O começo da tardãzinha era muito chamativo pelo vento suave que corria pelas peles dos dois homens aliados. Os dois haviam acabado de chegar por meio de um portal mágico, criado por Arkadius com um cajado que ele comprou. Essa ocasião da compra ocorreu na primeira cidade que ele chegou, após ter sido liberto da prisão dos orcs. Foi através dele que ele e os minotauros chegaram tão rápido ao templo do espírito da planta.
Como ele ainda não havia conseguido o ápice do controle de seus poderes, ele só podia criar um portal por mês. Mas, agora que havia obtido o controle, ele poderia criar quantos desejasse.
Arkadius era um homem perigoso, traiçoeiro e muito esperto; inteligência não lhe faltava. Não foi à toa que seus planos ousados para conquistar o trono dos impérios foram elaborados. Mas lhe faltava ter mais paciência e cautela, algo que ele estava começando a aprender na prática neste exato momento. Kelvisk apenas ficava de olhos bem atentos em relação a ele, sabia que a qualquer momento ele poderia quebrar a aliança e tomar alguma decisão inesperada. Agora, quando ele iria fazer isso é o que preocupava o portador da lâmina de Coldbreath.
— Nossa, rapazes, vocês demoraram, hein! — Sanja diz, levantando-se da cadeira que estava nos fundos da taverna.
— Foi preciso ficarmos dois dias seguidos até o Arkadius conseguir o controle; demorou mais do que o esperado, mas ele conseguiu. — Kelvisk fala, pedindo uma caneca de vinho.
— Pessoal?! Sente-se aqui na mesa, precisamos conversar sobre alguns assuntos! — Estêvão ordena, puxando as cadeiras para os dois rapazes se sentarem.
— Então… Sanja? Conseguiu o colar? — Kelvisk pergunta, sentando-se.
— Mas é claro que sim, eu disse que o Goldon me entregaria se eu pedisse. Mas, infelizmente, aconteceu uma tragédia… — Sanja faz uma careta de choro e derrama uma lágrima forçada.
— O que aconteceu? — Arkadius pergunta, curioso.
— A esposa do velho matou ele por traí-la na frente dela e colocar os filhos contra ela. A gente apenas aproveitou a luta e fugimos de lá; não queríamos ter que enfrentar uma maga poderosa sozinhos. — Estêvão diz, pegando a caneca e tomando um gole.
— Foi bom não terem intervindo na briga; o importante é manter as relíquias fora do alcance deles. Agora falta pegar o cajado. Já pensaram como vamos invadir o castelo élfico? — questiona o usuário da lâmina de Coldbreath.
— Humpf… Não seja tão duro, meu lindo Kelvisk. Não percebeu que não foi preciso usar a força para conseguir o colar? Façamos o mesmo com o cajado. — Sanja diz, passando os dedos nos lábios e colocando-os na boca, olhando para Kelvisk.
— O que sugere? Você conhecia o Goldon, isso que ajudou você, mas não temos nenhum contato com a realeza élfica. Tenho um acordo com os dois filhos do Tauron, mas não sei se ele continua de pé, pois faz muito tempo que deveria tê-lo concluído, e o contrato era entregar muito ouro em troca do cargo de conselheiro do Tauron. — Kelvisk conta, desanimado.
Dando gargalhadas altas, Sanja diz:
— Meu querido lindo, se o problema é ouro, não se preocupe mais com isso. No meu século de reinado, o que mais juntei durante o meu governo foi ouro! — Sanja diz, com os olhos brilhando.
— É verdade, minha mãe é louca por ouro, mas… mãe? Acha que o ouro continua guardado onde a senhora o deixou? Faz muitos séculos que fizemos isso… — Estêvão pergunta, intrigado.
— Meu filho querido, você acha que alguém ousaria roubar o meu ouro precioso? Vamos até as cidades pesqueiras; lá é onde ficam as gangues de magia, e creio que o comando da bruxaria permanece o mesmo desde os primeiros séculos estabelecidos… — Sanja conta, levantando-se da cadeira. — Arkadius? Meu lindo, crie um portal para as terras dos orcs; de lá poderemos seguir para as cidades pesqueiras. Será uma viagem longa a pé, mas… não custa nada em compensação ao ouro que teremos em nossas mãos.
— Hum… caso não saiba, eu já visitei todos os lugares nas terras de Lunizs. Posso criar um portal direto até essa cidade, minha senhorita! — Arkadius diz, olhando maliciosamente para a mulher de beleza admirável.
— Kelvisk?! Acho que ainda não lhe agradeci por colocar o senhor Arkadius no nosso grupo; ele será muito útil em nossa missão! Vamos? — Sanja fala, deixando o recinto.
— Ei? Se você olhar para a minha mãe com aquele olhar novamente, pode ter certeza de uma coisa na sua vida, meu caro amigo: eu vou te queimar vivo até a morte! Está avisado… vamos! — Estêvão diz, jogando a sua caneca no chão, todo irritado.
— Não seria bom ter o Estêvão como inimigo; o Hannibal só conseguiu prendê-lo por ter sorte. Não será fácil derrotá-lo se for preciso fazer isso, então não provoque a ira dele, para o nosso bem. — Kelvisk diz, indo até o balcão pagar as bebidas.
— Ele não será meu inimigo, amiguinho… — Arkadius diz, baixinho para si.
Quando todos estavam do lado de fora do estabelecimento, Arkadius criou um portal, o que chamou a atenção de todos os moradores que estavam presentes ali. Todos ficaram surpresos e com raiva devido à ousadia de sobrenaturais colocando os pés sujos nas terras nulas.
Rapidamente, ao atravessar o portal, todos os quatro estavam nas cidades pesqueiras, um lugar sujo e fedorento, mas que tinha seu luxo em determinadas áreas. Ao caminhar pelas ruas com piso de madeira, que estava sobre as águas, eles olhavam todos ao redor, encarando-os friamente pela presença de forasteiros.
Após meia hora caminhando, Sanja e os outros chegaram a uma ampla construção robusta, uma arquitetura linda e invejável de beleza única, um lugar construído especialmente para bruxas.
— Sejam bem-vindos à gangue das bruxas! Vamos entrar… — Sanja diz, correndo para dentro do recinto.
— Calma aí, minha senhora, não pode entrar aqui sem permissão. — Diz um dos dois bruxos que estavam montando guarda.
— Querido… eu não preciso de autorização para entrar no lugar que eu mesma construí. Você não sabe quem sou, não é mesmo? — Sanja fala, ficando nervosa.
— Não sei quem é, e não me interessa saber. Vá embora se não quiser encrenca!
— Caros colegas, se não quiserem ser queimados vivos, acho bom saírem da passagem! — Estêvão fala, ficando todo em chamas.
— Você é Estêvão?! — Diz o mais velho.
— Pelos deuses… vamos embora daqui! — Diz o mais novo.
— Imprestáveis… — Arkadius diz, cuspindo no chão onde eles pisaram.
Depois que Sanja entrou e começou a caminhar por dentro do recinto, vários membros da gangue a reconheceram e ficaram todos surpresos e com muito medo. Durante o tempo que havia passado, muitas coisas haviam mudado, o que apenas iria deixar Sanja muito brava.
— Ei! Você aí?! — Sanja chama aos gritos o homem sentado no trono do grande salão — Cadê o Luke?! Não estou vendo-o aqui, preciso falar algo urgente com ele!
— Luke?! O antigo Luke, líder da gangue dos bruxos? Desculpe, minha senhora, mas ele faleceu faz muito tempo. Poderia me dizer quem é e o que deseja com ele?
— Me chamo Sanja! Sou uma das discípulas do grande Coldbreath. Eu fui revivida por este esbelto homem de cabelos brancos, como pode ver. E vim atrás do meu ouro…
— Ouro? O único ouro que restou aqui sou eu, minha linda dama. Depois que a Sarah assumiu o trono, o imposto dos bruxos aumentou muito; era o mais alto da época. Ficamos sem recursos muito rápido. O pouco que sobrou tivemos que negociar com alguns acordos comerciais.
— O MEU OURO FOI GASTO COM IMPOSTO?!
— Acho bom fecharem os olhos, rapazes; a coisa vai ficar feia. — Estêvão diz, recuando alguns passos para trás até a entrada do salão.
Após destruir todo o grande salão, os quatro saíram da esbelta estrutura de enormes colunas lapidadas, bufando de raiva e ódio. Sanja tenta recuperar o fôlego que gastou derrubando os imprestáveis bruxos da gangue.
— E agora? — Arkadius indaga, intrigado.
— Acho que vamos ter que usar a força bruta mesmo, vamos? Pode criar o portal, Arkadius — Kelvisk ordena, chateado.
— Calma, meninos, eu não queria ter que recorrer a isso, mas… vamos até as terras dos outros reinos, aquelas que ficam a oeste daqui. — Sanja diz, ficando mais calma, mas ainda muito brava.
— O que vamos fazer lá? — Kelvisk questiona, confuso.
— Vamos pegar o meu ouro… — diz, chateada.
— Que ouro? O seu ouro não estava aqui? — Arkadius pergunta, confuso.
— Querido, eu tenho o meu próprio ouro que guardei durante o meu reinado. Acha que seria tão burra a ponto de deixar o meu precioso ouro pessoal nas mãos do fracassado Luke?!
— Mas se você tem ouro guardado nesses outros reinos, por que não fomos direto até ele, em vez de ter vindo até esse longínquo lugar sujo e nojento? — Arkadius indaga, com uma expressão de surpresa e raiva.
— Você é um idiota mesmo, não é? Acha que minha mãe iria gastar o ouro dela em vez do ouro da gangue? Imbecil, faça logo esse portal e vamos embora daqui! — Estêvão diz, todo embravecido.
— Arkadius? Retiro as palavras que disse ao querido Kelvisk sobre você; você não passa de apenas um imprestável louco da cabeça. Imagina… gastar a minha preciosa riqueza em vez do ouro da gangue, francamente!
— Arkadius, pode criar o portal. Acho que você já passou pelos outros reinos, não? — Kelvisk pergunta, abismado com o que acabara de ouvir.
— Sim, eu conheço essas terras. Um momento… — Arkadius então soca a ponta do cajado sobre o chão e um portal é criado diante deles, surgindo uma imagem do lugar que Arkadius havia visitado. Os quatro então passam pelo portal e chegam nas outras terras. O que os aguardava, apenas o destino sabia.