Depois que Kolizeu dormiu por horas, acordou com muita fome e podia jurar que comeria qualquer coisa naquele momento, mesmo que fosse peixe, algo que ela tinha tomado nojo de tanto fedor que se impregnara em suas roupas. Mas, se a situação requeresse isso, ela comeria.
Twoguns a visitou em seu quarto várias vezes para ver se ela já tinha despertado. Estava ansioso para entregar algo a ela. Talvez nunca tivesse ficado nesse estado emocional tão aflito por causa de uma mulher antes; realmente, Kolizeu tinha uma aura que deixava os homens loucos.
Ou talvez fosse apenas a sua presença única. A forma como ela se comportava na frente das pessoas demonstrava que tinha elegância e que realmente fazia parte da mais alta realeza. Ninguém duvidou quando disseram que ela era uma imperatriz. Todos que a compraram acreditaram e sabiam que podiam lucrar muito bem por meio dela.
Kolizeu sempre soube que as pessoas a temiam, fossem por motivos legais ou egoístas. Ela sabia que as pessoas podiam sentir inveja dela; Harley não gostava de mulheres como ela. Provavelmente, iria acontecer algum conflito entre as duas, simplesmente por Kolizeu ser ela mesma.
Não demorou muito e Kolizeu se vestiu adequadamente para se encontrar com Twoguns, para jantar ao seu lado. Estava deslumbrante como na primeira vez que se vestiu na presença do jovem imperador. Agora estava um pouco ansiosa para saber que coisa ele teria para lhe entregar.
— Boa noite, bela Kolizeu. Sente-se, vou mandar que sirvam a refeição. Temos tudo de melhor que a nossa terra pode oferecer, então aproveite bem cada prato.
— Obrigada, a mesa está mais farta que no Reino do Vento. Parabéns, se queria me impressionar, conseguiu — ela fala com um leve sorriso no rosto. Fazia muito tempo que não era tratada com o devido respeito que merecia.
Depois de longos minutos de jantar, os dois acabaram, até que Harley, irmã de Twoguns, chegou ao salão e questionou a presença de Kolizeu.
Ele havia dito que ela era aquela jovem mulher que tinha ouvido falar a respeito da nação do vento e que estava prestes a lhe entregar algo muito importante. Então, se levantaram e foram para o palácio onde ficava o trono, e poderiam conversar mais confortavelmente sobre a situação que iria mudar naquele momento.
Assim que Twoguns se sentou no trono e Harley ao seu lado, Kolizeu foi chamada por ele para se sentar à sua direita e pediu que entrasse uma pessoa.
— Pelos espíritos, Rei Egobett! Você está vivo? — Kolizeu pergunta, surpresa.
— Imperatriz Kolizeu, como é bom ver um rosto amigo depois de meses sozinho. Como chegou até aqui? — questiona Egobett, surpreso.
— Eu que pergunto ao senhor, como está aqui, vivo? Como sobreviveu àqueles ferimentos graves? Eu vi o senhor morrer.
— Bem, eu estava à beira da morte, mas ainda me restava um pouco de força. Então, quando estava prestes a ser enterrado, meus soldados perceberam que eu ainda estava respirando, então me levaram para uma prisão na cidade leste. Eles cuidaram de mim, mas depois que me recuperei, eles me deixaram aprisionado como punição por atacar o Reino da Terra. Até que, depois que a nação do fogo foi invadida, todos sumiram e me deixaram sozinho. Depois de um tempo, este nobre homem me resgatou e me trouxe para cá.
— Pelos espíritos, estou surpresa que conseguiu sobreviver. Seus filhos ficarão felizes em saber que o senhor está vivo. E, caso não saiba, a nação da Terra não foi destruída graças à intervenção do Rei Redbad — Kolizeu conta, contente.
— Sim, fiquei sabendo que o pior não aconteceu. Pelo menos, talvez os meus filhos possam me perdoar pelo meu ato profano. Estou realmente arrependido.
— Isso é o que importa. Peça perdão e tenho certeza de que eles o perdoarão — Kolizeu fala, feliz pela notícia.
— Bom, parece que podemos continuar a apresentação de prisioneiros, homens?! Tragam o próximo! Você vai gostar desse, Kolizeu — Twoguns fala com um olhar especial para ela.
— Não acredito! Heigor? Então até você conseguiu escapar da morte.
— Saudações, Kolizeu. Estou feliz em poder revê-la em circunstâncias diferentes. Como pode ver, continuo sendo o mesmo de sempre. Mas você é sortuda por ter conseguido escapar da morte iminente.
— Espero que continue preso como está. Você não merece a liberdade! Por favor, Twoguns, tire esse homem da minha frente — Kolizeu fala com raiva de Heigor.
— Terá que esperar um pouco na presença dele. O próximo prisioneiro é o principal da lista. Homens?! Tragam o último! — ordena o imperador com autoridade.
— Pelos espíritos! Raygor?! — Kolizeu se levanta da cadeira, chocada pelo inesperado surgimento daquele que havia sumido, sem deixar rastros do paradeiro.
— Olá, Kolizeu. Prazer em revê-la de novo. Estou feliz em finalmente estar livre das mãos do Heigor. Foi ele que me aprisionou todos esses anos desde que sumi da presença de todos — Raygor diz com tristeza em seu olhar.
— Heigor! Seu traste! Miserável sem compaixão! Você não merece viver, seu imprestável inútil! Como pôde fazer isso com o seu próprio irmão?! — Kolizeu desabafa com lágrimas nos olhos. Aquela era realmente uma situação horrível.
Dando gargalhadas, ele diz:
— Poupe o fôlego das suas palavras, minha querida e bela senhora. Você acha mesmo que me importo com seus xingamentos? Não sinto pena do Raygor nem por um segundo. Ele mereceu ficar longe do trono, nunca me respeitou como deveria, sempre ficava ao lado do Soygor desde pequeno, sempre amiguinhos e parceiros de combate. Quer saber o que eu sentia da relação dos dois? Ódio e rancor! Graças aos deuses, Soygor foi embora e deixou o trono. Só precisava tirar o Raygor de cena para que eu pudesse assumir totalmente o reinado do meu pai! E não me arrependo nem um pouco, faria tudo novamente, e pior!
— Você não presta, Heigor. Você é um monstro de pessoa, nunca deveria ter nascido. Sua existência é uma raiz de maldade que precisa ser arrancada das terras de Lunizs! — Kolizeu diz, cheia de tristeza em seu coração por tamanha falta de amor.
— Bom, acho que basta por hoje. Homens? Retirem o Heigor da nossa presença, coloquem-no de volta na prisão. Senhor Egobett, Raygor? Aproximem-se. — Twoguns ordena com seriedade — saibam que estão livres para retornarem às suas vidas. E Raygor, aproveite a sua tão sonhada liberdade. E Egobett, aproveite a nova vida que o destino lhe concedeu, tente não cometer os mesmos erros.
— Obrigado, grande imperador. Serei eternamente grato pelo que fez por mim. Se não fosse o senhor, com certeza teria morrido de fome naquela cela suja e fedorenta. Mais uma vez, obrigado — Egobett fala com um sorriso de felicidade no rosto.
— Bem, Kolizeu. Quando estiver pronta para retornar à sua casa, pode me falar. O meu navio está ancorado no porto, pronto para zarpar.
— Se não for incômodo, gostaria de ir hoje mesmo. Preciso saber tudo que aconteceu na minha ausência. Foram meses de agonia e sofrimento, mas agora são novos tempos, uma nova oportunidade — Kolizeu fala, mais aliviada da tensão que passou momentos atrás.
Harley apenas assistiu a tudo que se passou à sua frente, estava séria e calada, talvez por ver o seu irmão tão diferente em relação a Kolizeu. Aquilo era estranho para ela; Twoguns era muito próximo dela, e essa atenção que ele estava dando para Kolizeu estava deixando-a com ciúmes. Se tivesse coragem, falaria o que estava pensando a respeito dela, mas não queria tirar o semblante de felicidade dos olhos de seu querido irmão.
Ela tinha motivos de sobra para odiá-la. Nunca pensou que chegaria tão cedo o dia em que seu irmão encontraria sua metade. Ele se esforçou bastante para conquistá-la. Mas Harley provavelmente iria impedir isso de uma forma ou de outra, mesmo que fosse necessário fazê-lo se afastar de Harley por completo. Um mal necessário que ela ousaria optar, caso Kolizeu desse brecha para seu irmão se aproximar.
Alguns minutos se passaram e todos estavam se organizando para viajar. Queriam zarpar ainda naquele dia para as terras dos seis reinos. E, quando menos esperavam, o mestre das trevas chegou ao castelo e pediu uma audiência com o imperador.
— Nossa, mande entrar, por favor.
Assim que o príncipe das trevas adentra a sala do trono, ele vê de longe Kolizeu no vestido vermelho carmesim, com um bordado de costuras perfeitas que apenas mulheres hábeis na profissão conseguiam fabricar. Quando se aproximou, olhou profundamente nos olhos dela, intimidando-a com seu semblante maligno.
Twoguns perguntou o que ele faria a respeito de Heigor, já que tinha lhe dito que queria ele para uma função em sua sociedade que estava construindo. Twoguns não se recusou, claro, não queria que nada de mal acontecesse com Harley. Mas ficou pensando que planos maléficos ele teria planejado em sua mente insana.
Depois de cumprimentar todos, quando foi a vez de Kolizeu, ele a elogiou, segurando sua mão e beijando-a lentamente. Depois, deu uma rápida olhada maliciosa para todo o seu corpo, dos pés à cabeça.
Kolizeu se sentiu constrangida com o ato, mas não quis repudiar na frente de Twoguns. Seria meio que uma ofensa para ele, que a havia tratado tão bem até aquele momento atual.
Ele disse que estava feliz por conhecer a mulher que cuidou de Raygor todos esses anos na prisão, chamada Sarah. Ela era jovem e muito bonita, uma mulher realmente bela e de aparência atraente. A partir daquele dia, ela seria conselheira pessoal de Raygor, pois ele pretendia, assim que chegasse em casa, retomar a sua posição de direito no trono da nação do vento. Mal esperava por esse dia.
Enquanto tudo isso acontecia nas terras ao leste, as terras dos seis reinos estavam alvoroçadas com a preparação da retomada do Reino do Trovão. Todos os cinco dirigíveis bélicos estavam consertados e prontos para serem usados. Seria uma conquista complicada, mas certa da vitória.