Chereads / A Saga de Lunizs - Livro 1: O Alvorecer / Chapter 6 - Capítulo 5 - O Jantar

Chapter 6 - Capítulo 5 - O Jantar

— Nossa! Não esperava viajar em um navio da família real, muito menos estar na presença dos reis — Unises conta, ao se surpreender com a beleza da embarcação.

— Apenas se comporte como um futuro soldado. Não fale, a menos que seja concedido, por favor. Não quero passar vergonha na frente dos meus superiores.

— Pode deixar, senhor. Farei o que manda. Só estou preocupado por ter deixado meu irmão sozinho com meu pai. Nunca nos separamos assim.

— Relaxe, ele ficará bem — diz o comandante do exército do Reino da Terra.

Estavam no navio o Rei Egobett e seu filho Don, além do Rei Dalton e seu filho Fall, juntamente com Hélia e Jadita, presentes ao lado de Don como suas convidadas para conhecer as irmãs do príncipe.

As duas irmãs estavam atônitas com tanta formosura e elegância das mesas cobertas de lençóis estampados com pequenos cristais brilhantes. Também havia luzes de vaga-lumes nas tochas penduradas no mastro e nas colunas do navio.

O ambiente era agradável e muito limpo. Havia alguns servos servindo bebidas e guloseimas gostosas direto da cozinha do palácio. E havia também músicos para animar o local, tocando algumas músicas e sons bem comuns usados nas festas mais preciosas da realeza.

Simplesmente, a vista naquele momento da tarde era deslumbrante, com o pôr do sol brilhando intensamente, e a temperatura estava agradável também, com uma sensação térmica bem suave, além de uma brisa de vento aconchegante.

O vento ajudaria também na viagem em direção ao Reino do Fogo; demoraria alguns dias para chegar até lá. Mas nada que deixasse a viagem entediante ou desagradável.

Por um breve momento, alguns ficaram com sono da festa anterior e foram se deitar para descansar de um dia bastante festivo. Apenas Hélia, Don, Unises e Jadita ficaram na beira da frente do navio, conversando sobre a vida de cada um e de como foram engraçados alguns eventos que ocorreram durante seus anos de vida.

— Bom, teve um dia em que o Fall me trancou em um armário, e eu fiquei lá dentro o dia inteiro sem poder sair. Fiquei até morto de fome. Eu gritava para que alguém pudesse me ajudar, mas ele havia fechado todas as janelas e portas do quarto, e o quarto era grande, então imagina — ele conta, dando gargalhadas.

— Não me parece uma história de boas intenções. O que ele fez com você foi maldade — Hélia diz seriamente, olhando para Don.

Do outro lado do navio, atrás, estava Fall, sozinho, pensando em algumas coisas. Era normal vê-lo sem ninguém ao seu lado; ele teve uma vida difícil na infância, viveu até os doze anos ao lado de sua mãe e, depois que ela morreu, nunca mais foi o garoto alegre que foi um dia. Seu pai se preocupava com seu estado, mas não sabia o que fazer; ele também ficou bastante abalado com a morte da esposa.

Foi todos os dias, sempre com um semblante triste em seu olhar e uma cara feia quando olhava para seus subordinados. Ele se tornou uma pessoa arrogante e bastante metido, além de ser grosseiro com as pessoas, principalmente com as mulheres.

Não foi à toa que ele menosprezou as duas irmãs no baile, além de ter feito com que elas ficassem muito magoadas com as palavras que saíram de sua boca suja. Para um nobre príncipe que já foi um dia, hoje ele não passava de um reles plebeu.

Mas a vida dele poderia mudar se ele encontrasse uma mulher que o fizesse mudar seus pensamentos, convicções e caráter, que era o mais importante.

Talvez surgisse essa tão sonhada moça em sua vida conturbada, mas esperamos que não seja tarde demais para nosso príncipe. Ele seria uma boa pessoa se a vida tivesse sido menos cruel como foi.

— Fall, vem aqui conversar com as meninas. Estávamos falando de várias situações engraçadas dos velhos tempos — Don fala animado.

— Não me chateia, irmão. Não quero falar com essas donzelas que você conheceu ontem. Espero que não demore muito até que vão embora — Fall diz com desprezo em seus lábios carnudos.

— Você que sabe. Não quero incomodá-lo.

A única pessoa que Fall gostava era de Don, seu irmão de consideração. Os dois foram criados juntos no Reino da Terra, pois Don era o filho bastardo do Rei Egobett. Ele havia ficado com a esposa do rei do Reino do Trovão, mas ninguém sabe dessa verdadeira história, muito menos Don.

Atualmente, o filho do rei do Reino do Trovão que está sentado no trono governa com sabedoria e tem apoio dos seus conselheiros, que, na verdade, são mais eles que governam do que o próprio rei.

O Reino do Trovão era o menor entre os seis, mas, em compensação, era o reino mais forte em defesa. Sua grande muralha, que rodeava todo o território do reino, tinha exatamente cem metros de altura, a maior muralha já construída em todo o mundo.

Foi exatamente pelo reino ser pequeno que decidiram construir uma muralha muito alta para impedir que fossem facilmente derrotados. Também era o único reino em que o exército usava escudos com lanças, a especialidade deles na batalha.

Outra habilidade única que continham era que seus guerreiros eram extremamente hábeis em movimentos de defesa; suas estratégias eram únicas e peculiares. Nenhum outro reino tinha.

No final das contas, era um reino muito difícil de ser administrado, pois tinha muita burocracia envolvida. Por exemplo, o rei não podia deixar o reino por nenhum motivo, a não ser em situação de guerra, pois era a única opção que ele tinha de poder sair. Isso se deu pelo reinado do pai dele, que exigiu que não houvesse contato com as outras famílias reais. Ninguém sabe por qual motivo ele fez isso, mas fez.

— Finalmente chegamos! — Grita Don, abrindo os braços em direção ao porto marítimo do seu reino. — Meninas, sejam bem-vindas às terras do Reino do Fogo!

— Nossa! Muito lindas todas essas embarcações organizadas — Hélia conta, espantada com os formatos de cada navio.

— Comandante? É estranho ou esses soldados estão se preparando para uma guerra? Não param de encher os navios, e essa quantidade de soldados reunidos não deve ser normal, ou é? — Pergunta Unises ao seu comandante.

— Provavelmente não, mas não é da nossa conta. Fique em silêncio.

— Bom, Hélia. Tenho uma surpresa para você. Se puder me acompanhar, vou te mostrar o lugar que mais gosto de ir aos finais de semana.

— Claro, Jadita. Você pode ficar com Unises enquanto retorno?

— Sim, será um prazer. Aproveite.

Os dois reis estavam um pouco ansiosos para o treinamento dos recrutas; fazia muito tempo que não acontecia um evento como esse, e se tem algo que o Rei Egobett gostava era de participar das lutas.

Fall também amava lutar; era uma forma de extravasar a mente e poder colocar sua raiva para fora, descontando nos soldados mais novos que ele, pois tinha vinte e três anos e seu irmão Don tinha vinte e dois. Eram novos para suas idades e jovens ainda; tinham muito o que aprender, principalmente em relação a administrar um reino.

Não demorou muito para que chegassem ao castelo. Diferente da cidade-capital, o castelo ficava de frente para a muralha, já para casos de chegada da realeza de viagens para os outros reinos. Assim, eles evitavam passar dias para chegar ao castelo, já que o castelo na cidade-capital ficava no centro do território.

A família real só visitava a cidade-capital quando tinha certeza de que passaria muito tempo nessa cidade, pois o deslocamento para sair de lá era muito difícil e demorado.

Dalton admirava muito as lutas, mas não gostava de guerras. Acredita-se que ele era o único rei entre todos que não era a favor de brigas e discussões familiares, quem dera uma guerra, onde havia mortes e destruição por todos os lados.

Egobett, pelo contrário, gostava muito de guerras, e sua filha Kira amava de todo coração. Muitos tinham medo deles dois, ainda mais quando estavam juntos lado a lado. Se houvesse uma guerra, os reinos estavam lascados com as estratégias únicas da princesa Kira; ela era muito hábil e tinha uma mente muito criativa para derrotar seus inimigos. Ninguém jamais ganhou dela em um jogo de xadrez; outros reinos vinham especialmente pedir e pagar para jogar com ela por alguns minutos.

A princesa Kira era uma mulher muito decidida, determinada, elegante, disciplinada, valente e admirável por muitas pessoas ao seu redor, e era considerada perfeita em relação a outras princesas e mulheres da realeza, até mais perfeita que sua irmã Erita, e ela gostava muito disso.

Já Erita era muito gentil, doce, amável, muito elegante, mais que Kira nesse aspecto, ousada às vezes e tinha um forte amor pelo seu povo e sua nação. Diferente de seu pai e de Kira, ela não gostava de guerras; tinha horror de brigas e discussões. E ela tinha um desejo intenso de ajudar os mais necessitados. Por todas essas qualidades, ela era a princesa mais respeitada em sua nação, tanto pelos nobres quanto pelos plebeus.

Mas havia um problema sério nessa família do Fogo, que era o desprezo de Kira pelo seu irmão Don. Ela sempre tinha um incômodo quando estava perto dele; havia algum motivo especial para que Don a deixasse irritada quando olhava para ele. Os dois nunca se deram bem, mesmo quando Don se esforçava para haver harmonia entre eles, mas Kira sempre recusava e xingava ele às vezes por essas tentativas tolas, em sua visão.

O dia se passou e a noite chegou, e todos estavam convidados para um jantar no palácio real, onde poderiam comer todos os tipos de comidas, e as mais gostosas que o reino poderia oferecer.

Hélia e Jadita estavam abismadas com quantas coisas tinham para comer; eram tantos pratos que elas duas ficaram em dúvida sobre o que escolher. E quem mais estava perdido era Unises; ele sim nunca havia visto tanta fartura em uma única mesa, repleta de doces variados e receitas deliciosas que davam água na boca. Simplesmente, ele ficou assustado por um breve momento.

— Pai, tudo já está preparado para aquilo que o senhor me pediu. Peço sua permissão para deixar o jantar para outra hora; não estou com fome — disse Kira, com uma expressão séria em seu rosto.

— Permissão concedida à minha filha, e obrigado — Egobett falou, fazendo um gesto para o servo tocar o sino — atenção! Hoje é um dia muito especial. Agradeço a presença de cada um aqui hoje e estou muito grato por todos terem comido e enchido a pança — ele falou, dando gargalhadas.

Todos riem e dão gargalhadas, mas o semblante de Egobett mudou de repente, e ele olhou profundamente para o Rei Dalton e disse:

— Rei Dalton, meu amigo, você me ajudou muito nesses anos que se passaram. E creio que sua ajuda foi crucial por ter cuidado do meu filho querido, Don. Jamais poderei recompensá-lo por tudo que fez.

— Imagina, meu amigo! Faria tudo novamente pelo meu filho, que amo tanto como amo o Fall. Ele me deu muitas alegrias e muito trabalho também — conta, dando um grande sorriso.

— Que coisas erradas você pode ter feito, em Don? — Hélia, sorrindo, pergunta, encostando sua cabeça no ombro dele e segurando em seu braço.

— Nada demais, o Fall que realmente dava muito trabalho; ele não parava quieto um segundo. Você tinha que ver — Don fala, sorrindo levemente.

— Mas tenho algo muito importante para contar antes de terminar o meu discurso. E acredito que seja do interesse do Rei Dalton.

Egobett fica em silêncio por um momento e deixa todos na expectativa, pensando no que seria o assunto. E, para a surpresa de todos, ele revela algo surpreendentemente imaginável e que ninguém jamais pensaria que fosse acontecer por parte dele, dizendo:

— Neste exato momento, está marchando o exército do Império do Vento em direção ao Reino da Terra... — Assim que disse isso, vários guardas adentraram a sala e rodearam o Rei Egobett, protegendo-o. Outros cercaram o restante dos convidados — e, juntamente com eles, as embarcações do Reino do Fogo para ajudá-los a destruir todo o exército da Terra!

— O quê?! Como assim?! Você me traiu, Egobett! Como pôde fazer isso comigo?! Seu traidor! Você vai pagar caro por isso! Estou lhe avisando, isso não ficará assim! Entendeu?! Você vai pagar, seu canalha! — Dalton tenta se aproximar de Egobett, mas é impedido pela guarda real.

— Pai? Como pode fazer essa crueldade? Não posso acreditar que teve coragem de fazer isso — Erita diz, com lágrimas nos olhos.

— Você entenderá um dia, minha filha. Espero que algum dia me perdoe por isso. Mas foi necessário.

— Que horror! Como ele pôde fazer isso, Don? — Hélia pergunta, toda assustada e tremendo.

— Pai?! Como ousa fazer isso?! Você perdeu todo o meu respeito que tinha pelo senhor! A mamãe ficaria horrorizada com a sua atitude covarde como essa! — Assim que terminou de falar, Don deixa a sala e vai em direção à varanda para respirar um pouco.

Todos ficaram perplexos com a notícia. Jadita, assim que ouviu as primeiras palavras do Rei Egobett, desmaiou na hora e caiu nos braços de Unises. O comandante do Rei Dalton ainda puxou a espada, mas foi impedido pela guarda real, guardando-a.

Já Fall não esboçou nenhuma reação; ele não se importava pelo seu povo, muito menos pela nação em que nasceu. Se fosse por ele, todos sofreriam todos os dias, assim como ele sofreu pela perda da sua mãe. Mas, no fundo, ele tinha pena do seu povo, talvez…