Passos ecoavam ao longe, rompendo o silêncio de um corredor extenso. Ao fundo, uma porta à esquerda permanecia fechada, enquanto outra, à direita, estava entreaberta. Uma fresta de luz escapava por ela, iluminando parte do caminho.
Dentro do quarto, uma menina de aproximadamente oito anos dançava balé com um sorriso que iluminava seu rosto. Cantava baixinho, uma melodia doce que tornava seu semblante ainda mais encantador.
Ao perceber a porta aberta, seus olhos brilharam ao encontrar a figura de sua mãe, que a observava com ternura. Sem hesitar, a menina correu até ela, envolvendo-a em um abraço apertado.
– Oi, meu amor. Está pronta? – perguntou a mãe, ajoelhando-se para encará-la.
Com um sorriso radiante, a menina assentiu vigorosamente, a empolgação evidente em cada movimento.
Mais tarde, a família seguia de carro rumo ao espetáculo de balé. Chloe, como a garota se chamava, participaria de sua primeira competição. Ela havia treinado arduamente durante o último ano, com a esperança de conquistar uma bolsa na melhor escola de balé do país.
– Preparada, meu amor? – a voz grave do pai veio do banco do motorista, carregada de entusiasmo.
– Sim! – respondeu Chloe, quase saltando no banco traseiro.
Sua mãe ria suavemente, tentando acalmá-la enquanto acariciava sua perna.
O toque do telefone interrompeu a alegria momentânea. Após vasculhar a bolsa, a mãe atendeu.
– Filha, já chegamos! Onde vocês estão? A Chloe está animada? – a voz da avó soava do outro lado, cheia de expectativa.
– Oi, mãe! A Chloe está radiante, não para de pular. Estamos a uns dez minutos de distância.
– Que bom, querida. Alguma notícia do Deniel? – perguntou a avó, sua voz carregada de melancolia.
A expressão da mulher mudou instantaneamente. Um peso tomou conta de seu peito enquanto ela apertava os lábios.
– Não, mãe... Tentei falar com ele, mas como sempre, sem resposta. Sinto que falhei...
Antes que pudesse terminar, o marido interveio, firme:
– Você não falhou! Nenhum de nós falhou. Deniel é adulto. Se ele escolheu se afastar, não há mais o que possamos fazer. Tentamos de tudo!
Há seis meses, Deniel havia abandonado a faculdade de Direito e se isolado. Chloe, que o adorava, sentia falta do irmão que costumava ajudá-la com os deveres e incentivá-la no balé.
– Mamãe... O irmãozão prometeu que estaria lá – murmurou Chloe, a voz embargada.
A mãe se virou, tentando acalmá-la:
– Meu amor, hoje é o seu dia, com ou sem ele.
"O que são as lembranças? Fragmentos de momentos felizes? Ou mentiras reconfortantes que o cérebro nos oferece? Dizem que, antes da morte, a mente projeta sua memória mais feliz para trazer paz..."
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Uma figura masculina se aproximava em meio à névoa de uma memória. Alto, cabelos castanhos ondulados, mas o rosto era impossível de discernir.*
– Oi, mamãe. Oi, Chloe! – disse ele com animação.*
– Filho! Hoje é o grande dia! – respondeu a mulher, segurando a mão da menina.*
– Irmãozão! Agora que você terminou a escola, vai ter mais tempo para mim? – Chloe perguntou, sorridente.*
– Claro! Todo o tempo do mundo! – respondeu, girando-a no ar.*
Por um momento, todos riram juntos. A felicidade daquele instante era nítida, mas distante, como uma sombra de algo que já foi.*
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O carro agora estava capotado à beira da estrada. O telefone, ainda em chamada, repousava no asfalto. Do outro lado da linha, a voz da avó era um grito de desespero:
– Filha?! Filha?! O que aconteceu? Onde vocês estão?!
Os primeiros socorristas chegaram. Entre os destroços, o veredito foi claro: dois mortos, um sobrevivente.