Meu nome é Maya, tenho 25 anos, sou adotada e me mudei para Nova Orleans para descobrir coisas sobre meu passado.
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Não faziam nem dois meses que eu havia pousado em Nova Orleans. As aulas começariam em 2 semanas e eu havia viajado para cá com um tempo extra para que eu pudesse descobrir coisas sobre meu passado, mas não obtive êxito, as coisas pareciam não fluir e algo estava me "jogando para trás" sempre que eu tentava algo diferente ou sempre que eu me aproximava de uma resposta, um fragmento, que fosse. A viagem havia sido desgastante, deixar minha família adotiva para realizar essa busca foi a coisa mais difícil que eu havia feito em todos estes anos. Eu tinha viajado para outros lugares? Sim! Mas sempre com o retorno marcado para uma ou duas semanas, porém agora era diferente, eu não retornaria até que tivesse respostas e isso me machucava, deixei minha mãe soluçando porque eu estaria morando longe dela e meu pai cabisbaixo porque não assistiríamos os jogos de vôlei juntos aos domingos.
O início da minha aventura estava sendo bem diferente do que eu havia imaginado, cansada e decepcionada com a situação, decidi que era hora de uma aventura e, como eu não conhecia ninguém na cidade, fazer novas amizades.
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As ruas de Nova Orleans estavam cheias por causa de algum feriado deles, ou alguma festa da cidade, eu não sabia ao certo. Estava usando um vestido curto, vermelho e com um decote em V, era um pouco mais colado do que eu gostaria, mas eu não tinha dinheiro para comprar um vestido novo, visto que começaria meu estágio remunerado apenas no próximo mês e estava com dinheiro contado. Estava usando um all star preto, de cano alto, o que não parecia combinar muito com o vestido, mas eu odiava salto.
Passei pela porta de um bar e adentrei o ambiente, havia um misto de cheiros que me deixavam enjoada, mas o local parecia ser agradável para tomar uma cerveja e conversar com outras pessoas. Quem sabe o que eu encontraria?
Sentei-me em uma mesa para duas pessoas que ficava no canto do bar, onde eu teria uma visão privilegiada para observar o bar, e foi exatamente o que eu fiz durante 30 minutos. As pessoas ali pareciam bem animadas, algumas estavam cantando as músicas juntamente com a banda, outras conversavam sem parar com seus amigos e ainda tinham aqueles que estavam em um momento mais íntimo, o que me deixava desconcertada, mas para ser sincera um grupo havia me deixado intrigada desde o momento em que chegaram e acabei mantendo meus olhos neles por mais tempo do que pretendia.
*** Flashback: 20 minutos antes
Eles entraram no bar 10 minutos depois que eu cheguei e me acomodei, sentaram-se em uma mesa maior a poucos metros de onde eu estava, perto o suficiente para que eu pudesse vê-los, ver suas feições e corpos. Eles pareciam gigantes perto das outras pessoas, principalmente perto das mulheres que se sentavam com eles, tentando desesperadamente que eles as levassem para outro lugar, sentando-se em seus colos e passando a mão pelos seus cabelos. Aquilo não parecia aborrecê-los, pelo contrário, parecia divertir a maioria deles, mas de certo modo eu senti uma onda de inveja crescer dentro de mim, algo que eu não conseguia entender, visto que estava vendo aquele comportamento desde antes do grupo chegar e aquele sentimento não havia se passado pela minha cabeça.
O grupo era composto por 5 homens, o primeiro homem parecia ter aproximadamente 1,90m, o que fez com que ele se destacasse muito na multidão, ele era musculoso, tinha um corpo atlético, mas nada exagerado. Passava uma imagem de autoridade e força, e talvez até intimidasse outras pessoas, seus cabelos pareciam bagunçados, caíam em camadas desiguais até os ombros e ele tinha uma cicatriz no pescoço que parecia descer para seu ombro, vi em seu braço uma tatuagem de um lobo com árvores ao fundo e algo nele me fascinava, mas também me amedrontava, talvez fosse a sua postura dominante. Ele estava usando uma roupa mais rústica, um jeans rasgado, botas e uma camiseta preta. Ao seu lado estava um segundo homem, que parecia tão alto quanto ele, talvez medisse 1,88m e seu corpo não era tão musculoso quanto o do primeiro, mas era bem definido e esguio. Assim como o primeiro, seus cabelos pareciam bagunçados, mas estavam presos em um coque solto. Usava uma camiseta estampada com algo que eu não conseguia ver, calça jeans, botas e uma jaqueta de couro, além de um piercing na sobrancelha, um conjunto que o fazia parecer um daqueles garotos rebeldes. Sua postura estava relaxada e descontraída, não parecia tão intimidador quanto o primeiro. O terceiro homem parecia ter em torno de 1,80m e assim como os outros tinha uma estrutura robusta, mostrando que ele com certeza se mantinha ativo na academia. Tinha um ar de superioridade, mas diferente do primeiro, não parecia intimidar os que estavam ao redor. Seus cabelos estavam um pouco acima dos ombros e suas vestimentas eram elegantes, usava uma camisa, calça de tecido e um sapato formal. Tinha em seu braço uma pulseira de pedras e sentava-se de modo ereto, com uma expressão serena, gesticulando calmamente para os outros enquanto falava algo que infelizmente não poderia ser ouvido da minha mesa. O quarto homem parecia estar absorto em um mundo diferente, não estava prestando atenção nos outros e tentava se desvencilhar de uma mulher, mantendo uma feição que me parecia dor. Seu corpo era esguio e levemente tonificado, assim como o terceiro homem, ele devia ter cerca de 1,80m, mas sua postura estava ligeiramente curvada, parecia querer se esconder de algo. Tinha os cabelos curtos e ondulados, com algumas mexas caindo sobre sua testa. Usava roupas confortáveis, uma blusa de manga longa e um jeans que parecia se ajustar a sua figura. Vi um brilho em seu pescoço, o que poderia ser um colar. E por fim, me virei para observar o último homem, ele parecia mais novo do que os outros, seu corpo era levemente musculoso e parecia ser o mais baixo, talvez tivesse 1,75m. Gesticulava animadamente para o restante do grupo que achavam graça no que ele dizia. Tinha cabelos curtos e repicados, parecia ter cortado em casa, ou talvez precisasse mudar de barbeiro - "talvez todos devessem", eu murmurei. Usava roupas casuais, como uma camiseta, uma calça jeans e um par de tênis, além de um relógio que parecia extremamente caro e trazia consigo uma mochila com o logo da universidade onde eu estudaria. Aquilo me fazia imaginar que tipo de curso aquele homem estava fazendo.
***Fim do flashback
Infelizmente meus pensamentos e observações foram interrompidos quando um homem se sentou à minha mesa.
"Boa noite, princesa" - disse me fazendo revirar um pouco os olhos. Achei que estivesse livre deste tipo de abordagem fora do Brasil.
"Boa noite" - respondi da maneira mais ríspida que eu poderia.
"Você não gostaria de dançar? Ou quem sabe sair daqui comigo e ir para um local mais silencioso?" - A maneira como ele me olhou deixou-me enjoada, mas tentei me manter calma pois eu sabia o que poderia acontecer caso eu ficasse irritada após ter bebido.
Pedi licença para ele e disse que precisava ir ao banheiro, porém para o meu desespero ele parecia estar me seguindo. Entrei em um banheiro e lavei o rosto para que eu pudesse me acalmar e pensar melhor.
"Com licença" - ouvi uma voz masculina atrás de mim e ao me virar, me deparei com o quarto homem que estava naquela mesa, ele parecia ainda mais bonito de perto. Sua pele era clara e ele tinha algumas sardas no rosto, dando um toque doce ao seu semblante. Seus cabelos eram castanhos claros e seus olhos em um tom de azul claro que faziam com que eu desejasse me aprofundar neles. Não sei como não havia percebido que ele tinha saído da mesa. "Você está no banheiro masculino" - disse, me tirando dos meus pensamentos.
"O que?" - eu disse, incerta do que estava acontecendo.
Antes que ele pudesse dizer algo, ouvimos a porta abrir e o homem que me seguia entrou, parando para nos encarar. Ele olhou o homem ao meu lado e abaixou um pouco a cabeça, como se tentasse avaliar a situação, decidindo se faria algo ou se deixaria passar. "Leo, você conhece esta garota?" - disse.
Me coloquei ainda mais ao lado daquele homem que eu nem conhecia, mas que agora sabia o nome, e torcendo para que ele me ajudasse, segurei a sua mão, apertando-a para que ele entendesse meu pedido. Mas ao fazer isso, senti uma onda eletrizante correr pelo meu corpo, uma onda de calor, e acredito que o homem ao meu lado sentiu o mesmo, pois senti seu corpo enrijecer ao meu toque e quando nossos olhos se encontraram, não existia mais o tom de azul claro, mas sim uma cor mais escura e profunda.
"Saia" - Leo disse para o homem a nossa frente, sem mesmo olhá-lo. Eu não sabia se aquilo me deixava com medo ou se me sentia segura. Ouvi a porta se fechando e tentei puxar minha mão de volta, sendo impedida, ao contrário, fui puxada para uma parte do bar que estava vazia, onde eu havia visto pessoas tendo um momento mais íntimo. Ele me jogou contra a parede - "quem é você?" - ele questionava frio.
"Eu me chamo Maya, e apesar de ter te colocado naquela situação, nada justifica você estar me machucando" - eu dizia emburrada. Medo? Sim, eu estava com medo, mas minha mãe havia me ensinado que se eu apanhasse, deveria bater também.
Ele me olhou incrédulo, como se as pessoas nunca o respondessem, pelo menos não de forma ríspida. - "Você sabe com quem está falando?" - Eu não sabia e sim, eu queria muito saber por que aqueles olhos estavam me observando de maneira faminta, e eu estava com um tesão enorme.
"Não, por quê? Você precisa que eu encontre seus amigos para que te ajudem a se lembrar? - eu estava sendo sarcástica, talvez louca.
Ouvi um rosnado baixo, vindo de sua garganta, um aviso, mas eu já tinha passado por situações tão estranhas e estressantes que nem me importava mais. "Preciso ir embora, fofinho" - disse, irritando-o mais ainda - "Podemos discutir em uma próxima" - me aproximei e dei um beijo em sua bochecha, o que o deixou em choque. Aproveitei o momento e sai do bar, peguei um taxi e fui para casa, onde me enfiei embaixo do chuveiro e me repreendi pela situação toda.