Os dois estavam caminhando por um longo tempo à procura da casa da velha bruxa e não conseguiam encontrar. Talvez não fosse tão fácil como eles pensavam.
Unises começou a se cortar inteiro nos arbustos e estava ficando com raiva daquela situação. Talvez, dessa forma, ele pudesse entender o que o Nino passava quando dividia o trabalho com ele.
— Por qual motivo você não estava todo cortado como eu estou agora, Nino? Estes arbustos são um pesadelo, minha nossa.
— Bem, eu encontrei a fonte da cura e mergulhei dentro dela. Assim, consegui me curar totalmente de todos os cortes — Nino responde, dando gargalhadas.
— Acha mesmo que acredito nessas suas palavras? Isso são apenas rumores de que existe essa tal fonte milagrosa. Ninguém nunca a encontrou de verdade.
— Vai se arrepender das suas palavras quando a gente encontrar ela. Não diga que eu não avisei — Nino fala, fazendo caretas.
Não demorou muito tempo depois que chegaram ao bosque e adentraram mato adentro, até que acharam a fonte, e Nino correu até ela, pulando de cabeça.
Unises ficou parado, de boca aberta, sem acreditar no que seus olhos estavam vendo. Pela primeira vez, as palavras do Nino haviam se cumprido. Era de se esperar, já que o Nino tinha a sua reputação de ser um mentiroso nato.
— Tudo bem, agora acredito em você, mas quero ver mesmo se essas águas têm poder de curar!
— Vai em frente, entra aqui e veja...
Assim que ele entrou, mergulhando de cabeça e saindo de dentro da água, olhando ao redor, nada aconteceu. Por algum motivo importante.
Dando algumas gargalhadas, Nino fala:
— Sabia que você não era digno dos poderes da cura — Nino fala, berrando de empolgação.
— Seu mentiroso! Você disse que curava, cadê então?!
— Ele disse a verdade, meu jovem guerreiro! — disse a velha bruxa ao se aproximar dos dois.
— Ah! Unises, olha atrás de você... é a velha!
— Olá, prazer em conhecê-la, senhora. Meu nome é Unises, e o seu?
— Rapaz educado, é um prazer. Meu nome é Nayla. Acredito que um jumentinho carregando algumas frutas silvestres deva ser seu, não?
— Sim! Infelizmente, o Nino deixou-o para trás depois que se assustou com a senhora. Desculpe a arrogância dele.
— Tudo bem, eu entendo o medo dele. As pessoas falam sobre mim coisas perversas. Mas são coisas do passado, nada que importe ou mude a minha vida. O jumentinho está amarrado na minha casa. Se puderem me acompanhar, seria grata.
— Vamos, Nino! Levanta daí.
— Oh! Unises, tem certeza que é bom confiar nessa velha? Ela dá medo, olha os meus pelos todos arrepiados. Quase tive um infarto quando vi ela atrás de você. Pensei que ia te perder para sempre e eu seria o próximo.
— Deixa dessa ladainha, ela não é perigosa. Se fosse, eu saberia. Minha intuição diz que ela é gente boa, e você sabe que a minha intuição nunca erra. Vamos.
Os três andaram lentamente pelo bosque até a casa de Nayla, que ficava bem pertinho daquela fonte de águas vivas. E, apesar da humildade do lugar, era bem aconchegante.
— Oh! Senhora Nayla, por que disse que o Nino falava a verdade sobre a cura da água? Pois nada aconteceu comigo, continuo todo cortado.
— Apenas os jovens de coração puro e de mente vazia podem ser curados por aquela fonte. Ela corre das profundezas da floresta até ser derramada ali dentro e passa molhando toda a terra do bosque.
— Espera um momento, quer dizer que eu não tenho um coração puro? Eu sou uma boa pessoa! — Unises fala, intrigado.
— Você entendeu errado. Quando quero dizer pessoas de coração puro, significa que precisa ser inocente quanto às coisas más deste mundo. Se não habita no coração a maldade do universo, então nada impede que a cura seja ativada.
— Então eu tenho maldade no meu coração? Isso é pior ainda...
Gargalhando, Nayla responde:
— Você é engraçado, Unises, quando fica confuso. Faz muito tempo que alguém não alegra o meu coração desse jeito. Mas entenda, por algum motivo, você não tem nenhum rancor dentro do seu coração? Algum motivo que lhe deixa triste e com raiva do mundo ou das pessoas?!
— Hum... sim, infelizmente. Meus pais foram assassinados assim que o Nino nasceu. Nunca perdoei os homens que fizeram isso com eles. Fiquei sozinho e abandonado com o Nino ao meu lado. Nossa vida não foi fácil depois que eles faleceram. Tivemos que trabalhar muito duro durante nossos anos de vida ao lado do nosso pai adotivo, chamado Jhan.
— Foi como pensei, meu jovem. Você precisa perdoar as pessoas que fizeram isso com eles. Só assim você encontrará a paz para a sua alma e só então o seu coração ficará leve e suave — Nayla diz, derramando uma lágrima de seus olhos.
— Sem chance alguma! Eles não merecem o meu perdão. Um dia pagarão caro pelo que fizeram e não terei misericórdia, assim como não tiveram dos meus pais. Vão sofrer muito até que peçam a morte — Unises fala com raiva em seu semblante.
— Credo, Unises! Para quê tanta fúria no coração? Eu não sei por qual motivo eles mataram nossos pais, mas isso não significa que eles não mereçam o nosso perdão. Quando perdoamos quem nos feriu, a recompensa vem pra gente. Somos os mais beneficiados tomando essa atitude — Nino fala com um sorriso no rosto.
— Sábias palavras, meu pequenino. Você é muito inteligente para sua idade, sabia? — A senhora diz, acariciando os seus cabelos.
— Nino é só uma criança, tem muito o que aprender da vida ainda. Não vamos mais perder tempo aqui. Obrigado por cuidar do nosso burro, mas agora temos que ir. Já estamos mais do que atrasados... vem, Nino!
— Voltem mais vezes quando puderem. Gostaria de lhes oferecer algo para comer — Nayla agradece com um largo sorriso no rosto por ter conhecido dois belos jovens.
Bem longe dali, e muito distante, num campo aberto e cheio de belas flores e rosas com pétalas coloridas, morava a jovem Jadita com sua irmã mais velha. As duas moravam sozinhas e trabalhavam na horta e plantações diariamente para se sustentar durante as semanas.
Elas plantavam diversos tipos de alimentos: batatas, cenouras, legumes, tomates, pimentão, beterraba e milho. Não apenas isso, eram enormes quantidades, o suficiente para suprir um vilarejo inteiro e ainda sobraria um pouco para mais alguns dias.
A vida para elas foi difícil no começo de suas idades, mas ficou mais fácil com o passar dos anos, com o crescimento de suas vendas constantes no comércio do Reino da Planta. Era um lugar amplo e cheio de barracas vendendo todos os tipos de utensílios, roupas e objetos diversos para cada gosto dos clientes.
Sua casa ficava um pouco distante das grandes muralhas da feira livre, onde chegavam todos os tipos de pessoas para comprar e vender coisas únicas, tanto caras como baratas, de todos os preços.
— Hélia! Cheguei... você não vai acreditar no que aconteceu comigo hoje — Jadita fala, toda animada.
— Não me diga, você foi atacada por rebeldes e foi salva por soldados fortes e bonitos? — Gargalhando, ela fala, abraçando sua irmã.
— Não, não foi isso. Foi melhor ainda. Você não vai acreditar!
— Então me conta, quero saber todos os detalhes dessa sua aventura incrível — Hélia fala, se jogando no sofá e caindo de braços abertos, pegando uma almofada e segurando em seus braços, toda alegre.
— Bom, eu estava caminhando tranquilamente pela estrada até que umas abelhas assustaram o Gorky. Então, ele saiu correndo todo desembestado para dentro da floresta. Comecei a gritar bem alto para alguém me ajudar, e quando menos esperava, um rapaz lindo pulou de cima de uma árvore e me agarrou pelos braços. Caímos no chão, eu em cima dele, e ficamos olhando um para o outro por algum tempo.
— Pelos espíritos! Minha nossa, e então o que houve? — Hélia fala, jogando a almofada em Jadita.
— Bem, nada demais. Nos levantamos e conversamos um pouco e tal. Sorrimos também de alguns assuntos e foi apenas isso. Ele me convidou para a fazenda onde ele mora, mas como já ia ficar tarde, eu recusei.
— Por que? Você podia ter ido! Não podia desperdiçar uma chance como essa! Faz muito tempo que você está sozinha, precisa urgente arrumar um marido forte e bonito.
— Acredito que teremos outra oportunidade como essa. Sinto que nós dois ainda vamos nos encontrar bastante por essas bandas — Jadita fala, pegando um copo de água e tomando alguns goles.
— Se os espíritos concederem essa chance, eu vou torcer por você, minha irmã querida. Agora vem aqui, olha os vestidos que comprei hoje para usarmos no baile de boas-vindas do príncipe Fall! São lindos.
— Nossa, onde você os encontrou? São lindos mesmo, que tecido macio! — Jadita pega e estende o vestido. — Além de ser bastante leve e suave, minha nossa, Hélia, deve ter custado uma fortuna!
— Nem tanto. Eu pechinchei com o velho vendedor e saiu por apenas dez moedas de ouro as duas. Acabei usando nossas economias neles. Um investimento que trará retornos significativos para nós duas, acredite — Hélia fala, abraçando um dos vestidos.
— Espero que saiba o que está fazendo. Estamos numa situação ótima financeiramente, mas não podemos abusar da sorte. A crise pode bater na porta a qualquer momento, você sabe disso.
— Relaxa, eu fiz as contas certinhas. Temos o suficiente para durar vários meses. Além do mais, se eu conseguir um encontro com o príncipe Fall, terei minha chance de conhecê-lo melhor, e quem sabe de podermos ficarmos juntos — Hélia conta com um largo sorriso no rosto.
— Eu não ficaria tão animada assim não. Você sabe os rumores que falam sobre ele, que é arrogante, presunçoso e prepotente. Além de mimado e agressivo, imagina.
— Não acredito em tudo que falam por aí sobre ele. Quero tirar minhas próprias conclusões a respeito dele. Só assim vou aceitar a verdade, por mais que doa.
— Está bem, agora vou tomar banho para descansar. Amanhã temos um longo dia pela frente.
— Verdade, estou indo dormir. Boa noite.
— Boa noite!