Chereads / A Saga de Lunizs - Livro 1: O Alvorecer / Chapter 4 - Capítulo 3 - O Convite

Chapter 4 - Capítulo 3 - O Convite

Na manhã seguinte, as duas moças acordaram cedo, levantaram-se rápido e já começaram a se aprontar para a festa do baile que aconteceria no castelo do Reino da Planta.

Muitos foram convidados para esse enorme evento, pois era raro o rei Redbad fazer ocasiões importantes para a comunidade do seu reino. Além do mais, as mulheres estavam todas ansiosas para ver e, quem sabe, conhecer o príncipe Fall do Reino da Terra.

Hélia tinha muitas expectativas em relação a ele e estava contando com alguma oportunidade de poder demonstrar o quanto ela era especial como mulher, apesar de ser bastante humilde e determinada quando tomava alguma decisão que acreditava ser importante.

Era muito cedo, seis horas da manhã, e não demorou muito para que a carruagem que as levaria chegasse em frente à sua porta. Hélia já tinha acertado tudo no dia anterior, pois não queria sujar os vestidos se fosse andando a pé até o castelo, e também demoraria muito tempo se fosse assim.

Assim que entraram, as duas conversaram bastante sobre as possíveis coisas que iriam conhecer e ver dentro do castelo, pois era a primeira vez que teriam o privilégio de desbravar o território real. Apesar dos seus gostos simples na vida do campo, elas admiravam bastante a mordomia que os reis e rainhas tinham em suas fortalezas, totalmente protegidas por muralhas enormes e guardas em cada entrada.

Um evento difícil de acontecer, pela probabilidade, ocorria apenas umas duas vezes no ano, esses encontros da realeza, pois, em anos passados, os reinos viviam em guerras um contra o outro, desde séculos atrás.

Os pais do rei Redbad, juntamente com os outros reis e rainhas, entraram em um acordo de paz para dar um fim nas guerras infindáveis. Eles já estavam cansados de tantos séculos de destruição e morte, então decidiram que, quando nascesse o dominador, deveriam deixá-lo crescer até os vinte anos e só então matá-lo.

Mas, no primeiro dia do primeiro mês do ano três mil e seiscentos, quando nasceram os bebês que poderiam ser escolhidos pelo ciclo elemental, os soldados dos reinos não conseguiram encontrar o bebê escolhido. De alguma forma, ele havia fugido das mãos da realeza ou ainda não havia nascido, pelos rumores contados.

Agora, estava se aproximando o dia em que o possível dominador deveria completar vinte anos, o dia em que ele teria despertado o poder dentro de si para despertar o espírito elemental. E isso estava deixando as realezas bastante agitadas, pois, se o dominador conseguisse despertar o espírito elemental, poderia iniciar novamente uma guerra entre os espíritos.

— Sejam bem-vindas, senhoritas donzelas, me sigam, por favor. Esse pequeno jovem vai acompanhá-las até o salão de baile... — disse o porteiro, pegando nas mãos das jovens e ajudando-as a sair da carruagem.

— Bom dia, senhoritas. Me acompanhem, por favor. Se forem sozinhas, os guardas não deixarão passar, já avisando — falou o menino de cabelos lisos e ondulados. — Espera um momento, essa não é aquela garota com quem o Unises estava conversando ontem?

Assim que os três adentraram pelos portões gigantes do castelo, Hélia bateu de frente com um príncipe que estava saindo com uma expressão bastante incômoda.

— Oh! Me desculpe, senhorita, não queria ter esbarrado em você, perdão — disse o príncipe de cabelos crespos, olhando para baixo.

— Tudo bem, me desculpe também — assim que ele passou por ela, não olhou para o rosto de Hélia, mas, sem perceber, um pequeno lenço que Hélia estava carregando nos braços foi levado pelo bracelete do príncipe, deixando-o constrangido. — Sorrindo, ela fala — Acontece, pode passar.

O príncipe então olhou para os olhos da moça e ficou corado pela sua reação contente por aquela situação embaraçosa, mas saiu com passos apressados em direção à saída do castelo.

Jadita não perdeu tempo para incomodar Hélia, dizendo que ela teve a maior chance que qualquer mulher desejaria ter: ter o privilégio de esbarrar com um dos príncipes dos reinos.

Depois de alguns longos passos, os três chegaram ao salão e adentraram, olhando para todos os lados a beleza sem igual que jamais tinham presenciado. Aquilo era estonteante e belo.

— Deixo-as em boas mãos, aqui podem aproveitar o melhor que o Reino da Planta pode oferecer. Aproveitem! — disse Nino ao sair com passos apressados em direção à cozinha real.

Logo que chegou à sala das refeições que estavam sendo preparadas, ele não perdeu tempo em falar com o seu irmão, que estava cozinhando bolinhos de dragão ao molho.

— Unises! Você não vai acreditar no que meus olhos acabaram de ver!

— Sério? Algum palhaço que está animando o baile?

— Não! Eu vi aquela menina com quem você estava conversando ontem, aquela de cabelos loiros como o pôr do sol. Agora que a vi de perto, é bem mais bonita do que pensava... — fala Nino, com os olhos brilhando de alegria.

— Olha a língua, seu pirralho! Se ela está aqui, não posso deixar meu posto. Provavelmente, ela tem contato com a realeza só por estar aqui presente. Não é qualquer um que tem a oportunidade de fazer parte do baile real.

— Poxa... pensei que você ia ficar animado com a notícia. Ela está deslumbrante naquele lindo vestido, você tem que ver. Depois que terminar de preparar isso, dá uma saída rápida só para vê-la — Nino fala, saindo e dando pulos pela cozinha.

Um pouco longe dali, em uma sala de reunião, estavam conversando o rei Dalton do Reino da Terra, o rei Egobett do Reino do Fogo e o rei Redbad do Reino da Planta, discutindo assuntos importantes sobre seus reinos, até que a existência do dominador entrou na boca de dois deles.

— Meu amigo Redbad, não queria falar sobre esse assunto agora, mas me veio à cabeça, então preciso falar — disse Egobett, com os punhos cerrados.

— Já sei qual é, meu amigo, sobre o dominador, não é mesmo? Redbad já está informado que, daqui a algumas semanas, chegará o dia em que o possível dominador completará vinte anos de idade, e será o dia mais arriscado que já houve em séculos — falou Dalton para os dois.

— Hum... eu compreendo a preocupação de vocês. Nunca uma situação como essa aconteceu em séculos. O bebê dominador sempre foi encontrado e cuidado até os vinte anos de idade e morto em seguida. Mas agora o destino está contra nossa vontade. Por algum motivo, talvez a profecia queira se cumprir a qualquer custo — Redbad conta, com preocupação em seus olhos.

— Não podemos permitir que isso aconteça. Temos que encontrar esse dominador antes que chegue o dia de seu aniversário! — Egobett bate na mesa com força e grita.

— Minhas tropas já foram avisadas para iniciarmos a busca pelo dominador. Todos os homens e mulheres deverão passar pelo teste para descobrirmos logo de uma vez por todas — explica Redbad, com tensão em todo o seu corpo.

— Egobett, Redbad... Não sei por qual motivo, mas sinto que essa era será diferente de todas as outras que já se passaram. Sinto como se algo muito ruim estivesse prestes a acontecer nas terras dos seis reinos, e não será nada bom.

Os três reis estavam certos em estar preocupados em relação ao cumprimento da profecia. Querendo ou não, algo estava se movendo entre eles que não podiam compreender, mas apenas sentir que algo estava para acontecer.

Eles apenas sabiam da primeira profecia, que foi também modificada pelos primeiros reis e rainhas, e escondida por eles a segunda. Eles mal faziam ideia do que estava para acontecer nas terras dos seis reinos. Não estava apenas se aproximando o dia em que o espírito seria despertado, mas algo muito maior e perigoso.

Os reis atuais sabiam também que os povos forasteiros tinham conhecimento sobre o cumprimento da profecia e não iriam ficar parados e deixar acontecer. Na verdade, existiam dois lados da moeda.

Alguns povos desejavam que a profecia fosse cumprida, pois iria mudar o rumo do mundo e, quem sabe, trazer paz eterna para todos os povos, quem sabe ainda mais uma união de todos os povos.

Mas outros queriam impedir que a profecia se cumprisse, pois temiam uma guerra muito mais feroz e destrutiva do que jamais houve nas terras dos seis reinos, e que poderia levar, dessa vez, para o mundo inteiro.

Era difícil dizer qual era a maioria; provavelmente, estava igualada a quantidade de cada lado da moeda a favor ou contra. Aqueles realmente seriam dias difíceis, e pior, havia também um terceiro lado, que eram aqueles que desejavam raptar o dominador para usá-lo contra os seis reinos elementais e destruir todas as dinastias de uma vez por todas.

Muitos já estavam cansados da monarquia autoritária que governava com crueldade e desprezo pelo povo, principalmente os povos que não faziam parte dos seis reinos.

Todos que nasciam nas terras dos seis reinos tinham um espírito compatível com um dos seis elementos, de acordo com o reino onde nascessem. Mas, se algum homem ou mulher decidisse sair das terras dos seis reinos e morar em outro lugar, e eles tivessem filhos em outras terras, a compatibilidade elemental era quebrada, impedindo o bebê de nascer com o espírito compatível de algum dos seis elementos.

Ninguém sabe por qual motivo existia essa lei, mas alguns compreendiam que, assim como o ciclo elemental poderia ser quebrado (quando o espírito fosse despertado), também fazia sentido o espírito não ser compatível com aqueles que nasciam em terras estranhas.

Também havia um porém: caso os pais estivessem fora das terras dos seis reinos e tivessem filhos, o filho herdaria o elemento do pai, e a filha herdaria o elemento da mãe. E caso o marido ou a mulher não tivessem nascido em uma das terras dos seis reinos, o menino ou a menina não herdaria o elemento do pai ou da mãe. Exemplo: se o pai não tivesse nascido nas seis terras, mas a mãe sim, e tivessem um filho, o filho não herdaria o elemento do pai, pois ele não nasceu em uma das seis terras, mas também não herdaria da mãe (pois era menino, e a linhagem elemental era passada de acordo com o mesmo sexo dos pais), mesmo ela tendo nascido em uma das seis terras, e vice-versa.

Na verdade, era algo bom. Imagine se todos os povos tivessem o espírito compatível com algum dos seis elementos; isso poderia causar uma guerra muito maior e sangrenta, por séculos a fio.

Havia um equilíbrio no mundo tentando ser restaurado. Existia uma força maior no universo querendo restaurar as coisas como eram no princípio, antes da corrupção do espírito das trevas.

— Atenção! O baile de boas-vindas vai começar. Apresentamos o príncipe Fall, do Reino da Terra!

— Cadê ele? — Hélia fala com expectativa em seu semblante.

— Nossa, ele é lindo! — diz Jadita, admirando a postura e a vestimenta do príncipe.

— Prazer em conhecê-la, jovem de olhos esverdeados, mas você não faz o meu tipo. Sinceramente, nem sei o que faz aqui neste baile, francamente.

— Como ousa falar assim com a minha irmã?! — Jadita pergunta, toda embravecida.

— Você também não deveria estar aqui, dama da lua! Com licença, preciso tomar um ar fresco, senão ficarei entediado com tanta falta de elegância em vocês duas.

Hélia fica sem palavras para expressar o que estava sentindo naquela situação, e uma pequena lágrima caiu de seus belos olhos verdes escuros.

— Hélia, não desperdice suas lágrimas por causa daquele patife. Ele nem deveria ser chamado de príncipe… Vamos embora daqui, vem!

As duas saíram correndo daquele salão infestado de mulheres gananciosas por fama, riqueza e empoderamento, apenas por serem da realeza. Poucas desejavam apenas ter uma vida melhor, como Hélia.

— Esperem! Por qual motivo estão saindo assim com tanta pressa? Acredito que o baile começou há pouco, não?

— Sim, mas... — Hélia tenta responder, mas sua voz não consegue sair.

— Me concederia a honra de poder dançar com a senhorita? Acredito que você seja a mais bela entre todas as mulheres que estão aguardando no salão.

— Na verdade, estávamos de saída. Não podemos ficar — Hélia diz, soltando sua mão da do príncipe.

— Podemos ficar um pouco, minha irmã, e você não pode recusar um convite vindo diretamente do príncipe do Reino do Fogo! — Jadita fala, dando um empurrãozinho em Hélia.

— Como sua irmã falou, fique apenas um pouco até terminarmos a dança. Depois, pode ir embora à vontade. Aliás, chamo-me Don. Meu pai e eu viemos resolver alguns negócios com o rei Redbad. Me acompanhe, por favor, senhoritas.

Os três, então, entraram no salão real, e Hélia e Don começaram a dançar elegantemente. Os olhos das mulheres presentes não se desviavam deles dois dançando com graciosidade e perfeição nos passos.

Hélia, apesar de morar no campo, fazia aulas de dança na cidade. Pagava com prazer por esse aprendizado, pois um dia desejava ter a oportunidade de dançar com algum príncipe. Infelizmente, esse dia foi estragado pelo patife príncipe Fall, mas Don acabou salvando o pouco deste dia.

Jadita estava sozinha no cantinho de uma coluna alta que sustentava o salão, apenas observando as danças e comendo um pouco dos aperitivos que eram oferecidos.

— Jadita? É você mesmo?! — Unises pergunta, todo desajeitado e constrangido por estar usando roupas de cozinheiro.

— Unises?! Você está aqui? Como vai? Nunca pensei que o nosso reencontro seria tão cedo — ela sorri, ajeitando os cabelos e desamassando o vestido.

— Você está linda neste vestido, parabéns! — Unises elogia, um pouco corado e com um sorriso bobo no rosto.

— Você quer dançar comigo? A minha irmã já conseguiu o par dela, só falta você e eu — Jadita pergunta, toda animada.

— Dançar? Bom... eu até aceitaria, mas não sei dançar. Nunca aprendi, na verdade — conta, recuando um pouco para trás.

— Não é problema. Podemos ficar apenas juntinhos um no outro e dar alguns passos. Vem!

Aquele realmente era um dia que ficaria marcado na vida desses jovens. Eles mal faziam ideia do que estava para acontecer naquelas terras. Era bom poder aproveitar esses momentos belos enquanto se podia; o tempo de paz era como uma leve brisa suave que se passava de repente e se esvaía com o tempo.

Apesar da tranquilidade que acontecia naquele momento, alguns soldados entraram correndo em direção à sala de reunião dos reis, com a informação de que a muralha oeste estava prestes a ser atacada por rebeldes que desejavam mais suprimentos por parte da realeza.

Momentos difíceis aconteceriam a partir de agora, pois a tensão naquelas terras estava crítica e bastante agitada.