Raiava a luz da escuridão da noite naquele luar, serpenteando entre as nuvens escuras que vagavam no meio do céu. Os pequenos feixes de raios luminosos clareavam o ambiente onde os quatro acabaram de chegar, um lugar inacabado e uma estrutura totalmente destruída.
Era uma mansão rústica de grande altura e largura; provavelmente houve um enorme gasto e investimento para construí-la. Mas o que ninguém imaginava é que ali dentro, bem nos fundos, havia a maior riqueza das terras de Lunizs.
— Tem certeza de que aí dentro ainda tem alguma relíquia de moeda de ouro? — Arkadius indaga, curioso.
— Querido… — Sanja derrama algumas lágrimas forçadas. — Esse era um lindo casarão para se morar, mas… infelizmente o tempo acaba destruindo tudo que vê pela frente. Apesar de que eu só passava os finais de semana aqui.
— Vamos entrar logo, daqui a algumas horas amanhece. Quero entregar esse ouro antes do meio-dia. — Kelvisk diz, sem mais paciência.
Ao adentrarem, andaram pelos corredores amplos da mansão até chegarem à porta que acessava os fundos do recinto. Quando entraram no lugar, estava completamente escuro e não havia um resquício de luminosidade.
Mas quando Sanja se aproximou, ela começou a tossir bastante devido à poeira; algo mais impregnado estava no ar. Um cheiro forte de ouro, e ao lançar a bruxaria na parede, Sanja ordenou que as tochas se acendessem. E quando o ambiente começou a ficar claro, Arkadius ficou de boca aberta com a quantidade de riquezas naquele local.
— Minha nossa… mas como isso é possível?! — Arkadius pergunta, caminhando até o ouro e pegando algumas joias nas mãos.
— Parabéns, Sanja, sua riqueza reviveu assim como você e sua ambição… — Kelvisk diz alegremente.
— Arkadius? Pode ir tirando as suas patinhas sujas do meu precioso tesouro; não quero perder sequer um mísero valor nessas lindas joias!
— Não consigo entender como você conseguiu reunir todo esse tesouro. Sei que houve, em uma época, uma crise financeira muito grande nos impérios mais poderosos, mas nunca alguém poderia imaginar que algo nessa proporção poderia existir!
— Acho que ainda não ficou claro que a minha mãe é uma bruxa esperta, não é, senhor Arkadius?! — Estêvão diz, debochando.
— Poderia explicar para a gente, Sanja, como obteve essa quantidade absurda de ouro? — Kelvisk pergunta, abismado.
— Nada de mais, além de pura inteligência minha. Quando Cold assumiu o comando geral dos impérios, ele ordenou a Hannibal que entregasse toda a riqueza que havia roubado dos antigos seis reinos ao oeste daqui para os cofres do antigo Império Tfw. Ninguém sabia exatamente essa verdade, mas aqueles seis reinos eram as nações mais ricas de todas as terras de Lunizs.
— Coldbreath sempre foi astuto em relação ao poder; ele sabia que quem tivesse mais riquezas, mais poderoso seria que todos os outros. — Estêvão diz, sorrindo.
— Mas o que me assustou de verdade foi que aqueles seis reinos ainda tinham em sua posse suas riquezas mais preciosas, que haviam guardado a sete chaves em um cofre secreto em cada reino. Cold foi esperto na época, assim como sou, e pegou mais da metade e trouxe para os cofres Tfw. Em outras palavras, Cold se tornou o imperador mais rico das terras de Lunizs, e nem se fala na tamanha riqueza que o próprio Império Tfw havia guardado… — Sanja conta, toda animada, lembrando dos velhos tempos.
— E o que aconteceu depois? Você roubou as riquezas do Coldbreath sem ele saber? — Kelvisk indaga, surpreso com a história.
— Não, não. Coldbreath descobriria a qualquer momento se eu tentasse roubar uma mísera moeda; eu fui mais esperta do que isso. Ele confiava mais em mim do que nos outros discípulos, isso devido à minha perspicácia em manipular os homens… admiro isso em mim, aí.
— Então o que fez? Se deitou com ele? Fez ele se apaixonar por você? Isso é clássico de principiante! — Arkadius diz, gargalhando.
— Não… Apesar de que eu gostaria muito de ter ficado com o Cold, minhas esperanças foram de ralo abaixo. Ele gostava de uma tal de Harley, uma mimadinha, irmã do Imperador Twoguns. Teria sido a minha primeira tentativa, mas precisava de algo mais audacioso e algo que fosse durar os próximos anos. Então pensei à frente do meu tempo, no meu futuro — Sanja para por um momento ao reencontrar um deslumbrante colar que usou uma vez. — Minha nossa! Não me diga, rapazinho, que você estava por aqui; quanto tempo gastei te procurando nas minhas coisas… pelos deuses! Usei esse esbelto colar no baile de apresentação dos líderes sobrenaturais; foi um dia inesquecível!
— Mãe? Você ainda se lembra dessa coisa? Aquele dia foi chato, muito morgado e sem graça. Todos os presentes apenas desejavam exibir seus cargos e demonstrar suas forças com seus poderes…
— Eu pensava em levar apenas uma quantia razoável para satisfazer os filhos do Tauron. Mas com toda essa riqueza, podemos levar o suficiente para convencer o próprio Tauron a nos aliar a ele. — Kelvisk comentou, admirado.
— Kelvisk, meu querido. Não é porque tenho muitas riquezas que desejo entregar de mãos abanando para um elfo metido a conselheiro de magia. Aliás, não entendo até agora o motivo de Hannibal tê-lo escolhido para usar o cajado; até onde sei, apenas feiticeiros podem usá-lo, não?
— Ah… o Tauron é um lobo-feiticeiro; Hannibal o transformou quando ele assumiu o reinado do pai. Mas escondia o segredo usando um anel de aparência. — Diz o portador da lâmina de Coldbreath.
— Como sabe disso? Apenas os mais íntimos do Hannibal sabiam dessa verdade; como descobriu? — Arkadius perguntou, mudando seu semblante.
— Sei de muitas coisas, Arkadius; não já te disse que mandei te vigiarem? Descobri muitas coisas, não só em relação a você, mas aos que estavam com você. Sanja? Poderia continuar o seu discurso; eu estava gostando de ouvir, quero entender mais a sua ambição…
— Ah! Claro, bem, continuando, meu lindo… como Cold só tinha olhos para a mulherzinha da Harley, eu decidi me aproximar mais ainda dele para sugerir o cargo de administradora das finanças do império dele; assim, eu controlaria todas as riquezas em relação a tudo que fosse negociado.
— Quando minha mãe me disse esse plano, eu sabia na hora que daria certo; o Coldbreath aceitou no mesmo instante a ideia. Ele confiava demais nela, nunca descobriu o motivo por trás dessa confiança toda, mas… ele é o Coldbreath, né? Sempre tem um motivo.
— Então, eu comecei a economizar as riquezas do Cold, não para ajudá-lo, mas para me beneficiar quando eu fosse assumir o trono. E deu certo; quando o Cold adormeceu, o Edward assumiu, e eu continuei administrando o ouro. Foi aí que comecei a roubar e enviar para a mansão. O Edward nunca desconfiou; ele era muito distraído para essas coisas de negócios. Ele se preocupava mais em se divertir; tanto é que ele próprio me pedia para comprar as melhores bebidas da região, mas eu sempre comprava as piores para oferecer na metade da festa.
— Lembro desses eventos; que bebidas ruins eram aquelas, mãe? Parecia que estavam mijando dentro e cagando mole pela boca da garrafa, eca! Só bebi uma vez e joguei fora, horrível.
— E o Edward e seus companheiros nunca notaram a diferença? — Arkadius pergunta, rindo.
— Vampiros não conseguem distinguir a diferença de sabores devido ao sangue que bebem. Eles todos apenas tomavam e faziam os plebeus beber para poder ingerir um sangue mais adocicado… uma coisa horrível; eu jamais gostaria de me tornar uma vampira. — Sanja diz, com nojo e cuspindo no chão.
— Então, depois que você assumiu o trono, começou a trazer as riquezas para cá, não foi? — Kelvisk pergunta, vasculhando o interior, e ao chegar nos fundos, avista uma escada para um andar de baixo. Quando olhou, mais riquezas em excesso estavam lá embaixo. — Quanto tempo levaria para tirar toda essa riqueza daqui, Sanja?
— Trabalhando noite e dia sem parar? Acredito que um mês inteiro, ou mais.
— Não é por nada não, senhorita Sanja, mas você não foi a discípula mais esperta que reinou. Você fez bem acumulando riquezas e tal, manipulando, mas sabe quem realmente foi inteligente? — Arkadius pergunta, debochando.
E aquela conversa praticamente iria durar a alvorada inteira; os quatro tinham algo em comum: sabiam muito bem se comunicar e trabalhar em grupo. Se não fossem apenas meros aliados, poderiam se tornar grandes amigos e companheiros de viagem, mas o destino era completamente outro…
— Quem seria essa, traste?! Me diga!
— Sarah! Ela, sim, foi a mais esperta em toda a história. Ela não juntou riquezas, mas treinou os mais hábeis e habilidosos lutadores feiticeiros da época dela; ninguém mais conseguiu fazer o que ela alcançou. Lembro que até os dois magos irmãos Hayaki e Reylta tentaram fazer o mesmo com os magos, mas não conseguiram.
— Verdade, mãe! — Estêvão diz, de cabeça baixa.
Kelvisk apenas observava tudo que estava acontecendo ao seu redor e ouvia tudo muito bem, com muita atenção, para não desperdiçar nada. Ele tinha muitos planos em mente, mas o que lhe deixava mais indeciso era escolher o melhor para colocar em prática. Uma decisão que cada vez mais chegava perto de colocá-lo contra a parede e forçá-lo a tomar uma atitude sem totais certezas do resultado. Mas ele estava contando com a sorte; agora, se ela estava do lado dele, era outra história.