Quando chegou ao seu andar, Deniel percebeu que a porta do seu apartamento estava aberta. Um frio percorreu sua espinha. Lentamente, ele se aproximou, sentindo o coração acelerar a cada passo.
No interior escuro, a silhueta de uma pessoa estava parada no final do corredor.
— Q-quem é você? — perguntou Deniel, a voz tremendo.
A figura não respondeu. Apenas permaneceu imóvel, como se esperasse por ele.
Deniel, sem outra alternativa, entrou no apartamento lentamente, mantendo seus olhos fixos na figura imóvel que permanecia no escuro. Conforme avançava pelo corredor, um interruptor se tornou visível. Sem hesitar, ele o acionou, iluminando o quarto.
Agora a figura era revelada: sua vizinha, a senhora que cuidava de diversos gatos, estava ali, no fundo do quarto, completamente imóvel. Deniel arregalou os olhos, confuso. Como ela havia entrado? E por quê?
— Senhora... está tudo bem? — perguntou, aproximando-se dela com cautela.
A mulher, de costas, não respondeu. Quando Deniel finalmente tocou seu ombro, ela se virou lentamente. Seu rosto era de quem havia chorado intensamente: olhos vermelhos, inchados, transbordando uma tristeza profunda. Ainda assim, ela o encarou diretamente, como se tentasse enxergar sua alma.
Deniel deu um passo para trás, desconfortável. Aquilo era estranho até para ele. Mas então, para sua surpresa, a mulher sorriu levemente. Seus dentes eram incrivelmente brancos, perfeitos, como neve. "Clareamento?", ele pensou, tentando encontrar lógica na situação.
— Desculpe assustá-lo. Estou procurando o Bichano — disse ela, com um tom preocupado.
"Bichano? Um dos gatos dela?" Deniel questionou mentalmente. Mas como o gato poderia estar ali? E, mais importante, como ela havia entrado em seu apartamento? Antes que pudesse formular uma resposta, um miado baixo veio debaixo de sua cama.
Agachando-se, Deniel avistou o gato tremendo. A senhora, sem hesitar, se abaixou e o pegou no colo, acariciando-o com alívio.
— Ah, Bichano! Que bom que eu te encontrei! — disse, rodopiando com o gato, aliviada.
Deniel ficou paralisado. Como aquele gato tinha entrado? E, pior, como a mulher havia passado por portas e janelas trancadas? A situação parecia cada vez mais absurda.
— Hm... agora que encontrou o gato, precisa de mais alguma coisa? — perguntou, tentando esconder seu desconforto.
A senhora negou com a cabeça e, com um breve "obrigada", deixou o quarto, ainda acariciando o gato em seu colo. Assim que ela saiu, Deniel trancou a porta imediatamente. Sentou-se na cama, mergulhado em pensamentos. Aquilo não fazia sentido.
Mais tarde, naquela mesma noite, o som de sirenes ecoava pela cidade. Ao olhar pela janela, Deniel viu as luzes das viaturas ao longe, iluminando a escuridão. O que poderia ter acontecido? Ele tentava desviar seus pensamentos da estranha visita, mas era impossível.
Sem conseguir dormir, decidiu sair do apartamento. Movendo-se com cuidado para não fazer barulho, queria evitar qualquer encontro com sua vizinha. Porém, ao abrir a porta, ficou paralisado. Uma sombra estava parada bem em frente à entrada. A luz do luar por trás da figura obscurecia seus traços, tornando impossível identificar quem era. Apenas sua silhueta média era visível no corredor, agora mergulhado na escuridão.
"Quem diabos é essa pessoa?!", Deniel pensou, enquanto um calafrio percorria sua espinha.
— Você viu o bichano?
"Era ele. Aquele sorriso... eu jamais poderia esquecê-lo."
Um sorriso que deveria ser acolhedor, típico de uma senhora, mas aquilo... aquilo não era humano. Não podia ser. Havia algo profundamente errado, algo que fazia cada célula do meu corpo se contrair.