No dia seguinte em que Jadita e Unises chegaram à nação da Terra, Jadita correu e pegou papel e pena para escrever uma carta a Hélia, informando que ela era a possível dominadora escolhida.
Mas, assim que o soldado encarregado de entregar a mensagem saiu e adentrou a floresta, ele foi derrubado do cavalo por uma flecha com veneno na ponta.
Com dificuldades para se levantar, pois tinha sido atingido no peito, ele forçou um pouco a voz e perguntou quem eram aquelas pessoas vestidas com armaduras de malha e couro em todo o corpo.
As pessoas não responderam nada, apenas esperaram ele suspirar pela última vez e morrer pelo veneno que, naquela altura, já havia chegado ao seu coração. Depois, viraram seu corpo para trás, pegaram a carta de sua bolsa e a leram com muita atenção.
Sabendo do que se tratava, eles deixaram o local da morte do soldado imediatamente e, com muita pressa, foram para as profundezas da floresta. Aquela não era a tão conhecida Floresta Lamentação, onde Nino e Unises encontraram a velha bruxa, mas sim a Floresta Escura, onde habitam criaturas estranhas que ninguém nunca havia visto em suas vidas, e poucos tinham coragem de entrar nela. Os que faziam isso nunca mais conseguiam retornar para contar a história.
— Pronto! Já enviei a carta para a Hélia, em breve ela saberá da notícia e poderá se preparar para o que está por vir — Jadita conta, apreensiva.
— Que ótimo! Só não entendo por qual motivo você não contou para ela desde que soube que podiam ser as dominadoras. Eu não contei para o Nino por ele ser muito pequeno ainda e não entenderia, muito menos conseguiria guardar segredo.
— Eu entendo, mas não queria que ela carregasse esse fardo em suas costas. Já bastava eu ter que suportar essa verdade cruel. Tentei guardar dela o máximo que consegui, mas está na hora dela saber. Pelo menos estamos seguros, por enquanto, aqui no Reino da Terra.
— Sim, espero que dure muito tempo — Unises diz, muito assustado.
Enquanto Jadita e Unises estavam angustiados com a possibilidade de serem os dominadores, o Imperador Heigor tramava algo terrível em seu império.
Reunindo toda a família real, comandantes e guarda pessoal, ele estava planejando atacar a nação do trovão e destruí-los de uma vez por todas.
Os seis reinos eram divididos em uma linha reta na beira do continente, com o mar do lado leste. O primeiro reino que ficava ao norte era a nação do vento, logo atrás dele ficava a nação do trovão, depois a nação da água, em seguida a nação da planta, depois a nação da terra e, por último, a nação do fogo, que ficava ao sul.
Cada um dos seis reinos era cercado, dos dois lados, por várias nações diferentes, algumas a favor dos seis reinos e outras contra. Já do lado oeste, que era conhecido como a frente principal dos reinos, ficava um enorme campo aberto, coberto e cheio de grama por todas as partes. Era nesse campo aberto que ficavam vários acampamentos de mercenários e bárbaros; alguns deles negociavam com os seis reinos, outros não.
E na frente de cada portão principal das muralhas oeste de cada reino, ficava a estrada principal, que era protegida por um esquadrão de soldados bem treinados, para garantir a segurança da passagem de viajantes, batedores e cidadãos das seis nações.
Era por essa estrada que o soldado que levava a carta de Jadita passou, mas assim que entrou na estrada da Floresta Escura, ele foi alvejado. Essa floresta era a maior do mundo inteiro e ficava localizada no centro do continente de Lunizs. E no centro da floresta existia a maior montanha que existia em todo o planeta, protegida por criaturas desconhecidas que guardam um mistério enorme em suas mãos.
— Meu rei? Interceptamos uma mensagem extremamente importante que é do seu interesse, vossa alteza — o jovem entrega a carta nas mãos de seu superior.
— Hmm... interessante, muito interessante. Era a oportunidade que estávamos aguardando há tantos anos. Vocês farão o seguinte... — conta o rei misterioso para seus subordinados.
Enquanto isso acontecia ao longe, bem distante dali, na nação do trovão, a mãe de Tok, Hilda, recebeu informações sobre o possível ataque do Reino do Vento.
E para sua surpresa, Heigor não deixaria nenhum sobrevivente para dizer que a nação do trovão ainda continuaria existindo. Assustada com a mensagem, ela correu até onde Tok estava treinando e o chamou urgentemente para conversar.
— Não pode ser, mãe! Primeiro o Reino da Terra, agora a gente? — Tok pergunta, intrigado com a notícia.
— Presta atenção, meu filho! Se Heigor teve coragem de destruir a nação da Terra, que dirá que ele também não vai nos atacar! E você não está percebendo nada de interessante nisso?
— O quê? — pergunta ele, confuso.
— Heigor atacou a nação mais fraca entre os seis reinos, a nação da Terra. E agora somos nós; depois do Reino da Terra, somos a nação mais fraca em comparação às outras. Ele quer eliminar os mais fracos antes de poder destruir os mais fortes. Você não enxerga?
— Pelos espíritos, faz todo sentido. Mas nossa muralha é impenetrável, mãe! Eles não têm como passar por ela, a não ser que tenham construído algo para destruí-la.
— Do Heigor, filho, devemos esperar qualquer coisa. Não podemos confiar. Reúna o nosso exército e se prepare para defender a nossa nação com força e sabedoria. Vamos pedir ajuda também dos outros reinos. Você ajudou o Rei Ociban e o Rei Redbad; tenho certeza de que eles, junto com o Rei Dalton, vão nos ajudar.
— Infelizmente, não podemos sozinhos. Será a única saída pedir a ajuda deles. Enviarei uma mensagem agora mesmo, mãe. Me deseje sorte!
Demoraria alguns dias para a carta de Tok chegasse aos ouvidos dos três reis, pois o seu reino ficava muito distante dos outros. Por outro lado, o Reino do Vento estava praticamente ao seu lado; a guerra era inevitável.
Mas, talvez a nação do trovão conseguisse suportar até a chegada dos reforços. Não era à toa que a muralha tinha cem metros de altura e uma espessura muito larga; não seria destruída facilmente, muito menos em um único dia.
Já no Reino do Fogo, havia um festival enorme acontecendo no meio do povo, não apenas pela coroação do príncipe Don, mas também pelo livramento que a sua nação teve com o resgate da família real.
Se eles não tivessem escapado da morte, teria sido o fim da dinastia do fogo, e a linhagem seria destruída para sempre. Graças ao destino, tudo isso mudou, e eles estavam sãos e salvos no conforto do seu palácio.
E dentro dele, Don estava se preparando para ser apresentado pelos conselheiros, que estavam ansiosos para declarar o mais novo rei do fogo. Já Kira estava em seu aposento, chorando horrores pelo término do seu tão sonhado sonho destruído.
Erita já havia chegado ao castelo e ficou chocada quando soube do ataque em sua casa. Chorou muito pelas perdas de seus soldados e pelo medo do seu povo, ainda mais quando soube que sua família ficou em risco de morte. Graças aos espíritos, tudo estava bem e em paz, mas o sossego não duraria para sempre.
— Hélia? Estou muito nervoso, não sei nem o que vou dizer para o meu povo. Não consigo pensar em nada que os deixe satisfeitos com o meu discurso. O que faço? — Don pergunta, de cabeça baixa, sentado na cama do seu quarto.
— Calma, respira um pouco e relaxa a sua mente tão pesada. Sei que ainda sente pela morte do seu pai. O falecimento dele deve ter sido um grande choque para você. Precisa aliviar a cabeça tão conturbada.
— Sim, estou muito triste com a perda dele. Apesar do que fez, ele não merecia morrer daquela forma horrível, vendo o seu reino ser destruído diante dos seus olhos — ele conta, entristecido.
— Bem, você já está pronto. Pode ir — Hélia diz, ajustando as ombreiras da armadura.
— Queria que você estivesse ao meu lado, mas como ainda não é da família real, você não pode — diz, sem perceber direito o que acabou de dizer.
Sorrindo, ela pergunta:
— Ainda? — e ele se toca do que acabara de falar — Boa sorte!
Assim que deixou os aposentos, Don ficou pensando nas palavras que saíram da sua boca e percebeu que o que sentia por Hélia era algo que jamais aconteceu em sua vida. Talvez estivesse na hora de pedi-la em compromisso.
Enquanto caminhava elegantemente pelos corredores do palácio em direção à grande varanda, Hélia ouviu uns ruídos do lado de fora do quarto, onde ficava um jardim cheio de flores. Então, caminhou até lá para descobrir o que era.
Quando vasculhou pelos grandes arbustos, não encontrou nada demais além de coelhos vagando pelo terreno. Logo que avistou o bichinho, ficou mais tranquila quanto ao barulho, admirando a beleza das rosas que ali estavam.
— Nossa, são muito perfumadas. Queria umas dessas no jardim lá de casa; iriam ficar lindas ao lado das minhas preciosas — depois que cheirou todas elas, ela se abaixou no chão e olhou para o sol, que brilhava intensamente no céu com o seu esplendor magnífico, até que uma pequena flecha acertou o seu pescoço, e ela caiu adormecida sobre a terra. Quem ou o quê poderia ter feito isso? O destino dela realmente estava marcado e preenchido de surpresas; pelo visto, só estava começando.