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Chapter 6 - Perigos na mata

Já estava perto da meia noite quando finalmente paramos de beber e jogar. Lembrei-me que tinha uma aula no período da tarde, no dia seguinte, mas não fazia ideia de como iria e até mesmo se iria. Os meninos não me deixavam ir embora, pois todos haviam bebido muito e não podiam dirigir para me levar, mas também não quiseram que eu pegasse um taxi, alegando que era perigoso demais uma jovem pegar um taxi tão tarde da noite. "E se o motorista fosse um serial killer" - eles diziam

"Eu vim na casa de cinco homens, sem conhecê-los" - respondi a eles. - "Vocês não acham que isso é perigoso?" - questionei, fazendo com que eles ficassem pensativos.

"Seria, se alguém aqui tivesse qualquer interesse em te machucar" - disse Leo, recebendo um cascudo de Kael.

Foi então que troquei olhares com ele e, durante alguns minutos, não consegui evitar de prestar atenção em seu corpo. Ele parecia ter malhado desde a última vez que nós nos encontramos, tinha os músculos mais definidos e, junto com seu charme único, me deixava excitada. No final, eles me ofereceram o sexto quarto para dormir, garantindo que eu poderia trancar a porta. Apesar disso, a ideia de estar ali, cercada por aqueles homens enormes, não me parecia super segura, visto que eles poderiam facilmente destruir a porta em segundos.

Leo saiu da sala e, por um momento, me questionei se estava mesmo tudo bem ficar ali, pois ele não parecia querer muito a minha presença. Mas meus pensamentos foram interrompidos quando um par de roupas foi jogado sobre mim: um pijama. Leo voltou com um pijama que, embora enorme, me deixou surpresa e grata. Escutei alguns murmúrios de seus amigos, mas ele decidiu ignorá-los.

"Uuuh, Leo estava preocupado com o que ela iria vestir em nossa festa do pijama" - diziam em meio a risadas, enquanto cutucavam uns aos outros.

"Leo quer que ela fique com o cheiro dele" - outro dizia, me deixando envergonhada.

Fiquei ali por mais alguns minutos, observando a brincadeira deles, alguns socos, cantorias em conjunto e o ponto principal era Leo, eles o pegaram como brinquedo naquela noite, depois de ter me dado o pijama.

***

Tomei um banho e me preparei para dormir. Quando vesti o pijama, o cheiro dele me envolveu, impregnando meu nariz. Era um aroma diferente, eu não sabia definir, mas meu coração acelerou, como se aquilo fosse um lembrete de sua presença.

Sai do banheiro e fui em direção ao quarto, passei pela porta de Eli, que sorriu e me desejou boa noite, e pela porta de Sam, que entusiasmado me deu um abraço. Vi Leo subindo as escadas do terceiro andar e nossos olhos se encontraram.

"Boa noite" - Falei

Ele acenou com a cabeça, me observando de cima embaixo, e depois de um leve sorriso, disse "Boa noite".

***

Acordei no meio da madrugada com um som de uivos e rosnados que pareciam estar muito perto da casa. A tensão no ar era visível. Ouvi Rafe conversando em voz baixa com Kael, próximo ao quarto onde eu estava.

"Isso vai dar merda..." - ele dizia, preocupado. - "Ela não deveria estar aqui esta noite."

"Fale baixo" - Respondeu Kael, com a voz tensa. - "Ela irá acordar... além disso, não deveria ter acontecido hoje. Não tinha como saber disso." - finalizou.

Os passos estavam agitados, indo de um lado para o outro, e havia um barulho de correntes, que deixava a situação mais estranha. Eu estava com muito medo, então me recusei a sair do lugar ou a fazer qualquer movimento no quarto.

"Eu disse que ficar na casa de cinco homens era uma péssima ideia." - murmurei, repreendendo minha decisão.

De repente, vi uma sombra passar pela janela do quarto e parar na lateral, como se precisasse se esconder. Apertei os olhos no escuro para tentar identificar o que era. Eu não podia acreditar no que meus olhos viam, um lobo enorme parado, olhando fixamente para mim, com um brilho penetrante nos olhos. Apesar do medo, levantei-me fascinada pela imagem e quando cheguei perto da janela, um arrepio percorreu minha espinha, um sentimento de familiaridade. Como eu poderia conhecer aquele lobo? Aquela ideia era ridícula, e com certeza era apenas minha imaginação. Minhas mãos se direcionaram para abrir a janela enquanto o lobo me observava intrigado, mas um novo uivo ecoou na noite, um som de dor e frustração. O lobo a minha frente me lançou um último olhar antes de correr para a escuridão, indo em direção ao outro.

Percebi que o movimento na casa se intensificou, passos apressados se dirigiram para fora e, mesmo sabendo que aquilo era perigoso, a curiosidade me venceu. Coloquei minha sapatilha e, com coragem, saí da mansão, seguindo minha intuição. 

"Parece que você não aprendeu nada com filmes de terror." - Eu murmurava para mim mesma. - "Se você morrer aqui, a culpa é apenas sua" - disse, me dando um tapa na testa.

Alcancei um local onde as árvores estavam marcadas com enormes arranhões, como se algo muito grande tivesse passado por ali. Adentrei o que parecia ser uma reserva e continuei meu caminho até que, de repente, vi um lobo preso em correntes, com sangue escorrendo de sua boca. O som de uivos vinham dele, um som que encheu meu coração de pena, e, apesar de saber que era perigoso estar ali, tentei me aproximar, mas fui bloqueada por três outros lobos grandes. Eles não pareciam agressivos, mas certamente queriam me manter afastada da criatura presa.

Foi nesse momento que ouvi o estalar de correntes, e o lobo conseguiu se soltar, correndo e pulando em minha direção, com um rosnado alto e assustador. O ar ao nosso redor pareceu mudar, meus cabelos balançavam, meu corpo queimava e as folhas voavam em várias direções, como se o vento estivesse se preparando para um confronto. Eu sabia que algo sobrenatural estava acontecendo. Porém os outros homens se colocaram novamente entre o lobo e eu, lutando contra ele e o arrastando ainda mais para dentro da mata. Eu não sabia o que deveria fazer, mas antes que eu pudesse dar um passo para frente, ouvi alguém me chamar.

"Você está querendo se matar?" - Olhei para trás e vi Leo saindo de uma parte da mata, com o braço ferido, feição em uma mistura de raiva e preocupação, e completamente nu. Meu coração disparou ainda mais, e tentei lutar com todo o desejo de olhar para seu corpo. Ele vinha em minha direção com passos firmes e pesados e, num movimento brusco, pegou meu braço, puxando-me de volta para dentro da casa.

"Você está me machucando" - eu tentava, sem êxito, chamar a sua atenção, mas ele continuava apenas andando e me puxando escada acima.

No quarto ele me jogou na cama e fechou a porta atrás dele. Rapidamente pegou um lençol e o colocou ao redor da cintura, escondendo tudo que tivesse abaixo dela.

"O que está acontecendo?" - perguntei, confusa - "O que era aquilo?"

"Você não deveria ter ido lá fora!" - ele disse irritado. - "Só piorou a situação."

O clima entre nós era tenso, e eu sabia que ele estava preocupado, pois buscava em meu corpo qualquer tipo de arranhão. Apesar disso, eu não conseguia entender a gravidade do que estava acontecendo. Meu olhar buscava respostas, mas o que eu via nos olhos dele era ansiedade.

"Por que você não pode simplesmente me explicar o que está acontecendo?" - perguntei com indignação. Eu torcia para que aquilo estivesse ligado ao meu passado e me ajudasse, eu sentia que era algo importante.

Leo fechou os olhos por um segundo, como se estivesse se forçando para controlar a raiva.

"Porque não é seguro! - Ele disse, e com um olhar triste completou: - "Você não entenderia!"

"Você que não entende! Eu preciso saber." - Minha voz ecoou no ambiente.

"Você não sabe o que está em jogo!" - Ele respondeu em uma voz baixa, quase inaudível, avançando um passo em minha direção, fechando a distância que existia entre nós, com seus olhos ardendo de fúria e desespero. - "Eu não posso deixar você se envolver nisso. Foi um erro te chamarmos para vir aqui!"

Aquelas palavras me atingiram como um soco no estômago.

"Então por que vocês me chamaram?" - retruquei, desafiando seu olhar. - "Eu não sou uma criança e não preciso da sua proteção".

Ele balançou a cabeça, como se estivesse lutando consigo mesmo. Percebi que aquilo era algo difícil para ele e tentei me acalmar.

"Desculpe-me" - eu disse - "Deixe-me olhar o seu braço primeiro." - Me aproximei mais dele, porém ele puxou o braço para trás, ignorando meu pedido e se afastando um pouco. Minha atenção foi completamente direcionada para seu peitoral e descia até chegar no lençol que atrapalhava o restante da visão. Seguindo meu olhar, ele riu com desdém.

"Não conseguiu ver enquanto voltávamos para casa?" - perguntou, fazendo meu rosto esquentar e corar.

Antes que eu pudesse responder, sua mão me puxou para mais perto, enquanto a outra se posicionava delicadamente sob meu queixo, pressionando um pouco meu pescoço e me obrigando a olhar em seus olhos, que estavam em um tom azul escuro, como na noite do bar. Percebi que ele não estava com qualquer machucado, apenas sangue seco, mas não tive tempo de questionar. Ele se inclinou em minha direção, seu rosto tão perto do meu que eu pude sentir sua respiração quente na minha pele. Com um movimento suave, ele começou a cheirar e mordiscar levemente meu pescoço.

Um arrepio percorreu toda minha coluna, tornando-se um calor intenso que se espalhou por mim, exigindo mais.

"Você é deliciosa." - murmurou

Eu não conseguia pensar de forma racional, apenas sentia meu corpo clamar por mais toques, beijos e apertos. Eu sentia que ele também não estava pensando muito, e que nossas emoções e desejos carnais estavam nos dominando.

"Não se coloque em risco novamente." - Ele disse baixinho, no meu ouvido, me fazendo estremecer. E então puxou-me para um beijo ardente. Seus lábios eram firmes e exigentes, e eu senti meu corpo responder imediatamente, abri os lábios para dar passagem a sua língua, e prendia meu corpo mais próximo ao seu, como se o convidasse para algo a mais. Eu esperava aquilo desde que nos conhecemos e por isso me rendi.

***

Pouco tempo depois ouvimos a porta da frente bater e ele se afastou, me levando a protestar. Ele me olhou com um misto de excitação e culpa e rapidamente saiu do meu quarto.

Fiquei parada por alguns minutos, tentando absorver o ocorrido, mas lembrei-me que os outros haviam voltado e corri até a escada para verificar. Olhei para eles, completamente nus, com diversos arranhões pelos corpos e desviei meus olhos para uma figura menor, que eu conhecia bem. Eles carregavam Sam, com o corpo coberto de sangue.

Em um misto de preocupação e desespero comecei a descer a escada, eu queria me aproximar dele, mas os olhos de Kael se encontraram com os meus e ele balançou a cabeça, negando a minha intenção.

"Volte para o quarto, por favor." - ele disse de uma forma doce, mas em tom autoritário, e eu o obedeci, pois sentia que já tinha causado problemas o suficiente.

***

Passei o resto da noite sentada na cama, chorando ao pensar nos acontecimentos e nas primeiras horas do dia, após Kael prometer que tudo seria explicado em um outro momento, quando todos estivessem presentes, peguei um taxi para casa, ignorando sua oferta de me dar uma carona.

Uma questão me atormentava: talvez eles realmente tivessem a chave para o meu passado?