Era por volta das 15h quando os passos de um jovem ecoaram pelo terreno desolado. O lugar, afastado da cidade, parecia esquecido pelo tempo. Algumas árvores esparsas delineavam um caminho que levava a um prédio de 15 andares. De baixo, Deniel observou a construção de cima a baixo. A fachada, negligenciada e manchada pelo tempo, parecia ter sido abandonada. Mas isso não o incomodava.
– Hohow! Finalmente chegou, garoto – uma voz grave ecoou à sua frente.
Do prédio surgiu um homem peculiar. Cabelos longos e negros, lisos como vidro, e um terno impecável contrastavam com a simplicidade de Deniel: calça jeans, moletom com capuz, sapatos desgastados, uma mochila surrada e fones de ouvido pendurados no pescoço.
– Ah, sim... Foi difícil encontrar o lugar – respondeu Deniel, evitando contato visual.
– Tudo bem, vamos entrando. Deniel, certo? – perguntou o homem, segurando a porta aberta para ele.
Deniel apenas assentiu e entrou. Por dentro, o prédio era tão desolado quanto por fora. No térreo, um balcão vazio exibia um sino enferrujado e vasos cheios de terra, mas sem plantas. Ele seguiu o homem até o elevador, notando que, ao contrário do restante, ali era surpreendentemente limpo e bem conservado.
– Seu quarto é o 906, no nono andar – informou o homem, apertando o botão correspondente.
Ao chegarem, o homem entregou a chave a Deniel com um sorriso persistente.
– Espero que goste da estadia. Como combinado, o aluguel deve ser pago no primeiro dia útil de cada mês. Sem atrasos, por favor. – Seu tom mudou repentinamente, ficando mais sério antes de desaparecer pelo elevador.
Deniel sentiu um leve desconforto, mas decidiu ignorar. Abriu a porta do quarto e entrou. O apartamento era pequeno: um único cômodo com uma cama, uma pequena cozinha e um banheiro. O ar carregado de poeira indicava que ninguém vivia ali há muito tempo.
– Parece que faz séculos que esse lugar não vê uma vassoura – murmurou, conectando seu celular descarregado a uma tomada próxima à cama.
Cansado da longa viagem, deitou-se, os olhos pesados pelo cansaço.
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" Filho, por favor, escute! Você não está pensando direito!" A voz da mãe ecoava em sua mente.
Deniel, de costas para ela, continuava arrumando sua mochila, colocando algumas roupas e dois pacotes de miojo.
– Deixe-o, querida. Logo ele vai perceber como o mundo é difícil – a voz do pai era dura, quase cruel.
Sem responder, Deniel caminhou até a porta.
– E sua irmã? Ela vai ficar devastada! – tentou a mãe, agora em lágrimas.
– Digam a verdade a ela – respondeu friamente, antes de sair.
Ao fechar a porta, o som do choro de sua mãe ficou para trás. Colocou os fones de ouvido e seguiu seu caminho.
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De repente, a campainha do quarto 906 tocou, despertando Deniel de seu sono. Já era noite, e ele não esperava visitas. Ligou o celular e foi até a porta, espiando pelo olho mágico. Uma mulher com longos cabelos castanhos sorria gentilmente, segurando uma panela com um pano por baixo.
– Oi, vizinho! Vi que você se mudou hoje. Fiz um ensopado para te dar as boas-vindas – disse ela com um tom caloroso.
– Ah... Obrigado – respondeu Deniel, sem mudar sua expressão enquanto pegava a panela.
– Quando terminar, é só levar ao meu quarto, logo ao lado. Sinta-se à vontade para conversar, caso precise de algo, afinal eu sou sozinha e sei muito bem que mudar para um lugar novo pode ser estranho – ela sorriu, mas algo no olhar dela parecia... deslocado.
– Certo. Obrigado – respondeu, desejando apenas fechar a porta.
– Ah, meu nome é... @#&@. Qual o seu?
Deniel hesitou, sentindo algo estranho na fala dela, mas respondeu:
– Deniel.
Ela sorriu mais uma vez antes de se despedir. Deniel fechou a porta, colocou a panela sobre a mesa e a abriu. O ensopado tinha uma aparência e aroma irresistíveis, lembrando a comida de sua mãe. A nostalgia apertou seu peito enquanto comia em silêncio.
– Eu escolhi isso... Não posso voltar agora – murmurou para si mesmo.
Depois de comer, percebeu que a torneira não funcionava. Sem escolha, pegou a panela suja e foi até o quarto da vizinha. Se perguntou profundamente qual era o nome da vizinha, ele achou ter esquecido. Sem escolhas, deu dois toques a sua porta, que em seu mesmo instante se abriu.
– Licença... A porta estava aberta. Eu vim trazer a panela...
Ao entrar, um silêncio pesado tomou conta do lugar. O corredor parecia mais longo do que deveria ser. A luz oscilava, e um frio inexplicável percorreu sua espinha.
– Olá? sobre a panela...– chamou, sua voz ecoando no vazio.
Nada respondeu.
E então ele viu: algo no final do corredor...