Na manhã seguinte, Kelvisk estava no templo do espírito da planta, aguardando Sanja acordar. Ele havia revivido-a novamente e colocado uma bruxaria em sua mente para que ela dormisse até amanhecer, e, a essa altura, estava prestes a despertar.
— Aí… nossa, minha cabeça não para de girar. — Sanja diz atordoada e tenta enxergar quem está à sua frente.
— Tudo bem? — Kelvisk pergunta desanimado.
— Ah, não! Você! Sua voz é irritante agora para os meus belos ouvidos, sabia?! — Sanja diz, saindo da pedra. — O que você fez comigo? E por qual motivo me matou?!
— Lancei uma bruxaria na sua mente, não queria que você fugisse assim que acordasse. Então coloquei um tempo para que eu pudesse te ver acordando; preciso conversar com você!
— Humpf… sério? Precisa mesmo! Anda, fala logo os seus motivos, quero ver se são bons.
— Eu lhe disse que havia pensado em algo sobre o quebrantamento da ligação com o Coldbreath. Então, eu montei um plano com o Arkadius, mas… ele me traiu.
Dando gargalhadas altas, Sanja diz:
— Pobre Kelvisk, confiou demais naquele traste… pelos deuses!
— Bem, o plano era o seguinte: ele deveria pegar o seu colar depois que o Estêvão me atacasse, e aí deveria deixar o seu corpo aqui. Até aí ele fez tudo certo. Depois, deveria ameaçar Tauron de perder o seu filho caso não entregasse o cajado, e deveria fazer o mesmo com a Sheyla. E ele fez tudo isso, mas… foi atrás do anel de Hannibal sozinho. O que pedi para ele era esperar a minha ajuda para fazer isso, e seria de uma forma totalmente diferente… mas ele foi ganancioso demais. Então, como não tinha mais jeito, eu pedi ao Hannibal para entregar o anel que ele tinha ainda, e eu entreguei a lâmina de Coldbreath.
— Você fez o quê?! Você é mais maluco do que ele! Agora ele jamais será derrotado. Como acha que alguém poderá vencê-lo agora?
— Não é mais a minha missão; minha jornada acabou. — Kelvisk diz, olhando para o céu limpo e o sol brilhando.
— Ele vai nos matar, sabia?
Simplesmente do nada, surge um portal no meio do templo, e, através dele, Arkadius aparece ao lado de Wylzer, Luyza, Khadija e Rhinoch. Todos estavam usando as relíquias e tinham um semblante assustador.
— Saudações, meus caros companheiros de viagem! — Arkadius diz, sorrindo largamente.
— O que você quer, Arkadius? Não conseguiu o que queria? — Kelvisk pergunta, parecendo irritado.
— Humpf! Sim, consegui o que eu tanto queria. Mas as únicas pessoas que existem nas terras de Lunizs, que poderiam atrapalhar o meu governo, são vocês dois e mais aquela fogueira ambulante chamada Estêvão…
— Falando no meu filho, o que você fez com ele, Kelvisk?!
— O que ele fez comigo, você deveria perguntar!
— O quê? Ele te deu uma surra? Bem feito!
— Ele me deu um soco potente, e depois que o Arkadius disse que você não voltaria mais à vida, ele explodiu e faleceu, tentando me matar.
— O meu filho pereceu?!
— Não se preocupe, ele é uma fênix; vai reviver a qualquer momento… — Kelvisk diz, seriamente.
— Chega de papo furado! Juntem as mãos e se entreguem! — Rhinoch diz, nervoso.
Dando gargalhadas, Sanja diz:
— Queridos… não sei se vocês sabem, mas… nós dois somos bruxos… o que significa que ninguém pode nos pegar!
— Mas eu agora sou um Lich! — Arkadius diz, batendo a ponta do cajado no chão e criando uma onda de energia invisível que impede o uso de magia.
— Como? Devolva os meus poderes! Kelvisk?! Eu disse que ele acabaria conosco!
Os dois, então, são presos com algemas anti-magia, o que os faz se tornarem apenas humanos comuns, sem poder algum. Levados diretamente para as prisões dos orcs, Kelvisk fica pensativo a todo o tempo.
— Ver, Kelvisk?! Onde vamos parar?! Que lugar sujo, fedorento e melequento… que nojo!
— Humpf… não é tão ruim assim.
— Sério?! Não é?! Se eu tivesse os meus poderes, você ia ver uma coisa! E outra! Você ainda não explicou a minha morte! Por qual motivo me matou?!
— Não entendeu ainda? Foi para quebrar a sua ligação com o Coldbreath…
— Mentira! Essa possibilidade não existe!
— Sério? A única coisa que você sabe é o que o Coldbreath te contou, nada mais. Nunca pensou que seria um absurdo existir uma arma mais poderosa do que a própria lâmina de Coldbreath?
— Claro que pensei nisso, mas existe uma lei no universo que rege os elementos, a qual é o equilíbrio! Se existe uma arma tão poderosa como a lâmina dele, então tem que existir algo que possa destruí-la!
— Humpf! Eu não tinha certeza disso, mas… quando matei o Edward, ele estava usando a relíquia, e não sei se você se lembra, mas quando você usa o colar, o cristal dele fica roxo, mas quando você tira, o cristal fica verde. Sabe por quê?
— Porque sou discípula de Cold! Isso prova que sou a primeira bruxa!
— Sim, em parte, sim. Mas quando Edward faleceu usando o anel, o anel ficou vermelho em vez de continuar roxo. E o mesmo aconteceu com você!
— Mas é claro, porque a gente faleceu! Onde quer chegar com isso?
— Ele perdeu a cor roxa porque a ligação foi quebrada! Mas se você quer uma prova, teria que usar o colar novamente para ter certeza… mas acredito totalmente nisso!
— Humm… é uma explicação lógica, eu aceito. Mas se ficar roxo, eu vou te matar!
Depois de algumas horas, Estêvão apareceu na sala das celas, e Sanja ficou feliz em vê-lo vivo.
— Seu querido filhinho, senhora Sanja! — Arkadius diz, sorrindo.
— Obrigada por tratá-lo bem, e obrigada por não ter nos matado, mas poderia ter matado o Kelvisk; eu não me importaria.
Dando leves gargalhadas, Arkadius diz:
— Vocês serão os meus eternos troféus, uma taça para lembrar do meu grande dia glorioso quando finalmente consegui a minha ascensão!
— Falando nisso… senhor Arkadius, eu queria fazer-lhe um pedido especial. — Sanja diz, olhando maliciosamente para ele.
— E o que seria esse pedido, minha senhora… — Arkadius diz, olhando dos pés à cabeça para ela.
— Eu gostaria de usar o meu colar uma última vez, antes de ficar longe dele para sempre. O senhor me concederia essa oportunidade? Não penso em fugir, se é o que o senhor pensa.
— Claro… Wylzer? Entregue o colar a ela; quero vislumbrar a última beleza dessa dama maravilhosa… — diz, gargalhando.
Sanja, ao colocar o colar, fica esperando o cristal ficar de cor roxa, mas nada acontece. Depois de um minuto inteiro, nada muda, e Arkadius ordena que ela o devolva.
— Obrigada, meu querido.
— Vamos embora, pessoal. Temos uma festa para comemorar e uma reunião para fazer! — Arkadius ordena, saindo às pressas da prisão por meio de um portal.
— Acredito em você agora, Kelvisk… mas não pense que eu o perdoei por me matar!
— Isso me basta… — Kelvisk diz, sorrindo.
As horas se passaram uma atrás da outra, a tarde se passou, e a noite chegou. Quando alguns orcs trouxeram comida para oferecer aos três prisioneiros.
Um dos orcs cuspiu sobre a comida deles e lhes disse "bom apetite", o que deixou os três irritados e cheios de raiva. Sem nada para fazer, o tempo continuou passando até que a alta madrugada começou com uma luz intensa da lua cheia, e os raios brotavam pelas pequenas aberturas que existiam através dos buracos da caverna.
A única luminosidade eram as pequenas tochas no corredor das celas, que iluminavam pouco o ambiente, além de pequenos vaga-lumes coloridos que vagavam por aqueles lugares remotos.
Até que, por um momento, os três começaram a ouvir passos lentos e sutis se aproximando da cela deles. Um hálito refrescante ecoou no ar, e um fôlego podia ser ouvido cada vez mais perto. Até que uma voz disse:
— Finalmente te encontrei! — Halayna diz, removendo o anel de invisibilidade.
— Até que você chegou rápido! — Kelvisk diz, animado.
— Garota?! De onde você saiu? E como conseguiu as seis relíquias de Coldbreath?! Você matou o Arkadius? — Sanja pergunta, olhando Halayna segurar um cajado na mão, dois anéis nos dedos, dois braceletes nos braços e um colar no pescoço, além de uma espada nas costas.
— Só demorei um pouco mais devido ao Vilkus; ele me pediu um cajado especial para ele, queria que fosse único e tal, sabe como ele é, né… — Halayna diz, conseguindo quebrar a magia das grades. — Gente?! Podem vir!
Ao chamar o pessoal, Eldy e Poly se apresentam na frente deles, retirando o anel de invisibilidade. Halayna então pega sua adaga e corta a mão de Kelvisk e de Sanja, pegando o sangue deles para colocar em dois anéis de aparência.
— Pronto, a Poly e o Eldy vão ficar no lugar de vocês dois; não temos muito tempo, os orcs em breve podem aparecer, o Vilkus está vigiando.
— Pessoal?! Precisamos ir, tem orcs chegando! — Vilkus diz, criando um portal.
— Espera! Eu não quero ficar aqui! — Estêvão diz, com raiva.
— Desculpe, Estêvão, mas não temos outra pessoa para colocar no seu lugar; terá que esperar com eles dois. Não se preocupe, são nossos amigos. — Kelvisk diz, animado.
— Eu ainda vou te matar um dia! — Estêvão diz, seriamente.
Colocando as algemas em Eldy e Poly, os dois usam os anéis de aparência e ficam parecidos com Kelvisk e Sanja. Enquanto os outros passam pelo portal e vão embora, agora o que eles iriam fazer, apenas o destino iria dizer.