Chereads / A Saga de Lunizs - Livro 1: O Alvorecer / Chapter 15 - Capítulo 14 - A Traição

Chapter 15 - Capítulo 14 - A Traição

Já era de manhã cedo quando os ânimos estavam acalmados e havia apenas um silêncio no ar de destruição e morte. Havia vários corpos caídos sobre o chão em todas as cidades, e poucos do exército da planta sobreviveram ao ataque.

Dos seiscentos e cinquenta e quatro mil soldados da planta que lutaram na batalha, apenas duzentos e trinta e seis mil escaparam por terem se rendido. A maioria tinha sido assassinada na tentativa de proteger seu reino e seu povo.

Pelo menos nenhum cidadão foi morto; apenas alguns ficaram feridos e outros machucados por terem tentado resistir à vitória da nação do vento.

Depois de horas de posicionamento das tropas de Heigor em cada lugar do reino e dominando por completo todo o território, podia-se iniciar a busca pelo dominador e, quem sabe, encontrá-lo no meio daquele povo triste e inconsolado.

O Grande Líder Hannibal dos vikings já havia chegado ao castelo e ficou muito surpreso, sem entender direito o que o rei dos mares estava fazendo ali, ao lado de Heigor, com seus piratas saqueando o ouro da nação da planta.

— Mas o que significa isso, Heigor? O ouro é dos vikings; esse foi o acordo!

— Perdão, meu caro amigo de negócios, mas as coisas mudaram um pouquinho. O Rei Quangan me fez uma proposta muito maior do que a que você fez, e as exigências dele foram bem mais sutis, ao meu ver — diz Heigor, sorrindo sarcasticamente.

— Você me traiu?! Isso não ficará assim, viu! Você não ficará impune por ter tomado essa decisão. Eu vou acabar com você, Heigor! Na primeira oportunidade, vou te destruir e não sobrará nenhum pedaço desse seu corpo nojento! Você me paga! — fala Hannibal com raiva, bufando forte pelo nariz, com o ódio que sentia pela traição.

— Espero que use um pouco desse seu cérebro e saiba que a maior parte do seu exército morreu nessa batalha sangrenta, e que o meu teve poucas baixas consideráveis. Além do mais, os piratas estão cheios de vigor, prontos para uma luta, caso você queira nos enfrentar — dando gargalhadas, ele fica com um semblante sério em seguida, olhando atentamente para Hannibal.

— Eu te amaldiçoo, Heigor! Você sofrerá a ira dos deuses e pagará caro por essa afronta! Eu te prometo! — Assim que diz isso, Hannibal deixa o castelo às pressas, com muita raiva no coração. Heigor realmente era muito esperto quando se tratava da arte da enganação.

Depois de algumas horas, os piratas carregando os seus navios, chegou a hora de partir para as suas terras. Quangan agradeceu pelo grande negócio feito com Heigor e disse que estava à disposição sempre que precisasse de ajuda, e Heigor claramente não recusou a oferta.

Mas o que os dois não sabiam é que Billy, o conselheiro pessoal de Redbad, havia enviado cartas para os outros cinco reinos, avisando sobre o ataque dos vikings e que achava que o Reino da Planta era o verdadeiro alvo de Heigor.

Raina não perdeu tempo e reuniu todo o seu exército de arqueiras, desembarcando em seus navios em direção ao porto marítimo da nação da planta. E em breve elas iriam se cruzar de frente com os navios dos piratas que já haviam deixado o cais.

Eram em torno de setenta e três navios da água contra vinte e sete dos piratas. Seria um conflito intenso entre os dois lados na tentativa de disputar as riquezas da nação da planta. Quem vencesse estaria com as mãos cheias de moedas de ouro, prata, bronze e cobre que valiam uma fortuna em todo o mundo.

O comércio marítimo funcionava da seguinte forma: o Reino da Água fazia a pesca diária e vendia para outras nações por um preço razoável e justo para cada lado da negociação. Já os piratas pescavam em grande quantidade, mas vendiam por preços absurdos aos comerciantes locais.

Os outros cinco reinos sempre compravam por meio da nação da Água. Era uma negociação que não podia faltar durante as semanas de compras pelos portos.

Os piratas, por não terem uma vendagem lucrativa, acabavam tomando um rumo diferente de negociação justa, que era os saques das embarcações que navegavam pelas águas estranhas, que conectavam com o resto do mundo. Muitos não desejavam fazer viagens por aquelas águas, mas não tinham outra opção a não ser arriscar.

— Princesa Raina? Piratas à vista! — diz o capitão do navio real.

— Se eles estão aqui, provavelmente estão ao lado de Heigor, aquele tirano safado. Vamos acabar com eles! Preparem os canhões e as flechas flamejantes; isso não passará do fim da tarde!

Seria uma batalha equilibrada para ambos os lados, mas Raina tinha a vantagem por ter as arqueiras habilidosas no manejo dos arcos; dificilmente elas erravam um alvo.

Já os piratas eram péssimos em arquearia; no entanto, eram bons no combate com espadas e corpo a corpo. Eles teriam uma chance se não fossem as guerreiras da água, treinadas especialmente para o combate de infantaria, a carta na manga de Raina em seu exército poderoso.

— Rei Quangan! Esse ouro não lhe pertence! Vai devolvê-lo ao devido dono ou sofrerá a minha ira cruel! — diz Raina, apontando sua espada em direção ao rei pirata.

— Uma mulherzinha querendo me dizer o que devo ou não fazer? Me poupe, gracinha! Você não faz ideia do quanto foi difícil conquistar essa riqueza toda!

— Humpf... Vai se arrepender por essas suas palavras! — Logo que diz isso, Raina pula do convés e cai sobre dois piratas, derrubando-os no chão.

Assim que os dois se levantam rapidamente, Raina manda que eles sacarem suas espadas da bainha para lutar com ela de igual para igual.

Raina era uma hábil espadachim e, desde criança, treinava com seu pai, aprendendo desde cedo variadas habilidades de combate. Muitas das suas guerreiras são suas amigas desde a infância, que treinavam juntas com ela e se tornaram suas companheiras leais.

Uma observação importante é que o conselho do Reino da Água era composto apenas por mulheres; eram elas que decidiam todos os problemas relacionados à nação da água e eram elas também que resolviam as negociações exportadoras.

— Ah! Vocês são péssimos lutando, sabiam? Vamos acabar logo com isso de uma vez! — Quando um dos piratas se aproxima de Raina e cruza sua espada na dela, ela empurra para baixo e corta a mão do homem, fazendo-o derrubar a espada no chão.

Em seguida, quando ele se abaixa para pegar a espada, Raina enfia a lâmina da sua espada no meio da mão do pirata, e ele grita de dor.

Logo depois, ela remove a espada e rasga o peitoral do homem, cravando a lâmina em seu diafragma. Todos ao redor ficam abismados com a sua audácia e forma de lutar, e começam a recuar alguns passos para trás.

Mas Quangan os repreende e ordena que eles avancem para cima dela e a matem. Mas, com medo, eles não obedecem e largam suas espadas no chão, se ajoelhando e abaixando a cabeça.

— Seus homens sabem quando parar de lutar; deveriam aprender com eles como proceder em uma derrota — diz Raina, colocando sua espada na bainha. E, em segundos, suas guerreiras tomam o navio e cercam os piratas de todos os lados. — Preciso de uma informação sua: por acaso sabe me dizer se o Rei Redbad está vivo? Se me responder, o pouparia de uma morte terrível. Apesar de não ser uma mulher cruel, já a minha amiga aqui não se importa muito com delinquentes.

Redbad estava desolado com a destruição de sua querida nação e de seu povo amado. Naquele momento, ele estava acorrentado no calabouço, depois de ter levado uma grande surra dos soldados de Heigor. Quem sabe se vai sobreviver depois de tantos machucados feios e cortes de facas afiadas?

Raina temia pela sua vida; ela admirava Redbad e tinha muito respeito por ele. Quando seus pais lhe disseram que fariam uma proposta de casamento a ele, ela ficou muito animada e feliz por ter a chance de se casar com um homem tão nobre como ele. Infelizmente, Redbad a decepcionou, aceitando destruir os outros reinos. Mas o que Raina não sabia era que Redbad apenas fingiu estar cooperando, pois, no momento certo, ele iria recusar matar o dominador e iria protegê-lo a qualquer custo. Mas onde estaria esse tão esperado homem ou mulher?

Enquanto tudo isso acontecia nas terras dos seis reinos, Hélia pediu à realeza élfica para entrar em algum templo sagrado que eles tivessem, para que pudesse meditar e refletir sobre como ajudar os cinco reinos a vencer a guerra contra os vikings.

Unises e Jadita ficaram do lado de fora esperando ela terminar sua meditação, até que Hélia ouviu um estrondo vindo do céu e uma rápida ventania começou a surgir dentro do santuário sagrado. Quando ela olhou para trás, viu um homem usando uma armadura com uma espada na mão e um semblante sério em seu rosto, dando a entender que estava ali presente por um motivo muito importante.

— Saudações, guardiã das profecias divinas. Eu me chamo Kelvisk, sou o primeiro homem dotado de sabedoria. Prazer em conhecê-la, jovem Hélia!

— Pelos espíritos! Você existe? — Hélia pergunta, toda nervosa e assustada.

— Venho lhe entregar a segunda profecia sobre o destino do mundo, que foi escondida pelos primeiros reis e rainhas das dinastias reais, que diz assim:

"Na caverna das trevas, acorda o perverso. Abrindo os portões, o escolhido encontrará. No fim do crepúsculo ao temível sussurro, acaba o terrível orgulho."

— E essa outra é sobre o seu destino, Hélia:

"Na primeira linhagem, o mundo é salvo, mas na terceira nasce a herdeira, prometida e escravizada, liberta e nomeada."

— Guarde bem cada uma delas; no tempo determinado, você as conseguirá desvendar e então poderá ajudar a salvar o mundo do poder do mal.

— Espere! Você não pode nos ajudar? — pergunta, esperançosa.

— Essa luta não é minha, mas sim de todos vocês juntos. Unidos, conseguirão derrotar os poderes das trevas e finalmente instaurar a paz no universo. Só dependem de vocês mudarem o destino do mundo inteiro; não se esqueçam disso!

— Por favor, espere! Quem é o guardião que despertará o espírito da planta? Sou eu?

— O guardião vai surgir no dia quinze de outubro, que é quando ele completará a idade necessária para despertar o espírito da planta. Assim como o primeiro dominador morreu aos cento e dezesseis anos, sobrando quatro anos para o ciclo mudar, também foi necessário quatro anos para que o guardião descrito na profecia nascesse. Só então a profecia poderá ser cumprida, e nenhuma força na natureza poderá impedir isso de acontecer.

— O quê?! Então quer dizer que mudou o dia do nascimento do escolhido? — indaga Hélia, toda confusa e sem entender direito o que acabara de ouvir.

— Sim! Não apenas isso. Quando a criança nasceu e tocou no cristal, ele não brilhou, para que ela fosse poupada da morte e que pudesse ser cumprida a profecia no tempo certo. Mas o cristal brilhará quando o escolhido chegar à idade certa, e então despertará o espírito da planta, juntamente com os outros guardiões e os outros espíritos.

— Os outros espíritos também vão ser despertados?

— Sim... pensei que soubesse, já que foi você que desvendou a primeira profecia. E ela diz:

"Ao nascer do sol, nasce o guardião; na idade certa, despertará o espírito; assim, os guardiões nascerão."

— Quando você disse que os guardiões nascerão, quis dizer que outros guardiões vão surgir depois do escolhido, e assim a profecia será cumprida — Kelvisk conta.

— Mas se, depois que os espíritos forem despertados, eles começarem a brigar novamente, como foi no princípio, criando uma guerra? O nosso mundo será destruído.

— Você terá que desvendar a segunda profecia; só então entenderá o que vai acontecer com o destino do mundo!

— Sério...

— Sim, bem... isso é tudo que tenho a lhe dizer: que a sua coragem lhe guie pelo caminho certo, jovem destemida. — Assim que diz essas palavras, Kelvisk sai voando, subindo para o céu e desaparece nas altas nuvens.

— Até! — Hélia não podia acreditar em tudo que havia acontecido naquele momento; jamais poderia imaginar que teria a honra de conversar com o primeiro homem dotado de sabedoria, muito menos que tinha um destino marcado pelo espírito da luz. Tudo aquilo era inacreditável e espetacular ao mesmo tempo.

Agora, como ela iria explicar tudo isso para Jadita e Unises, além do rei e da rainha élfica, sem parecer uma maluca e sem noção? Aguardemos o sol nascer.