Na manhã seguinte, abrindo os olhos, Hélia sentia o calor do brilho do sol. Estando dessa vez nas casas construídas em cima das grandes árvores da Floresta Escura, que ficava rodeada por uma enorme muralha ao redor da montanha, a única forma de sair dali era adentrar a caverna subterrânea para poder sair da floresta.
Ela acordou com um sentimento diferente, que jamais havia sentido: uma mistura de coragem e determinação sem igual. O motivo talvez fosse respondido com o passar do tempo, e quem sabe quem iria descobrir.
Levantando-se da cama macia feita de algodão e palha, ela colocou sua armadura, que recebeu dos elfos, e estava se preparando para lutar contra qualquer um que tentasse impedi-la de sair dali.
Unises e Jadita também se arrumaram e estavam ansiosos, com um pouco de medo do que poderia acontecer, mas confiantes de que seu plano daria certo. Caminharam alguns passos em direção à cozinha real e apontaram suas espadas para os servos. Unises agarrou um deles e o ameaçou de morte caso gritasse.
— Não queremos machucá-los, mas, se for preciso, faremos isso sem pensar duas vezes. Então, por favor, cooperem conosco! — Jadita explica, bastante séria e confiante.
Hélia perguntou a um dos servos por qual direção ficava a saída daquela caverna subterrânea, e ele foi com eles até a entrada da saída. Os três ficaram confusos por não terem avistado nenhum guarda protegendo o local; na verdade, era fácil demais escapar daquele lugar.
Unises, intrigado, pediu para que parassem por um segundo para olharem ao redor e ver se havia alguém se aproximando, mas, assim que fez isso, não avistou nada ao derredor. Realmente estava muito estranho.
Já Jadita estava muito feliz pelo plano estar dando certo; ela não era boa com planejamentos, muito menos em ajudar a concretizá-los.
Depois de uma longa caminhada, os três deixaram o território do castelo e correram em direção à floresta adentro. Sem saber por qual direção seguir, eles apenas seguiram sua intuição, e havia muitos caminhos diferentes a serem seguidos.
Parece que não seria nada fácil abandonar aquelas terras estranhas, muito menos conseguir voltar para casa cedo. Provavelmente, os elfos já sabiam que eles iriam fazer essa fuga e apenas facilitaram a saída dos três.
Depois de muito tempo, horas se passaram e nada de encontrar uma saída daquela enorme floresta, fora a tamanha escuridão que estava crescendo a cada minuto naquele lugar inóspito e pegajoso.
Seus sapatos estavam todos sujos e com gosmas estranhas de cor roxa. Unises, por um momento, pensou que fosse de alguma criatura horripilante, mas tentou não pensar nisso naquele momento tão conturbado.
Já Hélia estava cansada e exausta de tanto caminhar, e nada de achar um local fresco com água para se refrescar; sua garganta já estava seca e sua voz mal saía de sua boca. Jadita não aguentava mais tantos mosquitos picando seus braços e suas belas pernas; aquilo não era um lugar normal, muito menos familiar.
— Devíamos voltar para o castelo, gente. Não foi uma boa ideia ter vindo para cá. Se pelo menos conseguíssemos ver a luz do sol, mas nem isso aparece — Jadita fala, reclamando e suspirando forte.
— Mesmo que a gente fosse voltar, nem sabemos por qual caminho seguir. Eu mesmo não faço a mínima ideia de por onde ir — Unises conta, desanimado.
— Vamos descansar um pouco aqui, gente. Depois continuaremos andando por aí — Hélia diz, deitando-se no chão e fechando os olhos.
Quando os três menos esperavam, estavam todos adormecidos novamente. Quando acordaram, estavam de novo dentro do castelo, mas, dessa vez, em aposentos reais.
Jadita foi a primeira a acordar e, assim que percebeu onde estavam, acordou os outros dois rapidamente, dizendo que estavam no castelo, mas em lugares diferentes dessa vez.
Quando saíram do quarto, ouviram passos apressados vindo em suas direções. Então, retornaram para dentro e ficaram com medo do que iria acontecer agora.
— Saudações, jovens. Foi inapropriado saírem daquele jeito do castelo sem um guia para tirá-los da Floresta Escura. Caso soubessem, nenhum forasteiro conseguiria sair desse lugar sem uma instrução de um elfo.
— Agora sabemos, mas não podíamos ficar aqui para morrer. Precisamos voltar às nossas casas e viver nossas vidas em paz! — Hélia fala, gritando com Elrian.
Sorrindo levemente, ele diz:
— Me desculpe, foi engraçado o que disse, mas em nenhum momento dissemos que iríamos matá-los. E outra, vocês não estão seguros se retornarem aos seus lares. Por favor, me acompanhem novamente até a presença do meu pai.
— Pai? — Unises indaga, surpreso.
Os três estavam mais aliviados por saberem que não seriam mortos; pelo menos isso já era algo bom vindo de um povo com costumes diferentes e gostos peculiares e diversos.
Assim que chegaram ao rei Eldarion novamente, ele estava com uma aparência estranha e um semblante muito sério. Dessa vez, a conversa seria totalmente diferente.
— Desculpe-me, Rei Eldarion, mas por qual motivo nos mantém aqui presos? E quais perigos podem nos sobrevir se retornarmos a nossos reinos? — Jadita pergunta, agressiva e brava.
— Hum! Vocês não fazem ideia, não é mesmo? — O rei diz, levantando-se do trono e vindo em direção aos três jovens.
— O quê? — Unises pergunta.
— O Imperador Heigor se uniu ao rei viking para destruir os outros cinco reinos. Não sabemos como isso irá acontecer, mas é fato que ele está atrás da guardiã, que é você, jovem Hélia! Por isso, não podemos permitir que você caia nas mãos dele. Se ele tiver em seu poder, poderá controlar todos os outros cinco povos e obrigá-los a governar o mundo inteiro debaixo de seu reinado tirano. É isso que você quer?
— Não, mas e se eu for a guardiã? Não poderia despertar o espírito da planta? E ela não poderia nos ajudar a destruir nossos inimigos?
— Sim, talvez, mas não é certo que o espírito vá ajudar. E pior, ainda não chegou o dia para que você possa despertar o espírito da planta; faltam algumas semanas ainda para esse dia chegar. Até lá, é mais seguro você permanecer aqui conosco e, de boa vontade, terão de tudo aqui que precisarem e podem desfrutar do melhor que a nossa terra tem a oferecer, como já disse outra vez.
— Então vocês são a favor de despertar o espírito da planta? — Hélia pergunta, sem entender o real motivo por trás disso.
— Mas é claro, minha querida! — Diz a rainha Elara. — No início dos primeiros reis e rainhas, todos os seis reinos receberam um cristal das nossas mãos, e o homem dotado de sabedoria nos ensinou como forjar uma espada capaz de suportar e liberar o poder do cristal. Então fizemos uma de cada elemento e entregamos nas mãos das realezas.
— Sim, minha esposa. Mas temíamos a ganância dos reis e, por isso, decidimos nunca mais forjar outras espadas para eles, pois pretendiam criar um exército poderoso para dominar o mundo inteiro. Foi nesse dia que a nossa união foi desfeita e nunca mais tivemos contato com os seis reinos.
— Pelos espíritos, eles já são muito fortes sem essas espadas. Imagine se as tivessem; seria uma catástrofe! — Unises diz, abismado.
— Pois é, por isso quebramos nossa união com eles e decidimos proteger todos os cristais que existem nessa montanha, criando vários caminhos dentro da floresta para confundir quem entrasse nela. Assim, poderíamos matar quem tentasse roubar os cristais para forjar outras espadas. Dessa forma, o mundo estaria salvo de mais destruição.
— Consigo compreender melhor o seu medo e a situação difícil que tem em mãos em tentar nos proteger, mas e se eles descobrirem que a guardiã, que pode ser eu, estiver aqui em sua posse? O seu povo estará correndo perigo! — Hélia conta, com muito medo nos olhos.
— Sabemos dessa possibilidade, mas todos nós estamos dispostos a proteger o escolhido, mesmo que custe as nossas vidas! — Diz o rei, fechando os punhos e mostrando para os jovens.
Enquanto eles discutiam esses assuntos importantes, algo mais urgente acontecia nas terras dos seis reinos, mas especificamente no Reino do Vento.
— Então esse é o plano: vamos atrair todos os exércitos para o Reino do Trovão com o nosso exército, e assim os vikings vão atacar os outros reinos com seus exércitos. É isso? — Pergunta Kolizeu à mulher de cabelos loiros que salvou a princesa Kira.
— Exatamente, Kolizeu. Você é bem atenta aos relatórios do plano; gosto disso em você — Heigor diz, com um olhar maligno.
— Eu não concordo com essa união com os vikings. Eles são um povo cruel e não têm medo da morte; são assassinos experientes na batalha e vão massacrar os cinco reinos! — Kolizeu fala, batendo na mesa com raiva.
— Por isso mesmo, Kolizeu. Eles são o povo perfeito para essa missão tão importante. A conquista dos cinco povos nos dará um poder imenso contra as outras nações; ninguém será páreo para o nosso poder.
— Você vai destruir os povos também ou vai poupá-los? — Durmog pergunta, confuso.
— Mas é claro que vou deixá-los viver. Se eles morrerem, vai dificultar bastante o crescimento do exército ao longo dos anos, e precisamos nos fortalecer o mais rápido possível. Por isso, até os exércitos serão poupados. Assim que eles verem que suas famílias estão em minhas posses, eles irão se entregar rapidinho ao meu comando. Matarei apenas as famílias reais!
Kolizeu, ao ouvir essas palavras, deixou a sala de reunião às pressas e ficou pensando no que deveria fazer para mudar o rumo desse conflito. Ela não poderia ficar parada sem fazer alguma coisa. Graças aos espíritos, conseguiu impedir que Kira morresse, mas dessa vez seria algo muito maior e que teria proporções gigantescas; realmente estava correndo contra o tempo.