— Agora todos vão pagar muito caro pelo que fizeram comigo. Sentirão na pele como o fogo pode queimar de uma forma horrível — Kira diz, deixando a cela, que estava pegando fogo e se tornando cinzas.
A cela ficava um pouco distante do acampamento viking. Como era um local sujo e deprimente, ninguém queria ficar ali por perto, então montaram as cabanas um pouco distante dali.
Assim que Kira se aproximou de alguns guerreiros, havia ódio em seus olhos, que estavam flamejantes. Logo que eles a avistaram, chamaram a atenção de outros que estavam ali por perto e correram para cercá-la e prendê-la novamente. Quando todos a rodearam, ela sorriu sorrateiramente e olhou para todos, dizendo:
— Hoje é o dia de sorte de vocês. Poderão sentir algo em suas vidas que jamais imaginaram que poderia acontecer. Tomem isso! — Ao dizer essas palavras, Kira abre sua boca e, como um lança-chamas, uma corrente de fogo é desferida em direção aos guerreiros, queimando-os totalmente.
Os gritos de agonia alertaram outros que estavam longe, e correram para descobrir o que estava havendo ali. Quando chegaram, viram apenas todos caídos no chão, ainda em chamas, mas Kira não estava mais presente. Ela sentiu que precisava recuperar o fôlego que havia gastado e não poderia correr o risco de ser morta por tal ação cruel contra os vikings.
— Ainda preciso descobrir direito como usar esse poder de forma correta. Preciso de um lugar para treinar. Vamos ver se eu consigo achar um por aqui por perto — então retornou para a cela e de lá passou adiante para mais longe do acampamento.
Seria mais fácil naquele momento fugir para se preparar melhor. Apesar do novo poder, não seria nada fácil conseguir fugir daquelas terras; eram muitos vikings, e ela estava no centro do território deles.
Depois de alguns minutos, ela retornou ao acampamento atrás de alimento. Precisava não apenas recuperar o espírito abatido, mas também o corpo físico. Com as energias renovadas, ela começou a lutar, fazendo vários movimentos que aprendeu durante sua vida inteira, e, à medida que fazia isso, liberava rajadas de fogo pelas mãos e pelos pés.
Com o tempo, começou a perceber que a energia que liberava pelas mãos e pelos pés não era muito, mas quando fazia com a boca, o desgaste era maior. Então decidiu guardar o sopro do dragão para uma situação de emergência. Com os golpes aperfeiçoados, ela estava pronta, depois de horas testando suas habilidades. Durante esse meio tempo, vieram alguns guerreiros trazer sua comida, mas Kira matou todos eles.
Para os vikings, continuou sendo um mistério o ataque contra os homens que estavam em chamas. Enviaram até um grupo para verificar a Kira depois, mas ela os destruiu facilmente. Depois disso, ela sabia que viriam em grande quantidade, então saiu daquele local e foi caminhando pela estrada, em busca de outro lugar com comida e água, para se refrescar e recarregar as forças.
Demorou mais de uma semana ela viajando pelas terras vikings, até que conseguiu chegar ao porto marítimo, onde estava repleto de guerreiros embarcando suprimentos e algumas riquezas para comercializar com outros povos. Ela se informou com um deles para qual barco iria para as terras dos seis reinos, ameaçando-o a matá-lo com o fogo da sua mão. Ele, com muito medo, contou tudo.
Ao embarcar em um dos navios, ficou mais tranquila em saber que em breve estaria em casa novamente e estava doida para revelar que agora tinha poderes incríveis. Ela ainda não fazia ideia de como isso aconteceu, mas não tinha nenhuma reclamação em relação a isso. Por um lado, ela nunca mais poderia sentir muito ódio, senão, seu poder seria liberado ao máximo e sem controle da sua parte, um sério perigo.
Mas contanto que ninguém a irritasse, tudo ficaria bem. Enquanto ela voltava para as terras dos seis reinos, Kolizeu estava chegando no porto marítimo do Reino do Vento. Assim que os vigilantes avistaram as embarcações de Twoguns, informaram imediatamente ao Imperador Durmog sobre a chegada de forasteiros.
Durmog, surpreso com visitantes inesperados, pegou um dos bélicos e foi ao encontro deles. Assim que chegou perto, usou uma luneta e viu Kolizeu entre os tripulantes, e ficou muito feliz, algo que dificilmente acontecia com ele; digamos que era algo realmente raro de acontecer.
Quando os navios atracaram no porto, Persephone correu e abraçou Kolizeu fortemente, chorando de alegria em revê-la novamente sã e salva. Durmog se aproximou e a primeira coisa que disse para ela foi:
— Você é difícil de morrer, viu? Não esperava que estivesse viva esse tempo todo — disse, dando poucas gargalhadas.
— Durmog! Eu te mato, seu infeliz! Como pôde me deixar para trás?! — Kolizeu diz, empurrando-o com as mãos para trás.
— Não tive culpa. A situação aqui era mais urgente do que você. Tive que escolher, não podia fazer as duas coisas ao mesmo tempo — ele fala com um leve sorriso nos lábios.
— Você não imagina o que tive que passar durante esses meses. Sofri muito nas mãos de homens perversos. Depois conto tudo com mais detalhes. Agora me contem tudo que aconteceu aqui — ela diz, cruzando os braços um no outro — ah, sim. Esse é o Imperador Twoguns, foi ele que me resgatou. Foi graças a ele que consegui chegar aqui.
— Prazer, senhores e senhoritas. É um belo reino que vocês têm. Vim aqui algum tempo atrás, mas estava totalmente abandonado e sem movimento algum.
— Sou o Imperador Durmog, prazer em conhecê-lo. Não sei como aguentou ter a Kolizeu ao seu lado; ela é muito irritante.
— Bem, eu não diria isso dela. Aos meus olhos, é uma mulher maravilhosa — Twoguns conta, olhando para Kolizeu.
"Esse aí já foi enfeitiçado por ela, coitado..."
— Koli! Minha amiga! — Yuki fala, correndo para abraçar Kolizeu.
— Agora sabemos que a Kolizeu é dura de morrer — Konnix conta, dando algumas gargalhadas.
— Senti a sua falta também, Konnix. É bom te ver — Kolizeu diz, abraçando-o.
Depois de todos se cumprimentarem, houve um almoço em família e os outros cinco reinos foram avisados da chegada dela. Estavam felizes por tê-la de volta e ainda mais por não ser mais preciso uma busca por ela, pois seria algo extremamente difícil e trabalhoso.
Com o fim do almoço, tinha se passado tempo suficiente para que Raygor tomasse a decisão de aparecer novamente na frente dos outros. Fazia tanto tempo que ele não via ninguém que mal fazia ideia de como se comportar na frente deles outra vez. Kolizeu foi até ele e perguntou se estava preparado, e ele disse que sim. Então, caminharam até o palácio e, quando todos os outros o viram, ficaram de boca aberta, sem acreditar no que seus olhos estavam vendo.
Ninguém ali estava esperando por isso, muito menos fazia ideia do que tinha acontecido com Raygor. Quando ele contou tudo enquanto estava comendo, Yuki chorou, derramando muitas lágrimas dos olhos, e Persephone ficou muito triste.
Todos o abraçaram e lhe disseram palavras de conforto, e que agora em diante ficariam juntos para sempre, que ninguém mais seria afastado um do outro. Depois da conversa, Twoguns e Raygor se informaram sobre tudo que tinha acontecido e estava acontecendo nas terras dos seis reinos.
Os dois ficaram surpresos com as informações, uma mais inusitada do que a outra, e eventos únicos que jamais haviam acontecido por aquelas terras. A união dos vikings com o seu inimigo, os bárbaros; a amizade com os mercenários e assassinos; a união dos elfos com os homens novamente; a descoberta de criaturas que estavam extintas, através de rumores; entre outras coisas que ocorreram.
Mas a pior de todas elas ainda não havia chegado aos seus ouvidos, que estava na boca de Kira, para revelar o que ela tinha visto nas terras sombrias, algo que iria mudar completamente a visão que tinham sobre o mundo inteiro, uma notícia que deixaria os marcados para sempre, assim como Kira ficou.
— Não acredito, casa! — Logo que o navio desembarcou nas terras da nação do fogo, Kira não perdeu tempo e pegou um cavalo que estava ali próximo, saindo em disparada em direção ao castelo para contar tudo que havia acontecido com ela e as coisas que tinha visto. Todos ficariam de boca aberta.
Quem estava também chegando em breve era Raina e Redbad, ao lado de Soygor. Seria um encontro daqueles com a realeza; ninguém esperaria por isso, uma revelação desse tamanho e ainda mais reforços para ajudar no combate contra os inimigos.
As realezas estavam com a vantagem em relação à quantidade de exércitos que tinham à sua disposição. Dificilmente ou impossivelmente algum exército conseguiria derrotá-los. A força que poderiam unir com cada exército os deixaria extremamente poderosos, ao ponto de que, se eles quisessem, poderiam dominar o mundo inteiro. E é esse o objetivo do espírito das trevas. Quando essa grande informação chegar ao seu conhecimento, ele fará de tudo para ter esse enorme exército em seu poder. As realezas com certeza teriam que se preocupar com isso, pois era apenas questão de tempo para a notícia se espalhar.
— Não posso acreditar, Don! O papai está vivo! Como isso está acontecendo?! — Erita questiona, cheia de alegria nos olhos.
— Eu não sei. Tínhamos certeza de que ele morreu. Como sobreviveu é um mistério — ao dizer isso, Kira invade o palácio real, dando um chute nos portões e gritando:
— Eu voltei! — Ela fala aos gritos.
— Kira?! — Pergunta Don, assustado.
— Kira! Pelos espíritos, é você! — Erita diz, correndo para abraçá-la — como você está? Nossa, você está muito quente. Está com febre?
— Não, não estou. Tenho muita coisa para contar a vocês, mas agora preciso de um longo banho e da melhor refeição que a nossa casa possa oferecer, por favor — ela pediu com um jeitinho meigo em suas palavras.
Esse era um reencontro feliz e acolhedor, mas ninguém fazia ideia do que estava acontecendo nas terras vikings. Hannibal havia recebido uma visita totalmente inesperada, uma pessoa que o deixou com os nervos à flor da pele, de raiva e ódio por todo o seu sangue. Násvita não podia acreditar no que seus olhos estavam contemplando naquele momento, e Vataipa puxou sua espada para matá-lo ali mesmo. Os outros também se prepararam para matá-lo. Mas Hannibal pediu que aguardassem as ordens dele, pois dali aquela pessoa não iria sair.
— Como pôde ter coragem e a cara de pau de ter vindo até aqui pisar em nossas terras, Heigor? — pergunta Hannibal, segurando sua espada com força.
Dando gargalhadas altas, Heigor diz:
— Primeiramente, quero pedir desculpas pelo modo como tratei você, meu caro amigo. Não deveria tê-lo traído daquela maneira horrível.
— Nós não somos amigos! E suas desculpas não adiantam mais. Consegui, sem você, conquistar muito mais do que pensei em toda a minha vida. Somos o povo mais rico de todas as terras do oeste — Hannibal conta, com um prazer enorme em seu semblante.
— Fiquei sabendo da sua proeza em saquear os seis reinos, sem ao menos perder sequer um dos seus homens. Mas, se eu fosse você, não ficaria satisfeito apenas com isso. Você pode conquistar muito mais além do que pode imaginar, e por isso estou aqui, para dizer o que você deve fazer a partir de agora.
Todos riem.
— Você? Nos dizer o que fazer? Só se for em sonhos, Heigor. Você não sairá vivo daqui. Foi seu maior erro ter vindo até nós. Morrerá da forma mais cruel que pode existir em todo o mundo: águia de sangue!
Todos gritam e festejam a ideia de Hannibal. A águia de sangue era um processo de extrema dor e sofrimento do corpo, onde as costas eram cortadas ao meio e a pele era puxada para os lados, ficando em uma posição como se fossem asas. Uma agonia sem igual. Esse método de crueldade foi abolido por Hannibal desde o momento em que ele assumiu a liderança dos vikings, assim como também outras práticas de maldade que seu povo praticava.
Diferente dos vikings, existiam os bárbaros, que eram muito mais cruéis que eles, pois matavam velhos, mulheres e crianças sem um pingo de emoção. Por isso, eram uma atitude abominável aos olhos de todos os povos. Por esse motivo, eles eram um dos maiores inimigos dos vikings, tirando as terras dos seis reinos.
Sorrindo sarcasticamente, Heigor fala:
— Antes que me mate, tenho algo para contar. Aconteceu uma coisa comigo depois que fui solto da prisão, algo realmente incrível e que eu jamais imaginei que poderia existir na vida real. Então, pensei como poderia usar isso a meu favor. Vim até aqui dizer a minha nova proposta — ao falar isso, Heigor começa a se contorcer por inteiro, dos pés à cabeça, e seus ossos começam a se movimentar por todo o corpo. Todos ficam abismados com a situação e seguram mais forte suas espadas, com medo do que seus olhos estavam vendo acontecer naquele instante. Heigor havia se transformado em uma criatura horripilante.
— Mas o que é você?! — Hannibal pergunta, extremamente assustado.
— Eu sou um lycan! O primeiro da minha espécie, e posso transformar todos vocês iguais a mim. Juntos, poderemos criar o exército mais poderoso que essas terras já viram. Ninguém poderá nos deter, conquistaremos tudo que quisermos e seremos os donos do mundo — diz, gargalhando.
— Humpf... eu aceito a sua proposta.
Todos aceitaram a ideia de se tornarem uma nova criatura, mais forte e mais poderosa que qualquer outra. Menos Mentilí, Vataipa, Násvita e Ginifu. Eles não podiam aceitar a ideia de Hannibal concordar em transformar as crianças em lobisomens, o nome que Hannibal deu para o que eles se tornaram. Além de ser um processo doloroso até a transição ser completada, havia a questão de que eles nunca mais poderiam se tornar humanos.
— O que vamos fazer a respeito disso, Násvita? Não podemos ficar parados vendo o Hannibal fazer essa maluquice — Vataipa pergunta, com medo.
— Verdade, minha filha, precisamos fazer algo para salvar as crianças! — Mentilí fala, com medo dos pequenos.
— Eu tive uma ideia meio maluca também, mas não sei se pode dar certo — ela diz, mordendo os lábios e pensativa.
— O que é, amiga? — Ginifu pergunta.
— Poderíamos pedir ajuda aos seis reinos. Sei lá, pedir para eles levarem as crianças para onde estavam durante o nosso roubo. Elas estariam seguras lá.
— Você perdeu a cabeça de vez mesmo. Com nossos inimigos? Se a gente coloca os nossos pés lá, é a nossa morte certa! — Vataipa diz, odiando a ideia.
— Não sei, Vataipa, acho que seria a única saída para as crianças. Temos que pensar nelas acima de tudo. O que você acha, mãe Mentilí? — Ginifu questiona.
— A Násvita está certa. Se ela acredita que pode dar certo, salvem nossas crianças!
— Obrigada, mãe Mentilí! — Násvita agradece, abraçando-a.
— Então vamos logo, antes que o Hannibal perceba a nossa intenção — Ginifu diz, desesperada.
— Eu vou ficar para dar cobertura a todos vocês. Vou mantê-lo ocupado o tempo que conseguir. Agora vão, levem todos com vocês — Mentilí fala, dando ordens.
— Vamos, Vataipa! Anda! — Násvita diz, puxando-o pelo braço.
— Espero que saiba onde está se metendo. Se eles não aceitarem a sua ideia, vamos todos morrer — com um semblante temeroso, Vataipa deixa a tenda.
Násvita tinha apenas uma coisa em mente: tinha certeza de que o pessoal das terras dos seis reinos não seria capaz de matar crianças. Então, ela estava se apegando a isso, apesar dos conflitos e questionamentos que existiam entre os dois povos. Eles poderiam deixá-los de lado por uma causa maior. Mas seria uma união bem ousada, mais uma coisa inusitada acontecendo nas histórias das dinastias.