— VILKUS!!! — Halayna grita desesperada, levantando-se rapidamente e correndo em direção a ele para acudí-lo.
— Halayna… eu te amo… por favor… ajuda… Kel… visk! — diz, suspirando.
— Vilkus! Vilkus! Não! Não…
A morte era certa? Não sabemos, mas esse trágico fim era uma realidade que estava prestes a acontecer nos últimos instantes da destruição iminente da profecia.
Horas antes dessa situação triste, todos estavam se preparando para a guerra, onde haveria mortes com toda a certeza. Quem sobreviveria? Talvez apenas os mais astutos, sortudos ou medrosos. Independentemente de quem fosse, o fim seria surreal e deprimente para muitos.
O dia estava clareando com a luz intensa do sol no horizonte; as nuvens eram demasiadamente espessas e rubras, anunciando a chegada breve de chuvas temporais e longínquas.
Os pássaros voavam tranquilamente em direções opostas ao local onde haveria de ocorrer a luta. Querendo ou não, até a natureza sábia sabia, em seu íntimo, que a profecia poderia ser quebrada ou não.
Momentos antes dessa cena perceptível aos olhos de todos, estava claro um movimento contrário das aves dos exércitos marchando lentamente, apavorados com o objetivo final desejado por todos.
Alguns eram muito confiantes, tiraram um tempo especial para deixar suas armaduras brilhando e cintilando com faíscas visíveis à luz da estrela maior. O céu azul, que atualmente estava coberto com um lençol de espumas nevoentas, clamava para que aquele dia durasse apenas o tempo necessário para o desfecho do destino das terras de Lunizs.
As poucas entradas que a luminosidade do sol conseguia penetrar sobre a face da terra eram como um calor reconfortante que chegava a pulsar na alma, se isso fosse possível…
A caminhada durou algumas horas, dos portos marítimos até a entrada do arco do castelo de Hannibal, onde se esperava encontrar Arkadius com seus aliados. Mas, durante a estrada percorrida pelos nossos aventureiros, os batedores notaram a falta da presença de vigilantes nas muralhas das entradas principais e de olheiros nas ruas da cidade-capital.
As calçadas feitas de pedregulhos e barro queimado deixaram sua areia ser levada pelas rajadas dos ventos rasantes, que impeliam com facilidade o chão por falta de movimento.
Quanto mais se andava a cada passo de tartaruga, mais o grito ecoava por cada esquina, carregado do som fino e notável dos beiços batendo um no outro. O que acentuava o frio estridente do começo do inverno naquela estação, que se iniciou desde o começo daquela semana que estava finalizando no dia de hoje.
A pior época para se iniciar um conflito, ainda mais uma briga que era aguardada há muitas eras e que ficou congelada no tempo, aprisionada por circunstâncias criadas pelas mãos de um único homem, que hoje era nada mais nada menos que um mero mortal comum, enterrado dentro de uma tumba barata, cheia de insetos rastejantes e minúsculos bichinhos caminhantes de solo fresco.
Era uma complexidade e, ao mesmo tempo, uma incógnita indecifrável e simples. Como algo tão poderoso e causador de uma destruição de magnitude tão gradual pôde ser dissolvido facilmente em segundos?
Um pensamento que pairava nas mentes de nossos discípulos, progenitores das raças que dominavam aquelas terras de trevas. Heigor, o mais centrado de todos, se perguntava como montaria seu reinado do zero, começando desde o início em uma nova era de paz e harmonia.
Ele estava diferente, na verdade, muito diferente. A morte certa que estava gravada em sua memória o deixou pasmo, tornando-o um pensador nato de estratégias de vida. Agora, aquele Heigor conhecido por sua arrogância, grosseria e falta de educação para com os mais simples, além de seu ódio e raiva por todos, apenas ficou registrado em seus olhos cansados pela prisão do tempo.
Quem ele era agora? Apenas o resto do meio-tempo poderia falar por ele, mas suas atitudes a partir deste dia mostrariam quem Heigor se tornara. Um homem sábio? Prudente? Humilde? Amoroso? Fiel? Alegre? Enfim, sua determinação diria até onde ele poderia chegar e quem é o novo imperador do vento.
Os dois irmãos, sempre em alerta e destemidos, eram conhecidos pela sua especialidade em estudar o ambiente e usá-lo a seu favor. O local era propício para uma longa batalha sangrenta, mas coitados dos que fossem cruzar seus caminhos.
Reylta não tinha pena nem dó dos que se atreviam a colocar à prova sua capacidade, o que lhe deixava com muita raiva. Mas o mais assustador é que ela não perdia a paciência, mesmo em momentos de grandes tensões. Assim como Sarah. As duas, bem… podiam ser grandes amigas.
Hayaki, por outro lado, não era muito diferente da sua irmã gêmea, sempre cauteloso e ávido por uma missão impossível. Sua capacidade de entender os animais, assim como Reylta, os capacitava a se tornarem inteligentes quando se tratava de conhecer os aspectos frágeis do corpo de qualquer criatura existente. Até a própria Rusalka tinha uma fraqueza que praticamente ninguém conhecia, além da dupla dinâmica de espadachins.
Sarah, por sua vez, já era conhecida pela sua fama de motivar multidões de seguidores, desejosos de aprender e se aperfeiçoar em suas habilidades naturais. O conhecimento que ela tinha fazia com que todos que a conheciam perguntassem como ela se tornara tão sábia e inteligente em uma época em que o conhecimento era escasso e pouco procurado pelos mais fortes.
Pois o alto escalão dos sobrenaturais rejeitava o aprendizado de letras nessa era, achando desnecessário investir tempo em algo que não tinha valor de força física e poder de magia. Foi por causa da astúcia de Sarah que ela viu, através da linguagem escrita, uma forma de conquistar corações escassos de sentimentos por meio de palavras.
Sanja estava preocupada, com pensamentos focados em seu amado filho Estêvão. Ela não tinha notícias dele há vários dias, desde a última vez que o deixou na prisão ao lado de Poly e Eldy. E citando sobre prisão, havia notáveis membros poderosos no meio de nossos desbravadores, unidos em comum acordo nesta guerra que começaria agora.
— Não há dúvidas. Eles tiveram muito tempo para se prepararem. Não vimos uma alma viva fora das casas, vagando pelos largos corredores do comércio — diz Vilkus, espantado.
— Sabia que seria assim; seria sorte demais se os pegássemos desprevenidos — diz Heigor, abaixando a espada.
— Vamos em frente, deve ter ficado alguém para deixar alguma mensagem, um aviso de Arkadius para nós — diz Kelvisk, ansioso.
Ao passar pelo portão principal da entrada do salão do castelo, todos os principais guerreiros se moveram atentos a cada posição possível de espaço para surpreender com um ataque.
Quando tocaram na maçaneta das portas da sala do trono, todos respiraram fundo e abriram com agilidade e rapidez. Mas, em segundos de visão plena, eles viram Arkadius, que estava em pé ao lado do trono, conversando com seus aliados.
— Rapaz… que tensão — fala, com um ar quente saindo de sua boca e o suor escorrendo por seu pescoço e descendo por todo o seu corpo, algo que ele não sentia há anos, pois agora era humano.
— Vilkus? Percebeu uma coisa? Ele não está usando as relíquias… — sussurra Kelvisk, com um olhar fixo em Arkadius.
— E agora? O que foi que ele planejou contra nós? — Halayna se pergunta e questiona a todos.
— Sarah? Quando eu mandar, você chama o cajado, aguarde o meu aviso — diz Kelvisk, agoniado com a situação.
A chuva começou a cair fortemente naquele mesmo segundo de tempo, que parecia uma eternidade de puro medo e coragem ao mesmo tempo.
— Arkadius? Viemos até aqui para te desafiar para um duelo! Eu, contra você! Apenas uma luta decisiva para resolver de uma vez por todas o destino do mundo inteiro… — dizia Kelvisk, quando Arkadius levantou a mão para o alto. Nesse ato, todos se armaram ainda mais e esperaram por um ataque repentino.
— Você… contra mim? Tem coragem, amigo — diz, caminhando lentamente até o trono e sentando-se.
— E agora… Kelvisk? — indaga Vilkus, ainda mais nervoso e tremendo.
Um silêncio ensurdecedor toma conta do ambiente inteiro, quebrando o clima de agonia e desespero de alguns que não estavam mais aguentando tanto suspense e falta de esclarecimento para aquela encenação toda sem sentido.
— Posso perguntar onde estão as relíquias? Você as guardou por algum motivo especial? Na verdade, o que planeja? — pergunta Kelvisk, calculando todas as possíveis direções de golpes em frações de milissegundos, quase parando o tempo, uma habilidade especial de Lich que ele não tinha desenvolvido ainda, por falta de tempo.
— Ele destruiu as relíquias! Não consigo sentir o cajado, fujam!!!
— AURORA TRANSPONÍVEL!!! — Levantando-se o mais rápido possível ao ouvir as palavras saindo da boca de Sarah, Arkadius invoca sua espada com um movimento de mão, ao mesmo tempo clamando um feitiço de ataque.
A aurora foi um choque de ondas desde o chão do salão até a mais alta parte das estruturas do castelo, sendo rasgadas como se fossem papel e levadas por uma velocidade tão drástica que pedaços das colunas que sustentavam o telhado bateram com ímpeto em vários dos guerreiros.
Arremessados com força bruta até uma certa altura da face da terra, a palavra "transponível" impediu que todos fossem jogados longe. Mas, sendo transpostos contra a própria barreira de espaço no ar gerada pelo poder, e com grande impacto, todos foram de encontro com as pequenas rochas que se deslocaram do solo.
Em outras palavras, todos foram disparados com tanta brutalidade para cima quanto para baixo ao mesmo tempo, causando um forte estrago na maioria que estava com todo vigor e energias prontas para serem usadas. Arkadius não estava pegando leve; agora, ele tinha todo o poder do espírito das trevas em suas mãos.
A poeira subiu junto com todos os destroços, mas a dominadora de poeira a dissipou em segundos, podendo observar os feridos caídos e alguns esmagados pelas pedras das enormes estátuas.
O único que não sofreu a dor da explosão foi Vilkus, pois, ao escutar o que Sarah disse, ele desmaiou na mesma hora. Ele estava com tanto medo que seu corpo conseguia exalar um cheiro grosseiro, que entrava pela garganta quando ingerido pelas narinas.
Alguns que conseguiram se levantar começaram a tossir fortemente, sem aguentar o fedor, pois a geração da mana de poder causada pelo feitiço de Arkadius intensificou o odor.
Mas, deixando isso de lado, Kelvisk estava de pé, sem tirar os olhos de Arkadius e removendo a espada da bainha, que reluzia com seu brilho intenso, esvaindo a aura dos espíritos. Quando o próprio portador da lâmina de Coldbreath avistou a arma, temeu.
— Que espada é essa? Onde você a conseguiu? — Perguntou, temeroso.
— Posso conseguir enxergar a mudança do seu olhar ao vislumbrar a minha pose… quer mesmo descobrir o que ela faz?!
— Veremos!
Arkadius correu em direção a Kelvisk, que ficou parado, esperando. E a cada golpe que o tirano desferia, causava cortes que não cicatrizavam de nenhuma forma. Provavelmente, ter em mãos uma espada de energia pura estava impedindo a regeneração da pele de Kelvisk.
— Não vai me atacar?! — Questionou, confuso, mas ao mesmo tempo admirado. — Então vamos ver até onde você aguenta!
— AH! — O cavaleiro de cabelos brancos sentiu perfeitamente a ponta cravar em seu coração, atravessando seu corpo e saindo pelas costas.
— Tolo! Foi pra isso que decidiu duelar contra mim? Sinceramente, você é uma decepção uma atrás da outra…
O vento forte que passava naquele instante arrancou o capuz do rosto de Kelvisk, e ao acontecer isso, ele riu.
— O quê foi? Morra de uma vez!...
O antigo portador da lâmina de Coldbreath levantou o braço lentamente para cima e disse:
— A profecia foi quebrada! — Kelvisk, com suas últimas forças, choca a lâmina dos espíritos contra a lâmina de Coldbreath, dizendo ao mesmo tempo as palavras de um feitiço: — desfaz agora a história…
Uma explosão fortíssima se expande, levando junto consigo o corpo de Arkadius para bem longe do local da luta. Kelvisk, por sua vez, cai sobre o chão, exausto, sem forças e ânimo para continuar.
— KELVISK! — Halayna, aos gritos, vai ao encontro de Kelvisk, mas, quando chega até ele, seus olhos já haviam sido fechados por causa do cansaço extremo. As dores dos ferimentos eram extensas, e seu corpo estava perdendo bastante sangue.
— EI! Querida… — Wylzer a chama pelo nome. — Halayna? Não pode salvar a todos; deveria ter ficado comigo, teria sido melhor para você, querida.
— VILKUS!!! — Halayna grita desesperada, levantando-se rápido e correndo em direção a ele para acudí-lo.
— Halayna… eu te amo… por favor… ajuda… Kel… visk! — Diz, suspirando.
— Vilkus! Vilkus! Não! Não…
As lágrimas eram notórias, escorrendo pelo rosto e sendo despejadas sobre o corpo gélido do antigo elfo. E quando o silêncio de um fim esperado soava nos ouvidos daquelas que ainda estavam de pé… um estalo audível a todos foi ouvido claramente.