No dia seguinte, todos ainda não tinham processado direito as palavras que saíram da boca do Rei Egobett. E a maioria estava triste pelas perdas que já poderiam ter ocorrido naquela altura.
Don nem conseguiu dormir direito de tanta raiva de seu pai; ele jamais poderia lhe perdoar pelo que havia feito contra a nação da Terra. Essa não era uma visão de um digno rei e o símbolo de um reino de respeito. Realmente, ele estava muito mal.
Por algum motivo estranho, a princesa Erita deixou o palácio e entrou em um dos navios da família, partindo em direção a uma ilha que ficava distante do território de sua casa. Provavelmente, foi para descansar a mente tão pesada e a culpa que ela sentia pelos pobres soldados do Reino da Terra. De alguma forma, ela sentia que era sua culpa por não ter feito nada para impedir essa crueldade insana.
Hélia confortou Don, abraçando-o constantemente e lhe dando conselhos de como proceder a partir de agora com seu pai. Os dois tinham uma forte ligação e era como se tivessem nascido um para o outro, pois seus ideais se ligavam bastante. Se eles um dia se casassem, com certeza poderiam construir um império poderoso juntos.
— Senhor?! Nossos homens nas muralhas avistaram um enorme exército de mercenários vindo em nossa direção. O que devemos fazer?
— O quê?! Um exército? — Egobett pergunta, assustado.
— Isso não pode ser possível, pai! Como eles saberiam que estamos sem o nosso exército presente? — Kira fala, bastante brava.
— Não sei, minha filha. Não entendo como saberiam dessa informação. Nossos batedores provavelmente foram assassinados, mas os únicos que sabiam da posição de cada um deles eram Heigor.
— Acha que ele nos traiu? — Kira perguntou, batendo na mesa.
— Provavelmente... Não tem muito o que possamos fazer, comandante. Reúna todos os nossos soldados e os envie para as muralhas. Vamos segurá-los o máximo possível! E Kira! Envie uma carta ao seu futuro marido pedindo ajuda para nos salvar dessa iminente ruína. Rápido!
— Pai! Ele não é meu marido, você sabe disso... Aff!
Os mercenários já estavam praticamente nos portões das muralhas do Reino do Fogo. Mesmo que uma carta fosse enviada pedindo ajuda, os reforços não conseguiriam chegar a tempo; era o fim da família real do Fogo.
Egobett confiou demais no terrível Imperador Heigor. Ele tinha a fama de ser um homem muito mau e não media escrúpulos para alcançar o que desejava, sempre planejando algo ruim contra seus inimigos, e o maior deles eram os outros cinco reinos.
— Imperador Heigor?! Nossos batedores avistaram um exército de mercenários marchando em direção às terras do Reino do Fogo. Devemos ajudá-los?
— Não! Eles já fizeram tudo que podiam para nos ajudar. Agora chegou também a hora do fim deles, finalmente.
Heigor era muito sanguinário, realmente um homem muito malvado, mas, apesar dessa maldade toda no coração, ele fez coisas admiráveis para o seu povo. Por exemplo, quando ele descobriu que existia o filho do irmão do seu pai, chamado Durmog, e que era herdeiro do trono, ele o coroou imperador e o colocou ao seu lado. E também coroou um filho do antigo conselheiro real de seu pai, chamado Konnix.
Além de ter feito algo surpreendente que nunca houve em nenhuma dinastia, que foi colocar uma mulher como comandante do seu exército, chamada Kolizeu. Mas ele só fez isso porque percebeu que ela tinha muitas qualidades e que era apta a liderar com muita maestria. Se não fosse isso, ele jamais teria tido essa ideia em mente.
Kolizeu também se tornou imperatriz, pois foi prometida a Heigor quando mais nova, mas ela recusou o pedido e ficou com Raygor, o irmão de Heigor. Há rumores de que foi por causa dessa traição para Heigor que Raygor desapareceu, mas ninguém sabe a verdade.
Havia também mais duas imperatrizes, que eram a esposa de Durmog, chamada Persephone, e a irmã de Persephone, que era esposa de Konnix, chamada Yuki. Assim, os três imperadores e as três imperatrizes governavam o Império do Vento com muita maestria e o desenvolviam com muita inteligência. Não era à toa que era o império mais forte entre os seis reinos.
— No que estava pensando, Durmog? Me parece que se preocupa com muitas questões — Kolizeu pergunta, intrigada.
— Sinto que as coisas vão mudar por essas terras e que algo grande está para acontecer no destino do mundo. Só falta aguardarmos para ver o que realmente vai acontecer — Durmog diz, tomando um gole de vinho e colocando a taça na mesa. — Mas então, Heigor continua empenhado em destruir a nação da Terra?
— Sim, mas não quero falar sobre isso. Não concordo com essa atitude dele. Infelizmente, não podemos fazer nada no momento em relação a isso. Sinto pena da nação da Terra; eles são o meu povo — derrama uma lágrima Kolizeu.
— Não sei como consegue chorar por um povo que jamais conheceu. Você é muito sentimental, apesar de não demonstrar isso no dia a dia.
— Não sou insensível como você, um bruto que só usa os músculos em vez da cabeça — Kolizeu fala, jogando uma faca em Durmog, mas ele desvia e acerta uma madeira da sala de construção.
— Se eu usasse apenas os músculos, não seria conhecido como o maior construtor das terras dos seis reinos, e você ficaria sem reação se soubesse o que estou construindo atualmente para mudar o rumo das guerras. Não serei apenas um construtor, mas o primeiro imperador que mudou a história das batalhas para sempre!
Dando gargalhadas, Kolizeu diz:
— Quero ver esse dia chegar. Você nunca conseguiu criar algo tão majestoso e poderoso ao ponto de mudar algo grande. Imagine os rumos das guerras.
— Aguarde e verá... — Durmog fala, pegando um martelo e batendo na lâmina de uma espada que ele estava forjando.
— Agora vou te deixar em paz para que você possa fazer suas bugigangas. Tenho um almoço para preparar com as meninas.
Durmog era um homem esbelto e muito lindo. Apesar da sua aparência bruta e por ter pouca elegância, ele tinha qualidades que poucos homens tinham, como ser um guerreiro muito experiente e hábil no manejo de espadas, além de sua criatividade e habilidade em forjar vários tipos de espadas, machados, lanças e escudos com formas variadas e formatos únicos.
Já Kolizeu era uma das mulheres mais lindas das terras dos seis reinos. Seus cabelos eram totalmente macios e invejavam qualquer mulher ao seu redor. Sua postura era muito elegante e, apesar de ter nascido em uma família comum, ela tinha muitas qualidades. Por exemplo, ela tinha estratégias únicas que nenhuma outra mulher tinha. Ela poderia se igualar à princesa Kira nesse requisito, pois as duas, no campo de batalha, poderiam criar formações de batalha que deixariam os homens totalmente confusos e sem entendimento algum do que estava acontecendo na guerra.
Além de ser uma ótima cozinheira, criando variados pratos que deixavam as pessoas de queixo caído quando olhavam, e mais ainda quando provavam suas delícias.
Apesar do requinte da culinária, Kolizeu tinha uma perspicácia e percepção aguçadas. Se alguém tentasse enganá-la, ela conseguia descobrir na hora e ainda arrancava os motivos da mentira de quem quer que fosse, apenas com a sua forma e expressão de falar. Seus subordinados tinham muito medo dela, ainda mais quando passeava pelos corredores do castelo.
E, por último, ela era uma guerreira muito especial. Aprendeu a lutar com Durmog na fase da adolescência, algo que ela não se orgulha muito, pois Durmog só lhe dá dor de cabeça. Os dois não se dão muito bem, mas só existem pequenas intrigas entre eles. Quem olha de longe poderia até dizer que formariam um casal de tantas brigas que acontecem entre eles. Mas seria um casal estranho, sinceramente.
— Atenção, disparar! — Várias flechas são lançadas em direção aos mercenários que avançavam em direção às muralhas. — Eles estão subindo homens, preparem as espadas!
— Senhor, eles estão conseguindo destruir nossas defesas. Não sabemos por quanto tempo vamos suportar... — conta o soldado, desesperado e com o coração aflito.
— Coragem, homens! Vamos destruir todos eles! Firme, soldados!
A linha de frente de defesa não estava conseguindo segurar os ataques, e faltava apenas alguns segundos para serem derrotados e os mercenários conseguirem entrar. Quando menos esperavam, vários homens de capuz adentraram as duas torres dos portões e mataram os soldados, abrindo em seguida o portão principal, que era bastante grande e tinha um espaço amplo.
Era então o fim da família real do Fogo. Egobett, juntamente com Kira e Don, estavam se aproximando da muralha, mas, quando chegaram, já era tarde demais. O líder dos mercenários já estava dentro e furioso para acabar com todos.
— Ah! Seu traste, você vai morrer hoje mesmo! — Kira fala, avançando para cima do líder, mas é derrubada por ele. Egobett o ataca, pedindo a Kira para lutar contra os outros e deixar o líder com ele.
— Cuidado, pai! Ei, você! Vem me enfrentar se puder! — Dois jovens correm em direção a Kira e a atacam com vários golpes, mas ela desvia de todos e dá várias piruetas com o seu corpo. — Vocês são péssimos!
— Você é muito jovem para morrer. Pena que sua beleza não irá durar muito tempo, gracinha! — Fala um dos jovens que luta contra ela. Mas Kira fica com raiva do elogio e avança com tudo, cravando a sua espada no coração de um deles. No segundo, usa tanta força na espada que consegue cortar um dos braços do rapaz. E assim finaliza com um golpe no pescoço.
Com os dois jovens caídos no chão, dezessete homens correm para atacar Kira, e ela fica animada para lutar contra eles. Ela faz um golpe giratório e corta cinco deles na barriga, que caem logo em seguida. Assim, faz vários ataques com movimentos que ninguém tinha presenciado antes. Realmente, ela estava inspirada naquela manhã.
Já Don estava tendo dificuldades com sete deles. Lutava bem até, mas fazia algumas semanas que ele não havia treinado, então estava fora de forma, um risco que estava correndo naquele momento. Mas, mesmo assim, conseguiu dar conta deles e avançou para ajudar Kira a finalizar o restante.
Sem nenhum deles esperar, Egobett estava correndo risco de vida. Vinte e cinco homens o rodeavam e cercavam de todos os lados, e o líder deles aproveitou a oportunidade para derrubá-lo no chão, cravando assim a espada na barriga de Egobett.
Ele sentiu uma forte dor e não tinha mais forças para se levantar, muito menos para continuar lutando. Kira, ao ver isso, correu em direção a ele, mas foi impedida por vinte homens. Don aproveitou a abertura que Kira fez e correu até o líder, mas o homem cravou a espada no peito de Egobett, matando-o. Em seguida, Don pulou e enfiou a espada no coração do líder.
Os homens do líder então pararam de lutar com Kira para atacar Don, mas Kira não deixou e desferiu vários golpes neles, matando rapidamente uns sete deles.
Perto deles, se aproximou o vice-líder dos mercenários, que estava chegando com vários homens ao seu lado. Naquela altura, todos os soldados do Fogo já estavam caídos no chão, sem respirar. Quando Kira foi cercada e estava prestes a ser morta, surgiu uma mulher de cabelos dourados escorrendo por uma corda, deu uma pirueta e caiu em cima de um mercenário, colocando uma faca em seu pescoço e o degolando. Em seguida, soltou a faca no chão e puxou a espada da bainha, dizendo:
— Chega de tantas mortes por hoje! Nos rendemos a vocês, mercenários! Poupem a vida desta família real! Eles merecem viver!
— Alto, homens! Vencemos! Isso é o que importa! — O vice-líder dá gargalhadas. — Depois de séculos, um dos seis reinos cai aos nossos pés! Viva!
— Viva! Viva! Viva! — Gritam os homens do vice-líder dos mercenários. Aquela realmente era a queda da grande nação do Fogo.