descrição.

Enquanto ajudavam Lars a levar o carrinho até um cruzamento próximo, a conversa fluiu leve. Aery fez perguntas sobre as frutas que ele cultivava, enquanto Leo observava a área ao redor, sempre alerta.

Quando finalmente chegaram ao destino, Lars os agradeceu calorosamente, oferecendo algumas frutas como recompensa.

- Vocês têm um bom coração. - Ele disse, entregando a Aery um pequeno cesto com maçãs reluzentes.

- Obrigada! - Aery respondeu, radiante. - Boa sorte no mercado!

Quando retomaram o caminho, Aery mordeu uma das maçãs, oferecendo outra a Leo, que inicialmente recusou, mas acabou aceitando depois que ela insistiu.

- Nem foi tão ruim ajudar, não é? - Ela provocou, mordendo mais um pedaço da fruta.

- Não foi. - Leo admitiu, mastigando lentamente. - Mas não significa que vou fazer disso um hábito.

- Claro, claro. - Ela riu, satisfeita.

O dia continuou, com as duas figuras improváveis seguindo pela estrada, prontos para o que quer que o mundo lhes reservasse.

A atmosfera mudou rapidamente quando Aery e Leo entraram em uma área mais isolada da estrada. Árvores densas cercavam o caminho, e a luz do sol mal conseguia atravessar, lançando sombras longas e inquietantes. Foi ali que avistaram um grupo de homens, cinco no total, todos humanos de aparência áspera e mal-encarada, com roupas surradas e armas penduradas nas cinturas.

Os olhares deles imediatamente recaíram sobre Aery, e o ar ficou mais pesado. Um sorriso malicioso surgiu no rosto do que parecia ser o líder, um homem grande com uma cicatriz profunda na bochecha.

- Olhem só o que temos aqui. Uma elfa branca, tão longe de casa... - disse ele, a voz cheia de ironia. - E acompanhada de um elfo negro, nada menos. Que par interessante.

Leo imediatamente deu um passo à frente, posicionando-se entre Aery e os homens. Seus olhos, normalmente cheios de sarcasmo, agora estavam sombrios e atentos. Sua mão foi direto ao cabo da espada.

- Mantenham a distância - Leo avisou, o tom frio como gelo. - Vocês não vão querer testar a minha paciência hoje.

- Ah, calma, amigo. - Outro homem, magro e de dentes amarelados, levantou as mãos em um gesto falso de paz. - Estamos apenas curiosos. Ela parece... especial. Não vê como seria perigoso para ela continuar sem a nossa proteção?

Aery, que até então estava observando em silêncio, deu um passo ao lado de Leo, seu olhar firme. - Obrigada pela preocupação, mas estou em boas mãos.

O líder riu, um som áspero e desagradável. - Vocês ouviram isso? Ela acha que está segura. Que adorável.

Leo estreitou os olhos, a tensão em seu corpo aumentando. Ele sabia que as palavras deles eram apenas um pretexto. A maneira como eles olhavam para Aery o enfurecia, e o desejo de proteger a elfa o consumia.

- Esta é sua última chance. - Leo disse, a voz baixa e ameaçadora. - Saiam agora.

- Ou o quê? - provocou o líder, cruzando os braços.

Leo não respondeu. Ele apenas sacou a espada em um movimento fluido e deu um passo à frente, sua postura falando por si. O brilho da lâmina captou a pouca luz que havia, criando um contraste assustador. Os homens hesitaram, mas não pareciam dispostos a recuar.

- Eles não vão ouvir. - Aery murmurou para Leo, segurando discretamente o pingente que usava no pescoço, concentrando-se para preparar uma magia, caso fosse necessário.

O líder deu um passo adiante, mas parou quando Leo apontou a espada diretamente para ele.

- Não me teste, humano. - disse Leo, os olhos faiscando de raiva.

Por um momento, o grupo parecia inclinado a avançar, mas o líder avaliou a postura de Leo e a confiança nos olhos de Aery. Ele bufou, claramente irritado.

- Não vale a pena. Vamos. - Ele ordenou aos outros, cuspindo no chão antes de se virar. Os homens resmungaram, mas o seguiram.

Quando eles desapareceram na estrada, Leo manteve a espada em mãos, os olhos fixos no ponto onde o grupo havia desaparecido. Aery, aliviada, soltou o pingente e respirou fundo.

- Eles eram horríveis. - Ela disse, cruzando os braços enquanto olhava na direção em que os homens foram.

- E perigosos. - Leo respondeu, finalmente embainhando a espada atrás das costas. - Se acontecer de novo, quero que fique atrás de mim. Não precisamos de heróis aqui.

- Eu só queria ajudar... - Aery começou, mas parou ao ver a expressão séria de Leo.

Ele suspirou, esfregando a nuca. - Eu sei. Mas o mundo lá fora não é como você pensa, Aery. E enquanto estiver comigo, eu não vou deixar nada acontecer com você.

As palavras dele a aqueceram, mas ela não disse nada, apenas sorriu para si mesma enquanto eles voltavam à estrada.

A tensão do encontro com os homens ainda pairava no ar enquanto Leo e Aery retomavam a caminhada. O silêncio entre eles era mais carregado do que de costume, mas não hostil. Era como se ambos estivessem absorvendo o que acabara de acontecer.

- Você acha que eles vão voltar? - Aery quebrou o silêncio, a voz mais baixa do que o normal.

Leo olhou de soslaio para ela antes de responder. - Não. Eles sabem que seria estupidez.

Ela assentiu, mas seus olhos estavam distantes. Leo reconheceu aquele olhar - ela estava processando algo, provavelmente repassando a cena em sua mente.

- Não precisa se culpar, sabe? - Ele disse de repente, surpreendendo até a si mesmo.

Aery o encarou, confusa. - Culpada? Eu não...

- Você acha que foi um fardo ali atrás, que eu tive que te proteger. Não foi. - Ele cruzou os braços. - Eu fiz porque quis, e porque sei que você faria o mesmo por mim.

Ela piscou, pegando as palavras dele com cuidado. Então, um sorriso suave surgiu. - Você é mesmo um doce quando quer, sabia?

Leo revirou os olhos. - E você estraga tudo.

- Não estraguei nada! - Aery respondeu com indignação teatral. - Só estou apreciando o momento raro de honestidade do grande Leo, O Protetor.

Ele bufou, mas o canto de sua boca se ergueu ligeiramente. - Vamos logo antes que eu mude de ideia e te largue aqui.

Aery riu, o som leve quebrando o peso que ainda restava no ambiente.

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Depois de horas de caminhada, eles encontraram um pequeno riacho escondido entre árvores altas. Aery imediatamente tirou as botas e mergulhou os pés na água fresca.

- Ahhh, isso é perfeito! - Ela exclamou, inclinando-se para trás e fechando os olhos, deixando o sol aquecer seu rosto.

Leo permaneceu de pé, observando-a. - Você parece uma criança.

- E você parece um velho rabugento. Venha, experimente!

Ele hesitou, mas o sorriso radiante dela era difícil de ignorar. Eventualmente, Leo se sentou perto da margem, mergulhando as mãos na água para refrescar o rosto.

- Melhorou? - Aery perguntou, inclinando a cabeça.

- Talvez. - Ele deu de ombros, mas havia algo de relaxado em sua postura que Aery notou.

Enquanto estavam ali, Aery pegou uma folha grande que flutuava na água e a usou para espirrar um pouco em Leo. Ele olhou para ela, incrédulo.

- Sério?

- O que foi? - Aery tentou parecer inocente, mas o sorriso travesso a denunciava.

- Você realmente quer começar isso?

Antes que ela pudesse responder, Leo mergulhou a mão na água e a espirrou de volta, acertando-a em cheio.

- Ei! - Ela gritou, rindo, enquanto tentava revidar.

O riacho se encheu de risadas e sons de respingos, e, por um momento, os dois esqueceram completamente os perigos da estrada.

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