Chereads / A Saga de Lunizs - Livro 2: O Escurecer / Chapter 27 - Uma Reunião Desejável

Chapter 27 - Uma Reunião Desejável

A madrugada se passou como um vendaval forte de inverno, onde se podia sentir os ventos rasantes nas peles do corpo. Os primeiros raios de sol começaram a brilhar intensamente no horizonte, surgindo gradualmente com sua beleza resplandecente. Sua luz era reconfortante e emanava um calor aconchegante e agradável.

Era uma vista como essa que Kelvisk e Halayna, com Vilkus, vislumbravam juntos na beira da varanda do castelo élfico, depois da Floresta Sombria. Os quatro haviam chegado juntos para poderem descansar um pouco e conversar melhor sobre como iriam proceder a partir de agora.

Halayna perguntou a Kelvisk qual seria o plano agora, após ter dado um forte e longo abraço tanto em Vilkus quanto em Kelvisk, dizendo haver sentido muita falta dos dois e morrendo de medo que os dois acabassem falecendo a qualquer momento. Com as amizades fortalecidas, Kelvisk disse que não tinha planos em mente, pois os únicos que tinha eram até a ascensão de Arkadius, algo que foi planejado por ele desde o início.

Sabendo disso, Halayna lhe disse que todos juntos iriam pensar em algo. Foi aí que Kelvisk decidiu chamar seus companheiros de volta, pois já haviam passado tempo demais procurando por Halayna. Quando Thalassa atendeu à bola de cristal, seus amigos ficaram aliviados por vê-la bem e com saúde, além de Halayna ao seu lado. Kelvisk então pediu para que eles fossem ao seu encontro para poderem conversar melhor.

Chegados ao palácio élfico, os amigos se abraçaram fortemente uns aos outros e deram largos sorrisos de alegria e felicidade por estarem todos bem e juntos novamente. O Rei Eldarion, com sua esposa, pediu para todos comerem antes de conversar sobre qualquer coisa, pois não precisavam se preocupar que ninguém iria incomodá-los ali, tão longe da civilização.

Era certo que os prováveis rumores não paravam de circular por aquelas terras, sobre o ajuntamento dos povos das terras nulas em busca de vingança e tentativa de impedir o cumprimento da profecia. A esperança era vívida nos corações convictos de cada um deles, e seus olhares demonstravam que estavam todos dispostos a se sacrificar para morrer tentando mudar o destino do mundo.

— E então, Kelvisk? Pode começar a nos contar tudo que você fez, desde o início. Queremos saber tudo! — Thalassa diz, ainda mastigando o frango assado.

— Tudo? Sério… mas são muitas coisas. — Kelvisk fala, tomando mais algumas colheres de sopa de legumes.

— Pois eu também quero saber, Kelvisk! Fiquei muito intrigado nas poucas vezes que conversei com você rapidamente. Quero uma explicação de tudo… — Vilkus reclama, terminando de comer.

— Está bem… tudo começou a mudar quando a Rusalka me levou até o templo. Lá, ela me obrigava com palavras a reviver a realeza e cumprir a profecia de todo jeito, mas… fiquei um tempo parado no centro do templo, tentando pensar em alguma coisa que eu pudesse fazer — diz, tomando um gole de vinho.

— Deve ter sido muito difícil você suportar tudo aquilo sozinho. Depois que você falou tudo aquilo para a gente, eu não conseguia tirar as suas palavras da minha cabeça… — Halayna conta, triste.

— Mas foi devido a você, Halayna, que consegui fazer a diferença… naquele calor do momento, tive minha última visão do futuro. Nela, eu via a mim mesmo removendo a espada do centro do templo e despertando a realeza, e em seguida os discípulos de Coldbreath despertavam juntos. — Conta o portador da lâmina de Coldbreath.

— Espera… se você teve essa visão, mas reviveu o Edward, então significa que você conseguiu impedir a profecia! — Thalassa exclama, agitada.

— Calma… logo de início eu também pensei o mesmo, após lembrar das palavras de Halayna sobre fazer o que o espírito da luz faria no meu lugar. Foi então que decidi reviver Edward, para contrariar a visão. Eu não sabia o que ia causar fazendo isso, mas estava disposto a enfrentar meu próprio destino que escolhi.

— Eu sabia que você ia dar um jeito — Halayna diz, sorrindo.

— Depois que despertei o Edward, conversamos um pouco e ele me pediu para reviver a esposa dele, que, a propósito, estava na Floresta Lamentação, na posse dos minotauros. Depois partimos com os minotauros para as terras dos orcs para libertar Estêvão. Foi então que, durante essa viagem, Edward me alertou sobre a posse das relíquias, que eu não deveria deixar Arkadius pegar todas, senão poderia perder a espada facilmente para ele.

— E o que você fez? — Nerissa pergunta.

— No mesmo instante, lembrei das palavras das mulheres dominadoras, dizendo que Hannibal havia removido os poderes delas e dos outros. Foi aí que, de repente, me veio a ideia de, talvez, cravar a lâmina de Coldbreath no centro do templo e ver se eu poderia me comunicar com os outros espíritos elementais…

— E você conseguiu, não foi? Não só se comunicou como os libertou da prisão — Halayna diz, sorrindo.

— Sim, Halayna. Foi aí que, conversando com eles, perguntei se seria possível criar outras relíquias iguais à do Coldbreath, assim poderíamos usá-las para alguma coisa importante, que pudesse nos ajudar de alguma maneira no final de tudo. — Kelvisk continua falando, bebendo mais vinho.

— Onde você conseguiu os cristais para criá-las? — Thalassa pergunta, curiosa.

— Eu também queria saber — diz Halayna, intrigada.

— Eu havia guardado numa caixa, aquela que você encontrou uma vez na minha mochila, Halayna. Lembra? Que eu te peguei no ato, bisbilhotando.

— Ah, tá. Lembro desse dia. — diz, gargalhando, se lembrando dos bons momentos.

— Pensei que tivesse roubado de algum morador das terras nulas, ou você roubou? — Thalassa pergunta, ainda curiosa.

— Não, não roubei. Encontrei todas elas guardadas numa caverna na gigantesca montanha dos elfos negros. Eram as únicas que encontrei. Fiquei até feliz e intrigado por ser uma de cada elemento, mas apenas peguei e as guardei.

— Por qual motivo você estava atrás dos cristais? — Vilkus questionou, curioso.

— Quando eu tinha vinte e cinco anos, percebi que não poderia impedir a profecia e que também não conseguiria encontrar as relíquias de Coldbreath. Já que nenhum de vocês havia entrado em contato comigo ainda, pensei em tentar criar novas relíquias. Foi por isso que fui em busca de encontrar os cristais, pesquisei sobre eles em alguns livros e procurei bastante. Até que, estudando na biblioteca élfica, descobri que eles existiam naquela grande montanha, então fui procurar e achei.

— Mas você não conseguiu, não é? Se não, não teria pedido ajuda dos espíritos. — Vilkus fala, bastante tenso.

— Correto, eu tentei criar as relíquias, mas nunca consegui. Tentei por um bom tempo até que desisti depois de dois anos. Foi então que decidi viver uma vida livre de qualquer objetivo, até que encontrei você, Vilkus. E te salvei daquela morte certa. Aí tudo mudou desde aquele dia, e quando salvamos a Halayna, eu tinha certeza que tinha que enfrentar o meu destino.

— Obrigado por isso, meu amigo. Lembro cada palavra que disse na prisão vulcânica, jamais esquecerei cada uma delas. Muito obrigado por me salvar duas vezes. Você carregou um fardo muito grande nas costas sozinho, vou te acompanhar para sempre em nossa jornada! — Vilkus conta, com os olhos lacrimejando.

— Também quero agradecer aos dois por terem me salvado. Não sei o que teria sido de mim naquele dia. Provavelmente não estaria viva aqui hoje. — Halayna diz, contente e agradecida.

Dando gargalhadas, Kelvisk diz:

— Duvido que você teria falecido, Halayna. Você era a portadora do cajado de Sarah, não seria derrotada facilmente nem se quisesse! — Todos riem ao mesmo tempo.

— Sei disso, mas achei fofo o gesto de vocês dois me salvando, mesmo sabendo que poderia resolver sozinha… mas vocês não sabiam disso, não é? — Halayna tenta disfarçar seu sorriso.

— EI! Será que podem parar de rir e voltar ao assunto da conversa? Quero saber mais detalhes de tudo que ocorreu… — Sanja fala aos gritos para todos.

— Calma, minha senhora! Estamos festejando os bons momentos, não é, gente?! — Vilkus fala, todo animado e feliz.

— Voltando ao assunto… depois que os espíritos disseram que poderiam criar as novas relíquias, eu fiz o processo. Foi quando os espíritos ficaram sabendo de tudo que se passou na minha mente, e, sabendo disso, eles conversaram entre si para montar um plano que quebrasse a profecia. Em tese, a profecia já havia começado a ser quebrada a partir do momento que revivi Edward, então só precisava continuar, mas precisava de algo mais a ser feito…

— E o quê era? — Sanja perguntou, com raiva.

— Matar todos os discípulos usando as relíquias! — Kelvisk diz, olhando fixa e seriamente para Sanja.

— Por isso você matou o Edward! Você me manipulou, seu traste! Eu te mato! — Sanja lança uma onda de energia pela cabeça, lançando todos os pratos de comida longe para fora da mesa.

— Sanja! SE ACALME! — Kelvisk fala, colocando a mão no chão e criando uma barreira de magia, como um escudo mágico invisível.

— Devolve os meus poderes, Kelvisk! Você não sabe do que sou capaz! Tira essa barreira agora!

— Você ficará aí até se acalmar por completo. Caso não, ficará sem comida por um bom tempo! — Vilkus diz, com autoridade.

— E agora, Kelvisk, o que faremos com ela? — Halayna pergunta, chateada.

— Conheço ela um pouco. Depois de algumas horas, ela se acalma. Vamos aguardar.

— Está bem…

E foi assim o grande reencontro entre amigos e companheiros de viagem, um dia que ficará marcado nos corações desses bravos aventureiros destemidos. O que lhes aguardava ainda, apenas o destino saberia.