Era noite quando os vikings colocaram os pés nas terras do Reino da Planta, esperando encontrar as crianças, mas, felizmente, elas não estavam presentes. Àquela altura, todas estavam salvas nos territórios dos elfos, totalmente protegidas e longe de qualquer perigo.
Mas Hannibal não era nenhum besta. Assim que chegou, ele enviou homens para se informar com cidadãos ali próximos sobre por qual caminho várias crianças teriam seguido, e não demorou muito para que a informação chegasse aos ouvidos do grande líder.
— Entraram na Floresta Escura?! Claramente, eles não são idiotas. Mesmo sabendo que podem se perder ali dentro, também sabem que é um ótimo lugar para se esconder.
— Vamos segui-los, senhor? — Veltis pergunta, intrigado com o lugar. Ele tinha receio de se perder naquela floresta e nunca mais conseguir sair de dentro dela; não apenas ele, mas outros também tinham o mesmo pensamento.
— Mas é claro que sim! Agora somos uma nova criatura com poderes a nosso favor. Temos um faro bem aguçado e podemos rastrear nossa presa facilmente.
Ele estava falando a verdade. Tornar-se um lobisomem lhes deu uma capacidade sem igual para usar a seu favor contra seus inimigos. Agora podiam encontrar quem quer que fosse dentro da floresta e, em pouco tempo, conseguiriam chegar até o alvo escolhido, sem problemas.
Sabendo disso, Hannibal separou alguns dos seus melhores guerreiros e enviou-os para averiguar os arredores da floresta. Caso encontrassem alguma fonte de água, deveriam vir correndo para lhes informar sobre o local encontrado.
Tenglu, pai de Vataipa e Násvita, estava decepcionado com seus dois filhos. Não conseguia entender por qual motivo os teriam traído daquela maneira. Queria ter ao menos a oportunidade de poder falar com eles antes que Hannibal os matasse sem piedade quando colocasse suas mãos neles.
Enquanto isso acontecia entre os vikings, ali perto estava a realeza reunida, e alguns deles treinavam arduamente sem parar na tentativa de descobrir se tinham poderes iguais a Kira.
Mas Durmog estava se ajeitando para viajar. Perguntaram a ele se não iria treinar igual aos outros, mas ele respondeu que não tinha tempo a perder com algo que poderia descobrir a qualquer momento. Então, iria partir para as terras inexploradas ao noroeste do Reino da Planta.
Eram terras que ninguém jamais conseguiu explorar, muito menos colocar os pés. Mas agora que ele tinha um bélico a seu favor, podia chegar naquele lugar sem problema algum, ao lado de sua amada Persephone, que estava animada para tal viagem marcante na história das dinastias.
Partindo sem demora, o vento estava calmo e havia no ar uma brisa suave e leve que deixava a viagem mais tranquila e relaxante. Tinham certeza de que chegariam em pouco tempo a terras novas, sem ter a certeza se realmente havia terras por aqueles lados, já que ninguém havia conseguido passar por aquelas águas turbulentas.
Havia um costume entre o povo viking relacionado àquele lugar a noroeste dali, na verdade, um ritual por parte da liderança, que era feito entre eles. Uma entrega das mulheres que não conseguiam engravidar, jogadas dentro de um pequeno barco ao mar para serem levadas pelas correntezas, tendo assim uma morte solitária dentro do oceano impetuoso.
Mas esse ritual foi abolido por Hannibal. Na sua visão, não havia necessidade de se desfazer de mulheres por conta de filhos. Se elas não podiam servir para essa função, poderiam muito bem servir para outras coisas mais íntimas.
Se passaram algumas horas desde que Durmog partiu, e quando começou a pensar que talvez não existissem terras, um dos soldados avistou uma praia ao longe. Mal dava para enxergar por causa da névoa que existia, mas, certificando-se direito, eles foram em direção a ela para desembarcarem ali e poderem explorar o lugar.
Foi assustadora a viagem até essas novas terras. Durante o tempo que ficou nas alturas, ele só podia ver o vento forte embaixo e as fortes ondas e redemoinhos que existiam nas águas. Agora ele tinha certeza de que era impossível alguém sobreviver àquilo tudo.
Colocando os pés no chão, ele pegou um dos cavalos que trouxe já para essa ocasião e foi, ao lado de Persephone e com alguns homens, averiguar o lugar, que tinha uma beleza inexplicável. A terra tinha um cheiro agradável que exalava e entrava pelos narizes, e a água também exalava um aroma doce, apesar de ser salgada. Realmente era algo estranho e novo para nossos aventureiros e desbravadores.
Com alguns minutos passados, eles já haviam cavalgado bastante, admirando cada vez mais a beleza local, até que começaram a ouvir um estrondo vindo ao longe e pararam para prestar mais atenção no som. Quando ouviram mais atentamente, pensaram ser um exército de cavalos correndo em sua direção e, com medo, saíram correndo também de volta ao bélico.
Mas, quando iam adiante, foram cercados por vários cavalos, que estavam sendo montados por mulheres com o rosto pintado, segurando arcos armados apontados para Durmog e Persephone, com seus homens. E o mais espantoso é que todos os cavalos tinham um par de asas em suas costas e todos eram de cor branca, realmente uma nova criatura.
— Quem são vocês?! E como chegaram até aqui com esses cavalos? — Perguntou uma das mulheres mais velhas do grupo, olhando fixamente para Persephone.
— Somos do Reino do Vento! Chegamos até aqui em uma das nossas máquinas voadoras, chamadas dirigível-bélico — Durmog conta com um tom agressivo em suas palavras.
— Mãe? Uma máquina voadora, isso é possível? — Questiona uma bela jovem de aparência arrebatadora. Durmog não tirava os olhos dela; na verdade, todas as mulheres estavam nuas, apenas usavam alguns objetos no pescoço e folhas nos ombros e na cintura, uma marca da sua tribo.
— Durmog? Fecha os olhos e não olhe, deixa que eu resolvo com elas — Persephone diz, ficando irritada.
— Desculpe, mas você não pode me impedir de admirar tanta beleza natural — ele diz, sorrindo baixo.
— Durmog! Não falo com você até chegarmos em casa, entendeu?! — Ela fala, ordenando ao cavalo que ande até a mulher mais velha — Chamo-me Persephone, sou uma das três imperatrizes do Reino do Vento. Peço desculpas por invadir suas terras sem permissão. Meu marido e eu decidimos vir nessa direção para descobrir se existiam realmente terras boas nesse lugar, ou até seres vivos. Não temos a intenção de machucá-los, muito menos roubar alguma coisa de vocês. Dou a minha palavra!
— Mesmo que seja verdade, agora vocês já sabem que aqui existe vida em boas terras. Não adianta quais sejam suas intenções, não poderão mais deixar essas terras; ficarão presos aqui para sempre! — Diz a mulher mais velha, com autoridade.
— Não quero recorrer à força bruta, mas saibam que temos amigos muito fortes, e caso não nos deixem voltar para nossa casa, nossos amigos virão atrás da gente e trarão um exército para nos vingar!
— Mãe? Ela fala a verdade. Podemos tentar resolver de outra forma. Eles não me parecem ser pessoas más, tirando aquele jovem que não para de olhar para mim — diz a jovem de beleza estonteante.
— Rapaz, senhor Durmog, que lugar é esse? Parece que morremos e chegamos ao lugar mais incrível que pode existir na vida!
— Parece que as histórias sobre o ritual dos vikings são verdadeiras. Eles só não esperavam que as mulheres sobrevivessem à morte certa. Interessante — Durmog fala para seus soldados.
Depois de alguns minutos de conversa, a mulher mais velha, que também era a líder das mulheres, decidiu receber em seu lar Persephone e seus companheiros para poderem conversar melhor sobre assuntos de interesses mais pessoais, principalmente sobre como o povo viking estava vivendo atualmente.
Com alguns minutos de locomoção, todos chegaram ao lar das mulheres. Elas viviam dentro de uma enorme floresta aberta, com suas casas construídas nas árvores, além de terem ao longe campos de plantações gigantescos com variados tipos de alimentos distintos daquela região. A líder contou que seu alimento mais precioso e mais forte era a macaxeira, que realmente brotava da terra de forma extraordinária, com abundância.
Os cavalos comiam os restos das palhas do trigo que sobravam, além de beberem água dos diversos rios que existiam conectados por dentro da floresta. Inclusive, um deles passava pelo meio das casas, fornecendo o necessário para cozinhar e tomar banho, pois a pequena correnteza fazia com que sempre houvesse água limpa e doce. Realmente era um lugar deslumbrante e ideal para se viver uma vida calma e sossegada.
Já que eram as únicas habitantes ali, não tinham problemas de intrigas e discussões. Podiam viver tranquilamente, sem conflitos. Mas, para o fim da alegria de Durmog, havia também homens vivendo ali, mas eram exclusivos para trabalhar nas plantações e cuidar das casas, com reparos e consertos de armamentos. Já as mulheres cuidavam da caça e treinavam arduamente para manter o lugar protegido contra bestas-feras da floresta profunda. Também havia crianças que brincavam por todos os lados e não saíam de perto da líder delas.
— É muito lindo o que fazem aqui. Parece muito com o povo do Reino da Água. Lá, apenas as mulheres cuidam da proteção da nação, e os homens trabalham nos deveres domésticos. Gosto muito desse equilíbrio que existe entre a diferença de habilidades — Persephone conta, toda alegre.
— Nunca imaginei que poderia existir outro lugar em que as mulheres mandam nos homens — fala a líder delas.
— Bem, na verdade, as mulheres não mandam nos homens. A rainha Cristelme apenas decidiu que estava na hora das mulheres também assumirem certas posições que os homens exercem. Não são todas, mas algumas, as mulheres podem aprender a exercer.
Dando gargalhadas, a líder diz:
— Pois aqui a gente manda e desmanda, e ai deles se não obedecerem nossas ordens. Minha jovem, acredite, se deixarmos os homens fazerem o que bem entendem, todas as mulheres sofrerão nas mãos deles. Acredite no que estou dizendo; sei bem como os homens são!
— A propósito, como posso chamá-la? No Reino da Água, o Rei Ociban apenas cuida da administração de estratégias de guerra, já que as mulheres não são muito boas nessa área. São poucas que têm essa habilidade, entende? Mas é um trabalho em conjunto, em que ambos os lados se ajudam.
— Pode me chamar de grande mãe! E somos conhecidas como valquírias, verdadeiras mulheres guerreiras. Não tememos a morte, pois já lutamos com ela face a face e entregamos nossas vidas por nossas irmãs de sangue; talvez você entenda.
— Poderia me contar um pouco mais sobre como vieram parar nessas terras? Ou como esses seus cavalos têm asas? Para nós, é uma nova criatura que jamais vimos, e muito bela, assim por dizer — Persephone pergunta, curiosa.
E foi assim aquela manhã de Durmog e Persephone, um pouco agitada, mas cheia de surpresas inesperadas e coisas novas aos seus olhos, que ficariam registradas para sempre em suas mentes. Realmente, aquele lugar guardava grandes mistérios.