Chereads / A Saga de Lunizs - Livro 1: O Alvorecer / Chapter 2 - Capítulo 1 - O Encontro

Chapter 2 - Capítulo 1 - O Encontro

Na vasta e densa Floresta da Lamentação, dentro do bosque das flores, caminhava um jovem menino de cabelos lisos e ondulados; seus olhos eram de um castanho que chamava bastante a atenção das pessoas.

Enquanto andava à procura de frutas silvestres para vender aos comerciantes, pois era um dos sustentos que o supria no dia a dia, ele estava muito bravo pelo seu irmão tê-lo mandado para as profundezas da floresta, apesar de o bosque ser magnífico.

— Aquele cabeça de vento me paga! Enquanto ele fica com o trabalho divertido, eu tenho que ficar aqui me cortando nesses fiapos de plantas. Que droga! — O jovem não estava nada satisfeito com o seu emprego diurno. Ele gostava de pôr as mãos na massa, mas tinha as suas exigências de contrato.

Durante a sua caminhada, ele cortou quase o corpo inteiro, mas as suas pernas tinham sido as mais prejudicadas no processo. Não demorou muito para que avistasse uma fonte de água em formato de cachoeira.

Bebendo alguns goles de água, ficou refrescado e recuperou energias apenas pela doçura e pureza do líquido transparente. Aquele não era qualquer lugar; tinha uma aura de presença muito forte, espiritualmente falando. Acreditava-se que, se alguém estivesse ferido e entrasse dentro da fonte, poderia ser curado instantaneamente.

E foi isso que o jovem aventureiro fez. Logo de imediato, assim que entrou, os seus cortes foram cicatrizando aos poucos, até que foi totalmente restaurado. Isso significava que os rumores eram verdadeiros.

O menino ficou um pouco contente, apesar de sua raiva não ter passado ainda. Aos poucos, ele estava começando a entender por qual motivo o seu irmão lhe mandou para esse lugar. Querendo ou não, era ali, naquele local, que os adultos enviavam crianças para serem castigadas pela conhecida bruxa das cavernas, uma mulher que perdeu toda a sua família em um incêndio e ficou solitária muito cedo.

Claramente, não era um lugar muito agradável se pensarmos nas circunstâncias que o pequeno iria enfrentar, mas quais seriam os motivos que o seu irmão teria para tê-lo mandado para aquele mausoléu?

Dando alguns passos apressados, o aventureiro viu ao longe uma casa de madeira e tijolos, toda velha, acabada e um pouco destruída. Com certeza, só podia ser a morada da velha ranzinza. Por um breve momento, o rapaz de olhos castanhos se viu sem saída e tentou correr. Assim que se virou, uma mão tocou seu ombro e uma voz grossa lhe perguntou o que estava fazendo sozinho por aquelas bandas.

O assustado pivete de cabelos lisos não deu resposta alguma, apenas removeu a mão da senhora e saiu correndo em direção à saída do bosque, para pegar a estrada que levava para fora da floresta. Seus passos eram tão largos que o vento passava em sua pele, rasgando seus pelos.

O garoto sentia que aquele momento poderia ser o seu fim, mas estava disposto a sobreviver a qualquer custo, mesmo que tivesse que ser um covarde. Um título que ele não ligaria se soubessem desse ato que cometeu ao abandonar a velha sozinha e sem resposta. Por um breve momento, ele foi rude, mas não estava nem aí para isso.

Um pouco longe dali, quase na entrada da floresta, um jovem rapaz de cabelos lisos e pretos se pendurava pelos galhos de uma árvore grande de maçãs e já tinha recolhido bastante delas para comercializar.

Era um ofício complicado e difícil, principalmente pela dificuldade de subir nas árvores e a força necessária para segurar nos troncos para não cair. O rapaz tinha músculos bem definidos e um corpo muito saudável, apesar de não comer muito bem.

Sua coragem era admirável e sua intuição, mais ainda, pelas pessoas que o conheciam, além de ser um jovem de aparência bela e respeitosa. Quase todas as garotas queriam ficar com ele, mas, por algum motivo especial, ele sempre recusava seus pedidos de compromisso.

Talvez ele quisesse ficar apenas sozinho, curtindo a sua vida pacata no campo e na fazenda onde morava, mas tinha grandes sonhos que pretendia realizar algum dia, sonhos que foram frustrados na sua infância por um motivo muito importante.

Seus pais morreram logo cedo, e um senhor de idade que era dono da chácara cuidou dele e de seu irmão mais novo até a mocidade, um zelo que o velho tinha por eles desde que os viu pela primeira vez. Mas o velho não pegava leve no pé deles, sempre deixando-os ocupados e se esforçando na roça e nas hortaliças da terra.

Os dois meninos eram bastante trabalhadores e davam o seu melhor para ajudar na administração da sua moradia. As contas estavam cheias de dívidas, e eles corriam o risco de perder sua casa para sempre. Por isso, o dono estava pensando em fazer um empréstimo com o rei do Reino da Terra para que pudesse recuperar o seu lar e viver tranquilamente.

Mas havia um risco enorme de fazer isso, pois o imposto da realeza não era nada barato, e as suas condições já eram precárias. No entanto, um dos garotos tinha uma ideia em mente e estava prestes a colocá-la em prática, provavelmente ainda neste mesmo dia.

— Socorro! Socorro! Alguém me ajude! Eu vou cair! Por favor! — Uma donzela de cabelos dourados estava desesperada em cima de um cavalo que corria desembestado pela estrada afora. O jovem rapaz avistou de longe a presença do garanhão correndo em alta velocidade.

Até que, ao se aproximar da árvore em que se encontrava, ele pulou em cima da jovem e a agarrou pelos braços, jogando o seu corpo para cair no chão e apoiando assim o corpo da garota sobre o seu.

Os dois caíram de cara um para o outro, e foi um primeiro encontro daqueles de amor à primeira vista. Seus olhos escuros e densos penetraram as pupilas brilhantes da moça bela e de vestido esmeralda escuro. Ao se levantar, os dois deram as mãos e ficaram observando um ao outro, e, por um momento, sentiram uma conexão forte entre si.

— Quem é você? — A jovem assustada perguntou ao soltar a mão do garoto e ficar um pouco corada, se afastando do rapaz.

— Me chamo Unises, jovem princesa. Me desculpe se a machuquei no processo de salvá-la, mas não vi outra forma de socorrê-la desse perigo iminente que estava para ocorrer.

— Me desculpe também se o coloquei em perigo, mas eu não sou uma princesa. Sou apenas uma camponesa do Reino da Planta.

— Ah... Sério? — Ele riu. — Por um momento, pensei que fosse, usando esse esbelto vestido escuro e chamativo.

Dando um leve sorriso de canto, ela fala:

— Acho que você nunca viu uma princesa na vida, não foi mesmo? — Sorriu, enquanto sacudia a sua roupa e limpava a sujeira do chão.

— Você mora por essas bandas? O que estava fazendo correndo sobre um cavalo? É muito perigoso quando não se sabe controlar.

— Moro um pouco longe daqui. Eu estava distraída andando pela estrada, até que algumas abelhas apareceram e o cavalo começou a correr desesperadamente.

— Entendi. Eu estava aqui trabalhando, pegando fruta, na verdade. Gostaria de uma maçã? Está bem docinha. Eu já comi uma e estava uma delícia.

— Obrigada! Nossa, nem agradeci por me salvar. Muito obrigada por sua coragem! — Ela diz, mordendo a maçã e caminhando em direção ao cavalo, que estava ali perto, comendo grama.

— Ele é muito bonito, tem nome? — Unises pergunta apenas para puxar assunto. Essa era a primeira garota por quem ele havia se interessado em toda a sua vida.

— Sim, se chama Gorky. Minha irmã que deu esse nome pra ele. Cuidamos dele desde que nasceu. Temos outro no celeiro da nossa casa também, mas esse é o meu preferido.

— Nome legal para um cavalo. Eu moro numa fazenda grande aqui perto. Tem alguns cavalos lá, se quiser dar uma olhada. Seria um prazer mostrá-los para você.

— Seria ótimo, mas estou sem tempo, na verdade atrasada. Minha irmã espera que eu chegue cedo em casa para a janta, então, se puder ficar o convite para outro dia, eu aceito — ela responde com um sorriso largo na face. De alguma forma, ela gostou de Unises; ele era simpático e tinha uma presença chamativa com o seu jeito de se expressar, algo que a jovem havia notado nele. — Bem, eu vou indo agora, não posso me atrasar mais ainda. Até outro dia, Unises! Foi um prazer te conhecer.

— Ah, nossa, já vai? Mas me diga antes, qual o seu nome? Você não me disse... — Perguntou curioso e um pouco envergonhado.

— É Jadita! — Ela fala ao se afastar de Unises e caminhar na direção da estrada para fora da floresta.

Unises estava bastante contente com a jovem conhecida; jamais tinha encontrado uma mulher como ela antes, e, por algum motivo, ela tinha algo de especial em seus olhos, o que estava conquistando aos poucos o coração do nobre rapaz.

Sem perceber, a noite estava se aproximando, e Unises praticamente já tinha preenchido a carroça com vários cestos de maçãs até a boca. Estava pronto para retornar à sua casa o mais breve possível.

Mas estava faltando uma pessoa chegar para que ele pudesse sair tranquilo em direção ao seu aconchego.

— Bonito, né? Conversando com uma garota daquela aparência. Você acha mesmo que tem alguma chance com ela? Viu como ela estava vestida? Ela não é mulher para qualquer um, não!

— Nino? O que faz aí em cima?! Já não te falei para não subir nas árvores, pois é perigoso demais para você! E se você cair daí de cima e se machucar, ou pior, morrer!

— Relaxa, maninho. Eu sei me cuidar sozinho. Além do mais, foi você que me mandou para as profundezas do bosque, lembra? E é mais perigoso lá do que cá, acredite. — Nino fala sarcasticamente, sorrindo levemente de lado.

— Não me venha com essa história. Você sabe muito bem que não há perigo naquele lugar, apenas aquela velha de rugas que mora lá, mas ela é inofensiva — Unises fala, se aproximando de Nino e ajudando-o a descer da árvore, pegando o cesto que estava em suas costas.

— Não me venha você com essa. Eu encontrei aquela velha ranzinza e ela me deu o maior susto que já levei na minha vida. Quase pensei que seria o dia da minha morte. Felizmente, consegui correr — Nino fala, sentando-se na carroça.

— Nino? Espera um momento... cadê o burro com os cestos?! Não vai me dizer que você o abandonou sozinho dentro do bosque!

— Antes eu do que ele. Acha mesmo que ia parar para pensar no jegue e na comida? Que fique para a velha; eu mesmo não ligo, posso pegar mais amanhã — ele fala, cruzando os braços um no outro e fazendo careta.

— Nino! As frutas não seriam um problema para perdê-las, mas o jumento é crucial! O que o senhor Jhan vai falar quando souber que você o deixou para a velha? Ele não só vai matar você, como a mim também!

— Tá, tá. Deixa de gritar no meu ouvido e não vamos mudar de assunto. Eu estava ouvindo a sua conversa com aquela garota bonita. Você chamou ela para um encontro?

— Não mude de assunto, você! Esquece ela, apenas nos encontramos por acaso, não tem nada demais entre nós dois. Agora vamos atrás do burro.