Era noite quando o rei acordou seu filho para levá-lo até o cristal das trevas, dizendo que estava na hora de ele conhecer seu destino e começar a mudar o mundo de acordo com sua vontade.
O filho do rei tinha a aparência de trinta anos e, apesar de sua beleza admirável, não tinha exatamente essa idade. Por algum motivo, ele ficou meio acuado em relação ao cristal, mas esperou tanto por esse dia que não iria perder a chance que havia surgido.
Seu amigo de infância também havia chegado ao templo do espírito das trevas e estava animado para conhecer o poder que o cristal liberaria assim que fosse tocado pelo seu amigo, filho do rei.
Assim que o homem segurou o cristal, ele brilhou mais intensamente e várias faíscas começaram a sair de dentro dele, que brilhava cada vez mais. Até que uma intensa luz iluminou todo o ambiente e uma fumaça negra começou a sair através do cristal.
— Minha nossa! O que vai acontecer agora? — Quanto mais o cristal brilhava, mais intensa era a aura de poder que irradiava dele. Depois de alguns segundos, o poder liberado causou uma explosão de energia por todos os lados, derrubando o rei e o amigo do filho no chão. — Uau! Que energia é essa que estou sentindo em todo o meu corpo? Que poder grandioso!
— Minha glória será conhecida por toda Lunizs! Todos saberão quem realmente governa essas terras, jovem príncipe. Sinta-se honrado em conhecer o espírito mais poderoso que já existiu em toda a criação, o espírito das trevas!
— Quem é você? Onde está? Não vejo nada — fala uma voz na mente do príncipe, saindo do cristal das trevas.
— Você me despertou depois de séculos adormecido dentro desse cristal. Agora eu consigo me comunicar com você através dele. Sinta correr pelas suas veias o meu imenso poder!
— Entendi, então você despertou. O que devo fazer agora?
— Há muito o que ser feito para a minha grande ascensão, mas por enquanto, peça ao rei para forjar uma espada única que consiga suportar o poder do cristal. Dessa forma, você conseguirá usufruir do meu enorme poder!
— Certo, entendi.
— Com quem está falando, meu filho? — pergunta o rei, atordoado.
— Com o espírito das trevas. Ele finalmente foi despertado e pediu para o senhor forjar uma espada única que seja capaz de suportar o imenso poder do cristal.
— Ótimo! Vamos obedecê-lo agora mesmo. Venham comigo.
O rei, seu filho e o amigo do príncipe vão em direção a uma escada que leva ao fundo da ravina, nas profundezas dela, onde foi construída uma forja para criar equipamentos.
O espírito das trevas não apenas estava despertado; ele tinha em mente tudo o que pretendia fazer agora que tinha o controle sobre seu poder novamente, mesmo que ainda estivesse aprisionado dentro do cristal.
Mas isso não o impedia de colocar seus planos em ação e começaria forjando uma espada que tivesse a capacidade de liberar seu grandioso poder.
Ninguém estava esperando por isso, a não ser o rei e seu filho, mas o resto do mundo nem fazia ideia do que estava por vir. O reinado do espírito das trevas começaria a ser instaurado nas terras, e ele certamente sabia por onde deveria começar.
Depois de horas forjando a lâmina no fogo, ela estava pronta para se unir ao cristal, que não podia ser destruído, mesmo que fosse jogado dentro da lava do vulcão.
Quando o cristal se encaixou perfeitamente dentro do cabo e se conectou com a lâmina, começou a liberar uma fumaça escura ao redor de toda a espada, e o príncipe podia sentir o poder irradiando através dela.
Ele jamais havia sentido algo tão poderoso e prazeroso ao mesmo tempo. Sentiu-se imbatível com todo aquele poder em sua posse, mal fazia ideia do que seria capaz de fazer agora que tinha tudo isso em suas mãos. Talvez fosse agora indestrutível e invencível.
— Agora que a espada está pronta, posso transformá-lo em algo que sua mente jamais poderia imaginar. Prepare-se para ser preenchido pelo meu poder! — Assim que o espírito das trevas diz isso, um enorme poder começa a ser liberado pela espada e a entrar dentro do príncipe, que começa a gritar de tanta dor.
— AH! EU VOU MORRER! SOCORRO! AH… — grita o príncipe, agoniado.
— Calma, meu filho! Aguente firme, você vai conseguir! — diz o rei, desesperado. Logo em seguida, vários guardas chegam ao local por meio das escadas e ficam espantados com o que seus olhos presenciam.
Depois de alguns minutos, o príncipe cai no chão, totalmente exausto e sem forças para se manter de pé. Ele havia recebido muito poder e seu corpo não estava acostumado com algo novo e tão poderoso, então era preciso passar por uma transformação.
— Levante-se! Agora você é um guerreiro das trevas e deve se comportar como tal. Agora que sua transformação foi finalizada, vem a pior parte: torná-lo imortal!
— Depois de toda aquela dor que senti em todo o meu corpo, ainda vou sentir mais? — indaga o príncipe, com muito medo.
— Dessa vez não será em todo o seu corpo, mas em toda a sua alma. Vou fazer algo que ninguém ousaria fazer em sã consciência. Peça ao rei que lhe entregue os seis cristais elementais que ele mantém guardados em seu cofre real. Vamos precisar de cada um deles!
— Pelos espíritos! Eu com certeza vou morrer dessa vez. Pai? Ele quer agora os seis cristais elementais que o senhor mantém guardados em seu cofre!
— Os cristais?! Mas como ele sabe que eu os tenho guardados? Não contei a ninguém a existência deles.
— Eu não sei, mas por favor, me entregue!
— Está bem, venha comigo.
Deixando o local da forja, eles sobem as escadas e vão em direção ao salão do rei, onde fica um grande cofre que guarda todas as riquezas mais importantes que existem no mundo, reunidas pelo rei e sua família durante anos.
— Aqui estão. É um cristal de cada elemento que consegui roubar dos elfos da Floresta Escura. Creio que contenham um enorme poder dentro deles — diz o rei, entregando os cristais nas mãos do seu filho.
— Vamos começar! — O príncipe guarda a espada na bainha e segura os seis cristais em suas mãos, três em cada mão. Então, o espírito das trevas inicia o processo de contaminação nos cristais, fazendo com que o homem sinta uma dor jamais imaginada pelo ser humano.
Concluído o trabalho, depois de algumas horas de sofrimento, finalmente o espírito das trevas finaliza sua obra-prima: um ser totalmente poderoso e capaz de mudar o destino do mundo, pronto para colocar todos os planos das trevas em ação.
— Sua primeira obra deverá ser transformar seu melhor amigo. Ele o ajudará na grande missão que teremos pela frente!
— Meu amigo? Eu posso fazer isso? Inacreditável!
Passados alguns minutos de transformação, o melhor amigo do príncipe estava pronto para servi-lo no que fosse preciso. Juntos, eles poderiam começar os sonhos do espírito das trevas.
— Está na hora de deixar seu reino para partir em uma longa jornada. Deverá passar pela primeira cidade ao leste daqui. Lá você saberá o que fazer!
— Certo!
O príncipe então começou a arrumar as coisas que iria precisar durante sua caminhada, e seu amigo também o ajudou. Depois de um tempo, estavam com tudo pronto. O príncipe despediu-se de seu pai e lhe disse que em breve estaria de volta, apenas precisaria de alguns dias fora.
O rei lhe disse que, caso precisasse de ajuda, poderia lhe pedir a qualquer momento, que mandaria seu exército para apoiá-lo, caso ele necessitasse. Mas seu filho disse que não seria preciso. Então, começou a correr com seu cavalo ao lado de seu melhor amigo em direção ao leste.
A próxima cidade não estaria muito longe de onde estavam, apenas algumas horas e conseguiriam chegar à noite.
Um pouco cansados da viagem, chegaram à primeira cidade e encontraram um estábulo ali próximo, onde deixaram os cavalos descansando.
Logo em diante, decidiram procurar um lugar para repousar. Quando começaram a caminhar para dentro da cidade, surgiu uma mulher de quarenta e cinco anos, mas com uma aparência ainda jovem.
Ela pediu ajuda aos dois para salvar a vida de seu filho, que estava naquele momento morrendo de uma gripe muito forte e ainda estava com bastante febre. Não teria muito tempo de vida.
— Vamos ajudá-la? — pergunta o amigo do príncipe.
— Sim, vamos — respondeu ele, com um olhar sério e um semblante sombrio.
Adentrando a casa da mulher, os dois avistam o jovem agonizando sobre a cama e tendo alucinações por causa da febre alta. Então, o príncipe diz:
— Ele vai morrer em breve, não há o que possa ser feito, mas... — Dizendo isso, o príncipe retira sua espada da bainha.
— O que vai fazer com ele com essa espada? — pergunta a mulher, desesperada. Quando ela tenta impedi-lo de se aproximar do garoto, o amigo dele a segura pelos braços. — Não! Por favor, não mate-o dessa forma! Ele não merece morrer assim! Não!
O príncipe então crava sua espada no coração do jovem rapaz, que suspira pela última vez e fecha os olhos.
Terminando de matá-lo, o príncipe observa bem a mulher da cabeça aos pés, que estava morrendo de chorar, lamentando a morte de seu filho, e lhe pergunta se ela tinha medo da morte. Dando alguns passos em direção a ela, crava sua espada no coração da mulher, fazendo-a cair morta no chão.
— Nosso trabalho aqui está concluído. Leve os dois para o castelo e comece os treinamentos. Depois, irei retornar. Tenho algumas coisas ainda para fazer nas próximas cidades — diz o príncipe para seu amigo.
— Pode deixar! Vou começar o treinamento sem demora. Ficarei pronto para ajudá-lo.
Despedindo-se de seu amigo, o príncipe montou em seu cavalo e deixou a cidade, passando dias viajando e passando de cidade em cidade, uma atrás da outra, até que chegou a uma taberna muito famosa por mercenários, os piores, na verdade.
Ela era muito suja, mas vendia todos os tipos de bebidas, vinhos e poções medicinais. Um lugar perfeito para reuniões entre gangues e facções de bárbaros, mercenários, guerreiros e assassinos experientes.
Ao se aproximarem da entrada, vários homens começaram a olhar para o príncipe, e suas roupas eram bastante chamativas. Isso deixava claro que ele tinha riquezas e possíveis posses em seu poder, terras em seu nome.
— Bom dia, cavaleiro, o que deseja? — pergunta o dono do estabelecimento ao príncipe.
— Uma bebida qualquer serve, quero uma informação sobre uma jovem mulher que é bastante conhecida por essas terras, líder da maior gangue das terras sombrias.
— Essa ficará de graça. Ela sempre vem aqui pela tarde, se reúne com seus aliados e come, bebe e joga por diversão. Mas não é uma mulher de muitas palavras; muitos tentam negociar com ela, mas nunca conseguem.
— Humpf... Tome essas moedas de ouro, quero beber até ela chegar.
O príncipe esperou bastante, o dia todo, e já estava ficando cansado de tanto esperar. Logo que se iniciou a tarde, pensou que não demoraria muito, até que ela foi se passando e nada dela aparecer. Até que a noite estava para chegar, quando ela colocou os pés no lugar.
— Ei! Quero o de sempre na minha mesa, e sem demora!
— Viu? É ela... — diz o dono do lugar.
— Ei, você! — grita o príncipe, chamando a atenção da jovem. Mas ela não dá atenção e continua calada, sem olhar para trás. — Não vai me responder?! Estou falando com você!
— Não me chateia. Se eu fosse você, iria embora daqui. Não sabe com quem está falando — diz a mulher, levantando-se da cadeira e virando-se para olhar o príncipe.
— Talvez dessa forma eu consiga fazê-la entender! — Quando diz isso, a jovem mulher começa a levitar e é arremessada sobre a estante de vinhos guardados, e todos se quebram, derramando os líquidos no chão. Todos ao redor se levantam de suas cadeiras e ficam paralisados, assustados com algo inimaginável. — Me chamo mestre das trevas, estou criando uma sociedade de criaturas poderosas, e você é qualificada aos meus olhos. Creio que não irá recusar a minha oferta!
Olhando por alguns segundos dentro dos olhos da moça, ele a solta no chão e lhe pergunta se ela sabe onde se encontram os dois irmãos da maior facção daquelas terras.
— São apenas eles dois, não tem mais ninguém com eles. Não gostam de trabalhar com pessoas, mas fazem qualquer serviço por um bom pagamento. São conhecidos por serem os dois melhores guerreiros que existem nas terras sombrias.
— Ótimo, quero que me leve até eles!
Os dois saíram da taberna juntos e pegaram os cavalos em direção à maior cidade, que ficava no centro das terras sombrias. O comércio lá era o maior que existia na região e recebia todos os tipos de pessoas do mundo inteiro.
Se passaram algumas semanas até que os dois chegaram à cidade e se depararam com uma briga acontecendo no meio dela, dois jovens lutando contra vários saqueadores. Eram em torno de dezesseis homens contra os dois irmãos. O príncipe apenas ficou aguardando a luta acabar e esperou os dois deixarem o local, pois ele não queria curiosos ao redor deles.
— Vocês dois? Quero conversar!
— Também deseja levar uma surra, velho? Chega por hoje, você não acha...? — Quando diz isso e se vira, dando as costas para o príncipe, ele é atingido pela espada que atravessa bem no meio de seu peito.
— Não! Como se atreve?! Você vai morrer! — A jovem moça corre em direção ao príncipe para matá-lo, mas é derrubada no chão por uma onda de energia negra, que suga suas forças imediatamente, deixando-a fraca. Então, o príncipe diz:
— Agora podemos conversar…